quinta-feira, dezembro 12, 2024

A causa da guerra

Fé e heresia. Metáfora com duas leituras sobre a lenta e dramática libertação feminista do jugo patriarcal. Nesta escultura de Jules Jourdain, de 1917, o monge Jan van Ruusbroec pisa a cabeça de Heilwige Bloemart (Bloemardine). Esta obra colocada na catedral de São Miguel e Gudula, de Bruxelas, descreve um facto histórico improvável, ressaltando um conflito que fez inúmeras vítimas na Europa medieval e moderna: o da chamada fé contra a dita heresia.

Ao contrário do que parece, os povos não lutam até à morte por questões étnicas, religiosas ou ideológicas. Os povos lutam, se for preciso, até à morte, por recursos e territórios. Sempre foi e sempre será assim. A diplomacia e a política são as formas pacíficas desta luta ancestral. A guerra sangrenta e o terror são as modalidades bárbaras desta realidade biopolítica.

Os russos do psicopata Vladimir Putin lutam pelo petróleo e gás natural que existe em relativa abundância ainda no vasto território conquistado das suas colónias siberianas e do extremo oriente, ao mesmo tempo que impedem ou tentam impedir que outros produtores deste recurso ameacem ou ocupem a sua posição no fornecimento desta fonte energética ainda indispensável às regiões mais produtivas e ricas da Eurásia: Europa Ocidental, Índia e China, onde se encontra mais de 1/3 da população mundial.

Os níveis de endividamento soberano crescem em todo o mundo, da Europa aos Estados Unidos, passando pela China e Índia. As bolhas especulativas, por outro lado, alimentam crescimentos artificiais, hoje perigosamente evidentes na China comunista. Esta deformação dos sistemas económicos leva diretamente às febres do ouro, ou seja, à acumulação de ouro e outros metais e minerais preciosos como garantia dos sistemas financeiros nacionais e regionais, seja pelo lado da procura privada, individual, familiar e corporativa, seja pelo lado dos bancos centrais.

A população mundial continuará a crescer, prevê a ONU, até 2060-80. Depois iniciar-se-à um longo declínio demográfico (envelhecimento e não crescimento), aliás já evidente nalguns países e regiões da Europa e Ásia, de que os casos russo, ucraniano, chinês, sul-coreano, japonês e alemão são especialmente preocupantes. Segundo previsão da ONU, são estes, por ordem decrescente, os vinte países com maior declínio demográfico entre 2020 e 2050: 1-Bulgária, 2-Lituânia, 3-Letónia, 4-Ucrânia, 5-Sérvia, 6-Bósnia e Herzegovina, 7-Croácia, 8-Moldávia, 9-Japão, 10-Albânia, 11-Roménia, 12-Grécia, 13-Estónia, 14-Hungria, 15-Polónia, 16-Geórgia, 17-Portugal, 18-Norte da Macedónia, 19-Cuba, 20-Itália.

Declínio demográfico significa, pura e simplesmente, declínio económico e perda de poder. E a prazo, mudanças estruturais nos modos de vida, tendendo estes para a simplificação, a eliminação de redundâncias e o abandono das atividades e hábitos não essenciais.

E porque as guerras têm uma origem estrutural clara, de que os incidentes e as motivações que as provocam e alimental não passam de ilusões instrumentais, convém reter as causas principais que vêm conduzindo a humanidade para novos e pavorosos conflitos regionais e mundiais: 

— fim da energia barata (o consumo energético per capita mundial tem vindo a decair); 

— pico da taxa de crescimento demográfico mundial em 1964-65, e consequente previsão de um declinio demografico absoluto a partir de 2060-80;

— declínio da taxa de crescimento do PIB mundial, e paragem do crescimento pouco antes ou pouco depois de 2100, recuando porventura para intervalos semelhantes à era moderna pré-industrial.

Por fim, são estes os principais recursos ameaçados: água potável, oceanos, ar puro, terra arável, adubos sintéticos, metais e terras raras.

As perspetivas não são, como se vê, animadoras!

Segue-se um extrato de um artigo do New York Times sobre a nova febre do ouro, desta vez em África, com as suas consequências trágicas...

NYT — President Vladimir V. Putin has long heralded Russian gold mining in Sudan, and his country’s Wagner Group worked with the military and its rivals even before they went to war.

Now that Wagner’s boss is dead killed in a plane crash after his brief mutiny against Russia’s military leaders, the Kremlin has taken over the group’s business and appears to be pursuing gold on either side of the front line, partnering with the R.S.F. in the west and the nation’s army in the east.

The United Arab Emirates is also lighting both ends of the fuse. On the battlefield, it backs the R.S.F., sending it powerful drones and missiles in a covert operation under the guise of a humanitarian mission.

Yet when it comes to gold, the Emiratis are also helping to fund the opposing side. An Emirati company linked by officials to the royal family owns the largest industrial mine in Sudan. It sits in government-controlled territory and delivers a chunk of money to the army’s cash-strapped war machine — yet another example of the dizzying array of alliances and counter-alliances fueling the war.

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