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terça-feira, outubro 07, 2008

Crise Global 35

Eurico defende o teu dinheiro!
Garantias bancárias espanholas podem atrair depósitos portugueses

Warren Buffett: "sucking blood" out of the economy. "In my adult lifetime, I don't think I've ever seen people as fearful"

Fernando Teixeira dos Santos: "Nós não permitiremos que um banco com impacto significativo no nosso sistema financeiro falhe"

Joe Berardo: "Eu acho que os governos do mundo deveriam acabar com os off-shore"

Resumindo e concluindo, a situação é esta: apesar da retórica viciada a que nos habituou, e da verborreia populista difundida nos últimos dias por José Sócrates e Teixeira dos Santos, o governo continua a emitir sinais vagos sobre a qualidade das garantias dos depósitos bancários (que, segundo a lei existente, não abrange os PPRs), limitando-se a subscrever -- mas sem anunciar qualquer iniciativa legislativa ou decreto-lei -- o aumento do tecto das garantias, de 25 mil para 50 mil euros. Os 27 atarantados da União Europeia reuniram-se hoje, tendo soprado previamente que iriam aumentar o tecto de garantias bancárias para 100 mil euros. No entanto, o resultado pífio a que chegaram foram tão só 50 mil euros. Podemos imaginar o nervosismo de milhões de depositantes individuais, familiares e empresariais, europeus.

Como a decisão europeia de hoje não serve rigorosamente para coisa nenhuma, pois cada país-membro da União pode e foi incentivado a proceder como melhor lhe convier, e há países, como a Irlanda, a Dinamarca e a Grécia, que anunciaram garantias ilimitadas para os seus depósitos bancários, ou a Espanha, aqui ao lado, que decidiu hoje aumentar o tecto das garantias dos depósitos para 100 mil euros, podemos desde já prever uma razoável fuga de capitais, nomeadamente para o país vizinho. Sobretudo se algum banco mais pequeno, que pelos vistos não poderá contar com a bóia governamental, acabar por falir.

Jerónimo de Sousa acaba enfim de propor, embora sem especificar (mas eu especifico), a renacionalização das entidades financeiras a caminho da falência (BCP, BPI, BPN, Finibanco e BES poderão estar nesta pole position) e de alguns sectores económicos estratégicos (GALP, EDP, REN, Águas de Portugal, Portugal Telecom, etc.) A paragem imediata das intenções de nacionalização de outras empresas de interesse público estratégico inalienáveis (ANA, etc.) faz também parte da necessária inversão do holocausto financeiro perpetrado criminosamente pelos ideólogos e homens de mão do neoliberalismo (1).

A nível mundial, uma medida drástica deveria há muito estar a caminho: suspender, transitória ou definitivamente, as transacções financeiras entre países e paraísos fiscais sem lei, estejam os ditos localizados em territórios nacionais ou em ilhas piratas. A rainha de Inglaterra, dona de algumas destas ilhas fantasma é certamente um obstáculo maior à tomada de decisões enérgicas de mitigação da actual crise. Mas se a União Europeia não consegue lidar com semelhante problema, afinal menor, então melhor seria anunciar desde já a sua morte, e cada um de nós iria à sua vida.

O avanço da Rússia na Geórgia, mas também na Islândia, conjugado com a possível quebra do Deutsche Bank, poderia facilmente rebentar com a União Europeia de um dia para o outro. Portugal, na eventualidade de um colapso europeu desta magnitude, que esconjuro, embora não seja de todo inverosímil, teria apenas uma alternativa pela frente: sair da União e do euro, refundar o escudo e avançar para uma nova plataforma atlântica com os seus parceiros naturais: o Reino Unido, os Estados Unidos e o Canadá, o Brasil e a Venezuela, Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Se a Alemanha perder o controlo da situação actual e continuar titubeante no plano político, o cenário de um regresso dos países de Leste à órbita russa é uma eventualidade que não pode ser teoricamente afastada. E se esta dinâmica vier a desenvolver-se, estarão criadas as condições para que Moscovo venha a ser o centro político da Eurásia. Portugal estaria então entalado entre as ambições tenazes de uma Eurásia dominada pelo eixo Moscovo-Berlim (ou Moscovo-Paris, no caso de uma nova tragédia alemã) e um Islão renovado e muito poderoso, dominado pelo eixo Teerão-Istambul. Como é óbvio a saída seria apenas uma e a de sempre: o Atlântico!

Mas enquanto estes cenários não ganham consistência, o problema imediato é impedir o colapso financeiro do país, ou mesmo a hipótese de o salvar hipotecando criminosamente o futuro. Para evitar qualquer destas maneiras manhosas de esconder a crise, os portugueses têm que abrir os olhos e exigir transparência democrática imediata em todos os actos governamentais e de toda a classe política. A disciplina de voto parlamentar, por exemplo, é uma das vergonhas mais inaceitáveis do nosso sistema legislativo, que devemos denunciar sem quartel, obrigando os políticos eleitos a abolir tal regime degradante da consciência e da vontade política democrática.

Na esfera imediata do colapso em curso do sistema financeiro internacional, e considerando a ambiguidade inaceitável dos discursos oficiais, bem como a cobardia da maioria dos economistas que têm vindo a comentar a actual situação, a blogosfera pode e deve organizar um canal de apoio à decisão dos depositantes individuais, familiares e empresariais.

O objectivo deste canal, que lançarei em breve com o apoio de vários companheiros terá os seguintes objectivos prioritários:
  1. aconselhar os cidadãos na tomada de decisões esclarecidas e racionais (de forma genérica e abstracta)
  2. evitar e desmontar as operações de boataria
  3. evitar e desmontar as manobras de diversão oficial e dos grupos de especuladores
  4. evitar e desmontar as manobras especulativas
  5. compilar o histórico da actual crise
  6. compilar uma bibliografa pertinente
  7. organizar, em caso de necessidade, petições ao governo, ao presidente da república e às instâncias internacionais sobre aspectos relevantes e urgentes da actual crise

NOTAS
  1. Sobre este tema li um artigo particularmente elucidativo de Henry C K Liu -- CHINA'S DOLLAR MILLSTONE, Gold, manipulation and domination --, que recomendo vivamente. A citação que se segue não poderia ser mais oportuna.
    The public sector is not merely another component of the national economy. It is the critical component that defines the limits of the globalized market in a functioning sovereign state. Minsky pointed out that a sizable and strong government sector is indispensable for a capitalist market economy to maintain macroeconomic stability and avoid recurring deep recessions. In a globalized economy, national public sectors are necessary to maintain global macroeconomic stability.

REFERÊNCIAS DO DIA
  1. Sócrates garante: Estado vai "assegurar as poupanças dos portugueses em qualquer circunstância"

    07-10-2008 (Jornal de Negócios com Lusa.) O primeiro-ministro, José Sócrates, garantiu hoje que o Estado vai assegurar as poupanças dos portugueses e não deixará de apoiar as famílias, em particular as famílias mais carenciadas, face à crise financeira que se vive em todo o mundo.

  2. UE passa a garantir depósitos bancários até 50 mil euros
    2008-10-07 14:51 (Diário Económico). Os países da União Europeia (UE) vão aumentar a garantia dos depósitos em bancos do bloco dos actuais 20 mil euros para 50 mil euros. O compromisso foi alcançado na reunião de ministros das Finanças dos 27 e tem como objectivo fazer frente à actual crise financeira.

    "Os Estados estão de acordo em aumentar a protecção dos depósitos de particulares para um montante de pelo menos 50 mil euros, sabendo que vários Estados-membros estão determinados a elevar essa cobertura a 100 mil euros", disse o ministro das Finanças do Luxemburgo, Jeannot Krecke, citado pela AFP.

    Actualmente, a legislação europeia exige que os países do bloco tenham liquidez financeira que garanta um mínimo de 20 mil euros de depósitos por cliente, embora muitos países já tenham limites maiores.

    O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, afirmou hoje que o Governo não vai permitir que nenhum "banco com impacto significativo no sistema financeiro falhe".

    "Nós não permitiremos que um banco com impacto significativo no nosso sistema financeiro falhe", destacou Fernando Teixeira dos Santos no final de uma reunião dos ministros das Finanças da União Europeia, citado pela Lusa.

    As regras do Fundo de Garantia dos Depósitos em Portugal, previstas no Regime Geral das Instituições de Crédito, prevêem que, em caso de falência, o depositante seja reembolsado até ao limite de 25 mil euros.

    "Não prevejo uma situação de sinistro no nosso sistema financeiro que ponha em causa o valor dos depósitos", insistiu Teixeira dos Santos.

    O ministro caracterizou a situação actual nos mercados financeiros de "grande incerteza" e repetiu que "as autoridades intervirão se for necessário".

  3. UE discute hoje aumento das garantias de depósito de 20 mil para 100 mil euros
    07 de Outubro de 2008, 01:25

  4. BCE emprestou hoje 250 mil milhões de euros aos bancos

    07-10-2008 (Jornal de Negócios). O Banco Central Europeu (BCE) emprestou hoje aos bancos 250 mil milhões de euros, o valor mais elevado deste ano, numa altura em que o mercado de crédito está a dar indícios de maiores dificuldades.

    O BCE emprestou hoje, em leilão, 250 mil milhões de euros, com um prazo de sete dias, de acordo com a Bloomberg que adianta que a estimativa inicial era de que os bancos precisariam de 40 mil milhões de euros.

    Este valor corresponde ao mais elevado desde Dezembro, altura em que o BCE emprestou 349 mil milhões de euros, um valor nunca visto.

    O BCE emprestou ainda 50 mil milhões de euros a seis meses, duplicando o valor concedido, mais 20 mil milhões de dólares a 85 dias, numa altura em que a procura por dólares está a aumentar.

  5. Grandes fortunas caem para metade
    07-10-2008 00:05 (Diário Económico). A crise das bolsas emagreceu o património dos maiores investidores da praça portuguesa em 8,4 mil milhões de euros.

  6. Segundo contas da Associação Nacional das PME
    Mais de 30 mil trabalhadores não receberam subsídio de férias
    07.10.2008 - 09h47. Por Lusa. Paulo Ricca (arquivo)/ Público.

    Augusto Morais diz que as empresas preferem cumprir com a Segurança Social do que com os trabalhadores. Cerca de um terço das Pequenas e Médias Empresas (PME) não pagaram o subsídio de férias a pelo menos 30 mil trabalhadores e temem não conseguir atribuir o de Natal, deixando milhares de famílias em dificuldades, revelou à Lusa o presidente da Associação Nacional das PME.

    De acordo com Augusto Morais, a eficiência da máquina fiscal e o medo de ver os bens penhorados por atraso no pagamento dos impostos e das contribuições para a Segurança Social fez com que as empresas com maiores dificuldades financeiras prefiram, primeiro, saldar as contas com o Estado do que pagar os salários aos funcionários, o que não acontecia "até há dois anos".

    "Temos cerca de 30 por cento dos nossos empresários com atrasos nas remunerações dos trabalhadores. Já não lhes pagaram o subsídio de férias e agora aproxima-se o Natal. Vão ter muitas dificuldades em pagar esse subsídio", alertou o presidente da associação, que representa cerca de 10.800 empresas portuguesas.

  7. Autoeuropa pára produção dos monovolumes por quebra na procura
    06.10.2008 - 18h48. Por Lurdes Ferreira. Daniel Rocha (arquivo)/ Público.

    A quebra na procura obriga a paragem de produção de monovolumes durante cinco dias
    A VW Autoeuropa vai parar novamente nos próximos dias 9, 10, 13, 14 e 15 de Outubro, por quebra na procura dos monovolumes.

  8. Banco Central da Islândia recebe 4 mil milhões de euros da Rússia
    07-10-2008 (Diário Económico). A Rússia aceitou emprestar 4 mil milhões de euros ao Banco Central islandês para este injectar liquidez no sistema financeiro do país.

  9. Economistas avisam que resposta à crise constitui maior desafio ao euro

    7 de Outubro de 2008 - 18h24 (Público). A capacidade das autoridades europeias para adoptarem uma política comum de combate à crise financeira constitui o maior teste ao euro desde a sua criação, defenderam ontem, dia de convulsão no sistema financeiro do Velho Continente, vários economistas.

  10. Germany takes hot seat as Europe falls into the abyss
    By Ambrose Evans-Pritchard
    Last Updated: 8:37PM BST 06 Oct 2008 (Telegraph)

    We face extreme danger. Unless there is immediate intervention on every front by all the major powers acting in concert, we risk a disintegration of global finance within days. Nobody will be spared, unless they own gold bars.

    ... As for the US itself, it has not yet exhausted its policy arsenal. It can escalate further up the nuclear ladder. The Fed can cut interest rates from 2pc to zero. If that fails, it can let rip with the mass purchase of US debt.

    “The US government has a technology, called a printing press,” said Fed chief Ben Bernanke in November 2002. (His helicopter speech).

    In extremis, the Treasury/Fed can swoop into any market to shore up asset prices. They can buy Florida property. They can even buy SUV guzzlers from the car lots in Detroit, and mangle them in scrap yards. As Bernanke put it, the Fed can “expand the menu of assets that it buys.”

    There is a devilish catch to this ploy, of course. It assumes that foreign creditors will tolerate such action.

    Japan entered its Lost Decade as the world’s top creditor, with a vast pool of household savings to cushion the slump. America starts its purge with net external liabilities of $3 trillion, and a savings rate near zero. Foreigners own over half the US Treasury debt, and two thirds of all Fannie, Freddie, and other US agency bonds.

    But the risk of a dollar collapse is one for the distant future. Right now the world faces the opposite problem. There is a wild scramble for dollars as a $10 trillion pyramid of global lending based on dollar balance sheets “delevers” with a vengeance.

  11. Credit crisis: World in turmoil

    07-10-2008 17:15 (BBC News) As global markets fall sharply, the BBC News website looks at some of the countries affected by financial turmoil and what their governments are doing to alleviate the crisis.

    ... Spanish Prime Minister Jose Luis Rodriguez Zapatero on Tuesday increased bank deposit guarantees to 100,000 euros ($136,000) from the current 20,000 euros.


OAM 455 07-10-2008 23:07

segunda-feira, outubro 06, 2008

Crise Global 34

Que garantias são essas, senhor Sócrates?

Os pequenos e médios depositantes portugueses estão a entrar em pânico. Por enquanto, em silêncio. Depois, logo se verá.
Exijo, como cidadão, uma declaração formal do governo português sobre o grau de garantias que está disposto a assumir caso ocorram rupturas de pagamentos por parte dos bancos sediados em Portugal. Os 25 mil euros actualmente estabelecidos são manifestamente insuficientes.

Última hora!
UE avança em direcção a acordo para garantir depósitos

LUXEMBURGO 06-10-2008, 23:20 (AFP) — Os países da União Europeia (UE) avançaram nesta segunda-feira, em Luxemburgo, em direcção a uma proposta para elevar até 100 mil euros a garantia dos depósitos bancários na comunidade, actualmente em cerca de 20 mil euros, com o objectivo de tranquilizar os depositantes e evitar uma corrida aos bancos.

Teixeira dos Santos: depósitos bancários em Portugal garantidos “aconteça o que acontecer”
06.10.2008 - 16h12 Isabel Arriaga e Cunha, no Luxemburgo (Público)
O ministro das Finanças anunciou esta tarde que “aconteça o que acontecer as poupanças dos portugueses em qualquer banco que opera em Portugal estão garantidas”. Teixeira dos Santos, que falava no Luxemburgo à margem do Eurogrupo, escusou-se a esclarecer se esta é uma garantia de depósitos ilimitada. Actualmente o Fundo de Garantia de Depósitos garante até um máximo de 25 mil euros de depósitos, em caso de falência e de incumprimento de uma instituição bancária.

Depois da Irlanda (1) garantir inesperadamente os depósitos bancários dos seis principais bancos do país -- lançando a confusão geral entre os dirigentes europeus, nomeadamente do Bando dos Quatro (Alemanha, Reino Unido, França e Itália) -- um a um, os demais países da União copiam agora a receita de Dublin: "mais vale um pássaro na mão do que dois a voar!" Alemanha (sim, a que vociferava contra os irlandeses!), Grécia, Dinamarca (2), Espanha (3), Reino Unido, Áustria e Suécia, engrossam o cada um por si decidido hoje pelos atarantados "27" -- precipitando mais um dia negro nas bolsas mundiais (4).

UE: Sócrates subscreve declaração comum reforçando garantias de estabilidade
06.10.2008 - 15h17 (Por AFP, Lusa/ Público)

O primeiro-ministro português subscreveu hoje, em conjunto com os restantes Estados-membros da UE, uma declaração em que os 27 se comprometem a adoptar medidas para a estabilidade do sistema financeiro europeu e dar protecção aos depositantes. ...

“Os líderes da União Europeia afirmam que cada país tomará as medidas necessárias com vista a assegurar a estabilidade do sistema financeiro – seja através da cedência de liquidez por parte dos bancos centrais, de medidas pontuais para lidar com situações específicas de alguma instituição financeira, ou do reforço dos mecanismos de protecção dos depositantes”, lê-se na declaração.

No mesmo comunicado, os Estados-membros garantem que “continuarão a tomar as medidas necessárias de protecção do sistema para que os depositantes nas instituições financeiras monetárias não sofram quaisquer perdas”. ...

Na semana passada, em diversas intervenções públicas, tanto o primeiro-ministro, José Sócrates, como o ministro de Estado e das Finanças, Teixeira dos Santos, defenderam que o sistema financeiro português “têm dado provas de resistência” face à actual conjuntura de turbulência nos mercados internacionais.

No mesmo contexto, José Sócrates deixou também uma mensagem de tranquilidade em relação aos cidadãos com depósitos em instituições financeiras nacionais, dizendo estarem asseguradas as poupanças dos portugueses.

A pergunta retórica que me ocorre, sobretudo num dia em que o PSI20 tem a maior queda dos últimos 3 anos (4), depois de ter perdido no que vai de ano mais de 40% do seu valor (5), é esta:

quando pensam as luminárias lusitanas que informam e aconselham o senhor Sócrates em matéria de finanças (o senhor Constâncio e o senhor Teixeira dos Santos, presumo) dizer-lhe que a questão das garantias bancárias dos depositantes é uma matéria da máxima urgência, exigindo um comunicado claro do Conselho de Ministros?

Tudo o que ouvimos até ao momento (07-10-2008 00:28) foram declarações manhosas. Não foi assumido nenhum compromisso oficial quanto às garantias, para além daquelas que já estão definidas: um máximo de 25 mil euros por cada conta bloqueada por falta de fundos imputáveis à entidade bancária. Ora o que está em causa é saber se o Estado português está em condições de ir para além destes valores obviamente insuficientes. E se não está, como pensa travar uma corrida aos bancos e a fuga de massiva de capitais para outros países da União Europeia?

A senhora Merckel percebeu algo que é elementar e qualquer aforrador, como qualquer especulador entende: se há bancos europeus que garantem os meus depósitos bancários, contra outros que não o fazem, ou estão indecisos, ou proclamam intenções vagas para enganar os tolos, eu, com um clique de computador transfiro instantaneamente o meu dinheiro para a Irlanda, a Alemanha, a Dinamarca, ou qualquer outro país da União que ofereça garantias!

A Caixa Geral de Depósitos está sob pressão -- como atempadamente alertámos e Nicolau Santos aprofunda em artigo do Expresso online de hoje (6). Ou então, ficam por explicar os três encaixes de capital (ou melhor dito, provisões) realizados em contra-ciclo ideológico do actual colapso da lógica privatizadora neoliberal. As acções do BCP vão a caminho dos cêntimos. E já agora: quanto ouro português existe ainda em Fort Knox, que não esteja comprometido em SWAPS?

Se amanhã a Espanha seguir a Alemanha, ou multiplicar por cinco o tecto actual das suas miseráveis garantias (20 mil euros), em que posição ficaria a banca portuguesa? Eu creio que neste preciso momento existe já uma corrente grossa de capitais em direcção aos países que oferecem garantias. Por cada dia que passar sem uma decisão do governo de José Sócrates, temo que saiam milhões de euros -- reais e virtuais! -- do país. É preciso agir já!

Tal como fizeram os dinamarqueses,
  1. é fundamental decretar o mais rapidamente possível a garantia ilimitada dos depósitos em dinheiro existentes na contabilidade dos bancos portugueses, pelo período de um ano;
  2. e é mais fundamental ainda decretar ao mesmo tempo a interrupção da distribuição de dividendos especulativos (ou seja, a conversão dos títulos em dinheiro) e a proibição de auto-compra de acções por parte dos bancos.
Este assunto não pode ser silenciado pela imprensa económica, nem muito menos pelos média generalistas. Se Cavaco Silva continuar calado sobre esta questão decisiva, de que dependerá ou não o colapso do sistema financeiro português, e se o Governo continuar a promover alegremente o Magalhães e a inaugurar passeios pedonais, então terá que ser a blogosfera a lançar o grito de alarme, forçando o poder político a tomar uma decisão.

NOTAS
  1. Banco irlandês garantido pelo Estado aproveita para atrair depósitos

    Dublin, 3 out (EFE/ Globo).- O filho do diretor-executivo do Irish Nationwide, um dos seis bancos irlandeses garantidos pelo Governo de Dublin, utilizou o aval estatal para tentar fazer negócios com uma entidade de investimentos globais radicada em Londres, confirmaram hoje fontes oficiais.

    Michael Fingleton (filho) enviou vários e-mails a funcionários de uma firma da City londrina pedindo que depositassem grandes somas de dinheiro, antes inclusive que a nova lei de garantia fosse aprovada na quinta-feira pelo Parlamento irlandês, informou o escritório do regulador financeiro, que investiga o assunto.

    No e-mail, que circula pela internet, Fingleton - funcionário de uma filial do Irish Nationwide - afirmava que, graças ao apoio do Governo, sua entidade era agora "o lugar mais seguro para depositar dinheiro na Europa", com ofertas de depósitos com juros de 6,75% e 7%.

    ...A lei de garantia irlandesa, que permanecerá em vigor até a meia-noite de 28 de setembro de 2010, protege depósitos, bônus e certo tipo de dívida dos seis grandes bancos nacionais avaliados em mais de 400 bilhões de euros. EFE.

  2. Dinamarca garante depósitos bancários

    06-08-2008. (Jornal de Negócios) A Dinamarca vai garantir todos os depósitos bancários num acordo com as entidades de concessão de crédito comercial do país. Os bancos comerciais vão fornecer cerca de 35 mil milhões de coroas dinamarquesas (4,69 mil milhões de euros) nos próximos dois anos a um fundo para assegurar os depositantes em situação de perdas. ...

    Segundo avança a agência noticiosa, esta soma (4,63 mil milhões de euros) é equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Com base neste acordo, os bancos não poderão pagar dividendos aos accionistas ou comprar acções próprias.

    No últimos mês, seis bancos regionais dinamarqueses colapsaram, foram comprados, ou colocados à venda. Segundo 39 dos 45 economistas consultados pela agência Bloomberg, mais bancos pequenos podem falir dentro de um ano.

  3. Governo espanhol aumentará 'imediatamente' fundo de garantia dos depósitos bancários

    06/10/2008 - 17:20; MADRID (AFP) - O governo espanhol aumentará "imediatamente" o fundo de garantia dos depósitos bancários, anunciaram fontes oficiais depois de uma reunião do presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, com dirigentes de bancos e caixas de poupança, mas não especificaram de que forma, nem em que quantidade.

    As contas bancárias na Espanha estão garantidas em até 20.000 euros por cliente. Zapatero conversou hoje com os presidentes dos bancos Santander, BBVA, Banco Popular e das caixas de poupança La Caixa, Caja Madrid e Unicaja.

    O governo espanhol, que defendia uma solução europeia para a crise financeira mundial que afectou várias entidades europeias nos últimos dias e criticava as soluções unilaterais decididas por Irlanda e Alemanha, avisou nesta segunda-feiras que por falta disso, adoptará medidas para garantir os depósitos na Espanha dos poupadores.

    A Alemanha, que se nega a ter que pagar pelos problemas dos bancos de outros países, impede que os europeus cheguem a um acordo a respeito.

    Até o momento, o sistema bancário espanhol não foi afectado pela onda de quebras em instituições bancárias nos Estados Unidos, Reino Unido, Benelux e Alemanha.

    Zapatero e os dirigentes dos bancos destacaram hoje "a fortaleza e solvência do sistema financeiro espanhol" e "a política de rigor mantida pelo Banco de España nas últimas décadas", segundo o comunicado.

    Copyright © 2008 AFP. Nenhuma das informações contidas neste servidor pode ser reproduzida, seja a que título for, sem o acordo prévio da Agence France-Presse.

  4. Portugal e Espanha exigem que resposta à crise seja decidida pela totalidade da UE

    06.10.2008, Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas (Público)

    Reuniões dos ministros das Finanças dos 15 países da zona euro e dos Vinte e Sete decorrem hoje e amanhã com o desafio de conseguir a unidade europeia que tem faltado

    Portugal e Espanha criticaram ontem de forma velada a cimeira de sábado passado limitada aos quatro maiores países da União Europeia (UE), defendendo que as decisões relevantes sobre a crise financeira deverão ser tomadas a 27 e no âmbito de uma resposta europeia.

  5. Galp cai 17,8 por cento e EDP 14,4 por cento
    Lisboa cai mais de oito por cento e liderava mais um dia negro para bolsas europeias

    06.10.2008 - 15h49, Por Eduardo Melo
    A quase uma hora do fecho da sessão, a Bolsa de Lisboa tomava a dianteira na Europa e afundava 8,54 por cento (PSI20), penalizado pelos seus principais títulos. Galp, EDP, e BPI desciam entre 12 e quase 18 por cento, contagiados pelo desempenho das congéneres europeias.

    O pânico parece ter-se instalado entre os investidores, que pressionavam o título da petrolífera para uns reduzidos 8,93 euros, fruto de uma descida de 17,8 por cento. A eléctrica baixava 14,4 por cento, para 2,31 euros, o BPI diminuía 12,4 por cento, para 1,84 euros e o BES quase dez por cento, para 7,95 euros.

    Para completar o trio das acções do sector da banca, o BCP acompanhava a tendência geral e recuava 8,2 por cento, para quase um euro (1,04 euros), demonstrando que o enfoque do movimento vendedor se concentra na área financeira, na Galp e na EDP.

    O comportamento da bolsa portuguesa excede o desempenho do resto da Europa, onde as quedas aproximavam-se dos sete por cento e evidenciavam grande volatilidade.

    A ausência de acordo na União Europeia para uma resposta conjunta à crise financeira no espaço europeu pode estar a minar os mercados bolsistas, que não encontram motivos para saudar a reunião de sábado dos quatro países mais ricos da UE: Alemanha, Reino Unido, França e Itália. E como parte desta crise é de confiança nas instituições, os líderes destes quatro países deram uma grande prova da falta de coordenação e preocupação conjunta para responder a problemas, que até há bem pouco tempo pareciam ser do seu total desconhecimento.

    Como ninguém ainda sabe a dimensão da crise financeira internacional e da sua repercussão na economia real, hoje parece ser o dia para os investidores demonstrarem a sua ansiedade nos mercados bolsistas, saindo das suas posições accionistas.

    Fora da Europa, o sentido é igualmente vendedor. Em Nova Iorque, o índice Dow Jones baixou dos 10 mil pontos, escorregando mais de três por cento (3,4 por cento) após algum tempo da abertura. É a primeira vez que se assiste a este nível de fraqueza, desde Outubro de 2004.

  6. Perdas anuais do PSI 20 já superam os 40%

  7. O dia em que nasceu o cisne negro

    por Nicolau Santos

    06-10-2008. (Expresso) As mensagens passadas são diferentes. Nos Estados Unidos, a análise tem sido casuística. Na Europa, a indicação clara é que os governos não deixarão cair as grandes instituições financeiras - e que os critérios de convergência serão flexibilizados face a esta situação de excepção.

    Em Portugal, o primeiro-ministro e o ministro das Finanças também fizeram questão de passar a mensagem de que o Estado não deixará que haja falências no sistema financeiro e que os depositantes e credores podem estar tranquilos. É fundamental que o recado seja interiorizado. Os bancos nacionais estão bem no que toca aos rácios de solvabilidade, mas uma eventual onda de pânico que leve a uma corrida aos depósitos de uma instituição vai atirá-la para uma situação de pré-falência, obrigando o Estado a intervir.

    É por isso incompreensível que, na mesma semana em que passaram esta mensagem, José Sócrates e Teixeira dos Santos tenham permitido que a CGD concretizasse a venda de duas participações que detinha na REN e na AdP, à Parpública, por €390 milhões.

    Bem pode o ministro clamar que tal estava há muito previsto. Se estava, não se percebe que tenha sido concretizada agora, no exacto momento em que há receios, em todo o mundo, quanto à solidez das instituições financeiras. Ainda por cima, nos últimos sete meses, o Estado procedeu, pela calada, a dois aumentos de capital na Caixa, um a 31 de Dezembro de 2007, de €150 milhões, e outro de €400 milhões no final de Julho.

    Ora de tudo isto o que resulta é a legítima dúvida de saber se os rácios de solvabilidade da Caixa não estariam debilitados 1) pelas participações que detém em diversas empresas que se desvalorizaram fortemente; 2) e por financiamentos que fez a diversas entidades para compra de acções contra garantias que estão hoje muito desvalorizadas.

    Em alternativa, fica a outra dúvida: e se este reforço dos rácios da Caixa é para prever a possibilidade de esta ter de ir em socorro de alguma instituição financeira que esteja à beira de enfrentar sérias dificuldades?

OAM 454 06-10-2008 18:17 (última actualização: 07-10-2008 00:24)