quarta-feira, abril 30, 2008

Por Lisboa 16

Não matem o Grande Estuário!

Existem neste momento mais de 100 porta-contentores com capacidade de transporte variando entre 8 mil a 11 mil contentores. Cada um deles custa mais de 100 milhões de dólares, mas o negócio segue de vento em popa. Nos estaleiros navais há mais de 150 novas encomendas com prazo de entrega! Um dos maiores problemas colocados por estes mega-navios são as manobras de aproximação e acostagem nos portos actualmente disponíveis. O Canal do Panamá está neste momento a ser alargado para poder deixar passar os chamados Post Panamax container ships, do Pacífico para o Atlântico, e vice-versa. 30% dos porta-contentores actuais já pertencem a esta série. O maior deles, lançado à água em 2007, chama-se Emma Maersk: transporta 11 mil contentores TEU, mede 397m de comprimento, 56m de largura e tem um calado de 15,5m. Ler, a propósito, o artigo Global Logistics: Giant Cargo Ships Keep Coming.

Classe Genesis, uma série de gigantescos navios de cruzeiro, anunciados como verdadeiras cidades flutuantes de lazer, começarão a navegar em 2009 e 2010. O primeiro dos dois super-paquetes em construção nos estaleiros finlandeses de Aker, fará a sua primeira viagem inaugural no Outono de 2009, ligando a cidade de Turku a Miami. Passará por Lisboa? Se deixarmos destruir o Grande Estuário, não!

É preciso defender o Porto de Lisboa. Leia-se, a propósito, este manifesto esclarecido do Comandante Joaquim Ferreira da Silva, relatado pela Lusa.
Lisboa, 29 Abril (Lusa) - Deve-se "evitar a construção de quaisquer pontes" no estuário do Tejo, para preservar este grande potencial, quer turístico-paisagístico, quer técnico para o Porto de Lisboa, ou como grande hidro-aeródromo de mais de cinco quilómetros para "futuros hidroaviões de carga".

Quem o diz é o comandante da Marinha Mercante, Joaquim Ferreira da Silva, ex-professor e ex-director da Escola Náutica, que levanta sérias questões quanto à "precipitada decisão" de se construir a ponte Chelas-Barreiro, que irá "provocar entre outros danos, o assoreamento na margem sul, impedindo até a Base Naval do Alfeite".

Antigo alto funcionário das Nações Unidas, onde foi director de projectos das Escolas Náuticas financiadas pela ONU - tendo fundado as escolas de Casablanca, Maputo e Mindelo, o especialista considera que "não tem havido uma forte mobilização de pessoas conhecedoras dos problemas",e "nem mesmo têm sido consultadas".

"A decisão foi precipitada e não foram analisadas as consequências para os transportes marítimos nos próximos 50 anos", sustenta.

"Veja-se as enormes potencialidades do estuário, o maior da Europa, segundo um relatório da NATO,e que pode acolher, em caso de crise, um comboio de 30 a 50 navios de abastecimento, como na Segunda Guerra, ou uma ou duas grandes esquadras de marinha de guerra. E isto não é pensar à antiga, porque devemos acautelar o futuro, e neste futuro está a possibilidade de grandes hidro-aviões de carga poderem amarar numa pista com mais de cinco quilómetros de comprimento", defende.

Segundo Ferreira da Silva, o "Exército dos EUA está analisar alguns estudos" do célebre milionário Howard Hughes (proprietário da companhia TWA), com vista a grandes hidroaviões de transporte, com capacidade para 400 ou 500 homens.

"Como os aeroportos custam muito dinheiro, para os hidro-aviões basta um porto abrigado para amararem e, essa é outra razão para se poupar o estuário do Tejo", acrescenta, comparando à revitalização dos grandes paquetes "dados como mortos", e, "nunca houve como hoje tantos navios de cruzeiro".

O especialista "não pretende ser um Dom Quixote isolado", numa causa também partilhada por docentes do Técnico, entre os quais José Manuel Viegas, Fernando Nunes da Silva, Mário Lopes, Carvalho Rodrigues ou António Brotas.

Antigo professor de Navegação, Marinharia e Tecnologias de Navios, Ferreira da Silva sublinha a importância do Porto de Lisboa, "que tem de continuar liberto e, ter nos próximos 50 anos a competitividade necessária aos transportes marítimos subsequentes aos futuros grandes navios, como os Post-Panamax de 200 mil toneladas".

O especialista lembra a nova estratégia do Canal de Panamá, que em 2014 (comemora 100 anos) viabilizará navios de 200 a 300 mil toneladas, até 56 metros de largura e mais de 320 metros de comprimento e 24 metros de calado (profundidade), permitindo a circulação dos grandes navios vindos da China e do Japão.

"Perante esta estratégia, Lisboa não pode ficar no meio de um X, ou seja, entre as Américas, o Norte da Europa e o Mediterrâneo, a favor dos portos de Barcelona e Valência", sublinha.

Os grandes navios Post-Panamax levam mais de 10.000 contentores e, para tornar o Porto de Lisboa mais competitivo, tem de haver um terminal na margem sul (Trafaria), chamando a atenção para [o facto de] cerca [de] "90 por cento das infra-estruturas portuárias situarem-se entre as pontes Vasco da Gama e 25 de Abril".

Mas a situação agrava-se mais com a "destruição da chamada bacia de manobra do Porto de Lisboa, em que os grandes navios precisam de espaço... É necessário um quilómetro para a capacidade de manobra, implicando 300 metros de comprimento para um grande navio (dar espaço a outro semelhante), mais 300 metros para a amarra e outros 300 para a rotação ou deriva do navio, quando está fundeado".

Joaquim Silva diz que conheceu pessoalmente, aos 18 anos, o engenheiro Duarte Pacheco, então ministro das Obras Públicas, que só tomava decisões "baseadas em resultantes técnicas e que tivessem uma eficiência para 50 anos".

"Esta decisão é tão precipitada que não avalia o assoreamento da própria Base Naval do Alfeite e da margem sul, para onde se deve fazer a expansão do Porto de Lisboa, especialmente em termos de contentores".

"Com esta ponte para o Barreiro nunca mais irão navios com 9 ou 10 metros de calado (5.000 toneladas) para a zona da antiga CUF, como o terminal de Rosairinho (da Gascidla) entre o Montijo e o Seixal, e o cais da Siderurgia. O próprio relatório do LNEC sobre a nova ponte diz que o local fica assoreado", comenta Ferreira da Silva.

Todos os obstáculos colocados no Tejo travam a circulação dos detritos, provocando assoreamento, porque a ponte para o Barreiro "vai ser um autêntico pente que se enterra no estuário, originando também cheias nas zona de Alverca", a montante da Vasco da Gama, adverte.

Além disso, "os navios de cereais que, antes de aportarem ao cais do Beato, vão ao largo aliviar a carga para barcaças, nunca mais poderão fazer esta operação de transbordo, numa zona onde esteve fundeado em 1951 o "USA Missouri", o maior couraçado do mundo, a bordo do qual foi assinada a rendição do Japão com o general McArtur.

Para o especialista "não se devem fazer mais pontes no estuário", mas optar-se pela travessia em túnel, como a prevista para Algés-Trafaria, questionando se alguém faz pontes nos lagos da Suíça, para os atravessar, aludindo ao capital paisagístico e à imagem de marca, que representa o estuário do Tejo para o Turismo. AV. Lusa/fim



REFERÊNCIAS

  1. Avaliação Comparativa das Alternativas Existentes de Travessia do Tejo na Área Metropolitana de Lisboa. MOPTC, Março 2008. (PDF CONFIDENCIAL)
    A solução Ponte Beato-Montijo, ainda em fase incipiente de desenvolvimento, desde que respeite os condicionamentos que a APL vier a definir para as zonas de atravessamento, revela-se também mais vantajosa do que a solução (em ponte) Chelas-Barreiro, dado que, por estar mais a montante desta, interferirá, em princípio, em muito menor grau com a navegação portuária e não obrigará à deslocalização de qualquer nas infra-estruturas portuárias actualmente existentes no Porto de Lisboa.

    "The analysis was based on the available information and the conclusion is that, in what regards the operation and safety of harbour navigation in the Port of Lisbon, the Beato-Montijo alternative (either tunnel or bridge) is more favorable than the Chelas-Barreiro alternative."
  2. An ocean of opportunity
    "Europe is surrounded by seas and oceans; the Atlantic and Arctic Oceans, the Baltic Sea, the North Sea, the Mediterranean and the Black Sea. The sea is our past, present and future. The European Union needs a comprehensive Integrated Maritime Policy to benefit from the full potential of our seas and oceans.
    On 10 October 2007, the European Commission presented its vision for a Integrated Maritime Policy for the European Union. The vision document - also called the Blue book - was accompanied by a detailed Action Plan and a report on the results of the broad stakeholder consultation." Videos. Paper (PDF).
  3. Reserva Natural do Estuário do Tejo
    "A Reserva Natural abrange extensa superfície de águas estuarinas, os mouchões da Póvoa, do Lombo do Tejo, das Garças e de Alhandra bem como o sapal de Pancas, este último sulcado por uma teia de calas e canais, atravessado pelo rio Sorraia e ladeado por pequenas áreas de montado e pinhal manso. O essencial do coberto vegetal é dominado pela mancha de sapal, traço de união entre as águas e a superfície emersa." -- in Portal ICNB.
  4. Política Marítima da UE, Factos & Números - Portugal (PDF).
  5. Maritime Transport Policy -- Improving the competitiveness, safety security of European shiping. (PDF).
  6. Association of National Estuary Programs (website).
  7. Working paper on guidelines on monitoring and assessment of transboundary estuaries (PDF).
  8. MARETEC (IST) -- Tagus Estuary (website).
  9. Tagus Estuary, on OPCOM Coastal Management Sites (website).
  10. An Operational Model For The Tagus Estuary (PDF).
  11. Dinâmica de sedimentos e metais pesados no estuário do Tejo; Influencia das plantas e dos peixes (MECTIS). Projecto financiado pela FCT (Link).
  12. Organotin in the Tagus estuary.
    "The tri(n-butyl)tin (TBT) moiety has been shown to have complex ecotoxicological effects on estuarine populations. In the Tagus the massive die-off of the Portuguese oyster (Crassostrea angulata Lmk), has been attributed to the introduction and use of this contaminant by shipyards. This paper reviews previous work by others and reassesses our results obtained in water and sediments of the Tagus estuary, as a contribution to the understanding of tin geochemistry and organotin speciation in this estuary. Contrary to earlier results, the latest surveys show that in the open waters of the Tagus measurable concentrations of all the three butyltin species occur, exhibiting peak concentrations at two locations that indicate two previously undetected sources of TBT. TBT also presents a peak concentration in sediments near the Lisnave shipyards, as previously suggested. The latest surveys still detected methylated forms of tin, particularly monomethyltin (Me Sn^3+), in Tagus sediments, with maximum concentrations in the vicinity of urban effluent discharges. The concentrations for TBT and its degradation products found in the Tagus are potentially harmful to the populations of gastropods and endemic bivalves." -- in Ingenta Connect.
  13. Masterplan de Richard Rogers para a Margueira-Almada (Forum).
  14. Tagus Estuary (a visiting guide)
    "Visit the Tagus Estuary nature reserve and go bird watching, with flamingos perfectly visible in the midst of a lush green landscape. Don’t forget to take your camera!" (website).


OAM 352 30-04-2008, 01:02 (actualização: 01-05-2008 03:19)

terça-feira, abril 29, 2008

PPD-PSD-3

Populismo suave, populismo duro

Prolongar o actual status quo no PPD-PSD seria como manter a soro um doente em fase terminal, crendo que o falido Bloco Central poderá renascer das cinzas, quando o que começa a ser evidente para todos é a emergência imparável de populismos de sinal contrário, com tudo o isso possa ao mesmo tempo significar de renovação e condenação do actual regime democrático. Pela frente temos um tempo de crise profunda à escala europeia e mundial. Assim sendo, não há nada pior que evitar as discussões difíceis. A repetição, em tão curto período, das directas do PPD-PSD é um sinal evidente da instabilidade que nos espera.
"As we know, the 'catch-all' party is not the political party's final and definitive incarnation. Since 1970's, in fact, another mutation has occurred with the rise of what Richard Katz and Peter Mair (1994; 1995) term the 'cartel party', denoting the oligopolistic transformation of interparty competition through which parties have established links of cooperation/collusion. Emboldened by their positions of strength vis-a-vis the state, they worked together to discourage new entrants into the political market and to ensure their own confortable survival, independent of electoral competition. In short, the parties found safe haven within the state, on whose resources they largely depend and of which they can almost be viewed as expressions (Van Biezen, 2004).

... "The evolution of the parties followed a parallel route to that taken by organized production. Mass-based parties attracted support by integrating the electorate and organizing it according to the same type of hierarchical model also adopted both by the state and the Fordist factory. If the latter was labour-intensive, the parties were member-intensive. In similarly parallel fashion, the parties of today have dismantled their old organizational structures and assigned crucial segments of their productive cycles to specialized agencies, while superficially enhancing the role of members and activists through primaries and direct elections. It is clear, however, that while their 'shareholders' may be present at assemblies, they do not threaten the monopoly of the management, which often controls the composition of the body of shareholders. The parties have not become less important. Indeed, they continue to post impressive gains in terms of public offices secured. However, they have become something else, something which has diminished their democratic nature.

... "According to the Trilateral Comission [report by Michel Crozier, Samuel Huntington and Joji Watanuki (1975); ... "although it is also worth mentioning the work of Niklas Luhmann (1990) ...], democracy had involved citizens too much. It had made them too active. It had overprotected them, but to their own detriment, since it had pushed them towards making excessive and particularistic demands which damaged the effectiveness of democracy. The remedy, therefore, for the good of democracy, lay in driving redundant pluralism back towards society and out of the political sphere. This solution did not profess to wish to surpress social pluralism or fundamental rights such as the freedom of thought or association. Rather, it claimed to desire to put things back in their proper place by restraining a political pluralism which had become counterproductive and by revising the mechanisms of representation. After all, it was argued, democracies were now mature, predicated on solid agreements regarding their foundations, while what citizens really needed most of all was good government and good policies, carried out by authoritative and competent leaders, so that they, the citizens, could devote themselves to their own affairs in peace and tranquility.

To this end, the Trilateral specifically called for an about-turn in how parties functioned: from being selective carriers of social pluralism, they should become selective filters of political pluralism. ... "In this way, from the idea that democracy should function thanks to hospitable and welcoming parties, the prevailing logic - above all that of the Establishment - moved towards an idea that, since the defeat of Fascism, only the most obtuse and isolated conservatives had dared to profess: that democracy, democratic participation and politics itself are harmful, particularly when administered in large doses." -- in "Politics against Democracy: Party Withdrawal and Populist Breakthrough", by Alfio Mastropaolo; Twenty-First Century Populism; Ed. Daniele Albertazzi & Duncan McDonnell.

O dilema profundo do PPD-PSD é este: que opor ao populismo suave de José Sócrates?

Um populismo forte e truculento (Alberto João Jardim) que o faça sair do sério e perder as eleições de 2009, ou, pelo contrário, uma promessa de competência, seriedade e respeitabilidade (Manuela Ferreira Leite), com a ambição menor de retirar, num primeiro passo, a maioria absoluta ao PS, para depois, numa possível eleição intercalar, chegar ao poder, reeditando em ambos os passos a valsa gasta do Bloco Central?

Há ainda uma terceira via, que julgo ter vislumbrado esta noite ao escutar as declarações de Marco António, líder incontestado da distrital do PSD do Porto e vice-presidente da câmara municipal de Vila Nova de Gaia, ao Jornal das Nove (SIC). Para este político, que parece saber o que quer, Pedro Passos Coelho até poderá transformar-se numa alternativa credível a Manuela Ferreira Leite (e desde logo ao desastrado Pedro Santana Lopes.) Mas para isso, teria que fazer alguns ajustamentos estratégicos e programáticos importantes no seu discurso, até agora recheado de banalidades neoliberais fora de prazo. O meu pessimismo relativamente à capacidade de resposta do antigo líder da Juventude Social Democrata é, porém, absoluto. Daí que, em minha opinião, Marco António precise de pensar rapidamente se não será tempo de avançar ele mesmo, com as ideias que tem, para a disputa da liderança do partido laranja, marcando desde já uma posição clara, preparatória de futuros voos. Num ponto Marco António tem toda a razão: as alternativas que se apresentaram até agora estão velhas e gastas.

Santana e Ferreira Leite, por mais que queiram, não poderão surpreender. Santana ficará seguramente pelo caminho. Mas o efeito que a vitória provável de Manuela Ferreira Leite terá no partido, depois de superada nova catarse eleitoral, acabará por ser o agravamento da agonia em curso do PPD-PSD. Jardim, ao contrário do que cheguei a crer, está receoso e não tem efectivamente tropas no continente (vai esperar pela terra queimada.)

O populismo suave de Sócrates não se depara, conhecidos que foram os candidatos às próximas directas do PPD-PSD, com nenhuma alternativa temível. Tanto mais que o actual governo tenderá a intensificar as suas manobras de propaganda e sedução populistas até às legislativas de 2009.

Se decidir abrir alas à vitória de Manuela Ferreira Leite, por verificar que a alternativa Pedro Passos Coelho não passa de uma promessa pífia, Marco António ganhará porventura o tempo de que necessita para projectar a sua aposta estratégica de renovação geracional da liderança do PSD, da qual seria provavelmente o principal protagonista. Quando Marco António repete a ideia de que é preciso bom senso, ressoa claramente o aviso sobre a extrema fragilidade actual do seu partido. Nisso está plenamente sintonizado com Manuela Ferreira Leite. Uma sintonia que, bem vistas as coisas, poderá salvar o segundo maior partido português de uma extinção prematura.

As coisas poderão, no entanto e apesar de todos os cuidados, ir noutra direcção. O cenário da cisão continua de pé. Entretanto, uma certeza: o tempo de crise extrema que aí vem não poderia ser mais propício à proliferação dos populismos. Não vale a pena excomungar o fenómeno sem sequer discuti-lo. Os partidos tradicionais não só enfermam todos eles de tiques populistas, como o status quo de que fazem parte e inconscientemente acarinham há décadas passa por ser um dos grandes fermentos desta forma de empobrecimento, desvio e finalmente deformação da pulsão democrática.

Donde que a pergunta crítica que me apetece colocar neste momento seja esta: existe ou não uma variante europeia de populismo, civilizada, sofisticada e incapaz de subverter os pressupostos básicos da democracia representativa suportada por uma clara e bem institucionalizada divisão de poderes? E se a resposta for afirmativa, qual seria o seu papel na regeneração das democracias ocidentais?


OAM 351 29-04-2008, 03:56

quinta-feira, abril 24, 2008

PPD-PSD 2

O Joker do Atlântico

Depois de uma noite de facas longas, Jardim regressou ao Funchal com uma certeza: no Continente só viu candidatos fracos, como uma Manuela Ferreira Leite incapaz de chegar a primeira-ministra, e alguns exóticos, entre os quais se deparou, inesperadamente, com o cadáver ambulante de Pedro Santana Lopes.

Há quatro partidos dentro do PPD-PSD: o PSD de Cavaco, Pacheco Pereira e Manuela Ferreira Leite, o PPD dos herdeiros desvairados de Sá Carneiro, entre os quais se destacaram pela caricatura, Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes, o PiSD, de Alberto João Jardim -- impagável jindungo da nossa malbaratada democracia --, e o grande vagão laranja de quem um dia espera ser ministro ou motorista de Aníbal Cavaco Silva, de Alberto João Jardim, ou de qualquer outro distribuidor de empregos pouco especializados.

No momento em que escrevo estas linhas começou o processo de execução do zombie em que se metamorfoseou Pedro Santana Lopes na sua teimosia em não morrer com o mínimo de dignidade política exigível a um ex felizmente brevíssimo primeiro ministro. Convém que a execução seja rápida. Amanhã, ou quanto muito, depois das festividade abrilistas, o populismo voluntarioso e experiente do líder da Madeira deveria começar a desinfectar o PiSD dos seus candidatos exóticos à liderança e das suas obsoletas sobrevivências "maoístas", lançando-se sem demora às goelas de José Sócrates. O país está a precisar dum bom Thriller!

Há muito que defendo a necessidade de partir ao meio (ou mais ou menos ao meio) a laranja e a rosa do nosso esgotado e corrompido Bloco Central. O populista que a tríade de Macau colocou em desespero de causa à frente do PS e do país, merece um populista à altura, capaz de o pôr na ordem e de divertir ao mesmo tempo o país durante o tango político que, presumo, já ninguém conseguirá evitar. A cisão do PPD-PSD é inevitável. Quanto mais cedo se der melhor.

Quanto mais cedo se der, mais cedo precipitará a cisão do PS e a renovação imprescindível do apodrecido espectro político-partidário que temos. O CDS deve desaparecer, porque na realidade há muito que não existe. Os socialistas devem mandar o Sócrates e a tríade de Macau às urtigas e refundar o seu partido em moldes cultural e tecnologicamente decentes. A linda Joana Amaral Dias deve dar um golpe de Estado no Bloco de Esquerda e fazer daquilo um partido pós-contemporâneo capaz de atrair de novo a juventude para o debate político e para a cidadania activa. Em suma, os sociais oportunistas do PSD e do PS devem juntar os trapos sob a batuta de José Sócrates e do sagaz Júdice, e formar uma espécie de partido neo-tecnocrata e tardo-liberal.

Sabem uma coisa? O elogio de Jaime Gama a Alberto João Jardim afinal não foi um lapso. E mais, a noite passada sonhei que o actual presidente da república aproveitou o passeio pelo arquipélago da Madeira para indicar ao populista que o governa há mais de trinta anos, um destino inadiável: Lisboa! Se não for desta, será na próxima crise do moribundo PPD-PSD.


OAM 350 24-04-2008, 21:06

quarta-feira, abril 23, 2008

Barragens

Linha do Tua
Linha do Tua, um dos mais belos e históricos trajectos ferroviários da Europa, ameaçado de
execução sumária por um governo irresponsável e desnorteado (foto: RR)


Patos-Bravos & Socratintas Associados
assassinam rio Tua!


I
Especuladores bolsistas da EDP (quem actualmente a dirige não passa dum factotum), mais a Patos-Bravos & Socratintas Associados pretendem assassinar a Linha do Tua! Lembram-se da consigna "As Gravuras não sabem nadar!"? Pois estamos agora perante uma conspiração contra o desenvolvimento local ainda mais grave! Douro e Trás-os-Montes precisam de melhorar o seu azeite, o seu vinho, as suas amendoeiras, o seu turismo residencial e de passagem, os seus clusters tecnológicos, os seus institutos universitários e técnico-profissionais. Precisa de fixar as populações e precisa de atrair novos protagonistas. Não precisa para nada da barragem do Tua!

De todas as novas barragens previstas pela Patos-Bravos & Socratintas Associados, a do rio Tua, é a que menos, ou melhor, nenhum sentido faz. Antes de construir novas barragens seria mais lógico, mais barato e mais sustentável optimizar as que existem, substituindo e renovando os respectivos conjuntos geradores de energia(1), com o que se poderá obter um acréscimo de produção na ordem dos 30%. E antes de encalacrar mais o país, para satisfazer a preguiça empresarial da Patos-Bravos & Socratintas Associados, há que investir na eficiência energética, onde poderemos recuperar mais 30% de energia (2), actualmente literalmente atirada à rua! E finalmente, temos muita energia solar e marítima (3) por explorar.

Neste país governado por corruptos e imbecis contam-se pelos dedos de uma só mão as centrais e instalações solares foto-voltaicas em funcionamento, enquanto na Espanha existem mais de 160 centrais, "quintas", "hortas" e instalações foto-voltaicas, sendo que o país vizinho é provavelmente o país do mundo onde mais investimento preventivo foi realizado para mitigar o estrangulamento energético oriundo do pico petrolífero mundial. Os espanhóis disporão em 2010 da maior rede de alta velocidade ferroviária do planeta (e em 2020 toda a sua rede ferroviária terá sido reconvertida para a bitola standard europeia); dispõem já da maior capacidade instalada de energia eólica e solar do mundo; têm uma das agriculturas tecnológicas mais empreendedoras e avançadas da Europa. Por cá, a nomenclatura asfixiante que continua a dominar leva alegremente Portugal para o abismo! Não se admirem pois que, dentro em breve surjam tensões regionais e autonomistas explosivas. Desde logo a começar pelos arquipélagos da Madeira e dos Açores. O aviso está feito!

II
Rui Rodrigues: "Estão previstos alguns investimentos, em Espanha, que indirectamente irão beneficiar a região de Trás-os-Montes. Nos próximos anos, com a conclusão da nova rede ferroviária espanhola, vai ser possível ligar Madrid a Puebla de Sanábria, em 1 hora e 40 minutos e a capital espanhola a Salamanca, em 1 hora e 30 minutos. Está também prevista a reabertura do troço de Fuente de S. Estéban até Barca de Alva, que ligará a fronteira portuguesa a Salamanca. Se do lado português for reaberta a via desde Barca de Alva até ao Pocinho, a linha do Douro terá ainda maiores potencialidades turísticas.

"Quanto mais tráfego tiver a linha ferroviária do Rio Douro e melhor funcionar, maior beneficio resultará para a linha do Tua, que dela depende, e que já foi considerada, por revistas estrangeiras, como uma das cinco mais belas linhas turísticas da Europa. Em Portugal, existem poucos locais com aquela beleza, sendo difícil descrever, por palavras, os cerca de 54 quilómetros de via férrea, que separam Mirandela da foz do Tua, pois é uma experiência inesquecível, que fica na memória de qualquer visitante e com o desejo de um dia lá voltar. Para se ter uma ideia da beleza ao longo deste itinerário, podem-se ver as fotos aqui." -- Ler integralmente este excelente artigo na edição electrónica do Público.



NOTAS

  1. Só que este tipo de investimento não faz subir as ações! E por isso, os piratas especuladores, responsáveis pelo actual colapso financeiro mundial, preferem mais barragens, mais activos, ainda que a factura fique por pagar durante várias gerações, como sucede actualmente, por exemplo, com os estádios de futebol vazios, com as SCUTs e com os encargos das criminosas parcerias público privadas (ponte Vasco da Gama e as loucuras chamadas Novo Aeroporto de Alcochete e Nova Travessia Chelas-Barreiro, entre outras). Temos que parar com esta sangria e pôr na prisão os seus autores!

  2. O que disse Nuno Ribeiro da Silva (ex-Secretário da Energia do governo Cavaco Silva e actual presidente da ENDESA-Portugal, a maior empresa energética e de distribuição de gás espanhola):

    "Nuno Ribeiro da Silva entende que é possível poupar mais electricidade com a instalação de lâmpadas de baixo consumo do que se produziria com uma central nuclear. Defende que os preços da energia eléctrica deviam ter aumentado 9% e entende que, mais do que construir novas barragens, só porque é chique, é necessário e mais barato aumentar a potência instalada nas barragens existentes. A política fiscal deve, em seu entender, estar coordenada com os objectivos da política energética."

    "As pessoas gostam mais, e acham mais chique, fazer centrais novas do que pegar nas que existem e fazer o upgrade. Quanto se poderia aumentar? Podia-se aumentar a potência das barragens, como acontece nos casos de Venda Nova II e do Picote II. No todo nacional não se chegaria a duplicar a potência instalada, mas poderia chegar-se a mais 35%. Alqueva está preparada para duplicar a potência. Mas há outra coisa interessante. Temos no território um potencial de água e de vento que se for combinado de forma inteligente permitir-nos-á chegar a um nível de auto-suficiência que poderá ultrapassar confortavelmente os 50%. E é engenharia nossa com recursos nossos (vento e água) e o know-how seria exportável. Para isso era necessário estudar as intervenções nas barragens existentes e as novas a construir, articulando tudo com o eólico. Há muita coisa que se pode fazer e não são apostas (como no nuclear) é só arregaçar as mangas e meter mãos à obra."

  3. Mesmo deixando de lado a nova geração de reactores de energia nuclear, em fase acelerada de desenvolvimento na Europa, a energia eólica, a energia fotovoltaica e solar térmica, e ainda a energia das ondas e marés dos milhares de quilómetros das nossas costas e Zona Económica Exclusiva bastam para demonstrar à saciedade a brutalidade da opção de construção de novas barragens pelo actual governo. Ferir desnecessariamente economias locais e regionais, e destruir paisagens e património industrial (Linha do Tua) únicos, quando as tecnologias alternativas e sustentáveis de que necessitamos para a nossa autonomia energética se encontram ao virar da esquina, sendo ao mesmo tempo grandes oportunidades estratégicas para o desenvolvimento económico do país, só não é uma prova de completa estupidez governativa, porque é, isso sim, a demonstração de que a corrupção inunda os corredores ministeriais e parlamentares da nossa democracia.

REFERÊNCIAS

  • New generation of nuclear power
    "Research into a new generation of nuclear power plants is being conducted in the form of irradiation studies. By the middle of the 21st century cheaper and environmentally friendlier form of atomic energy may be available, being even safer than today’s technologies." -- Greener, cheaper, safer, in EU-Research Information Centre.

  • Wave Power and Technology
    Waves are caused by wind blowing over water, and winds are generated by the sun heating the earth. Water covers around three-quarters of the earth's surface. The World Energy Council estimates that the energy that can be harvested from the world’s oceans is equal to twice the amount of electricity that the world produces now.

    Wave energy technology is very young compared to generating electricity from hydro or wind turbines. Wavegen is at the leading edge of developing methods to harness wave energy and convert it into electricity using processes and technologies that do not damage the environment. (PDF)

    CETO A patented technology that delivers Zero-Emission Power and Freshwater from the energy of the ocean's waves. CETO is the only wave energy technology that pumps high pressure seawater ashore making it the most efficient and cost effective way to desalinate freshwater from wave energy.

  • IEA Ocean Energy Systems Implementing Agreement 5 Year Strategic Plan 2007 – 2011

    The IEA Ocean Energy Systems Implementing Agreement (IEA OES) was launched in 2001 with approval from the IEA CERT and the Renewable Energy Working Party. The need for technology cooperation was identified in response to increased activity in the development of ocean wave and tidal current energy in the latter part of the 1990’s and the beginning of this decade, primarily in Denmark, Portugal and the United Kingdom. These three countries were the inaugural signatories to the IEA OES Implementing Agreement. (PDF)

  • IEA | OES International Energy Agency | Ocean Energy Systems

    Available global Ocean Energy resource is in the same order of magnitude of the present electricity production worldwide. Five basic forms for Ocean Energy can be harvested to generate electricity and fresh water by various means. (PDF)

  • Ocean Energy Glossary

    The primary aim of this glossary is to provide an efficient and fast reference to the ocean energy specific terms for professionals and the general public. Further, it is meant to give some contribution to promoting best practice and use of common concepts in the ocean energy field. Given the role of international organisations in promoting the use of "standard" concepts, the IEA-OES proposed in collaboration with the CA-OE project to develop a glossary to influence harmonization of terminology in Ocean Energy. (PDF)


OAM 349 23-04-2008, 13:00

terça-feira, abril 22, 2008

Por Lisboa 15

Futura localização Central TGV de Lisboa, Opção A
Futura localização da Estação Central de Lisboa: Opção A (solução concentrada subterrânea e em altura).

Meu caro António Costa, seja realista!

Os lisboetas já terão que pagar o namoro (caríssimo!) entre Santana Lopes e Frank Gehry. Não endivide mais a pobre cidade com novo namoro, agora entre si e o desleixado Calatrava. O apeadeiro de comboios chamado Gare do Oriente custou 250 milhões de euros. Você anuncia agora, com pompa e circunstância, que quer gastar mais 86 milhões em algo irreparável e que nunca deixará de ser um apeadeiro. Porquê? Para quê? À custa de quem? Com o petróleo a roçar os 120 dólares (mais de 150 daqui a um ano), concentre-se, por favor, em soluções inteligentes, práticas, rápidas e baratas. Os euricos não dão para mais!!

Você e os lunáticos que o rodeiam querem, pelos vistos, destruir o Porto de Lisboa, uma bagatela com mais de mil anos de serviços prestados ao país, à Europa e ao Mundo. De facto, seria essa a consequência imediata da combinação entre o fim da estação ferroviária e do molhe de acostagem de navios de Santa Apolónia e a construção da desnecessária e estuporada ponte Chelas-Barreiro. Esta ponte, a ser construída, aumentaria o assoreamento do Mar da Palha para níveis economicamente incomportáveis, ao mesmo tempo que comprometeria a manobra, estacionamento e amarração dos grandes navios de passageiros e mercadorias (neste momento em construção, por serem a resposta ao encarecimento imparável dos combustíveis). Por outro lado, as rações que alimentam indústrias pecuárias importantíssimas para o país, e aportam diariamente ao cais de Santa Apolónia com destino à zona do Oeste, teriam que ser desviadas para Setúbal ou Sines! O estuário do Tejo perderia assim grande parte do seu valor e potencial económico futuro. E como é evidente, a lógica deLux dos levianos que o rodeiam não descansariam enquanto não ocupassem todo o porto de Lisboa com hotéis, pizzarias, barras dinâmicas de Sushi (para comer o último atum do mediterrâneo!), discotecas, ginásios, saunas e muitas Experimentas inúteis pelo meio. O monstro que promete sair da pouca massa cinzenta que o assessora, caro Presidente, é realmente assustador. Faça uma pausa, suplico-lhe, e respire! Aproveite para pensar um minuto pela sua própria cabeça. Não é assim tão difícil. Se desejar, eu e alguns cidadãos atentos e responsáveis estamos dispostos a almoçar consigo, para lhe mostrar detalhadamente como e porquê, se persistir na actual direcção, não só falhará os objectivos anunciados (lembre-se do pobre Santana!), como porá em causa o seu futuro político, que estimo possa ainda vir a ser brilhante.

Futura localização Central TGV de Lisboa, Opção B
Futura localização da Estação Central de Lisboa: Opção B (a melhor solução para a ex-Feira Popular).

De momento, não fazem falta nem novo aeroporto, nem nenhuma terceira ponte sobre o Tejo a oeste da Vasco da Gama!

A Portela deve ser preparada, porque pode ser preparada, para resistir mais 20 anos sem problemas de maior. Precisa de ampliar o Taxiway, precisa de mais mangas, precisa de um sistema de gestão de bagagens actual e eficiente. E precisa, antes de tudo o resto, de ver integralmente substituída a turma de inúteis até agora encarregue de o gerir. No limite, deverá ser previsto o uso de alguns terrenos imediatamente adjacentes às actuais pistas, podendo e devendo expropriar-se uma fatia da falida Alta de Lisboa para melhor atingir este desiderato possível e desejável. Feito isto, o aeroporto da Portela seria especialmente dedicado às companhias ditas de bandeira e aos voos executivos. Se alguém lhe vier com a historieta do aeródromo de Tires, diga-lhes que não passa de uma balela e apenas serve para treino de maçaricos.

Ao mesmo tempo, e isso é sobretudo coisa do governo, há que adaptar a base aérea do Montijo para as companhias de Low Cost (1). Estas precisam apenas do que lá está (uma infraestrutura barata), com adaptações e modernizações mínimas. Coisa para estar resolvida em dois anos no máximo. Os militares deveriam ir, como já estão a ir... para o aeromoscas de Beja!

Finalmente o TGV, ou melhor o AVE.

Pois bem, a solução técnica já existe e já foi usada em Espanha: os comboios circulam de Madrid até ao Pinhal Novo em carris de bitola standard (ou europeia), e no Pinhal Novo adaptam o rodado à bitola ibérica dos carris da ponte 25 de Abril (2), terminando tranquilamente as suas viagens na Estação Central de Entrecampos, um magnífico edifício ou conjunto de edifícios situados no terreno municipal da Feira Popular, ou se se preferir, no terreno que a própria CP dispõe junto à actual estação Roma, mais acanhado mas ainda assim mais do que suficiente. Lógico, sustentável e de muito rápida concretização.

Repare que não lhe estou a levar um tostão por este conselho, quando na verdade, pelas tabelas ocultas que se praticam nas empresas de vão-de-escada que trabalham para o seu partido e para o seu parceiro do Bloco Central, isto custaria, pelas minhas contas (só a ideia!) uns 500 mil euros. Mas mais importante do que a minha bondade (que conta com o apoio de inúmeras almas cheias de sabedoria, apaixonadas e de boa vontade) é a sustentabilidade extraordinária da solução que lhe proponho. Tenho a certeza de que tudo o resto que tem sido aventado por aí não passa, no fundo, de estratagemas de sangria do erário público. Como calcula, um crime inaceitável nos tempos que correm. E sobretudo naqueles que nos esperam!

Sabe, meu caro presidente, porque é que a Marina do Parque das Nações se deixou transformar num pudim de lama? Pois por uma simples razão: porque foi privatizada! Sendo privada, não há quem queira pagar a dragagem do local. Seria isto o que aconteceria a toda a margem norte do Tejo, ao longo do actual porto de Lisboa, se o mesmo deixasse de ser rentável, ou fosse privatizado pelos lunáticos que o mal-aconselham. Conselho amigo!



NOTAS
  1. Se não for activado rapidamente o aeródromo do Montijo para as companhias de baixo custo, podem ter a certeza, senhores edis da região de Lisboa e Vale do Tejo, que as alternativas Low Cost irão direitinhas para o aeroporto Sá Carneiro, na Maia, e para o remodelado aeroporto de Badajoz. Esqueçam qualquer hipótese de a Ryanair, da easyJet, da Airberlin, e das Low Cost españolas, se sobreviverem até 2015, de virem a operar na putativa cidade aeroportuária imaginada pelo lunático Mateus -- autor genial do aeromoscas de Beja!
  2. Com a imparável alta dos preços dos combustíveis já começou a diminuir significativamente a utilização das pontes 25 de Abril e Vasco da Gama. E ainda a procissão vai no adro! Ou seja, cada vez mais pessoas procurarão a Fertagus, os Cacilheiros e os Catamarans para cruzar o Tejo e o seu grande estuário. A Fertagus precisa urgentemente de adquirir mais 9 comboios (UQEs), para poder passar dos actuais 80 mil passageiros transportados/dia para 120 mil, ou seja, menos 33 mil veículos a entrar na capital! Para isso precisa de investir uns 45 milhões de euros - uma ninharia que seria co-financiada sem qualquer obstáculo pelo QREN se este não estivesse na mão de uma dúzia de piratas. Além do mais, os 3,5 milhões de euros deitados à rua (sob a forma de indemnização suplementar à Lusoponte!) por cada borla de Agosto, em nome da mais pura demagogia, seria suficiente para pagar os nove novos comboios da Fertagus em pouco mais de uma década. Ou seja, o problema só não se resolve porque a sórdida política dos interesses e a corrupção continuam a sabotar uma medida de gestão que beneficiaria grandemente quem começa a deixar de usar o automóvel para se mover entre as duas margens. Esta simples medida beneficiaria Lisboa, pela diminuição muito significativa do número de automóveis que hoje pastam em cima dos passeios e curvas da cidade, e diminuiria grandemente a factura energética e as penalizações pelas excessivas emissões de CO2 que a desorganizada e ineficiente economia portuguesa produz anualmente. Quem tem medo de agir, compra um cão!

OAM 348 22-04-2008, 18:47

sexta-feira, abril 18, 2008

PPD-PSD

Ribau Esteves e Luis Filipe Menezes
Menezes e Ribau Esteves, dupla a caminho do neo-PPD?

E agora Pacheco?

The populist Zeitgeist: "... in the twenty-first century, there exist better conditions for the emergence and success of populism than ever before." - in Twenty-first Century Populism; ed. by Danielle Albertazzi and Duncan McDoonnell, 2008).
A "bomba" de Pacheco Pereira parece que estourou na boca do priorato da capital. Queriam empurrar o líder democraticamente escolhido há seis meses em eleições directas para novo congresso, e eis que ele se antecipa, deixando o pobre PPD-PSD à beira dum ataque de nervos.

Luís Filipe Menezes anunciou esta noite a sua demissão de secretário-geral do PPD-PSD, afirmando não estar na corrida para a nova liderança, ao mesmo tempo que desafiou a meia dúzia de conspiradores contra o seu consulado a chegarem-se à frente, caso tenham fibra para tal. Se os visados são Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira, José Pedro Aguiar-Branco, Pedro Passos Coelho, António Borges e Nuno Morais Sarmento, estamos conversados.

O professor e o biógrafo são bons comentadores de televisão, mas não mexerão um dedo daqui para a frente. O Aguiar-Branco e o Passos Coelho já estão fritos antes mesmo de começarem a balbuciar banalidades. A sereia da Goldman Sachs está disponível para ministro das finanças, mas não para mais. Esqueci-me de alguém? Ah, pois, Manuela Ferreira Leite! Talvez seja a única hipótese credível, para além do próprio Durão Barroso, para quem esta antecipação chegou em tempo muito inoportuno, pois não sabe ainda se vai ou não recandidatar-se à presidência da Comissão Europeia.

O problema é que Manuela Ferreira Leite jamais se arriscaria a uma luta eleitoral interna contra um líder demissionário pelas razões invocadas. Filipe Menezes ganhou o seu posto numas eleições directas inquestionáveis. E ao fim de seis meses nada justifica a tentativa de assassínio político desencadeada por uma matilha de críticos subitamente preocupados com a possibilidade de José Sócrates perder as eleições. Que Menezes é populista? E quem o não é no actual panorama partidário da triste periferia lusitana? Que Menezes é contraditório? Querem mais contradição que a existente entre as promessas de José Sócrates e a praxis do regime socratintas? Que Menezes troca os Bs pelos Vs? Pois é, também eu recomendei ao então candidato a líder laranja que frequentasse um curso de dicção (como fazem os ingleses de Glasgow quando querem chegar a Londres, ou trabalhar num call center), mas ele não me ligou nenhuma! Que o homem transformou o aparelho numa fortaleza inexpugnável? Ora bem, aqui está uma explicação plausível para o terror que há seis meses percorre a espinha da social-democracia alfacinha. Só que, neste particular, piaram tarde e, como comecei por dizer, a bomba do Pacheco rebentou na boca do priorato da capital. Agora só resta uma alternativa: separar o PSD do PPD!

Luís Filipe Menezes vai seguramente disputar de novo a liderança do seu partido. E fá-lo-à por três ordens de razões: por falta de comparência de adversários à altura, por exigência das suas bases e porque o país, no fundo, deseja uma grande pedrada no charco fétido do actual regime político-partidário. Resta apenas saber se o fará já, ou se esperará pelo fracasso de um eventual líder que lhe suceda. Há ainda outra possibilidade: a formação de partidos regionais (1)... no Norte, na Madeira e mesmo nos Açores. Ao contrário do que debitam semanalmente os nossos oráculos televisivos, as coisas podem mesmo mudar (2), e mudar subitamente.


NOTAS

  1. A balcanização de Portugal

    18-04-2008 12:25. O actual regime partidário está esgotado e definha dia-a-dia sob o peso do centralismo acéfalo que empobrece as periferias para alimentar o último banquete da capital. Morre dia-a-dia da monumental irresponsabilidade dos políticos com assento parlamentar, do desmoronamento económico, funcional e administrativo do Estado e da corrupção que atinge um número crescente de protagonistas descarados e impunes. O caldo está pois preparado para algo que os sonolentos suburbanos lusitanos que vagueiam tristemente pelos centros comerciais e outlets ignoram candidamente: a possibilidade de emergirem, de um dia para o outro, movimentos autonomistas imparáveis no norte do país, na Madeira e nos Açores.

    Alberto João Jardim dificilmente abandonará a sua ilha aos "socialistas", e o modo mais expedito de consumar a sobrevivência da autonomia de facto que instaurou no arquipélago da Madeira (veja-se a vergonha passada por Cavaco Silva na sua expedição supostamente soberana ao arquipélago de Alberto João), passará por aproveitar a actual explosão do PPD-PSD para levar o PSD-Madeira a dar o grito do Ipiranga, fazer-se reeleger pelo novo partido regional, e proclamar sem pejos uma via rápida para a autonomia radical, se não mesmo para a independência daquelas ilhas atlânticas.

    Repare-se que o projecto tem tanto de plausível como de racional. As Canárias estão fartas de Madrid (sobretudo depois de verificarem que o império do turismo que lhes foi imposto -- e os idiotas do regime socratintas querem, fora de horas, aplicar ao nosso país -- se encontra em recessão irreversível, tendo pelo caminho rebentado com a ecologia e a beleza natural de praticamente todas as ilhas). Por outro lado, a provável adesão de Cabo Verde à União Europeia seria um excelente álibi para a formação a prazo curto de um novo país europeu: a Macaronésia! Seria um país formado pelos actuais arquipélagos da Madeira, Canárias, Açores e Cabo-Verde, poliglota, multi-étnico, pluricontinental e uma placa atlântica estratégica entre a Europa, a América e a África, podendo beneficiar instantaneamente dos interesses e múltiplos carinhos de meio mundo. Vir a Lisboa mendigar dum mendigo? Nunca mais!

    Digam-me lá se isto faz ou não sentido. Deixem a tríade de Macau rebentar com o porto de Lisboa e com as empresas energéticas do país, deixem a tríade de Macau e a bronca burguesia clientelar que temos continuarem agarradas ao betão (a snifar o seu inebriante perfume, "Corrupção") e veremos como todo este pesadelo chegará em breve aos lares dos poucos lusitanos que não tiverem entretanto emigrado de vez.

    A balcanização da Europa faz parte intrínseca do projecto oculto de Berlim, Paris e Londres. Os Estados Unidos, como a própria Angola e o Brasil (e a China!), não veriam com maus olhos uma Macaronésia independente. E quanto ao norte de Portugal, se a expropriação corrupta das suas riquezas continuar (como resulta escandalosamente evidente do plano de construção de barragens, cuja única finalidade é aumentar os activos da cada vez mais insustentável e especuladora EDP), e por outro lado, os patetas de Cascais e Sintra, do Restelo e do Bairro Alto, persistirem nas humilhações dos protagonistas daquela região, então será inevitável a formação dum forte partido autonomista no norte do continente português, que não é lusitano, como todos deveríamos saber, mas galego! Por fim, é preciso dizer que para a vintena de empresas que controlará a economia industrial e pós-industrial da Europa, esta pulverização do poder político é pura água de Maio.


  2. O programa populista do neo-PPD

    18-04-2008 17:10. Luís Filipe Menezes andou errático à procura de um programa e do tom certo para as suas intervenções. Parecia um sonâmbulo às apalpadelas programáticas. E no entanto começou a desgastar a maioria absoluta a partir do momento em que rompeu todos os pactos anteriormente assinados na lógica do Bloco Central. Mais recentemente, quando anunciou a intenção de nivelar os níveis de fiscalidade na raia fronteiriça entre Portugal e Espanha, e atacou o actual terrorismo fiscal, depois de apoiar a CGTP nalgumas das suas movimentações contra o neo-liberalismo pacóvio da clique socratintas, a sua mensagem começou a chegar mais perto do eleitorado que ditará a sorte da próxima maioria legislativa. Não é por acaso, que a operação bombista de Pacheco Pereira foi desencadeada a partir deste ponto de viragem. Ele intuiu e bem que ou apeavam agora o líder eleito do PPD-PSD, ou não veriam mais o poder laranja ao seu alcance. Menezes, porém, surpreendeu-nos a todos! E ele aí está disposto a levar até às últimas consequências o projecto de retirar o PPD da influência suicida dos cabotinos que vivem à sombra do incestuoso Bloco Central.

    Para vencer de novo as directas do partido laranja, Luís Filipe Menezes só terá que fazer uma coisa: assumir claramente um programa populista europeu, civilizado, na linha da sua matriz social: republicana, laica, democrática, liberal (mas não neoliberal!) e popular na acepção de uma frente política anti-plutocrata, baseada no equilíbrio económico e cultural da sociedade.

    Se me pedissem conselho sobre o assunto, proporia ao neo-PPD que reflectisse em 11 pontos que poderiam configurar o seu novo manifesto para a política futura:

    1. Adopção do princípio geral das eleições directas para todos os cargos públicos electivos, abandonando o uso e abuso dos colégios eleitorais, e maior democracia na formação das instâncias do poder central, regional e local.
    2. Adopção do princípio da proporcionalidade fiscal: os que mais ganham, maior contributo devem dar para o bem comum, e sobretudo para o alívio da carga fiscal no seu conjunto.
    3. Garantia dada pelo Estado de que nenhum cidadão nacional cairá na pobreza depois de findo o seu ciclo produtivo, seja por efeito natural da idade, seja por incapacidade causada por acidente ou doença, equiparando-se o limiar de pobreza ao do rendimento mínimo assegurado.
    4. Rejeição terminante e inegociável de prejudicar o direito ao trabalho no território nacional através de práticas de importação ilegal de mão-de-obra ou "dumping social".
    5. Manutenção do regime laboral das 40 horas, não podendo nenhum cidadão ser obrigado a trabalhar para além desta carga horária, salvo se por expressa vontade do próprio, e neste caso, sempre com direito ao pagamento das horas extraordinárias efectuadas na sequência de acordo negociado livremente.
    6. Estabelecimento do instituto universal do referendo, quer a nível nacional, quer a nível regional e local, desde que preenchidas as condições mínimas para a sua convocação, adoptando-se para o efeito um instituto em tudo semelhante ao instituto criado pelo povo Suiço para o mesmo efeito
    7. Limitação de mandatos de todos os cargos públicos electivos, incluindo os de todas as empresas públicas e/ou cotadas em bolsa, a dois mandatos consecutivos e três no total.
    8. Proibição da concessão de subsídios públicos a qualquer empresa privada, seja na forma explícita do subsídio, seja na forma dissimulada de parcerias público-privadas (PPP), ou quaisquer outras formas de favorecimento público a interesses privados, que sempre tenderão a distorcer as regras da livre competição e perpetuar clientelas nefastas, fonte de toda a corrupção.
    9. Defesa intransigente da competitividade fiscal no actual quadro de integração europeia, estabelecendo o princípio de que a carga fiscal em Portugal nunca poderá ser superior, ou inferior, à carga fiscal do país vizinho, a Espanha, em mais de 1 ponto percentual, mantendo-se regimes fiscais especiais na raia fronteiriça entre os dois países ibéricos (onde os impostos e taxas serão idênticos) e nas regiões ultra-periféricas (Açores e Madeira) onde se manterão níveis de fiscalidade mais favoráveis.
    10. Definição estratégica das funções do Estado no actual quadro comunitário e reforma do mesmo em conformidade com a visão de um Estado Estratégico, i.e. que impõe uma reserva de propriedade e controlo para os territórios, recursos e sectores dos quais dependem a integridade jurídica e de facto da nação portuguesa.
    11. Defesa de um novo quadro de liberdade individual e colectiva, no qual os princípios constitucionais passem do actual estado de incumprimento e hipocrisia para a realidade.


    OAM 347 18-04-2008, 03:06

quarta-feira, abril 16, 2008

Por Lisboa 14

Assoreamento provocado pelos pilares da ponte e doca de lama da Expo
Assoreamento provocado pelos pilares da ponte e doca de lama da Expo

AVE de Madrid chega a Entrecampos, entrando pela Ponte 25 de Abril

Vamos lá a ver se o poder político tem juízo desta vez e aplica os últimos dinheiros comunitários na sustentabilidade do país, em vez de se permitir disparates caríssimos e inúteis. Para isso precisa, em primeiro lugar, de eliminar as principais causas da corrupção endémica que nos tolhe: demasiados centros de poder, burocracia e falta de transparência processual, lentidão da justiça, irresponsabilidade administrativa e impunidade política.

Fui hoje de propósito ao Barreiro para tentar perceber definitivamente se existem razões suficientemente fortes para a insistência na ponte rodo-ferroviária Chelas-Barreiro. Mal conhecia o lugar, essa é que essa! Neste caso foi uma vantagem, pois não tinha nenhum preconceito sobre o dito. Fiz o trajecto de Carcavelos para o Barreiro seguindo de carro pela A6 (vulgo auto-estrada do Estoril), cruzando depois a Ponte Vasco da Gama e desviando no seu final para a via rápida que liga a ponte à cidade. O tecido urbano é pobre, está degradado, mas tem personalidade que baste. Almocei um ensopado de borrego divinal, a um preço que há muito se não vê pelas bandas da Linha onde vivo! A mais importante observação que retirei do passeio é esta: o centro histórico do Barreiro não está mais longe do Cais do Sodré do que está Cascais, e encontra-se certamente mais perto de Lisboa do que Sintra, levando-se sensivelmente o mesmo tempo a percorrer quaisquer destas três distâncias, quer o façamos em automóvel, ou em comboio. Ou seja, o argumento sobre o isolamento da antiga vila operária, por causa da inexistência de uma ponte sobre o Mar da Palha, que a ligue mais depressa ao Terreiro do Paço, não colhe. O entusiasmo dos autarcas da Margem Sul não passa de inconsciência e leviandade demagógica.

O sub-desenvolvimento do Barreiro deriva única e exclusivamente da entropia lisboeta, da sub-urbanização da capital e da titubeante reconversão do antigo tecido industrial da Margem Sul. Nenhuma nova travessia resolverá qualquer destes problemas. Como não resolveu no Montijo, nem em Almada! Na realidade, as pontes entre as duas margens, se não formos capazes de pensar a Grande Lisboa como uma cidade-região, como uma verdadeira metrópole polinuclear político-administrativamente integrada, apenas se acentuará a actual inércia de sub-urbanização desqualificada, desconexa e a prazo implosiva. Pois quando o petróleo chegar aos 150, aos 200 e aos 300 dólares, o que certamente ocorrerá antes de 2020, os movimentos pendulares privados, em automóvel, serão drasticamente reduzidos. Nem com óleo Fula, depois de fritar as batatas e os carapaus, lá iremos!

O problema do desenvolvimento das duas margens do rio Tejo não passa prioritariamente pelas travessias do grande estuário, que aliás nem sequer foram exploradas até aos respectivos limites. A Ponte Vasco da Gama está longe de saturar e já não vai saturar; as travessias fluviais em barco estão muitíssimo longe de uma optimização decente; a actual pressão sobre o tabuleiro automóvel da Ponte 25 de Abril pode ser francamente aliviada desde que ponham comboios suficientes a circular entre Setúbal e Entrecampos (e entre Madrid e Entrecampos!), de 15 em 15 minutos, das 6:00 às 24:00, e de hora à hora durante a madrugada. Por fim, falta ainda medir o impacto da novíssima Ponte do Carregado no desvio dos tráfegos Norte-Sul e Leste-Oeste que não precisam de atravessar Lisboa, nem a Margem Sul. Se depois de aqui chegados, eu estiver completamente enganado, e o petróleo jorrar da Lua à razão de 120 milhões de barris por dia, então sim, teremos que construir, não uma, mas mais duas travessias entre as duas margens do grande estuário: uma ponte ferroviária entre o Beato e o Montijo, e um túnel multimodal entre Algés e a Trafaria. Mas para já, com o petróleo quase nos 114 dólares, o melhor mesmo é termos juízo!

A ponte Chelas-Barreiro não concita nenhum argumento sério a seu favor, e a ser construída, além do nulo impacto positivo sobre o desenvolvimento do Barreiro, produzirá gravíssimos prejuízos ao estratégico porto de Lisboa.

Primeiro, porque agravará ainda mais o assoreamento do Mar da Palha numa zona necessária às manobras de navios que tendem a ser cada vez maiores e com cascos mais profundos, além dos previsíveis efeitos catastróficos em caso de cheias, ou da anunciada subida do nível médio dos mares em cerca de 150 cm até ao fim deste século.

Segundo, porque a própria localização prevista para a ponte congeminada por alguns lunáticos do Técnico come uma parte fundamental do estuário, essencial às ditas manobras de navios.

Terceiro, porque terá sempre um impacto visual negativo sobre a escala da zona histórica da cidade de Lisboa.

Sacavém, cheias

Como se a destruição anunciada do porto de Lisboa não fosse em si mesmo um crime intolerável e motivo suficiente para um veto presidencial (pois o putativo responsável governamental pela Defesa do país não passa dum boy), acresce ainda que a ideia de financiar a nova ponte com portagens a espremer aos automobilistas que cruzariam então as três pontes do grande estuário é altamente improvável por causa da espiral imparável dos preços dos combustíveis, da gasolina ao gasóleo, passando pelo biodiesel, as pilhas de hidrogénio e os óleos de fritar carapaus.

As respostas dadas esta noite por João Salgueiro a Mário Crespo, no Jornal da Nove (SIC), a propósito do mau caminho da nossa economia e do nosso desenvolvimento, foram de uma clarividência notável e merecem ser revistas por todos. Não podemos continuar a ser enganados pelos políticos ignorantes, irresponsáveis, impunes e corruptos que dominam este país! Há um conjunto de coisas simples mas duras que teremos todos que assumir se quisermos vencer os enormes problemas que aí vêm. A primeira delas é que o nosso futuro colectivo vai mesmo depender do que soubermos fazer da democracia que ainda temos.



Post scriptum

I - Sobre os argumentos patetas do Ministério da Defesa, aqui vai a resposta.

Os argumentos do Ministério da Defesa não passam de um frete político, o que atesta bem da frágil personalidade do seu actual responsável.

Se não vejamos...

O que dizem eles:

"...considera-se que a sua concretização teria um impacto negativo nas redes de
serviços instaladas, por eliminação ou interrupção das mesmas, nomeadamente rede
eléctrica, combustíveis, águas e comunicações, bem como em infraestruturas
operacionais e de apoio, além de obrigar à relocalização dos meios aéreos ali sediados
durante um período significativo devido à impossibilidade de coexistência das operações
aéreas com os trabalhos decorrentes das eventuais fases de construção".

"Não obstante o anteriormente exposto, as vias rodoviárias e ferroviárias projectadas para
o interior da Base Aérea n.º 6, tornariam esta infraestrutura militar extremamente
vulnerável a qualquer ameaça, em virtude da livre circulação de veículos nas rodovias e
nas ferrovias a construir, independentemente de serem estrada, viaduto ou em túnel, pelo
que, sendo este um problema intransponível ao nível da segurança militar, não é
compatível com os interesses da Defesa Nacional".

"Nesta conformidade o Estado-Maior da Força Aérea manifesta a expectativa de serem
encontradas soluções para a TTT que salvaguardem a operacionalidade da Base Aérea
n.º 6, dentro dos parâmetros de segurança militar estabelecidos, e, nomeadamente, no
que se refere às superfícies de desobstrução de obstáculos, a área e servidão militar e
aeronáutica e, ainda, às servidões radioeléctricas."

Desmontagem de tão frágeis argumentos.

Cmdt. Joaquim Silva:
  1. Todas as bases portugueses estão "cercadas" e "marginalizadas" por vias de comunicação publica, incluso a da Sintra já teve uma estrada nacional que cruzava a sua pista e era cancelada quando os aviões nela operavam. Assim qualquer base aérea portuguesa está acessível a tentativas de intromissão a não ser que se encerrem as referidas vias.
  2. Quanto ao facto das perturbações que as obras trariam às redes de operacionalidade da base (águas ,esgotos, energia, comunicações , etc.) é mais que evidente que a engenharia moderna pode operar - construir túneis por exemplo - sem as afectar.
  3. O aeroporto de Lisboa tem sofrido ao longo dos anos grandes obras em volta da base do Figo Maduro e os militares nunca se queixaram das suas consequências.
  4. O aeroporto de Beja está a sofrer grandes obras e idem, idem.
    O que será preciso perguntar aos militares é se ficarão a operar com a pista Leste-Oeste do Montijo, com a ponte Chelas-Barreiro na frente a menos de 1000m e a de NE-OE a menos de 1500m e se abdicam de ter o estuário do Tejo como pista para hidroaviões (fiscalização, segurança e vigilância costeiras).
    Finalmente perguntar à Marinha se pensa abandonar a Base Naval e o Estaleiro do Alfeite quando toda a área sul dos pilares da ponte prevista, se assorear e impedir o acesso àquela base; a não ser que haja quem pague dragagens de custos gigantescos.

Rui Rodrigues:
  1. em 1994, o Montijo foi escolhido como o local mais adequado para um novo aeroporto.
  2. Numa entrevista do Jornal Expresso, dia 24 – 4 – 99, ao ex-ministro das Obras Públicas Ferreira do Amaral, foi dito que a Base Militar era perfeitamente adaptável ao tráfego civil e que tais projectos eram do conhecimento da Força Aérea.
  3. Se, por razões de defesa nacional, a 3ª travessia do Tejo não pudesse passar pelo Montijo, então (...) os militares poderiam ser transferidos para Beja, Ota ou outro local a definir, utilizando os mesmos critérios para os retirar de Alcochete ou da Ota (empregues sem qualquer objecção quando se decidiu construir o NAL na Ota, e depois no Campo de Tiro de Alcochete).
  4. Nas guerras mais recentes, os objectivos militares ou estratégicos são atacados por mísseis a longa distância ou através de aviões e nunca por acções de sabotagem. (Ler PDF do autor sobre esta controvérsia.)

António Maria:
  1. Se porventura alguma organização terrorista, ou qualquer decisão militar de desencadeamento de operações especiais de provocação e sabotagem, viesse a ter lugar no nosso país, não faltariam alvos civis --e militares!-- propícios e indefesos. A segurança interna portuguesa neste domínio é pura e simplesmente inexistente!
  2. Que se saiba a Base Aérea de Beja é uma instalação militar e o governo decidiu enterrar naquela infraestrutura 33 milhões de euros, ao que parece para fazer daquilo um aeromoscas comercial. Nenhuma empresa do ramo se mostrou até à data interessada em transportar incautos de e para aquele oásis turístico, pelo que à cautela a Base Aérea do Montijo já aproveitou a oportunidade para realojar, naquela que foi uma importante unidade de treino militar da Luftwaffe, os seus lobinhos de estimação, quer dizer, seis aviões Lockeed P-3P Orion, especializados no patrulhamento marítimo para detecção, localização, seguimento e ataque a submarinos e meios de superfície, execução de operações de minagem e sobretudo, em tempo de paz, detecção e dissuasão de actividades ilegais e realização de operações de busca e salvamento. A conclusão é óbvia senhor Yes Minister: a Base Aérea do Montijo pode e deve trasladar-se inteirinha para Beja.
  3. Haverá em território português alguma base aérea militar mais estratégica e mais bem guardada do que a das Lajes? Pois não há. E no entanto, convive com um aeroporto civil, onde aliás presenciei dois anos de obras de ampliação e renovação da respectiva gare civil, sem ter reparado que houvesse quaisquer medidas de segurança especiais.

II - TTT: Sobre a posição da Câmara Municipal de Lisboa (expressa num debate ocorrido ontem)

Como escrevi num post anterior, os partidos de "esquerda" sentados ao colo de António Costa apoiam a solução Chelas-Barreiro por meros reflexos eleitoralistas e demagogia piedosa. O comportamento é similar, na miopia e no oportunismo, à eternidade que levaram a perceber e finalmente criticar o embuste da Ota. É esta falta de conhecimento, do sentido das proporções e de responsabilidade política, que acabará por condenar mais cedo do que o previsto o actual regime democrático. Foi assim, por causa deste género de imbecilidade pacóvia, que a Primeira República finou. Será provavelmente pela mesma ordem de razões que a Terceira República verá o seu término. Só não sabemos ainda qual a forma que o próximo regime autoritário irá revestir. Mas que os tontos da "esquerda" tudo têm feito para provocar a sua chegada, disso já não tenho quaisquer dúvidas. O próximo ditador limpará o decadente regime actual num abrir e fechar de olhos eleitoral, rindo-se provavelmente às gargalhadas, como Sarkozy e Berlusconi. Estou prestes a ir-me embora!

III - Frente Ribeirinha - erro histórico. Helena Roseta demarca-se, e bem, do cozinhado entre o PS e o Bloco de "Esquerda"

16-04-2008. "Os vereadores Cidadãos por Lisboa votaram contra o 'documento estratégico' para a frente ribeirinha por não ser senão uma lista de obras, sem uma visão de conjunto e de futuro. Não é possível regenerar a frente ribeirinha sem vencer a barreira física e institucional entre o porto e a cidade.

Consideramos um erro histórico que a CML tenha prescindido de apreciar o modelo de gestão da intervenção pública, feita através de uma nova empresa que vai ser apenas “dona de obra”. Esta empresa não é necessária. Os 4 milhões que o seu funcionamento vai custar seriam melhor investidos directamente na melhoria da cidade.

Consideramos além disso um escândalo que, através de um mero pretexto formal, a maioria da vereação tenha decidido não se pronunciar sobre a nomeação do conselho de administração da nova sociedade, viabilizando assim a indigitação de José Miguel Júdice para a sua presidência. -- Cidadãos por Lisboa.

OAM 346 16-04-2008, 01:50

segunda-feira, abril 14, 2008

Fome


Ampliar o mapa

Os motins da fome

Os cereais, quer dizer, o pão e o arroz, entre outros alimentos básicos, entraram numa espiral inflacionista extremamente perigosa. Estas são algumas das causas evidentes:
  • crescimento da população mundial (estima-se que a Terra terá que suportar 9,5 mil milhões de seres humanos em 2050);
  • melhoria das condições de vida e aumento exponencial do consumo de matérias primas, bases alimentares e alimentos derivados ricos em proteínas (aves, suínos e bovinos) nalguns países particularmente populosos (China, India, Indonésia, Brasil, Paquistão, Rússia, Nigéria, Filipinas, Vietnam...);
  • transferência do uso dos solos agrícolas e florestais e respectivas produções alimentares e cinegéticas, para a produção de biocombustíveis (os preços dos óleos de soja e milho estão cada vez mais perto dos preços do azeite!);
  • diminuição dramática dos solos disponíveis para a produção agrícola e florestal provocada pela sua prolongada sobre-utilização (que a produção de biocombustíveis não fará senão acelerar);
  • alterações climáticas e aquecimento global;
  • pico petrolífero e consequente encarecimento dos preços dos combustíveis, bem como dos derivados do petróleo e do gás natural: adubos sintéticos, remédios, plásticos, tintas e vernizes, etc...
  • globalização e consequente destruição das barreiras alfandegárias, assente num modelo de mobilidade intensiva de pessoas e mercadorias, a prazo insustentável;
  • especulação desenfreada dos preços da alimentação a partir dos mercados bolsistas, os quais procuram compensar nesta nova deriva criminosa o colapso catastrófico do grande casino de Wall Street e das dezenas de réplicas existentes pelo mundo.
É preciso confrontar urgentemente José Sócrates e o seu diletante ministro da agricultura sobre estas questões. Nada fizeram relativamente aos OGMs, como nada disseram sobre a legitimidade do cultivo de milho, da beterraba e de outras espécies vegetais para alimentar o nosso irracional e agora insustentável sistema de transportes. Pelo contrário, o irresponsável poder político que tomou as rédeas deste país, anuncia mais mil quilómetros de autoestradas, aeroportos intercontinentais e novas travessias do Tejo, sem se sequer se colocar a dúvida sobre o efectivo interesse e sustentabilidade de tais investimentos. Nem sequer pergunta quem irá pagar no futuro as dívidas que alegremente se predispõe a contrair. As Parcerias Público Privadas são (é o Tribunal de Contas que o diz) um embuste financeiro. Dele lucram apenas a simbiose oportunista e cada vez mais corrupta entre políticos indesejáveis e industriais preguiçosos, sem imaginação, egoístas e no fundamental subsídio-dependentes. E quem os alimenta, ou seja quem lhes pagas os subsídios (seja sob a forma de portagens, seja sob a forma de transferências forçadas do Orçamento de Estado, seja sob a forma de taxas e impostos municipais agravados -- que o digam as populações onde plantaram estádios de futebol hoje às moscas, mas com encargos financeiros para toda uma geração!) somos todos nós, quer dizer os pobres dos contribuintes. É preciso dizer basta a esta canalha!

OAM 345 15-04-2008, 19:20

sexta-feira, abril 11, 2008

China 3

For Those Who Love Tibet!

A perseguição histérica da tocha olímpica por parte de alguns hipócritas ofendidos com a repressão de estado chinesa contra separatistas tibetanos violentos, a que temos assistido diariamente nos noticiários televisivos, é bem o exemplo de duas coisas: a hipersensibilidade urbana face ao espectáculo mediático da morte, e a facilidade com que os conglomerados globais da informação manipulam e estimulam movimentos de opinião ideologicamente bem intencionados, mas invariavelmente desinformados. No caso, escasseiam os protestos contra a transformação da Palestina num campo de extermínio programado pela mão assassina do Sionismo internacional, mas sobra a ira hipócrita de quem não percebe que o incidente tibetano às portas dos Jogos Olímpicos apenas reflecte o icebergue da longa e complexa manobra divisionista estratégica levada a cabo pelos Estados Unidos no sentido de balcanizar a China, tal como o fizeram no passado, continuam a fazê-lo na antiga Jugoslávia (e na Europa em geral!), e pretendem repetir, sem a menor vergonha, na nova e orgulhosa República Popular da China. Mas como nem a contínua desvalorização do dólar impede o agravamento imparável do défice comercial americano, o mais provável é que a dita não surta os efeitos esperados e se volte contra os seus progenitores e padrinhos.

O anúncio publicado no México pela Absolut Vodka -- um mapa da América onde as regiões roubadas ao território da antiga colónia espanhola, na sequência da Guerra Hispano-Americana, regressam à pátria -- é seguramente uma boa ilustração da hipocrisia americana e anglo-saxónica em geral. O Tibete nunca foi independente e acolhe-se à protecção da China como região autónoma há muitas centenas de anos. O Sul dos EUA, pelo contrário, foi militarmente sequestrado em 1898, ou seja, há precisamente 110 anos! Que tal devolvê-lo ao México?! E que tal, para variar, deixar a ilha de Cuba, por fim, em paz? Sabem, por acaso, quem esteve detrás dos movimentos independentistas da Madeira e dos Açores? E sabem, por acaso, quem ainda anda por lá a meter pausinhos na engrenagem? Adivinhem enquanto eu vou dar um passeio pela praia de Carcavelos!

PS: Os recentes ataques de Sarkozy à China, depois de esta ter comprado 160 Airbus há uns meses atrás, teve entretanto uma inesperada e sibilina resposta durante o leilão da imagem nua da primeira dama francesa. A famosa fotografia referida no post anterior foi rematada por 91 mil dólares por um desconhecido coleccionador... chinês.


TIBETE, TIBETE! -- A MONTAGEM DE UMA CRISE

15-04-2008. BEIJING - Perhaps the Dalai Lama, king-god of Tibet, head of Lamaist Buddhism and icon of the present anti-Chinese protests, could have something to learn from Italy. Italy is the only country to have faced a problem similar to that of China with the Dalai Lama: of the occupation of a territory previously governed by a religious monarch. In the case of Italy, it was the pope, in the case of China, it is the Dalai Lama. --
Italian lesson for the Dalai Lama, By Francesco Sisci in Asia Times.

13-04-2008 13:46. Um milhão cento e noventa sete mil quatrocentos e sessenta nove mortos depois da invasão ilegal e assassina do Iraque por uma aliança militar liderada pelos Estados Unidos, e mais de três mil civis mortos depois da guerra e ocupação NATO do Afeganistão, assistimos impávidos e serenos a uma intolerável manobra de boicote dos Jogos Olímpicos por causa da repressão chinesa sobre uma acção de guerrilha urbana desencadeada por movimentos separatistas tibetanos, com o apoio camuflado e hipócrita dum tão sorridente quanto patético Dalai Lama. A verdade é que americanos, britânicos (e agora também o garnizé gaulês e a atarantada chanceler alemã) resolveram aproveitar a oportunidade mediática dos Jogos Olímpicos para desencadear uma imensa e complexa manobra de desestabilização da China, visando potenciar a sua "balcanização" e, em última análise, comprometer ou pelo menos atrasar o ritmo de crescimento da emergente potência económica mundial. Os Estados Unidos, a Europa e porventura o Japão (os famosos G7) estão à beira do colapso financeiro, sem capacidade de resposta industrial à altura da China e da India, perdendo dia a dia o controlo que há um século exercem sobre os principais recursos energéticos, minerais e alimentares mundiais, e sem qualquer autoridade moral para pretenderem continuar a dar ordens ao resto do mundo.

O trabalho barato, os recursos naturais, o ouro e o dinheiro fugiram ao controlo do G7, e este é o verdadeiro motivo para a provocação em larga escala montada contra a China, depois do que fizeram contra a Rússia. Estamos à beira de uma guerra mundial? E a espoleta da mesma chama-se Irão? Talvez não. Os Estados Unidos e a Europa, na realidade, mal podem com uma gata pelo rabo! Precisam ambos, isso sim, de ganhar tempo. Já perceberam que o Irão é a chave do Médio Oriente e que, portanto, haverá que contar com a sua força e sabedoria. O problema agora é outro e chama-se China! A provocação em volta dos Jogos Olímpicos é o primeiro sinal de histeria e grande incomodidade ocidental que aí vem. Saberemos lidar com a nova China, que acorda de um sono profundo de 600 anos, recorrendo às lições da História, ou vamos cair nas contradições grosseiras da sinofoba americana Nancy Pelosi?

"Pelosi, a California Democrat, was elected to the House of Representatives in 1987. Four years after the election, massive ethnic clashes broke out in Los Angeles and some other cities in California. At that time, the Federal and state governments moved in 10,000 security forces from the National Guard, the army and the navy to restore order. Thousands of people were arrested. However, She turned a blind eye to the violence in a state where she came from, without moving any motion on the Los Angeles riots. Where was her "moral authority"? -- China View, On hypocrisy of Pelosi's double standards.

Facts and Figures of Tibetan development.

10-04-2008 14:52. "O Parlamento Europeu defendeu hoje que a UE deve encontrar uma posição comum sobre a participação dos Chefes de Estado e de Governo e do Alto Representante da UE na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, prevendo a possibilidade de estes não participarem no caso de não ser reatado o diálogo entre as autoridades chinesas e o Dalai Lama. Na resolução comum aprovada em plenário, os eurodeputados apelam ainda ao Conselho para que nomeie um enviado especial para as questões tibetanas."

... "O Parlamento Europeu "louva o facto de Sua Santidade o Dalai Lama ter apelado ao povo tibetano para protestar de forma não violenta e rejeitado apelos à independência do Tibete", tendo, em vez disso, proposto uma "via intermédia de genuína autonomia cultural e política e de liberdade religiosa". Na resolução, o Parlamento reafirma também "o seu apego à integridade territorial da China"." -- Serviço de Imprensa do Parlamento Europeu.

10-04-2008 01:58:44. ... "Jiang also reiterated that the central government is ready to continue contacts and talks with the Dalai Lama on the condition that he sincerely renounces "Tibet independence" position and stops activities of splitting China, especially the inciting of violent crimes in Tibet and other places and the disruption of Beijing Olympics." -- European Parliament resolution "rudely" interferes into China's internal affairs, China View.

28-03-2008. The unravelling British campaign to break up China, as an opening shot in a Eurasian war, pitting Europe and the United States against China, India, and Russia, poses a grave danger--particularly as the Bush Administration, leading Congressional Democrats like Speaker of the House Nancy Pelosi (D-Calif.), and most European governments, fall in, lock-step, behind the British schemes, out of ignorance or worse. -- British Launch 'Great Eurasian War' Drive, by Jeffrey Steinberg.

OAM 344 11-04-2008, 17:46 (última actualização: 15-04-2008 12:47)

Carla Bruni



Michel Comte, "Carla Bruni", 1993. Esta fotografia da actual primeira dama
francesa foi vendida ontem, 10 de Abril, num leilão da Christie's em Nova Iorque por
91 mil dólares.


A rainha da França vai nua, e o reizinho também!

Olhando para imagem artística da modelo Carla Bruni não podemos deixar de pensar na magreza que actualmente aflige a economia francesa. Apesar do carácter histriónico do garnisé Sarkozy e das suas desconstrutivistas iniciativas estratégicas, que têm vindo a pôr os cabelos em pé dos principais tanques cognitivos franceses (ler nomeadamente o Laboratoire Européen d'Anticipation Politique LEAP/Europe 2020), a verdade é que a importância efectiva da França está a ser literalmente devorada pela sua dívida pública, e por conseguinte, a recente e catastrófica aproximação da França aos crápulas da Casa Branca e ao poodle inglês que dá pelo nome de Tony Blair, nada mais fazem do que levar-nos a esperar o pior. E o pior, segundo Franck Biancheri (colega de Pierre Gonod), cujo grupo de análise prospectiva, Global Europe Anticipation Bulletin, previu em Fevereiro de 2006 o colapso sistémico do Capitalismo, de facto em curso desde que rebentou a bolha do Subprime imobiliário, é a grave crise social que se aproxima e atingirá muito provavelmente o regime gaulês durante a próxima presidência europeia, entre Junho e o fim deste ano.

Nunca a V República francesa viu um seu presidente cair nas sondagens tão cedo e tão fundo como vem sucedendo com o mediático Sarkozy, sempre apimentado pelo fulgurante íman erótico que arrasta pela mão: a ex-modelo italiana Carla Bruni. O cocktail é explosivo. Por um lado, o garnisé meio-francês que comanda os destinos da França, anda perdido de amores pelos sionistas de Israel, pelos falcões de Washington e pelos cadáveres da monarquia inglesa, ameaçando de caminho o Irão e a China -- imagine-se! Depois, para disfarçar os grandes fiascos da banca francesa e a chaga do endividamento, nomeadamente da sua pesada e ineficiente burocracia, deixa-se cair na alcova da imprensa cor-de-rosa, procurando assim distrair-nos, e sobretudo distrair os franceses, das suas pesadas responsabilidades nacionais, europeias e internacionais.

A crise que incendiará de novo as principais cidades francesas será sobretudo uma crise do bloqueamento institucional do país, isto é, uma crise de regime, que no caso português deriva principalmente do bloqueamento do nosso sistema partidário, e em França decorre da impossibilidade de apear um presidente recém eleito, mas que perdeu, não apenas a confiança dos seus eleitores, não apenas o respeito institucional que os franceses naturalmente depositam num presidente democraticamente escolhido, mas sobretudo das forças político-partidárias que o colocaram onde está. Estas últimas, de facto, enganaram-se, e não sabem o que fazer! Daí o perigo iminente que espreita o futuro imediato de um dos pilares fundamentais da União Europeia. A imagem de Carla Bruni agora leiloada foi produzida na década de 90, num período em que a anorexia se tornara uma moda humilhante das sociedades afluentes. Trazê-la de novo à ribalta mediática, não pode deixar de ser interpretado como um verdadeiro exercício de humor negro!

Carla Bruni (página pessoal)


OAM 343 11-04-2008, 13:30

sexta-feira, abril 04, 2008

Emigrantes

O Cantinho de Portugal 


O filho de um amigo meu fez o curso de gestão do ISCTE. Fê-lo com brilho e depois de licenciar-se foi parar a um banco sediado no nosso país, onde trabalhou três anos. O dito banco é uma instituição antiga, tecnologicamente retardada, e pelos vistos em apuros desde que a crise do Subprime descambou, como há muito se sabia que iria descambar, na maior crise sistémica do Capitalismo desde o colapso de 1929. Entretanto o jovem economista que ambiciona trabalhar na área de consultoria financeira decidiu abandonar o emprego sem grandes horizontes que aceitara como primeira oportunidade pós-curso e foi até Madrid para estudar e concluir um master naquela que é uma das três business schools mais prestigiadas do mundo. O master é caríssimo. Mas tem uma vantagem para aqueles que conseguem chegar ao fim: os bons empregos começam a aparecer! Menos de seis meses depois de finalizar a pós-graduação, o Mário recebe em Lisboa o convite de uma prestigiada casa financeira da City de Londres para uma entrevista. A easyJet levou-o por bom preço à capital inglesa e a reunião teve lugar no sítio, hora e minuto previamente acordados. Gostaram do rapaz de 29 anos e ele lá foi de armas e bagagens para a capital do reino de sua majestade britânica. Façam as contas e pensem no dinheiro que Portugal deitou à rua para fornecer ao Reino Unido um jovem quadro talentoso e altamente qualificado como o Mário. Ou se preferirem pensem, como pensam os abutres que actualmente limpam a carne e os ossos deste país, no dinheirinho que o jovem português previsivelmente enviará para Portugal, ajudando a aliviar a nossa balança de transacções correntes. A história é recente e ilustra bem o artigo publicado no semanário Sol da semana passada.


Panorama desolador

O artigo do Sol que me chegou ao computador através do boletim A Verdade, desenvolve um dos sintomas mais evidentes da nossa decadência, que a classe política tem vindo a mascarar há anos sob o pretexto de querer parecer moderna e executiva. A emigração portuguesa já ultrapassa a da década de 60 e vai piorar! Para além da Europa, Angola e a Austrália são dois dos novos refúgios para um povo sem lei, abandonado à ignorância, à desorganização, ao desemprego, ao esbulho fiscal dos haveres próprios (por vezes penosamente acumulados ao longo de gerações), à exploração e à violência subterrânea por uma elite corrupta e sem vergonha. A SEDES tem razão! Portugal pode muito bem estar à beira de uma crise social sem precedentes. Basta esperar pelas ondas de choque do colapso da América, do fim do milagre espanhol (os sindicatos do país vizinho já começaram a denunciar o dumping social e laboral promovido na última cimeira ibérica a propósito da construção das linhas de Alta Velocidade), e do descalabro social para que a França caminha vertiginosamente (o próximo Outono será escaldante). Os números são estes:

1) Por cada 15 imigrantes (africanos, asiáticos, brasileiros, ucranianos, etc.) que entram no nosso país, saem 100 portugueses para o estrangeiro.

2) Desde 2003 que o INE não produz estatísticas sobre os movimentos migratórios.

3) Portugal é o 2º país do mundo com maior percentagem de população emigrada, com 13,75% da sua população no estrangeiro.

4) Estima-se em 500 000 o número de portugueses emigrantes no Reino Unido.

5) Os emigrantes estão a enviar para os bancos portugueses 7,3 milhões de euros/dia, ou seja, 2600 milhões de euros/ano. Mais do que uma linha TGV Lisboa-Madrid, ou Porto-Lisboa, e pouco menos do que um novo aeroporto intercontinental, por ano!

Desde 2003 que o Instituto Nacional de Estatística (INE) não tem dados oficiais sobre a emigração portuguesa! O objectivo é claro e já foi denunciado há mais de um ano nas páginas deste blog: os burocratas (funcionários públicos) que constituem a maioria da nossa classe político-partidária estão bem, recomendam-se e preferem continuar a chupar o suor do país, de óculos escuros -- para não verem nem deixar ver nada de realmente importante.


Pânico e tráfico de influências ao serviço duma burguesia betoneira desmiolada


Enquanto este fenómeno de enorme gravidade ocorre perante a passividade bovina dos nossos deputados e as gargalhadas gastronómicas dos nossos políticos bem instalados na vida ou a caminho disso, a crise económica mundial e o colapso do sector financeiro internacional continuarão a fazer enormes estragos sociais e políticos por esse mundo fora, incluindo, claro está, o cantinho lusitano. Os OCS estão a esconder tudo isto dos contribuintes e dos incautos subscritores de PPRs, acções em mercados de futuros e filatelias e donabranquices semelhantes, triturando a pertinência informativa com soundbytes e sequências estroboscópicas de flashes. No momento em que mais falta fazem políticos a sério, temos um governo, a que estupidamente demos uma maioria absoluta (nunca mais!), às ordens da banca e das construtoras imobiliárias. O PS, coitado, foi capturado por uma pandilha de falsos socialistas, capitaneada por um insidioso ex-adorador de Mao e por um brilhante ex-militante da Fraternidade Operária! O protagonista que agora leva o pau desta tríade cozinhada em Macau não passa, como já todos percebemos, dum papagaio sedutor e dum maratonista de pacotilha, incapaz de alinhar dois pensamentos seguidos, mas exímio na recitação e no teleponto! A crise, porém, que despediu o anterior Roberto da tríade (pobre Guterres!), irá atingir fatalmente o engenheiro-arquitecto suburbano que actualmente promove os fogos de artifício da Ota e do Barreiro. É só fumaça!


A tríade de Macau

Eu posso estar completamente equivocado, mas o organograma da tríade de Macau não deixa de me apoquentar. A hipótese em estudo é esta: a tríade de Macau deglutiu o PS e galopa sem freio pelo País fora! Montemos pacientemente o puzzle.....

José Sócrates - espécie de pinóquio da tríade

(os que passaram por Macau)

  • Stanley Ho -- o amigo chinês está a arder na Alta de Lisboa e não gosta de perder, nem a feijões!
  • António Vitorino -- presidente da assembleia geral da Brisa e estratega teórico da tríade.
  • Jorge Coelho -- obreiro do actual aparelho PS, Conselheiro de Estado, recém anunciado CEO da Mota-Engil e estratega operacional da tríade.
  • Alberto Costa -- actual ministro da justiça (não ouviremos mais falar de Fátima Felgueiras, nem da Casa Pia...) e operacional da tríade.
  • Francisco Murteira Nabo -- ex-CEO da Portugal Telecom e da GALP, actual bastonário da Ordem dos Economistas e Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, pode ser considerado um fiel jardineiro da tríade.
  • Carlos Santos Ferreira - presidente do BCP e operacional da tríade.
  • Vitalino Canas -- porta-voz canino da tríade e do governo (entidade subsidiária da tríade).
  • Maria Belém Roseira -- além de ser uma frequentadora de fim-de-ano do Casino do Estoril (Stanley Ho) e uma das simpáticas opinocratas da tríade, desconheço outras funções operacionais.

(os que não passaram por Macau, pelo menos na mesma altura)

  • Armando Vara -- administrador do BCP, alto funcionário da Caixa Geral de Depósitos e operacional da tríade.
  • José Penedos -- presidente da REN e precursor do "abandona a escada que te ajudou a subir".
  • Manuel Pinho -- delegado do Grupo BES no governo socratintas (desconhecem-se por enquanto se existem ou não alianças entre a tríade de Macau e os gabirus do BES. Mas vamos sabê-lo assim que os meandros da operação de aumento de capital do BCP aflorem à superfície.)
  • Edite Estrela -- baby-siter da tríade.
  • António Nunes -- inspector-geral da ASAE, fumador de charutos oferecidos e comensal dos casinos de Stanley Ho.

Uma interpretação possível dos recentes movimentos salva-vidas dos protagonistas desta tríade é a presciência que terão do fim do actual estado de coisas na arena partidária. Eles pressentem que, tanta exigência de transparência, tanta inquietação social, tanta irritação intelectual, e a universal falta de liquidez que acometeu os cofres bancários na sequência do maremoto financeiro em curso, não auguram nada de bom. E por conseguinte, o melhor é mesmo abandonaram o barco que os trouxe até aqui, mas onde não querem naufragar! Resta-lhes todavia um problema: não há almoços grátis para ninguém! E por conseguinte, onde estão ou querem estar, terão que saldar as dívidas pendentes como puderem. E ainda saber se quem ficou fora do Titanic e tirita na Jangada de Medusa, e são a maioria, não lhes cortará o passo do caminho escandaloso que elegeram.


Post scripta
(11-04-2008 20:21) -- Francisco Louçã levantou hoje à tarde no parlamento a questão do activismo político de Jorge Coelho nas vésperas da sua migração (pessoal ou estratégica, sabê-lo-emos no futuro) para a Mota-Engil. Ainda bem que o fez. Por outro lado, Jorge Coelho anunciou aos noticiários televisivos das 20:00 a sua saída do Conselho de Estado. Não há dúvida que a blogosfera está na ordem do dia!
(11-04-2008 00:01) -- O caso Jorge Coelho, anunciado CEO da Mota-Engil, continua a fazer ondas no Portugal dos Pequeninos. E que ondas! A defesa do indefensável tem-se resumido a um único argumento: o homem teria saído da política, coitado, há oito anos! Há oito anos?!! Mas não foi ele quem colocou o Socratintas onde agora está? Mas não foi ele (ver vídeo) quem organizou há semanas uma carneirada em prol do mesmo inenarrável Socratintas, no Porto, como se ainda estivesse no PREC?! Mas não é este homem um dos Conselheiros de Estado eleitos pelo PS?!!! Nenhum jornalista consegue reparar nisto?

Outro dos argumentos cínicos sobre a nova missão de Jorge Coelho refere-se à sua coragem. Isso mesmo, à sua coragem! Por fazer às claras o que outros fazem atrás dos biombos das salas clandestinas de consultoria, gabinetes de estudos e grandes escritórios de advogados. Esquecem-se, os cínicos, que não está em causa nesta saudada e súbita forma de exibicionismo político qualquer acto de coragem, mas a simples adaptação aos tempos que aí vêm, reflectindo os ventos que sopram da Comissão Europeia e da sua nova European Transparency Initiative. Sobre esta necessidade de regular o desenfreado lobbying que grassa nos prostíbulos de Bruxelas, convem ler, por oportuna, a carta dirigida pela Alliance for Lobbying Transparency and Ethics Regulation (ALTER-EU), no passado dia 13 de Fevereiro, ao nosso querido
José Manuel Durão Barroso, sob o título oportuno de Implementation of European Comission lobbying register. Registem-se os interesses, regulamente-se a cunha e criem-se observatórios electrónicos instantâneos sobre esta velha actividade quanto antes, e deixemos de fazer figuras tristes. Por uma questão de democracia!
OAM 342 04-04-2008, 21:39 (actualizações: 11-04-2008 00:01; 20:21)