Aqueles que hesitaram nestas últimas semanas sobre o acerto de votar no Partido Socialista, inclinar-se-ão proximamente para esta opção, independentemente de gostarem mais ou menos de José Sócrates.
Já todos percebemos que a situação económica e social é muito difícil. Que não há milagres ao virar da esquina eleitoral. E que são pouco credíveis as mensagens que apregoam facilidades (diminuição do Imposto Automóvel e outras barbaridades). Por outro lado, parece cada vez mais evidente a necessidade de uma solução governativa estável para os próximos quatro anos. Sobretudo, se pensarmos na evidente necessidade de assegurar alguns programas de acção governativa a médio prazo, tais como a redução dos efectivos da Função Pública, a redução da Burocracia, a reforma do Sistema Educativo, o aumento dos níveis de eficiência do Sistema Nacional de Saúde, o controlo estratégico da Dívida Pública, a Regionalização (ainda que sob a forma gradual de uma descentralização profunda e efectiva das competências, meios e responsabilidades actualmente sediados em Lisboa), a reordenação do território e a transição dos actuais paradigmas energético e de crescimento para um sistema de referências radicalmente novo (energias pós-carbónicas, criação de Regiões Metropolitanas dotadas de poderes supra-municipais efectivos e Desenvolvimento Sustentável.)
Seria desejável que uma coligação de esquerda (PS-BE), pontualmente apoiada pelo PCP, pudesse garantir a maioria política e social necessária ao difícil caminho que temos pela frente. Uma tal coligação poderia arrefecer o entusiasmo voraz das clientelas pró-socialistas (as partidárias de sempre, as oportunistas de sempre e ainda as que sempre brotam de novo nestas ocasiões), evitando assim a repetição do triste enredo dos jobs for the boys. Ultrapassando-se, deste modo, a caldeirada morna do Bloco Central, teríamos seguramente e pela primeira vez uma oportunidade de ouro para quebrar a espinha à endogamia promíscua e corrupta que há muito apodrece a eficácia e competitividade das nossas elites. Por outro lado, devido ao seu peso parlamentar, uma tal maioria permitiria ganhar balanço suficiente até às próximas eleições presidenciais, por forma a garantir, já agora, a eleição de António Guterres ou Freitas do Amaral (em vez de Cavaco, ou Rebelo de Sousa), reforçando desta forma um poderoso bloco político de mudança. Seria uma solução bem mais sólida do que a de uma simples maioria absoluta do PS. Mas para isso era preciso que o Bloco de Esquerda fosse mais ágil na percepção das rápidas mudanças actualmente em curso na sociologia eleitoral do País. O que não aconteceu até agora...
Aqueles que hesitaram nestas últimas semanas sobre o acerto de votar no Partido Socialista, inclinar-se-ão proximamente para esta opção, independentemente de gostarem mais ou menos de José Sócrates. Trata-se de um problema de voto útil. E também da confiança possível entre dois protagonistas: o líder do Partido Socialista e o patético Santana.
Ao contrário, na banda direita do espectro eleitoral, o voto útil pode muito bem repartir-se entre o PS e o PP. Se tal suceder, o PSD (vítima de um demagogo desastrado e imprevisível) mergulhará numa séria crise de sobrevivência. Paulo Portas, esse, seguirá um auspicioso destino. Estava escrito!
O-A-M #68 06 Fev 2005
1 comentário:
Nunca as circunstâncias foram tão favoráveis ao PS ganhar a maioria absoluta. E no entanto...
O provblema é exactamente esse. O PS está tão obcecado com a ideia que não fala noutra coisa, mas esquece de explicar qual o seu programa para o país. Sobre isto o silêncio é quase total. E o que se vai sabendo é preocupante, como a ideia de passar a idade da reforma para os 70 anos, ou a declaração na reunião com Zapatero da possibilidade da GNR se manter mais uns tempos do Iraque.
No debate com Santana a pobreza de ideias de Sócrates foi confrangedora, embora eu pense que se trata de uma estratégia de ocultação do seu verdadeiro programa que se fosse conhecido afugentaria o que resta da esquerda do PS.
Sócrates no fundo acentuou a orientação polítca de Guterres: enterrar definitivamente o socialismo no fundo da gaveta e passar para o campo da democracia cristã e que agora é caucionado com o apoio de Freitas do Amaral, principal ideólogo desta corrente em Portugal.
O voto de esquerda não passa pelo PS.
José Manuel Varela
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