quarta-feira, junho 20, 2018

A morte dos média



Cristiano by Nike, no Facebook. Uma conta com mais de 120 milhões de seguidores e fãs.

Depois dos mass media virá o hypermedia


A decisão de acabar, no fim deste mês, com o Diário de Notícias impresso em papel, que será em breve seguida pelo Público e pelo Jornal de Notícias, só peca por tardia. Por outro lado, vai aumentar a concorrência entre o Expresso e os outros semanários de papel. Na corrida do cabo, a CMTV lidera, à frente da SIC, TVI, RTP, Hollywood, mas o mais relevante é verificarmos como esta corrida se tornou rapidamente uma corrida de lémures em direção ao abismo. Os cavalos também se abatem!

Na realidade, o que já faliu há uma década a esta parte é o próprio modelo de média em que assentaram as sociedades industriais. Numa sociedade global eletrónica e digital desenvolvida a partir de satélites e cabos de fibra ótica, onde predomina a Internet, os chamados 'mass media' deixaram de fazer sentido e são sobretudo ineficazes quando comparados com os 'new media' e as redes sociais digitais, ou seja, aquilo a que Ted Nelson nos anos sessenta do século passado chamou hipermédia.

Acontecerá ao média tradicionais o que aconteceu à esmagadora maioria das mercearias e retrosarias depois do aparecimento das grandes superfícies comerciais e das marcas globais: uma extinção em massa. No caso de Portugal, a implosão em curso do sistema bancário indígena, bem como do protecionismo rentista nacional, só irá acelerar esta tendência, como estamos a ver. Esta transição tecnológica poderia ter decorrido de forma preparada, suave e avisada, mas vai ocorrer, ou está a decorrer, de forma brusca, inconsciente e injusta.

Num país com cabeça, esta evolução seria uma prioridade na discussão pública (em vez do Bruno de Carvalho!) A sociedade deveria debater abertamente o que pode estar em causa nesta transição, e como garantir a neutralidade da Net, ou as liberdades que podem estar em causa. Não é certamente metendo a cabeça na areia, como António Costa e a Geringonça fizeram no caso da compra abortada da TVI (Média Capital), ao grupo espanhol Prisa, pela Altice, que problemas de transição desta importância podem e devem ser analisados, enfrentados e resolvidos com o menor custo possível para a autonomia informativa e de opinião numa democracia.

O endividamento geral dos média portugueses, de que a recente venda do edifício-sede da Impresa se afigura como um péssimo augúrio, é uma Espada de Dâmocles que pesa sobre as suas principais cabeças. Sem sistema bancário, nem governo, em condições de os proteger, tornaraam-se naturalmente presas fáceis dos falcões que sobrevoam os produtores de conteúdos e as redes de telecomunicações e de hipermédia plantadas no planeta.

Sobre isto, como era de esperar, os bonzos burocráticos que opinam, nada previram, nada viram, nada sabem, nada comentam.

sábado, junho 16, 2018

Sem energia, nada feito!



Tenho duas más notícias:
  1. a energia nuclear é a única alternativa economicamente rentável ao declínio da energia elétrica oriunda do carvão, do petróleo (diesel) e do gás natural;
  2. a linha do crescimento económico é paralela à do consumo de energia, i.e.: sem energia, não há crescimento. E sem crescimento o mundo tal qual o conhecemos entrará num longo e prolongado declínio, povoado de enormes colapsos financeiros, convulsões sociais e guerras.
No nosso país, a aposta nas chamadas energias limpas e renováveis —hidroelétrica, eólica e solar— tornou a eletricidade mais cara. Este acréscimo de preço levou a grandes esforços de eficiência nalguns setores da nossa economia, mas não no principal: o setor dos transportes, onde, por exemplo, a descarbonização do transporte rodoviário, através de modernização e interligação da nossa rede ferroviária às redes europeias, foi criminosamente adiada, por motivos que ninguém entende, salvo se os interesses das tríades e a corrupção entrarem na análise. Por outro lado, o endividamento público exigido pela implementação das chamadas energias verdes pesará sobre todos nós durante, pelo menos, setenta e cinco anos. Como se isto não fosse já um desastre, o consumo de eletricidade caiu, e caiu ainda mais o consumo energético per capita. Porquê? Porque as pessoas tiveram que emigrar e/ou poupar na conta da EDP, e porque muitas empresas dependentes do consumo intensivo de energia fecharam, umas deslocalizando-se, outras não. Ora menos consumo de eletricidade significa menos faturação para o oligopólio formado pela EDP, REN, Endesa, Iberdrola e GALP, e menos receita fiscal, mesmo se ao consumo de eletricidade se veio a impor a tarifa máxima do IVA (“A subida da taxa de IVA de 6% para 23% entrou em vigor a 1 de outubro de 2011.” — Dinheiro Vivo, 26/7/2017). Mas mais importante ainda: significa menos produtividade e menos criação de riqueza!

É neste quadro que a guerra em volta do equilíbrios contratuais montou as suas barricadas. De um lado, os rendeiros cotados em bolsa, cujos escrúpulos deixam naturalmente muito a desejar. Ao lado destes, ainda que mascarados, está o regime devorista partidocrata instalado, e bem instalado, como se percebeu pela forma intempestiva como António Costa retirou o tapete a uma lei do parlamento que visava diminuir as rendas excessivas da EDP e quejandos. Do outro lado da barricada estão os consumidores, ricos e pobres, assediados simultaneamente pelo preço leonino da energia, e pelo saque fiscal dum insaciável estado partidário e burocrático, que, tal como o oligopólio da energia, se habituou a viver alegremente da extração de riqueza aos seus concidadãos.

A situação é tanto mais grave quanto se avizinham novas e mais graves crises financeiras e recessões. Meter a cabeça na areia, e persistir na propaganda e no circo mediático não vai resolver nenhum problema, mas poderá seguramente agravar irremediavelmente os que já existem. Será que alguém explicou isto mesmo ao presidente da república? É bem possível que sim. Doutro modo a sua mensagem enigmática sobre as cinzas do país permaneceria encriptada para sempre.

Junto a esta reflexão dois artigos, de leitura obrigatória, sobre o tema da energia. Sem percebermos bem este tema tudo o resto parecerá caótico e sem solução. 







100% renewable electricity at no extra cost, a piece of cake?
Jean-Marc Jancovici

Going to a low carbon economy is urgent. If we are serious about it, the good idea is not to waive nuclear for renewables, but to replace everywhere on the planet coal and gas-fired power plants by what has the lowest overall system cost: nuclear. Not doing it is, explicitly, suggesting that we take 10 times more time to phase out coal and gas from electricity generation (that represent together 28% of the overall greenhouse gases emissions in the world), which is equivalent to considering that climate change is a minor risk compared to the nuclear one. It is not because it is trendy that it is true.

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Our Energy Problem Is a Quantity Problem
Posted on May 30, 2018, by Gail Tverberg

Once energy consumption growth flattens, as it did in the 1920-1940 period, the world economy is negatively affected. The Great Depression of the 1930s occurred during the 1920-1940 period. Problems, in fact, started even earlier. Coal production in the United Kingdom started to drop in 1914, the same year that World War I began. The Great Depression didn’t end until World War II, which was immediately after the 1920-1940 period.

[...]

Recently (2013-2017), the world economy seems to have again reached a period of flat energy consumption, on a per capita basis.

In fact, in many ways, the flattening looks like that of the 1920 to 1940 period. Increased wage disparity is again becoming a problem. Oil gluts are again becoming a problem, because those at the bottom of the wage hierarchy cannot afford goods using oil, such as motorcycles. Young people are finding their standards of living falling relative to the living standards of their parents. They cannot afford to buy a home and have a family. Governments are becoming less interested in cooperating with other governments.

[...]

A major reason for the flat world per capita energy consumption starting in 2013 is the fall in China’s coal production after 2013. Coal production is falling in quite a number of other countries as well, as the cost of production rises, and as users become aware of coal’s environmental issues. Other sources of energy have not been rising sufficiently to keep total per capita energy consumption rising. A person can see in the China chart that wind and solar production are not rising sufficiently to offset its loss of coal production. (Wind and solar are part of Other Renewables.) This situation occurs elsewhere, as well.

What role do wind and solar play in maintaining world energy supply? The truth is, very little. While a great deal of money has been spent building them, wind and solar together amounted to only about 1% of total world primary energy supply in 2015, according to the International Energy Association.

[...]

Globalization requires ever-expanding energy supplies to meet the needs of a rising world population. To maintain globalization, we need a growing supply of energy products that are very cheap and scalable. Unfortunately, wind and solar don’t seem to meet our needs. Fossil fuels are no longer cheap to extract because we extracted the resources that were least expensive to extract first. Our problem today is that we have not been able to find substitutes that are sufficiently cheap, non-polluting, and scalable.

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Marcelo fora de prazo?

John Collier - Priestess of Delphi (1890).
Art Gallery of South Australia (in Wikipedia)

O Oráculo de Belém fez ouvir a sua voz. Mas que disse, afinal, a nossa irrequieta Pitonisa?


“Até ao fim da próxima legislatura se perceberá se somos ou não capazes de corrigir as assimetrias existentes, de ultrapassar as desigualdades que teimam em permanecer. É pois um desafio que começa na ponta final desta legislatura e que se prolonga para a próxima. Se formos capazes de fazer reviver até 2023 o que importa que reviva, Portugal será diferente. Se não formos capazes perdemos uma oportunidade histórica e condenamos alguns portugáis a serem muito ignorados, muito esquecidos, muito menosprezados e isso significa que falhámos como país.” 
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.


Que significa este discurso? Parece uma Pitonisa a orar sob a influência do que resta dos fumos assassinos de Pedrógão Grande. Parece, à partida, que dá de barato outro governo de António Costa, um governo desmamado das esquerdas, pois não haverá então ideologia que salve as asneiras da próxima Geringonça. Parece também que, se a próxima Geringonça falhar, tal como tem vindo a falhar até hoje em tudo que dependa da sua ideologia e ambições desencontradas, deixará de haver alternativa democrática à prova real da incompetência e ausência de utopia demonstradas pelo PS, PCP e Bloco. É isto, Senhor Presidente?! Se é, temo bem que o seu mandato, Senhor Presidente, tenha azedado antes do prazo de validade.

Para já, o Oráculo de Belém acaba de abençoar um estado de otimismo que soa cada vez mais a falso, dando a entender que o destino do pitão que nele neste momento habita será o mesmo da Nau Catrineta de António Costa: uma viagem cheia de perigos e sacrifícios, mas que pode chegar a bom porto. E se não chegar? Se a nau for, afinal, uma jangada sem destino destinada a estatelar-se contra o rochedo da realidade numa noite de tempestade financeira, que fará Marcelo?

segunda-feira, junho 11, 2018

O direito à habitação


Os devoristas do sistema apropriaram-se da democracia e transformaram-na num regime populista, habitado por demagogos profissionais, e milhares de corruptos à rédea solta.


Há mais lisboetas a alugar quartos e segundas casas (por vezes herdadas) do que a serem despejados de alojamentos que não podem pagar. Para muitos, o alojamento local e os alugueres clandestinos são a única forma de enfrentar o desemprego, o emprego precário e mal pago, a degradação dos salários ao longo de uma década, pensões miseráveis de reforma e o proto-fascista acosso fiscal.

Os idosos e os mais pobres que vivem em casas, quase sempre a cair de podres e imundas, sem elevadores, etc., em caso de despejo, devem contar com o apoio dos municípios (que têm a obrigação e os recursos para acudirem a estas situações), e do ministério da segurança social. Para isso pagamos mais impostos que o resto dos europeus!

Por enquanto há milho para todos: alojamento local e hoteis. Só em Lisboa foram criados em 2016 mais de 14 mil empregos no ramo imobiliário: construção, renovação e mediação. Uma casa vendida em Alfama significou quase sempre uma casa comprada na Margem Sul, ou na periferia de Lisboa. Ou seja, mais ainda do que o turismo, foi o investimento externo no imobiliário quem nos tirou da crise aguda em que estávamos.

Por enquanto o Medina e o Moreira protegem a recuperação do património degradado por décadas de populismo partidário (apesar do populismo barato da demagoga-mor da nossa democracia, a senhora Helena Roseta).

O direito à habitação é, como o direito ao pão, um bem a cargo da sociedade no seu conjunto, através das suas instituições, e através de políticas fiscais justas. Assim como não se obriga uma mercearia, ou a cadeia de supermercados Pingo Doce a oferecer pão a quem não tem, ou mesmo a vendê-lo mais barato por decreto, também as rendas das casas não devem ser uma propriedade política dos demagogos que nos desgovernam há décadas.

Uma mole partidária que cresce como uma nódoa de azeite falsificado (nem os deputados do Bloco escapam!), tal como arranja empregos para os filhos, netos, noras, sobrinhos, primos e amantes, também se especializou em fazer chegar as melhores casas camarárias a quem menos precisa...