cinco anos depois da invasão e ocupação ilegais do Iraque
pelo falido império americano
Os cowboys americanos e a Europa nunca mais aprendem! Invadem e destroem o Iraque em nome de uma mentira descarada, sugando-lhes o sangue e o petróleo, sem ponta de vergonha. Transformam o Afeganistão num mar de corrupção e papoilas. Toleram o assassínio sistemático do povo palestino em nome de uma suposta culpa passada, quando na realidade continuam a destinar a Israel a mesmíssima tarefa que em 1917 lhe destinou Balfour: assegurar, pela via da protecção ao antigo protectorado inglês, o controlo ocidental das maiores reservas petrolíferas do planeta. Quase pulverizaram a ex-URSS e circundaram depois a Rússia de coloridos regimes fantoche pró-ocidentais, onde querem agora instalar pretensos radares defensivos. Cercam o Irão de bases militares e ameaçam-no com ataques nucleares preventivos por causa da sua hipotética perigosidade atómica, que nem em 20 anos poderá constituir, de acordo com os relatórios fornecidos pelos próprios serviços de espionagem americanos. Voltam a pulverizar os Balcãs e fabricam a vergonhosa independência do Kosovo, onde os EUA instalaram a sua maior base militar construída depois da Guerra do Vietname. Enfim, tentam agora, nas vésperas dos Jogos Olímpicos, provocar a nova China, por causa das contraditórias ambições independentistas do Tibete. Grave exibição de miopia estratégica! Esta gente ainda não percebeu que a riqueza soberana mudou de mãos e de coordenadas geográficas. E que assim como os Estados Unidos compraram, numa dada altura da sua história, meia Europa, hoje são eles que começam a estar em saldo para o resto do mundo e em particular para o império adormecido da China. Parece que Gordon Brown já vislumbrou o melindre da questão.
A América de Bush está falida, e se Barak Obama não conseguir chegar à Casa Branca, as consequências desta falência poderão durar décadas, ou mesmo um século, a sanar. Ao contrário do que alguns ainda pensam, a globalização acabou. E em seu lugar temos o início de um novo mundo multipolar, sem nenhum centro de gravidade hegemónico. Esta é a verdade. Só não sabemos se vai ou não ser preciso assistirmos a uma III Guerra Mundial para que todos a entendam. Os mais avisados estrategas norte-americanos, como a velha raposa Henry Kissinger, ou Zbigniew Brzrezinski, já perceberam que o melhor será mesmo seguir uma via pacífica, sob pena de o afundamento económico, militar e social dos Estados Unidos se tornar ainda mais catastrófico.
A questão da independência do Tibete é uma falsa questão, sobretudo por razões históricas. O recuo do Dalai Lama não fez mais do que confirmá-lo. Para quem quiser obter uma visão informada sobre o tema vale a pena ler este estudo académico de Elliot Sperling sobre as origens confusas da actual polémica entre a República Popular da China e o Dalai Lama: The Tibet-China Conflict: History and Polemics, 2004.
Sobre o estado económico do país deixado por Bush, leia-se The Collapse of American Power, do antigo colaborador de Ronald Reagan, Paul Craig Roberts.
E sobre a diminuição da probabilidade de um ataque dos EUA ao Irão, ainda que protagonizado por Israel, recomendo a leitura da última crónica do sempre brilhante Immanuel Wallerstein: When Henry Kissinger Opines.
ÚLTIMA HORA
20-03-2008 12:08. Protesto separatista alastra no Tibete, uma região 4x o tamanho da França. Entretanto o governo chinês rejeitou as afirmações de Gordon Brown sobre a disponibilidade das autoridades da RPC para o estabelecimento de conversações com o Dalai Lama, líder espiritual do Tibete. O primeiro-ministro britânico foi ainda instado a não dar cobertura ao que afirmam ser manobras separatistas com o óbvio intuito de prejudicar a celebração das Olimpíadas de Pequim este Verão.
"China has admitted for the first time that anti-Beijing protests have spread outside the Tibetan Autonomous Region, as security is ratcheted up." BBC News.
Post scriptum -- O meu comentário tem suscitado algumas leituras apressadas sobre a minha putativa simpatia pelo actual regime político chinês. Não, não tenho nenhuma simpatia pelo despotismo oriental, apesar de lhe reconhecer o direito de se defender das manobras de isolamento actualmente em curso por parte da aliança anglo-americana. Deixo, à laia de correcção, uma resposta que enviei a um bom amigo sobre esta dúvida acerca da minha posição relativamente à repressão de Pequim sobre os separatistas do Tibete.
Emanuel,
O Tibete está ideologicamente mais perto da India do que da China. É um facto. Mas ao longo dos tempos dependeu mais da protecção da China do que de outros impérios. Isto não significa que o Tibete não possa aspirar à autonomia e mesmo à independência. E por aí, tens razão: não podemos apoiar a repressão chinesa. Eu não apoio a repressão chinesa! Mas não devemos promover visões ingénuas sobre o que realmente se passa naquelas paragens desde que os ingleses, e depois os americanos, passaram a ter uma geo-estratégia global, que passa obviamente pela contenção dos potenciais "challengers": Rússia, China e India.
Para os EUA (e para a Europa... incluindo a Rússia!) é vital enfraquecer o emergente império chinês, ou pelo menos, impedir que o seu rápido crescimento económico, financeiro e militar, se transforme numa ameaça à ainda hegemonia ocidental.
Os EUA e a Europa deixaram praticamente de produzir. Pensam, inventam e criam riquezas sobretudo imateriais; relegaram uma parte crescente das suas populações para o limbo do trabalho improdutivo (burocracia, etc.), da comunicação, e do consumo; produzem cada vez menos bens, sobretudo industriais. Este desequilíbrio e a procura ampliada dos recursos limitados existentes vem causando as maiores dores de cabeça a quem se preocupa com o futuro da humanidade.
A III Guerra Mundial, a ocorrer, terá neste preciso problema a sua origem profunda. Daí que eu seja contra as tácticas provocatórias de Washington e de Londres na questão do Tibete. O que estão a cozinhar naquelas paragens é semelhante ao que estão a fazer no Iraque-Afeganistão-Irão, na Palestina e no Kosovo: controlar pela via armada recursos altamente sensíveis no nosso muito ocidental "modus operandi", e travar o passo à expansão da China. Só que esta forma de o fazer me parece muito perigosa. Eu prefiro dizer aos EUA e à Europa que teremos que nos adaptar ao crescimento inesperado da família global!
OAM 338 20-03-2008, 02:30
7 comentários:
António,
Repare neste pitoresco video da BBC:
http://uk.youtube.com/watch?v=ORLiB3olh7k&NR=1
JSilva
Excelente.
Se me permite vou roubar imagens.
Identificando o blogue, naturalmente.
Não passas de um hipócrita, António Maria. "...contraditórias ambições independentistas do Tibete..." Tens cá uma piada; às vezes, vale mais estar calado...
Acorda, que os anos 60 já passaram...
GP
Caro António,
Não existe nenhuma «miopia estratégica». Tudo está pensado ao pormenor por homens que estão acima de Cheney (que não estão necessariamente preocupados com o bem-estar dos EUA).
Guerra e petróleo. Não está tudo a correr tão bem?
GP: leia o estudo feito sobre as origens históricas da relação há muito existente entre o Tibete e a China, antes de me liquidar. A questão é simples: o Tibete nunca foi propriamente independente, sempre dependeu do escudo chinês, e o separatismo actual é uma óbvia consequência dos jogos de estratégia implementados no terreno, primeiro, pelos ingleses, e agora pelos americanos.
O Dalai Lama deu um tiro no pé. E pior do que isso, é co-responsável, com a RPC, pelas vítimas da repressão em curso, a qual poderá agravar-se nas próximas semanas.
António,
Outr video pitoresco, agora da CNN: http://edition.cnn.com/video/#/video/us/2008/03/14/lawrence.burning.homes.cnn
Já tem conteúdos multimédia para o próximo post...
Abraços.
Jsilva
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