segunda-feira, julho 21, 2008

Escolarizar 2

Ainda a polémica Matemática

Recebi este email do Professor António Brotas, que transcrevo e comento.
A educação e os críticos

O Problema da Educação em Portugal não está só nos erros e insuficiências de quem governa, mas também na quase absoluta falta de propostas (e muitas vezes ignorância) dos seus habituais e quase direi encartados críticos.

Tomemos o exemplo do crescimento anómalo este ano das notas de Matemática do Secundário, em que o Ministério quis ver o resultado das medidas que recentemente tomou para melhorar o ensino da disciplina. Um senhor permitiu-se mesmo aparecer na Televisão a dizer que os pontos tinham sido elaborados segundo critérios científicos. Contra esta risível opinião a Doutora Filomena Mónica emitiu uma violentíssima critica largamente referida na Comunicação Social, em que afirmou que para melhorar o ensino da Matemática era necessário formar professores e melhorar o ambiente das escolas.

FM teve certamente razão no que disse, mas ignorou que temos actualmente (e sempre tivemos) muitos professores capazes de ensinar bem Matemática. O problema da melhoria do nosso ensino da Matemática não é, assim, um problema a resolver a prazo. É, fundamentalmente, o problema de sermos capazes de utilizar os nossos melhores professores (do Secundário e do Superior) para definirem os programas, elaborarem os pontos, reciclarem os maus professores e, naturalmente, formarem científica e pedagogicamente os professores do futuro.

Tivemos, no início dos anos 70, uma excepcional experiência em termos europeus de ensino da Matemática: a das turmas experimentais do 11º ano orientada pelo Professor Sebastião e Silva (1), que, infelizmente, morreu pouco depois e não pôde dar continuidade a este seu trabalho, que deveria ter influenciado todo o ensino português. Da experiência dos anos 70 ficou um Compêndio policopiado que, depois do 25 de Abril, o Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério editou em livro, em tiragem de 20.000 exemplares, conjuntamente com um Guia para os professores. Estes livros não se encontram hoje à venda em parte alguma.

O Ministério daria um imediato e grande contributo para o ensino da Matemática se reeditasse este Guia de autoria do Professor Sebastião e Silva e o fizesse distribuir a todos os professores do Secundário. Muito em particular, podem nele encontrar conselhos muito úteis e oportunos sobre o tipo de perguntas que se devem fazer nos exames. (13/07/08)

António Brotas
Antigo Director do GEP do Ministério da Educação e Professor Jubilado do IST
Militante do PS

COMENTÁRIO

Caro Professor António Brotas,

A sua recomendação é seguramente importante. Subscrevo-a inteiramente e divulgo a sua mensagem, como pediu. Se o compêndio de Sebastião e Silva existe nalguma cave do Ministério da Educação, que o encontrem e ponham à disposição dos críticos e pedagogos!

Deixo porém e a propósito quatro observações em contra-corrente dos professores ofendidos.

Creio, como já escrevi, que há quatro problemas distintos na polémica em torno da "extrema facilidade dos exames de Matemática":

1) A necessidade político-institucional de melhorar as estatísticas nacionais em matéria de resultados escolares e grau de instrução dos portugueses, a qual justifica plenamente que os exames sejam ajustados à proficiência média expectável dos examinandos, e não provas de obstáculos potencialmente assassinas;

2) A necessidade de alterar a filosofia dos exames, os quais não passavam, e creio que não passam ainda de instrumentos de autoridade, de filtros políticos da hierarquização social, ou ainda, de intoleráveis persistências territoriais corporativas.

3) A necessidade de distinguir entre a eficiência dos sistemas pedagógicos -- na transmissão de conhecimentos, especialização e treino da memória e desenvolvimento das faculdades cognitivas -- e a abertura de vias para a selectividade intelectual e técnica por objectivos. São dois problemas distintos que merecem tratamentos separados.

4) O "darwinismo" pedagógico é tão falso e ilusório como a teoria geral de onde provem; precisamos, isso sim, de uma ideia de educação mais abrangente, menos formal e mais simbiótica, onde as escolas, mas também as famílias e as empresas joguem de novo o seu papel histórico imprescindível.

Não estou, como vê, totalmente em desacordo com a ministra socialista da educação.

Um abraço, OAM.



NOTAS
  1. Graças à sempre atenta e qualificada leitura da Maria de Fátima Biscaia recebi uma referência muito oportuna de um estudo sobre a obra pedagógica de José Sebastião e Silva -- O pensamento pedagógico de José Sebastião e Silva - uma primeira abordagem -- de que transcrevo as seguintes palavras do importante matemático português:
    "O que é preciso é não confundir cultura com erudição e sobretudo com o enciclopedismo desconexo, imensa manta de retalhos mal cerzidos, que vão desde as guerras púnicas até ao sistema nervoso da mosca. É esse, a bem dizer, o tipo de cultura que tende a produzir o ensino tradicional, baseado num sistema de exames que só permite apreciar memorizações e automatismos superficiais, mais ou menos próximos do psitacismo."

    "(...) a educação, na era científica, não pode continuar, de modo nenhum, a ser feita segundo os moldes do passado. Em todas as escolas o ensino das ciências tem que ser intensificado e remodelado desde as suas bases, não só quanto a programas mas ainda quanto a métodos. Uma vez quer a máquina vem substituir o homem progressivamente em trabalhos de rotina, não compete à escola produzir homens-máquinas mas, pelo contrário, formar seres pensantes, dotados de imaginação criadora e de capacidade de adaptação em grau cada vez mais elevado.

    "O que se pretende acima de tudo é levar o aluno a compreender o porquê dos processos matemáticos, em vez de lhe paralisar o espírito, automatizando-o desde logo. (...) No ensino tradicional o aluno é tratado, precisamente, como se fosse uma máquina, enquanto no ensino moderno se procura, por todos os meios, levá-lo a reflectir e a reencontrar por si as ideias fundamentais que estão na base da Matemática."


OAM 397 21-07-2008 00:29 (última actualização: 24-07-2008 00:23)

1 comentário:

Anónimo disse...

António, António,...

A tempo, a blogosfera sabia que ias ensinar "Abaco"


No post "MOTIVO DE DESPEDIMENTO":


"como geriu o dossiê dos combustíveis da empresa".

Comentário: Como querias que o Gaúcho gerisse o dossiê combustiveis! Como é que querias que a TAP fosse ao AR!


"como deveria ter operado no mercado de futuros".

Comentário: Sinceramente, depois de tu aquilo que a gente andou a escrever nos últimos 3 anos, ainda achavas que a TAP tinha futuro!


"Em 11 de Abril! Quem foi que lhe deu semelhantes conselhos?".


Comentário: O dia "11 (de Setembro)" não faz lembrar nada! Quem lhe deu os conselhos só podia ser um reconhecido cérebro da AlQaeda infiltrado no governo do (teu) amigo Sousa.
Sinceramente não vejo outro que não o Manel Pinhus, e olha que ainda vai receber o Nobel da economia por isso.


"nem contabilizou hoje tão evidentes perdas".

Comentário: ACP, sinceramente estava à espera mais de ti.
Tal cenário a que se chegou é uma oportunidade de melhoria, como tal foi considerada no conjunto das 84 medidas adiantadas pelo Gaúcho.

Por exemplo, antevendo a tremenda quantidades de digidos a que se vai chegar brevemente, a TAP vai substituir todo o seu parque de calculadoras, por outras com mais digidos, e que não sejam de "sumir".

O Prof. deNeufville quando esteve ontem em Portugal, já reconheceu a TAP como um "case study" de proporções planetárias, tendo ligado de imediato para a IBM / MIT no sentido de serem projectadas máquinas de calcular mais potentes.

E olha, não é só o parque de calculadoras da TAP, no Palácio dos Condes de Penafiel, o C.Zorrinho recomeçou ao abrigo do Choque Tecnológico a recolher as antigas calculadoras, e na falta das novas, já estão todos a aprender a trabalhar com o ABACO com o apoio da Ministra da Educação (para a Matemática)

Quem esteve na China ainda se arrisca a dar formação de abaco ao pessoal do MOPTC. E olha que vão pagar bem.

Nada de pessoal entenda-se!

A

Rui