sexta-feira, janeiro 27, 2023

Carvão—Sines e Pego—dois erros crassos

Central Elétrica do Pego - notícia

Em Portugal, o fecho das centrais a carvão de Sines e do Pego foi uma decisão precipitada e provavelmente um erro grande, provavelmente estimulada pelos defensosres vanguardistas do inicático e problemático hidrogénio.

Segundo Rui Rodrigues: 

— estas duas centrais a carvão produziam por ano 20% da electricidade consumida em Portugal. Em 2022, no mês de fevereiro, foi a importação de electricidade produzida pelas centrais a carvão reabertas e pelas centrais nucleares espanholas, assim como a importação de energia elétrica francesa que impediram os apagões no nosso país. Naquele mês as barragens não tinham água e não havia vento.

A decisão de fechar as centrais a carvão foi um erro histórico.

Galamba diz que a Barragem do Tâmega iria substituir as duas centrais a carvão, mas essa afirmação é falsa. Todas a novas barragens juntas produzem 3% da electricidade consumida em Portugal. A do Tâmega é uma parcela destes 3%.

Em 2022, o aumento da despesa com a importação de electricidade elevou-se a mais de mil milhões de euros. Importou-se diretamente mais eletricidade de Espanha e França, e comprou-se mais gás natural, responsável por 55% da eletricidade consumida no nosso país.

Ainda segundo RR, a nossa Imprensa é que está calada...

Entretanto na União Europeia...

EURACTIV — “In our forecast, despite the recent decline in gas prices, until 2025, coal is still more competitive than gas,” said Carlos Fernández Alvarez, who heads the IEA’s division on gas, coal and power markets.

Growing demand for coal was driven chiefly by the war in Ukraine and the need to reduce gas consumption following Russia’s decision to diminish supplies to Europe, according to the IEA’s 2022 coal report, published in December.

Alvarez said that the demand for coal in Europe was also pushed up by the decline in nuclear power generation coming from France, Germany, and Belgium.

“There is a gap [in power generation capacity] that needs to be filled. And with high gas prices, it’s coal” filling the gap, the IEA analyst said at a meeting organised by the industry association Euracoal.

As a result, coal demand in Europe is set to grow for the second year in a row in 2022, the IEA indicated in its December report.

With Russian gas gone, coal makes EU comeback as ‘traditional fuel’
By Frédéric Simon | EURACTIV.com
26 Jan 2023 (updated:  8:39)


O "Polvo", segundo Garcia Pereira

CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener.
Imagem (recortada) de António Cotrim/ Lusa

TAP, uma telenovela sem fim à vista


ANTÓNIO GARCIA PEREIRA — "Há uns anos passou pelas televisões europeias, incluindo a portuguesa, uma excelente série italiana intitulada “O Polvo” (“La Piovra”), que retratava com especial fidelidade a actuação da máfia siciliana e a rede de influências por ela tecida e estendida praticamente a toda a sociedade, dos grandes interesses financeiros aos dirigentes de partidos políticos, passando pelas mais diversas instituições públicas, Justiça e Polícias incluídas. Seguramente não por acaso, é esse título de “O Polvo” que me volta agora e repetidamente à memória perante não só o desfiar de acontecimentos das últimas semanas como também face ao desenvolvimento de toda a sorte de manobras de falsidade, de camuflagem, de contra-informação e de manipulação da opinião pública que estão neste momento em curso."

Garcia Pereira refere neste seu artigo, focado no escândalo da indemnização (e do encobrimento da indemnização) de Alexandra Reis, algo que provavelmente escapa à maioria dos portugueses e dos nossos deputados, e que, pela sua importância, destaco neste post: 

— "...o Advogado de um dos arguidos detidos (o Presidente da Câmara de Espinho) fez publicamente uma denúncia de enormíssima gravidade: no Tribunal de Instrução Criminal do Porto estará instituído um “sistema”, completamente ilegal, de atribuição do 1º interrogatório dos arguidos detidos sempre ao mesmo Juízo, com escalas pré-definidas e, logo, pré-conhecidas,de qual o juiz de instrução que está de serviço em cada um dos dias de semana. A confirmar-se, isto faz com que o Ministério Público possa antecipadamente conhecer quem vai estar de serviço em cada dia e assim efectuar as detenções no momento que lhe convém para ter o juiz “A” ou “B” a presidir a tal interrogatório e a aplicar as medidas de coacção aos arguidos, tudo isto numa flagrantíssima e de todo inadmissível violação do chamado princípio do juiz natural."

Esta situação parece ser, por outro lado, mais geral do que este caso concreto dá a conhecer. Na realidade, o Ministério Público poderá sempre 'escolher' o Juiz de Instrução Criminal, uma vez que as escalas destes são fixas.

Esta será, em suma, a consequência de os TIC terem os mesmos juízes anos a fio, alguns há mais de 20 anos. Conhecendo-se o padrão decisório destes, será mais fácil o MP obter, em cada caso, o que pretende...

TAP: “O POLVO”
António Garcia Pereira
Notícias Online, 26/01/2023

quinta-feira, janeiro 26, 2023

Mapas de democracia. Do outro lado do pessimismo

This Person Does Not Exist

A era dos hiperobjetos

A política vai quase sempre atrás dos factos económicos (demográficos e energéticos, para ser mais preciso). 

Na realidade, a política é o resultado de uma luta de classes um pouco diferente da descrita por Karl Marx, na medida em que se desenvolve como um polígono de vontades e tensões com vários lados e vértices —fruto dos interesses individuais e de grupo — em que alguns vértices são mais pronunciados que outros. 

Estes são, em minha opinião, alguns dos vértices: 

1) energia 

2) procura e oferta de bens e serviços (preços e rendimentos)  

3) produtividade e distribuição da riqueza 

4) pirâmide social

5) atores sociais (poderes, movimentos de massa e eleições) 

6) demografia (pirâmide demográfica) 

7) custos histórico-sociais e culturais (dimensão do Estado e do setor público de bens e serviços). 

A política, nesta topografia, é, sim, o resultado da luta de classes (da agonística dos grupos de interesses, para ser mais preciso), e não uma força criativa propriamente dita, salvo quando os golpes de estado e as revoluções se revelam como destruição criativa. 

Por exemplo, os dirigentes e burocratas de Pequim só começaram a pensar em reduzir as emissões de CO2 quando se deram conta de que estavam a morrer asfixiados no excesso de emissões das suas fábricas alimentadas a carvão. E só começaram a reprimir os 'wet markets' quando sucessivas epidemias afetaram gravemente a saúde pública de centenas de milhões de chineses e a credibilidade da China (que nunca foi muita) no mundo. E também, só agora começam a perceber que atingiram o pico do seu crescimento, sobre uma bolha imobiliária especulativa sem precedentes no planeta. Não têm energia sequer para manter o atual estado de prosperidade relativa (veja-se o que está a acontecer com a falta de gás para aquecer as pessoas neste inverno). Dependem criticamente da globalização económica e financeira. Os políticos, mesmo em ditadura, arrastam-se atrás dos acontecimentos. 

Dito isto, longe de mim, ser contra a Política. O que digo e reafirmo é que a gestão política tradicional entrou em decadência acelerada. Precisamos, de facto, de saber aproveitar as novas tecnologias cognitivas para a gestão democrática e livre da complexidade crescente da espécie humana (e das suas possibilidades de sobrevivência). Isto porque, convém sublinhar, a expansão económica e demográfica dos últimos 200 anos é uma consequência direta do desenvolvimento tecnológico alimentado por energias revolucionárias, abundantes e baratas (pelo menos até 1973). Por sua vez, este crescimento e desenvolvimento só foram possíveis em resultado de um lento processo de libertação dos povos europeus das cangas religiosas e feudais. O Renascimento, nascido na Europa, ainda tem algumas oportunidades para evoluir, nomeadamente se souber aproveitar a Inteligência Artificial e as novas redes sociais, bem como o desenvolvimento dos novos materiais, da biogenética, da fusão nuclear e da computação quântica. Estas são algumas das novas extensões da suposta micro-era geológica a que recentemente deram o cognome de Antropoceno. Há, para citar a original reflexão teórica de Timothy Morton, novos hiperobjetos no horizonte. Hiperobjetos positivos!

A crise energética poderá ser ultrapassada à medida que o ajustamento demográfico global, em curso 'natural' desde 1964, for atingido, isto é, quando a população mundial começar a decrescer lentamente até patamares de sustentabilidade demonstráveis. Será por volta de 2060, ou de 2100? Não sabemos. Seja como for, a aproximação da sustentabilidade demográfica antropológica é mais rápida do que a deterioração climática e ambiental. Este é o ponto que, em suma, justifica o meu otimismo.

Post scriptum — este post foi suscitado por um diálogo com o meu amigo José Lacerda Fonseca. Este diálogo prossegue num grupo restrito onde é possível experimentar argumentos e desabafar sem que o céu e o inferno nos caiam em cima. Deixo aqui um pequeno excerto.

José Lacerda Fonseca — Concordo com o teu otimismo tecnológico. Só q sem uma nova filosofia social pouco valerá pois a tecnologia reverterá para os interesses da elite concentracionaria mundial num cenário de progressiva angústia, instabilidade e violência.  As grandes concentrações de poder sempre estragaram tudo até porq acabam por ser propriedade de loucos degenerados pelo seu proprio poder.

OAM — Sim, alguém terá que pensar essa nova filosofia, mas também esta será mais fruta do tempo, do que da mera vontade espontânea da razão. Nós estamos de acordo que esta filosofia terá que passar por uma redefinição dos mecanismos que possibilitam e garantem a estabilidade da democracia e da liberdade (condicionada pela razão democrática). Talvez na direção de uma espécie de democracia deliberativa humana assistida por máquinas inteligentes (cognitivas, mas também sensíveis!) À falta de melhor conceito, chamo-lhe mapas de democracia. Um arquipélago fractal onde todos os organismos humanos praticam a democracia deliberativa racional...

JLF — Concordo em absoluto. Todavia creio q o elan para desenvolver mapas da democracia ou democracia viva como agora lhe chamo, justamente para acentuar a sua complexidade e evolução orgânica, precisa de novas ideias sobre ética, cultura, economia e sexualidade.

OAM — Concordo.

terça-feira, janeiro 24, 2023

Turismo, emigração e estrangeiros salvam contas de 2022

 

Duane Hanson/Gregory Crewdson: Uncanny realities
no museu Frieder Burda (vista da instalação)

Ministro da Economia antecipa receitas de 22 MM€ no turismo em 2022

“Portugal terminou o ano de 2022 com 22.000 milhões de euros, o que é absolutamente extraordinário porque, num ano, não só recuperámos aquilo que fizemos em 2019, como superámos os resultados em mais 20%”, disse o ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva.

Publituris


Há dias em que até eu acordo bem disposto!

Mas levando esta notícia mais a sério, diria o seguinte: o turismo é uma atividade económica como outra qualquer, com vantagens e desvantagens. 

Vantagens: 

1) é uma exportação em que os custos de exportação são suportados pelo próprios clientes; 2) a principal matéria prima é intangível: sol, mar, poucos vestígios das duas primeiras revoluções industriais, simpatia dos indígenas, paz pública (apesar da vozearia dos intelectuais e dos média) 3) tem um grande efeito multiplicador, i.e. puxa pelas outras atividades, nomeadamente nos setores da construção/requalificação de edifícios e cidades, vias e sistemas de transportes, serviços de hotelaria, restauração&bebidas, e outros propriamente turísticos, eventos culturais, serviços de saúde, etc. 4) tem tido, no nosso caso, um crescimento muito acima do crescimento do PIB; 5) olhando para leste, mas também para sul e oeste, diria que este filão está longe de esgotar-se, embora tenda a segmentar-se cada vez mais (com o setor do turismo de luxo a crescer exponencialmente).

Desvantagens:

1) gentrificação geral: cidades, campo e praias (embora, na realidade, seja meia desvantagem, pois as nossas cidades, campo e praias estavam, ou a cair aos bocados, ou muito mal cuidadas, antes do impulso turístico, fruto do miserabilismo social fascista do Salazar que a esquerda herdou muito satisfeita e prolongou até onde foi possível; 2) inflação dos custos nos setores imobiliário, comércio e serviços nos 'hotspots' turísticos (Sintra é um claro exemplo do preço da alienação turística do espaço e do património); 3) maior discriminação social no acesso ao bom que o país tem...

Dito isto, bom bom seria desenvolver em cima desta mina as nossas ciências, tecnologias e artes. Aí sim, poderíamos ser uma espécie de Califórnia da Europa. Por exemplo, especializada em novas indústrias do mar e do espaço.

Nota: o ano de 2022 foi salvo pelo turismo, mas também pelos dois milhões de emigrantes (que em 2021 enviaram para Portugal uns 3,7 mil milhões de euros) e pelo crescimento sucessivo, nos últimos sete anos, do número de estrangeiros a viver no nosso país—757 252 (SEF, 2023/1).

segunda-feira, janeiro 23, 2023

Do populismo socialista ao colapso do PS

João Gomes Cravinho, ministro PS
Imagem: Jornal de Negócios

Uma guerra de gangues dentro do PS

O que é que leva um ministro de topo do governo de António Costa a entrar, em 2020, numa sociedade imobiliária? Na resposta a esta pergunta simples está a solução do enigma. Haverá alguma relação desta notícia com o escândalo do Hospital Militar de Belém, de que João Cravinho foi obviamente responsável

Não há fumo sem fogo, diz o provérbio popular...

Estamos, ao que parece, na presença de uma guerra de gangues dentro do PS, desencadeada após a demissão forçada de Pedro Nuno Santos. A turma de António Costa vai ter que pagar pela saída de PNS do governo. A causa próxima de tanta agitação é, como sabemos, um buraco negro chamado TAP. Como se escreveu em tempos, o torvelinho financeiro da companhia re-nacionalizada à pressa por António Costa e Pedro Nuno Santos, em nome da sobrevivência dum líder que acabara de perder as eleições, será muito provavelmente a causa evidente do colapso histórico do socialismo português. Este buraco negro é, por sua vez, o resultado do nosso declínio económico e social — da alienação de soberania, da emigração em massa, da hipertrofia do Estado, da arrogância e da corrupção a que sobretudo o PS conduziu o país. Não por acaso o populismo grassa, à direita (Chega) e à esquerda (PS) sem solução à vista. Vamos ter ainda que esperar por uma Iniciativa Liberal mais forte antes de nos podermos livrar do cancro do Bloco Central Alargado.

domingo, janeiro 22, 2023

A longa marcha da Iniciativa Liberal

IL muda de líder numa vitória escassa de Rui Rocha sobre Carla Castro. O novo líder tem algum tempo, mas não muito, para provar o que vale. Carla Castro tem mais carisma e é mais combativa. Dois ingredientes necessários para desalojar os paquidermes partidários do poleiro. Mas para assumir esta missão terá, forçosamente, que remover o recém eleito Rui Rocha assim que este começar a tropeçar no lodaçal que é a política à portuguesa.

Carlos Guimarães Pinto tem sido um notável deputado e excelente pedagogo. Mas não é um estratega.

João Cotrim, que se fez substituir por Rui Rocha—um desajeitado político evidente—fez bem em dar azo a um refrescamento do jovem partido. A Iniciativa Liberal cresceu de forma quase homogénea pelo país fora, ainda que com destaque nos distritos mais industrializados e mais educados.

O eleitorado precisa e quer uma alternativa de regime, quer dizer, uma democracia renovada, em vez do galinheiro de raposas que é há décadas. Costa e os quatro cavaleiros da nulidade socialista, os pedreiros-livres do PSD, a malta do CDS-PP, os fanáticos do PCP e os restos oportunistas da extrema-esquerda já deram o que tinham a dar, ou melhor, já fizeram estragos que cheguem ao regime, colocando o país na cauda da Europa e empurrando alegremente mais de uma milhão de portugueses para a emigração.

O crescimento do Chega é a demonstração clara de que o país está farto de votar no impasse e de pagar faturas escandalosas. Só que nem todos os portugueses fartos do regime confiam no Dr. André Ventura. Esta é a janela de oportunidade da Iniciativa Liberal. 

Davos 2023: Yes, but No

Davos, Switzerland, January 16, 2023. REUTERS/Arnd Wiegmann

Se bem entendi o painel que fechou a festa de DAVOS, estes são os pontos essenciais:

1) a inflação está a cair e tenderá a cair ainda mais, embora moderadamente, em 2023, ou seja, poderá não haver uma reversão abrupta das bolhas imobiliárias e financeiras instaladas;

2) haverá uma guerra de subsídios entre os Estados Unidos e a Europa na aceleração da inovação tecnológica associada à A - Agenda Verde (descarbonização, etc.), ou seja, muito mais dinheiro público para os negócios do hidrogénio, lítio, baterias, eficiência energética, veículos elétricos, etc.; B - biotecnologia; C - Inteligência Artificial;

3) o regresso da China ao crescimento (5% em 2003), ainda que pagando o preço de um ou mais de um milhão de mortos e a morrer por COVID (salientou a Christine Lagarde!), será positivo, mas também um fator inflacionário, pois exigirá mais importação de energia e matérias primas;

4) há zonas de conflito geo-estratégico (Ucrânia, Médio Oriente, Sudeste Asiático) que poderão comprometer a nova agenda conhecida por "crescimento sustentável" e as previsões económicas em geral;

5) o tempo da pandemia não terminou; ou seja, outras epidemias poderão, nos próximos anos, voltar a congelar a globalização, que nenhum dos convidados de Davos quer ver passar por um processo de fragmentação. Já bastarão, digo eu, as bombas na Ucrânia!

Global Economic Outlook: Is this the End of an Era? | Davos 2023 | World Economic Forum

sábado, janeiro 21, 2023

Afinal, Pedro Nuno Santos sabia. Ou seja, mentiu.

Este texto, enviado por Pedro Nuno Santos às redações, foi meticulosamente escrito por advogados (suponho). E tem uma pequena manha semântica que o título desta notícia do ECO passa em claro: PNS não diz que deu anuência à indemnização milionária (por explicar até hoje) paga pela TAP a Alexandra Reis. Diz antes que, e cito: "a mesma foi dada". Ou seja, o seu secretário de estado e a sua chefe de gabinete pediram-lhe a anuência política para a indemnização... e a "mesma foi dada"... por quem? Esta é a pergunta que paira no ar da resposta de PNS. Eu presumo que a anuência também foi dada por António Costa. Só falta perguntar ao PM se o PNS falou com ele sobre esta anuência, ou não. Em caso afirmativo... QED! É simples.

A frase do Ponto 7 da missiva é este: "Aquilo que me foi pedido nessa comunicação foi anuência política para fechar o processo e a mesma foi dada."

ECO, 20 janeiro 2023

quinta-feira, janeiro 19, 2023

O Bando dos Quatro e a TAP


Christine Ourmières-Widener não se demite

A CEO da TAP não se demitirá, pois agiu de boa fé, disse no parlamento. Mas se o governo a demitir, Christine Ourmières-Widener terá 80% de possibilidades de ganho de causa em tribunal, com direito a uma pesada indemnização e a uma cobertura jornalística, nomeadamente internacional, proporcional. João Galamba e a sua turma sabem disso. Vão, pois, deixar a senhora em paz, enquanto esperam que a Espada de Dâmocles caia na cabeça de António Costa.

O importante de toda esta caça às bruxas é o seguinte: a re-nacionalização da TAP falhou. 

A reversão escandalosa da privatização da TAP foi levada a cabo como condição imposta pelo PCP para viabilizar um governo chefiado por um líder partidário que acabara de perder as eleições. Desta negociação viria a resultar a famosa Geringonça. Entretanto, a nova TAP viria a tornar-se uma espécie de Espada de Dâmocles sobre a cabeça de António Costa. 

Pedro Nuno Santos saiu a tempo, ao sentir subitamente um frio na espinha. 

A negociação no terreno que deu lugar à configuração da Geringonça foi liderada por este ambicioso político, membro proeminente do Bando dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse do Partido Socialista, mais conhecidos por Jovens Turcos do PS: Duarte Cordeiro, João Galamba, Pedro Nuno Santos e Pedro Delgado. O poder destas personagens, hoje de meia idade, que ajudaram António Costa a derrubar António José Seguro em 2014, é grande no PS e no país. O seu objetivo é evidente: tomar o poder no PS e substituir António Costa assim que este cair definitivamente em desgraça. O fio de seda que suspende o buraco negro da TAP sobre a cabeça do ainda líder do PS e primeiro ministro poderá romper-se de um momento para o outro. A janela de oportunidade dos sucessores do ainda primeiro ministro é, por outro lado, muito estreita, pois a oposição das forças de centro-direita, de direita e da direita populista estarão em breves prontas para ganhar eleições e governar. A substituição de PNS por João Galamba revela, em suma, e de forma clara, que António Costa está, de facto, nas mãos destes quatro aventureiros.

O episódio da demissão/indemnização de Alexandra Reis é, assim, o fio de seda que suspende a Espada de Dâmocles sobre a cabeça de Costa. E foi este o provável percurso da informação que está a esticar o fio até ao limite:

Conflito (sobre aquisições de aeronaves?) entre Alexandra Reis (especialista em compras) e a francesa Christine Ourmières-Widener (CEO da TAP) 

--> rescisão de contrato de Alexandra Reis 

(informação segue para:)

--> Secretário de Estado (Hugo Mendes) 

--> Ministro (PNS) 

--> António Costa (PM) 

--> Marcelo Rebelo de Sousa (PR) 

--> Pedro Rebelo de Sousa 

--> SRS Advogados 

--> demissões de Pedro Nuno Santos, Alexandra Reis (secretária de estado do tesouro por um dia!), Hugo Mendes e Marina Gonçalves --> ...

(continua...)


LINKS

CEO da TAP diz que secretário de Estado aprovou indemnização de Alexandra Reis (RTP)

Demissões no Governo. Em nove meses, contam-se 11 saídas (SAPO)

Alexandra Reis sai do Governo a pedido de Medina (Observador)

Quem é Alexandra Reis, a secretária de Estado envolta em polémica (SIC Notícias)

Jovens turcos do PS em contenção (Sol)

Coitada da TAP

Retrato de uma re-nacionalização abortada. Como diz o Zé Gomes Ferreira, a conversa política portuguesa é como as cerejas. Por exemplo: TAP, aeroportos e ferrovia andam há muito ligados, por boas e más razões.

SIC/ Negócios da Semana/ Programa emitido em 18 jan 2023

quarta-feira, janeiro 18, 2023

O envelhecimento da China

A China tem um sério problema pela frente. Chama-se declínio demográfico (e o consequente envelhecimento da população). Mas, sendo uma superpotência, o seu problema, como escreve Paul Krugman, deve-nos preocupar a todos.

TAP, ou regressa ao setor privado, ou morre

Chairman e CEO da TAP deixaram de ter condições para continuarem a gerir esta empresa avariada. Não passaram ambos de instrumentos do ido Pedro Nuno Santos, principal autor, com António Costa, do enorme buraco negro em que ambos transformaram o setor dos transportes em Portugal, com a TAP e a ferrovia na ponta da incompetência e leviandade.

Vale a pena ler esta carta aberta arrasadora do comandante Ângelo Felgueiras, que dirigiu o SPAC na luta mais aguda alguma vez travada na TAP.

Carta Aberta ao

Exmo. Sr. PCA da TAP Air Portugal,

Dr. Manuel Beja

Escrevo-lhe na sequência da sua mensagem de Ano Novo.

Chamo-me Ângelo Felgueiras. Para a TAP sou A Felgueiras, 18195.8.

Li e reli a sua Mensagem de Ano Novo. Tentei encontrar algum propósito. Pedi ajuda para ver se algo me escapava. Mas não fui bem sucedido. A sua mensagem aparenta ser somente uma prova de vida.

Vou tentar dar um enquadramento a esta carta.

Entrei para os quadros da empresa, como Oficial Piloto em 1988. Há 35 anos.

Fui promovido a Comandante de Avião em 1999. Há 24 anos.

Fui dirigente do SPAC durante 6 anos, 2 como Presidente.

Já fui público, já fui privado. Em ambos os casos já dei lucro e prejuízo.

Desde 1988 tive como PCA, João Lencastre; Monteiro de Lemos; Santos Martins; Ferreira Lima. Até aqui, todos de má memória, sem excepção. Não conto que saiba porquê. A julgar pelo teor das suas comunicações, aparenta não conhecer a História da TAP.

Em 1999, entrou o Dr. Norberto Pilar, também ligado a um partido, mas um Senhor com sentido de Estado e com estatuto moral e profissional, inatacáveis.

Um gestor diferenciado que preparou a TAP para um novo modelo de Governance. Passou a Chairman, e entrou o Eng. Fernando Pinto com a sua equipa.

Há uma fase antes e depois de Fernando Pinto. Hoje é fácil criticar o negócio da manutenção do Brasil, mas à época, permitiu-nos expandir muito. Quadruplicámos os voos para o Brasil. Não faço a defesa de ninguém, mas foi a primeira Administração profissional desde o 25 de Abril.

Quando saiu o Dr. Norberto Pilar, na sequência do pântano “Guterres” e entrada de Durão/Santana, passou por aqui o Eng. Cardoso e Cunha. Entrou em conflito com Fernando Pinto. Foi uma tentativa de retrocesso para a governamentalização da TAP. Os mesmos trabalhadores que apuparam Fernando Pinto à chegada, estavam dispostos a entrar em greve para que não saísse. Saiu o Eng. Cardoso Cunha. Entrou o Dr. Pinto de Barbosa de pacífica convivência com a Administração.

Depois veio a privatização com David Neeleman e Antonoaldo Neves. Confesso que não gostava do estilo. Mas gostava da confiança que transmitiam. Sabiam o que queriam, para onde iam e conseguiam levar-nos a todos no mesmo rumo.

Em 2019, na sequência de um prémio de 1,171 M€, a distribuir por 180 quadros superiores, em que o mais elevado foi de 110.000€, o recém empossado Ministro da Tutela, Pedro Nuno Santos, no seu estilo truculento, decidiu entrar em guerra com Antonoaldo, por que “agora a música é outra”.

Pessoalmente, não me pareceu bem aquela distribuição de prémios, uma vez que tínhamos dado prejuízo, mas não tem comparação com a situação actual, em que estamos nacionalizados e intervencionados, com acordos de emergência e reduções de vencimento que chegaram a 50% do vencimento bruto, mais de 60% no vencimento líquido, para os pilotos.

Em 2020, a TAP é avaliada pela LH [Lufthansa] em 1.000M€, que iria adquirir a parte dos privados. Em Março confinámos, e a aviação parou em todo o mundo.

Todas as companhias têm de receber apoios devido ao COVID. Pedro Nuno Santos, não hesitou em desbaratar todo esse património, para despedir Antonoaldo Neves por má gestão. Fê-lo em prime time e impediu que recebêssemos apoios em igualdade de circunstâncias com as nossas congéneres, levando-nos à situação em que nos encontramos.

Despediu Antonoaldo Neves, que era incompetente para ele, mas não é para a Ethiad, umas das melhores companhias do Mundo e que contrata livremente. Brilhante. Como se não bastasse, hipotecou a contratação de um gestor internacional competente. Quem aceita trabalhar com um patrão assim?

Entrámos na fase Ramiro Cerqueira. Sendo um homem da aviação, não tinha currículo nem experiência para o cargo. Estava à mão. Foi conjuntural, como veio a provar-se.

Também nessa época, entrou para a Administração a Eng. Alexandra Reis. Fase em que dois A330 foram convertidos em cargueiros por uma empresa não certificada. Um nunca voou com carga, o outro só há pouco tempo iniciou a operação carga. Perdemos centenas de milhar de Euros. Era Chairman Miguel Frasquilho.

Foi com essa Administração que foram negociados os acordos de emergência, em que foram negociadas reduções de vencimento e reduções de regalias e condições de trabalho. Também surgiram os RMAs com um tecto máximo de 250.000€, desde que pagas em 3 prestações ao longo de três anos. Era o que eu receberia se tivesse aceitado o meu “despedimento por mútuo acordo”.

Não sei se Alexandra Reis tem responsabilidades directas nesta negociação, mas fazia parte do CA e tinha obrigação de as conhecer.

Alexandra Reis aceitou ser “despedida por mútuo acordo”, chamemos-lhe assim, a troco de 1,5M€, mas a sua consciência social, fê-la abdicar de 1M€ e só levar 500.000€. Trabalhava na TAP desde 2017.

E, com este entorno recente, é Chairman o Dr. Manuel Beja.

Acho que tenho o direito de pedir, corrijo, exigir decência e decoro a quem dirige a “minha” empresa.

E exijo-o na qualidade de cidadão e de trabalhador, que sentiu na pele as medidas de emergência que foram adotadas, que viu a sua retribuição ser dramaticamente reduzida, percebendo agora que o sacrifício que lhe foi imposto apenas serviu para alavancar a tesouraria da TAP para processar uma fantástica compensação.

E, permita-me, essa postura e clamor esperava-o também do PCA, que deveria ter percebido que, o contexto social, e o estado actual da TAP, nomeadamente laboral, eram incompatíveis com o procedimento conhecido agora de todos.

E o PCA não podia ignorar nada do que se passou, mas, aparentemente, ignorou.

Numa empresa intervencionada pelo Estado, como pôde permitir tamanha desfaçatez?

Não tenho outra forma de lho perguntar. Como se permitiu escrever uma Mensagem de Ano Novo sem referência a nada disto? Como se estivesse tudo bem? Como se os trabalhadores da TAP não tivessem conhecimento? Nem uma explicação nem um pedido de desculpas.

Os trabalhadores da TAP, são bons, muito bons. Sobreviveram a quase tudo isto. Não sei se sobreviveremos ao seu mandato.

Fomos há pouco tempo considerados a companhia mais segura da Europa e a sexta a nível Mundial. O mérito é de todos os que desde há muitos anos dão o melhor de si e vão trabalhar, mesmo depois de o lerem.

Escrevo em meu nome pessoal e digo-lhe, é minha convicção, que esta Administração já não consegue aglutinar os trabalhadores da TAP. Sentimos que quem manda é a tutela, e aos dias de hoje já nem isso sabemos.

Tive vontade de usar outras expressões, mas como escrevo ao PCA da minha empresa, tenho o decoro que o senhor não teve quando nos dirigiu uma mensagem de Ano Novo ignorando os sucessivos escândalos na TAP, que a quase todos nos afectam.

Feliz Ano Novo,

Ângelo Felgueiras

15, de Janeiro de 2023

TAP e governo PS: quem enterra quem?

Escrevi há alguns anos que a TAP seria a coveira deste governo. Será...

Mas o cancro TAP tem uma origem precisa: servir de justificação à construção dum Novo Aeroporto de Lisboa. Sem engordar a TAP (a "TAP precisa de crescer" clamava o gaúcho Fernando Pinto) como justificar o NAL? Ou seja, esta crise começou no início deste século com a tentativa de fazer o NAL na Ota. Para este fim, construiu-se a A-10, a Ponte da Lezíria (12 Km), o Nó do Carregado e a Plataforma Logística de Castanheira do Ribatejo. Só não se construiu o NAL na Ota. Depois surgiu a miragem de Alcochete e a hipótese dum aeroporto complementar para as Low Cost na BA6, no Montijo. O baralho de hipóteses tornou-se entretanto alucinante, com novas soluções milagrosas, como Alverca e Santarém! É hoje evidente que um país falido, cada vez mais desigual e alienado, como aquele que o regime fabricou, não tem recursos para o Novo Aeroporto de Lisboa, estudado durante o consulado de Marcello Caetano, em 1969, e tendo-se então concluído que a melhor opção deveria nascer em Rio Frio. Mas o cancro da TAP, além da ruína da companhia, tornou-se também a causa do desastre da ferrovia portuguesa. É que sem uma decisão definitiva sobre o NAL, PSD, PS, PP e PCP boicotaram em bloco a entrada do país na nova era da ferrovia, ou seja, na era da Alta Velocidade ferroviária — única forma de competir simultaneamente com o avião e com o automóvel. Sendo a ligação Lisboa-Madrid a primeira a ter lugar (por ligar as duas capitais ibéricas e por ser a ligação com menores custos entre as que foram previstas), sem se conhecer a localização do NAL optou-se por sabotar a linha Poceirão-Caia adjudicada durante o governo Sócrates. O regime torpedeou ao longo de 20 anos a política europeia de transportes, de que a norma UIC (vulgo bitola europeia) é condição sine qua non. Em suma, o Bloco Central Alargado não só rebentou com a TAP, como atrasou por três décadas a convergência do país com o novo paradigma de transporte ferroviário europeu. Seria difícil de imaginar tamanho pesadelo quando, em 2005, comecei a escrever sobre isto!

Post a propósito do texto Administração da TAP em queda livre (Sol)

Em 2005...

Em 2005, O António Maria, com a contribuição sempre atempada do Rui Rodrigues e de outros amigos sabedores, escreveu-se o essencial sobre o aeroporto de Lisboa...

ARTIGOS DO ANTÓNIO MARIA - AEROPORTOS

2005
Aeroportos 1
O Lobby da Ota e o velho eixo Norte-Sul
2005/07/02

Em O Grande Estuário, projecto dinâmico e aberto de reflexão pública sobre Lisboa, a Grande Área Metropolitana de Lisboa e a Região de Lisboa e Vale do Tejo, continuamos a pensar que será possível manter o aeroporto da Portela, com duas extensões próximas (Montijo e Tires). Mas poderá realmente a Portela manter-se por muito mais tempo onde está? Poderiam as pistas do Montijo e de Tires, e novas obras na Portela, configurar uma solução sustentável até 2020-2030? As opiniões dividem-se... e os estudos técnicos também. Segundo Rui Rodrigues, a queda da taxa de crescimento do número de voos e de passageiros, em consequência de novas e mais rápidas ligações ferroviárias entre Lisboa e Madrid (AV e VE), afastaria, pelo menos para já, a necessidade imperiosa de equacionar a construção de uma nova infraestrutura de raiz. O argumento parece razoável, e ainda mais se lhe acrescentarmos os efeitos expectáveis de uma alta contínua do preço do petróleo (praticamente inevitável no actual quadro mundial de aproximação do chamado Peak of Oil Production). Em todo o caso, se um dia tivermos que avançar para um novo aeroporto internacional que altere radicalmente o actual estado de coisas, então a solução mais conforme com a inadiável actualização das nossas prioridades estratégicas no novo contexto europeu estará seguramente ao Sul do Tejo (Rio Frio...) e não no beco da Ota.

Aeroportos 2
Ota inviável
2005/10/13


Aeroportos 3
Otários!
2005/10/28


Aeroportos 4
A antecipação criminosa da estratégia da Ota
2005/10/30

Não há nenhum relatório sobre impactos ambientais que resista a dez minutos de contraditório. E sobretudo, Senhor Primeiro Ministro, em nenhum caso se teve ou está a ter em conta os efeitos catastróficos que a chegada iminente (2006-2025) do pico mundial da produção petrolífera --e, por conseguinte o início do declínio irreversível e insubstituível da sua exploração comercial--, irá ter na economia global, começando pela hecatombe que provocará no sector dos transportes, o qual consome, grosso modo, 2/3 do petróleo necessário à economia dos países industrializados.

Se as obras de terraplanagem algum dia vierem a ter início, de uma coisa deveremos desde já estar seguros: o dito Aeroporto Internacional da Ota jamais será concluído. Muito antes das datas previstas, nos cenários pró-Ota, para a sua inauguração --2017-2018--, Portugal ver-se-à na contingência de ter que redesenhar dramaticamente as suas prioridades de desenvolvimento (ou melhor dito, de sobrevivência). A brutal crise energética chegará muito mais cedo do que se prevê. E antes dela (ainda na vigência do actual governo) chegará também um mais do que provável "crash" imobiliário. Sem precisar de consultar cartas astrológicas, um número crescente de especialistas vem advertindo os governos de todo o mundo para o que se poderá passar num planeta subitamente consciente do declínio acelerado e irreversível das suas duas principais fontes energéticas: o petróleo e o gás natural. Mitigar este cenário mais do que certo exigirá avultados investimentos públicos e privados, que serão tanto maiores quanto mais próximos estivermos do colapso energético global.


Aeroportos 5
Levianamente pró-Ota
2005/11/13

O País terá que se adaptar rapidamente a uma estratégia de mitigação dos efeitos catastróficos do encarecimento exponencial das energias fósseis como o petróleo, o gás natural e o carvão. As boas ligações a Espanha e à Europa são importantes. Mas ainda mais importante, será lançarmos ao longo da presente década um verdadeiro plano de emergência energética e alimentar, e acautelarmos sem hesitações o controlo apertado das nossas águas territoriais e espaços aéreos, protegendo os respectivos recursos marítimos, monitorizando rigorosamente o tráfego civil e militar. Por estas razões, que são fortes, a opção da Ota não passa de uma imbecilidade estratégica, contra a qual esperemos que não seja necessário organizar um levantamento cívico nacional! 


Aeroportos 6
A profecia da Ota
2005/11/23

22 de Novembro de 2009. Primeira Ministra anuncia abandono definitivo do aeroporto da Ota depois de o barril de crude ultrapassar esta semana a barreira psicológica dos 150 Euros. Perante a situação catastrófica da economia mundial, a iminência de um conflito internacional de larga escala (devido ao alastramento das tensões e provocações militares que envolvem os Estados Unidos e Israel, de um lado, e o Iraque, Irão, Síria, Arábia Saudita e Iraque, do outro), as pandemias provocadas pelos virus H5N1 e HIV, a falência técnica iminente do nosso sistema de saúde e previdência social, e a queda súbita do tráfego aéreo mundial de pessoas e mercadorias, o Governo anunciou uma medida há muito esperada: o abandono definitivo do aeroporto da Ota. Resta agora saber se o Governo irá ou não responsabilizar os autores desta caríssima aventura política. Entretanto, estudos recentes consideram que os remodelados aeroportos da Portela e de Pedras Rubras, devidamente apoiados pelas pistas do Montijo, Tires e Alverca, são mais do que suficientes para atender à actual emergência mundial, permitindo a chegada e acolhimento das centenas de milhar de pessoas que de África, Brasil, Estados Unidos e China demandam o nosso País, seja para restabelecer as suas vidas, seja em trânsito para outros países europeus.


Aeroportos 7
Governo omite relatório da ANA de 1994
2005/12/01

Fazendo uma análise de divã ao debate do Prós e Contras sobre a Ota, chego à conclusão surpreendente que o actual Governo pretende apenas salvar a face relativamente ao seu compromisso eleitoral de avançar para a Ota. Na realidade, as suas decisões efectivas vão noutra direcção: dar prioridade ao TGV Madrid-Lisboa (e por conseguinte a uma nova travessia do Tejo) e dar, depois, prioridade ao TGV Porto-Lisboa (reforçando a função de Pedras Rubras como aeroporto do Noroeste Peninsular). Ora realizar estas duas ciclópicas tarefas (pois estamos a falar de um país em estado de recessão, que pode entrar mesmo em fase de estagnação prolongada ao longo dos próximos 4 anos ou mais) é já muito mais do que poderemos esperar deste e do próximo governos. No fundo, Sócrates, como opinei há algum tempo atrás, diz que sim à Ota, sabendo que a sua inviabilidade económica de facto se encarregará de afundar o propósito, para alívio de todos nós!

Carvão, petróleo e gás natural continuam a dominar o mix energético mundial

É duvidoso um cenário europeu em que as energias renováveis + biofuels tripliquem o seu peso no mix energético até 2050.

Panorama UE ao fim de trinta anos de investimentos e subsídios massivos em 'energias verdes' e repressão dos combustíveis fósseis (segundo dados oficiais, 1990-2020):

Fósseis* = 35+24+17+12 = 84%

Renováveis** = 16% 

Se a entrada das renováveis crescer ao mesmo ritmo dos últimos trinta anos (altamente improvável), só em 2050 a sua participação no mix energético seria de 48%.

* — carvão, petróleo, gás natural, nuclear

** — biomassa, biogás, biofuels líquidos, hidroelétrica, incineração, geotérmica, eólica, solar, ondas

Em trinta anos (1990-2020) a 'energia renovável' + biofuels triplicou

1990 : 2 978,78 Petajoules

2020: 10 046,86 Petajoules

Fonte: Eurostat (Energy statistics - an overview)

Cenário 2050 

Quota das 'renováveis' + biofuels voltar a triplicar..., mantendo-se o total bruto de 2019

Renováveis + biofuels: 30 140,58 Petajoules (2050)

Energia bruta disponível: 62 846,39 Petajoules (2019)

— a propósito dum artigo no Euractiv