sábado, junho 18, 2011

Um governo leve

Pensando melhor: é um excelente governo!
Se a intriga do Expresso corresponde à verdade, mais parece que Passos Coelho seguiu um ritual de convites previamente orquestrado para chegar a um bom resultado final. E chegou!

Assunção Cristas (CDS-PP): uma das grandes esperanças do novo Governo.
Foto:©Pedro Elísio/Negócios
Quatro independentes lideram quatro das pastas mais importantes. Além de Álvaro Santos Pereira para Economia, Vítor Gaspar estará à frente das Finanças enquanto Nuno Crato substituirá Isabel Alçada no Ministério da Educação. Paulo Macedo assume a tutela da Saúde — Jornal de Negócios.

Há um equilíbrio surpreendente e fresco entre partidocratas, jovens políticos ambiciosos, e técnicos independentes com formação e competência comprovadas, mas sobretudo com visões (que partilho) sobre o presente que infelizmente temos e o futuro pelo qual podemos e devemos lutar. A quase ausência de caras gastas e de contrabandistas de influências e lugares são as duas grandes alegrias que esta composição governativa começa por dar ao país. Passos de Coelho acaba de ser promovido, por mim, a Passos Coelho. Oxalá não me arrependa!

A primeira impressão causada pelo novo elenco de governo, no eleitorado que despachou José Sócrates para a capital francesa, foi certamente positiva (aguardemos pela sondagem da Marktest).

A surpresa, no entanto, foi grande, tão grande que os jornalistas, as redacções e os opinocratas de serviço andaram, todo o dia de ontem, à nora: sem fotos decentes dos novos ministros, e balbuciando dúvidas pela falta do que chamaram "pesos pesados" — i.e. a malta do costume, que ou deitou este país abaixo, ou ajudou a deitar este país abaixo, ou deixou deitar este país abaixo sem nada dizer até que a bancarrota se tornou óbvia para todos. Não é só José Sócrates que deve pagar pelos tremendos erros e crimes cometidos no passado recente. Há toda uma geração de cúmplices, por acção ou omissão oportunista, que deveriam acompanhar o mitómano que nos conduziu ao abismo, na sua declarada intenção de emigrar para Paris. Atenas, aliás, seria a cidade mais indicada para os novos estudantes de filosofia. Eu próprio só acordei em 2003 para a desgraça que vinha a caminho, quando deveria ter acordado muito antes!

Um governo com onze ministros é mais do que suficiente!

Os ditos super-ministros evitam os conflitos de poder e os jogos de empurra entre pastas afins. Não nos esqueçamos que actualmente Portugal tem menos população, às vezes metade dos habitantes, do que qualquer destas vinte e uma cidades (World Atlas) — que são naturalmente governados por câmaras municipais, ou quanto muito, governos metropolitanos (a solução de que precisamos urgentemente para as cidades-região de Lisboa e Porto)
  1. Tóquio, Japão - 32 450 000
  2. Seul, Coreia do Sul - 20 550 000
  3. Ciade do México, México - 20 450 000
  4. Nova Iorque, EUA - 19 750 000
  5. Mombaim, Índia - 19 200 000
  6. Jakarta, Indonésia - 18 900 000
  7. São Paulo, Brasil - 18 850 000
  8. Deli, Índia - 18 680 000
  9. Osaka/Kobe, Japão - 17 350 000
  10. Xangai, China - 16 650 000
  11. Manila, Filipinas - 16 300 000
  12. Los Angeles, EUA - 15 250 000
  13. Calcutá, Índia - 15 100 000
  14. Moscovo, Federação Rússia - 15 000 000
  15. Cairo, Egipto - 14 450 000
  16. Lagos, Nigéria - 13 488 000
  17. Buenos Aires, Argentina - 13 170 000
  18. Londres, Reino Unido - 12 875 000
  19. Pequim, China - 12 500 000
  20. Carachi, Paquistão - 11 800 000
  21. Daka, Bangladesh - 10 979 000
Ou seja, difundir a ideia de que alguns ministros não podem suportar o peso de tantas áreas político-administrativas não passa de uma treta para perpetuar a obesidade burocrática do Estado, arranjar tachos para amigos e familiares, e facilitar as movimentações das corporações e grupos de interesses desregulados que há décadas empatam e arruínam o país.

Mas há ainda dois outros factos (como lembrei em post anterior) que arrumam esta falsa polémica num ápice. Aqui vão:
  • O Executivo do Estados Unidos, 1ª economia mundial, e 3º em população, tem 15 departamentos (equivalentes aos nossos ministérios);
  • O Executivo do Japão, 2ª economia mundial, e 10º em população, tem 11 ministérios;
  • O Executivo de Portugal, 38ª economia mundial, e 77º em população, tem 16 ministérios e 36 secretarias de Estado.
 Ou seja, um governo com onze ministros é mais do que suficiente para as encomendas, e nem sequer precisa de muitos secretários de Estado. O que sim faz falta é despartidarizar os cargos de director-geral, director de serviço, chefe de divisão e presidente e vice-presidente de instituto, lançando um concurso nacional para a renovação destes cargos, de alto a baixo, baseado não nas cores políticas ou ligações familiares, mas na apresentação de CVs e na prestação de provas nacionais para a ocupação de cada um dos lugares. São estes lugares de chefia renovados que devem ter o conhecimento, experiência e autoridade necessárias para manter a máquina do Estado a funcionar bem, sob a orientação estratégica, transparente e precisa de um governo ágil, visionário e responsável.

Claro que para termos um tal governo são precisos ministros e ministras com personalidade, conhecedores, independentes e dispostos a defender as suas convicções, discutindo-as abertamente nos lugares próprios, e não uma turma de mortos-vivos da laia do último governo de José Sócrates.

O governo é este:
  • Primeiro Ministro - Pedro Passos Coelho
  • Ministro Negócios Estrangeiros - Paulo Portas
  • Ministro das Finanças - Vítor Gaspar
  • Ministro da Economia - Álvaro Santos Pereira
  • Ministro da Educação - Nuno Crato
  • Ministro da Saúde -  Paulo Macedo
  • Ministro da Solidariedade e da Segurança Social - Pedro Mota Soares
  • Ministro da Agricultura, Ambiente e Território - Assunção Cristas
  • Ministro da Defesa - Aguiar Branco
  • Ministro da Justiça - Paula Teixeira da Cruz
  • Ministro da Administração Interna - Miguel Macedo
  • Ministro dos Assuntos Parlamentares - Miguel Relvas
  • Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros - Marques Guedes
  • Secretário de Estado adjunto do PM - Carlos Moedas
  • Secretário de Estado da Cultura - Francisco Manuel Viegas
Finalmente, quanto à suposta despromoção da área cultural, dois argumentos apenas:
  1. As principais potências culturais do planeta —Estados Unidos, Alemanha, Japão e Reino Unido— não têm ministérios da cultura. Logo, o problema não está na burocracia nem nos subsídios, mas, uma vez mais, na visão, na estratégia e no sistema de aplicação das forças e dos investimentos disponíveis;
  2. Nunca soube quem é a senhora Gabriela Canavilhas, mas sei há muito quem é o Francisco José Viegas.

8 comentários:

lawrence disse...

E não se cria um movimento para desagravar Medina Carreira e mais um ou dois que andaram a gritar contra o vento que passa?

António Maria disse...

Ouvi hoje Medina Carreira na RTP-N (repetição de programa de ontem, creio) e pareceu-me agradado com o novo governo.

Carlos disse...

Meu caro,bom dia.
O que escreveu devia ser entregue a todos os que entrassem para o "secundário" como elemento primeiro da sua formação.
Apenas acrescento: muitos parabéns!
Cumprimentos
Carlos Monteiro de Sousa

Sérgio disse...

Bom dia,
Parabéns pelo artigo, concordo plenamente, ficou no entanto a fazer "figas" para que este governo esteja a altura do desafio e que mesmo com "médicos" competentes o "paciente" não esteja já em fase terminal, sem cura. Esperemos todos que não!
Cumprimentos
Sérgio

João Soares disse...

O futuro o dirá, mas com ou sem pasta do Trabalho, como ou sem pasta do Ambiente ou com ou sem pasta da Cultura (saliento estas porque denotam hipermodernimos desastrosos- e vê-se nos confrangedores conhecimentos de cultura geral dos povos britânicos e norte-americanos...) este será o regime dos credores. Gostaria que este Governo dissesse vamos renegociar a dívida.

António Maria disse...

Caro João,

Os ministérios que trazem cultura, trabalho ou bom ambiente ao país, como ficou plenamente demonstrado ao longo da última década. Somos nós! E agora, vamos ter que o provar, começando por avaliar e reconhecer o que não fizemos bem e porquê. Sem este acto de verdade e humildade não sairemos bem da bancarrota em que estamos.

Não há infelizmente nenhuma possibilidade de a Esquerda actual conduzir o país para qualquer forma de utopia que não seja mais desastrosa ainda do que a situação actual. O desastre em que nos encontramos também foi fruto de uma Esquerda iludida, oportunista, irrealista e acima de tudo preguiçosa. Louçã prometeu hoje argumentos para a crise. Espero por eles!

Quero acreditar que o futuro governo não pode falhar. Mas sei que é difícil, e que não será apenas obra, nem responsabilidade sua. A Esquerda será tão responsável pelo futuro imediato quanto a Direita e todos os que, como eu, há muito deixaram de dar demasiada importância às armadilhas retóricas e à partidocracia.

João Soares disse...

" Não há infelizmente nenhuma possibilidade de a Esquerda actual conduzir o país [...]de tudo preguiçosa...."

Por outro lado, António, a Direita (sim porque o PS nunca foi de Esquerda) ao menos está à vontade em terreno próprio, pelo menos até que seja claro que o único objectivo é o saque do que resta.

Um abraço

António Maria disse...

Caro João,

O que pretendo sublinhar na minha crítica à Esquerda, nomeadamente a que se situa à esquerda do PS, mas incluindo também o PS (pois há muita gente no PS com sentimentos genuinamente de "esquerda"), é o atraso do seu programa, a perda de autonomia cognitiva de quem nela crê, e a captura do espírito crítico por um maniqueísmo ideológico e por uma retórica não só decadentes e inúteis, como oportunistas e burocráticos.

O erro histórico da Esquerda deu lugar a um situacionismo oportunista intolerável e sobretudo a uma aflitiva incapacidade de pensar. Ora este problema não se salva por mera contraposição aos erros ou sevícias da Direita!

Quanto a esta, temos que ser mais detalhados na análise. A Direita conservadora, por exemplo, aproxima-se mais dos problemas ecológicos que nos afligem do que boa parte da Esquerda. Já na Direita "progressista", urbana e tecnológica, prevalece um comportamento tipicamente predador. Temos que ir com cautela e afastar os estereótipos

Escrevi, há mais de 25 anos atrás, que a velha dicotomia Esquerda-Direita morrera depois da grande purga Estalinista, depois de Auschwitz, depois de Hiroshima, depois da última Guerra do Vietname, e depois de conhecido o terror infundido em milhões de seres humanos por Mao Zedong ou Pol Pot. Opor a "esquerda" pura e boa à "direita" pura e má, é um exercício inútil de auto comiseração. Comparo-o há muito com as divergências entre monárquicos e republicanos, considerando ambas as retóricas simplesmente pueris.

O que deixámos para trás nas últimas eleições foi uma farsa e uma tragédia alimentada por ladrões de toda a espécie. Eram "socialistas"? Tanto pior para o PS, que não soube limpar as nódoas e extirpar o quistos a tempo e horas. Agora temos uma nova situação. Vou acompanhá-la com o espírito crítico de sempre. Mais preocupado do que nnca em imaginar possíveis soluções, do que alimentar as chicanas partidárias do costume.