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domingo, fevereiro 13, 2011

Parva que sou



Foi assim que nos idos anos 60 teve início a revolução que acabaria com uma ditadura de 48 anos. Agora, voltamos a precisar de democracia, e de uma nova república. O senhor Mubarak Sócrates tem que partir e os partidos têm que mudar!

É certo que o Hip-hop português tem vindo a tocar estes temas, mas numa perspectiva mais moralista do que social. Por outro lado, o que os Deolinda conseguiram foi tocar o nervo sensível de toda uma geração a quem os pais (da minha idade) ensinaram as vantagens da educação (1), do conhecimento e da cultura na busca de uma vida com sentido e relativamente afluente. Hoje, infelizmente, limitamo-nos cada vez mais a ajudá-los a emigrar!

Por uma vez, transcrevo um artigo de Vasco Pulido Valente, que dá bem a medida da tragédia política em curso. A grande dúvida é a de saber se temos juventude suficiente para impedir a transformação da já degenerada democracia a que chegámos numa cleptocracia autoritária e policial, cujos indícios são cada vez mais visíveis no comportamento dos piratas que tomaram de assalto o PS e o Estado.

Mudar de regime

Vasco Pulido Valente - 15-01-2011

Dez milhões de portugueses foram vítimas de uma fraude, que os fará passar anos de miséria. Toda a gente acusa deste crime, único na nossa história recente, entidades sem rosto como os "mercados", a "especulação" ou meia dúzia de agências de rating, que por motivos misteriosos resolveram embirrar com um pequeno país bem comportado e completamente inócuo. Mas ninguém acusa os verdadeiros responsáveis, que continuam por aí a perorar como se não tivessem nada a ver com o caso e até se juntam, quando calha, ao coro de lamúrias. Parece que não há um político nesta terra responsável pelo défice, pela dívida e pela geral megalomania dos nossos compromissos. O Estado foi sempre administrado com senso e parcimónia. Tudo nos caiu do céu.

Certos pensadores profissionais acham mesmo que o próprio regime que engendrou a presente tragédia é praticamente perfeito e que não se deve mexer na Constituição em que ele assenta. Isto espanta, porque a reacção tradicional costumava ser a de corrigir as regras a que o desastre era atribuível. Basta conhecer a história de França, de Espanha ou mesmo de Portugal para verificar que várias Monarquias, como várias Repúblicas, desapareceram exactamente pela espécie de irresponsabilidade (e prodigalidade) que o Estado do "25 de Abril" demonstrou com abundância e zelo desde, pelo menos, 1990. A oligarquia partidária e a oligarquia de "negócios" que geriram, em comum, a administração central e as centenas de sobas sem cabeça ou vergonha da administração local não nasceram por acaso.

Nasceram da fraqueza do poder e da ausência de uma entidade fiscalizadora. Por outras palavras, nasceram de um Presidente quase irrelevante; de uma Assembleia em que os deputados não decidem ou votam livremente; de Governos que no fundo nem o Presidente, nem a Assembleia controlam; de câmaras que funcionam como verdadeiros feudos; de uma lei eleitoral que dissolve a identidade e a independência dos candidatos. Vivendo a nossa vida pública como a vivemos, quem não perceberá a caracterizada loucura das despesas (que manifestamente excede o tolerável), a corrupção (que se tornou universal), os funcionários sem utilidade, o puro desperdício e, no fim, como de costume, a crise financeira? A moral da coisa é muito simples: só se resolve a crise mudando de regime.

NOTA
  1. Sobre o drama da falta de emprego na juventude em todo o mundo, ver o gráfico deste artigo do Economist — Young and jobless - The Economist