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quarta-feira, dezembro 05, 2018

Las Bejas?

Casino.Org: Elysium City promises to put Spain’s “La Siberia” on the map. Despite having no major cities, airports, or rail connections nearby, a former Disney executive believes he can make it work. (Image: Cora Global)

A construção e novas cidades deixou de fazer sentido, exceto em África


A ideia por mim lançada em 2012 (1) era para Beja: Las Bejas! Ninguém ligou (o pessoal só pensa no OE). Porém, a recém anunciada Elysium City (2), por uma obscura empresa criada em 2015 em Orange, Califórnia (a Cora Global, dum tal John Cora), será provavelmente mais uma tentativa falhada de trazer uma réplica de Las Vegas para a Europa. Em Espanha, houve já duas animações 3D que deram em nada: a Las Vegas de Madrid e a Las Vegas de Barcelona. Castilblanco, o pueblo escolhido para Elysium, fica na Extremadura, a 139Km de Ciudad Real; a 100Km de Talavera de la Reina, a 218Km de Madrid, e a 430Km de Lisboa. Nenhum aeroporto por perto. Parece-me, pois, outro castelo de bits para entreteter um poder político cada vez mais atrofiado e sem ideias.

Depois da ascensão à dignidade parlamentar dum partido populista de extrema esquerda, financiado pelos dois últimos ditadores folclóricos da Venezuela, a Espanha vê-se agora confrontada com a inevitável réplica: a ascensão, cada vez mais preocupante, de uma extrema direita populista suportada pelos votos que se irão paulatinamente desviar do Podemos e do PP para a Vox. A queda de Andaluzia é um sinal claro de que se as esquerdas, uma vez implodido o centro partidário, nada têm para oferecer aos povos para além da austeridade, das agendas fraturantes, e da corrupção, então as classes médias empobrecidas acabarão por eleger novos regimes de autoridade. Necessariamente violentos e retrógrados? Não sabemos. A China, Singapura, e o Vietname, são regimes autoritários, e a democracia no Japão nada tem que ver com as democracias ocidentais. Porém, são economias prósperas, e as pessoas parecem conformadas.

As democracias ocidentais têm um enorme problema civilizacional pela frente, e não são as touradas. Este desafio chama-se fim de uma era de prosperidade assente em energias baratas, cuja primeira consequência grave é a contração demográfica e o envelhecimento das populações associado ao aumento da esperança de vida. Também por isto, a criação de novas cidades, ou apostas em novas e caríssimas infraestruturas, são ideias que começam a perder todo o sentido. O Portugal da Mota-Engil, tal como a Espanha da Acciona, FCC, Ferrovial, Sacyr e San Jose, correspondem a um modelo de desenvolvimento esgotado. O futuro na Europa e em geral nas cidades desenvolvidas de todo o mundo chama-se gentrificação, ou seja, reordenar a ocupação humana das cidades, sobretudo dos centros das aglomerações urbanas de média, grande e muito grande dimensão. O contrário, portanto, da suburbanização, que marcou boa parte da economia da construção de edifícios e sistemas de transportes durante os últimos sessenta anos.

A ideia de construir parques temáticos e tecnológicos fora das cidades deixou, pois, de fazer sentido. As novas disneilândias e os novos silicon valleys começam a nascer do próprio processo de gentrificação acelerada em curso em inúmeras cidades por esse mundo fora, incluindo Portugal. Percebi isto mesmo quando visitei pela primeira a cidade de Praga. Foi provavelmente ali que a fantasia urbana de Walt Disney nasceu. Mas enquanto a milenar Praga tem condições geográficas e estruturais para prosseguir a sua vida, e portanto incorporar no seu espaço-tempo um processo mais ou menos duradouro de disneificação, o mesmo não ocorrerá à Disneilândia, cujo futuro antevejo breve.

Las Bejas não será pois viável no tempo pós-contemporâneo de que fazemos parte desde 1993, o ano em que teve início Web. O que escrevi sobre esta fantasia, em 2012 e 2016, não tem futuro, tal como não tem futuro a terceira tentativa de vender ao povo uma cidade-casino na Extremadura espanhola.


NOTAS
  1. Pastel de Nata (2012), Lóbi do novo aeroporto não desiste! (2012); Macau: faites vos jeux (2016)
  2. Rádio Renascença 04 dez, 2018 - 08:57
    A Las Vegas europeia chegará a Badajoz em 2023
    Há uma nova tentativa de construir a próxima “Las Vegas europeia” na região da Estremadura espanhola, onde outro projeto semelhante foi frustrado no último verão, segundo avança o jornal "El País".
    A filial espanhola do grupo norte-americano Cora Global apresentou um megaempreendimento denominado “Elysium City”, em Castilblanco, perto de Badajoz, com um investimento previsto de 3.500 milhões de euros. A primeira cidade inteligente espanhola terá casinos, hotéis, vivendas, um centro comercial, uma marina e até mesmo um estádio.
    O promotor do novo projeto é o empresário John Cora, que trabalhou durante 30 anos na Walt Disney Company e foi vice-presidente dos parques temáticos da Disney. O empresário - como o próprio recordou na apresentação feita em Mérida perante Guillermo Fernández Vara, presidente da região da Estremadura - foi o principal defensor da construção da EuroDisney em Espanha, um parque temático que foi finalmente construído em Paris.