sábado, outubro 08, 2005

Felgueiras

Voto útil, voto inútil


Fatima Felgueiras De cada vez que os políticos nos intimam a votar, sob a ameaça velada de que a nossa abstenção, voto em branco ou voto nulo seriam, no fundo, uma demonstração de imaturidade cívica, e mesmo de traição aos ideais democráticos, os tipos e as tipas da minha idade (52) ficam pouco à vontade e muito predispostos a cederem à chantagem — sobretudo se estiveram activos durante a trapalhada revolucionária que se seguiu à queda da ditadura. E todavia, esta espécie de atavismo cultural revela apenas um sentimento de culpa perante a ilusão não satisfeita. Não tem nada de racional e é pragmaticamente disparatada.

Por exemplo, eu vivo em Carcavelos, acho que o bon vivant do PSD não fez patavina, não conheço os velhinhos que o PS fez avançar para fingir que disputam a autarquia ao António Capucho, sou dos que acho que o PCP morreu de morte natural, que os betinhos do PP já fizeram demasiadas plásticas, e não quero contribuir para o crescimento selvagem do Bloco de Esquerda. Em suma, não tenho nenhum motivo para votar em qualquer dos candidatos que se apresentam ao município de Cascais. Que faço? Abstenho-me? Vou até às urnas e voto nulo, escrevendo, por exemplo: "tenham juízo!", ou "Weimar começou assim..."? Dobro o boletim em quatro partes e entrego-o tão vazio quanto o recebi ao presidente da mesa eleitoral, disfarçando um sorriso amarelo nos lábios? Que dirão os meus amigos mais conscientes e politicamente correctos? Estarei, "objectivamente", a fazer jogo a favor de uma das partes? Neste caso, a favor do Sr. Capucho? E isso não seria uma maneira estúpida de desperdiçar o meu grande poder democrático? Entregar o ouro ao bandido? Mas será que eu sei, nesta fase do campeonato, onde estão realmente os bandidos? Não estarão por toda a parte? Pelo simples facto de susterem e procriarem o actual estado de coisas, retirando os seus pequenos (ou grandes) lucros, para si e para a família? E se assim for, o meu suposto voto útil não seria, ao invés, um tiro reincidente no próprio pé e uma demonstração de grande distracção, para não dizer de debilidade mental manifesta? Neste caso, o meu voto útil —fosse para onde fosse— não seria apenas, do ponto de vista dos meus interesses e até mesmo do ponto de vista de um interesse geral, um voto simplesmente inútil?

Os casos de Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro, Avelino Ferreira Torres e Isaltino Morais, arrepiam menos pelo que estes pobres diabos possam ter feito de mal (de ilícito, de ilegal ou de criminoso), do que pelas ramificações tenebrosas que todos suspeitamos existirem entre estas personagens e a classe política em geral (com destaque para os respectivos directórios partidários). Nos intermináveis subterrâneos onde estes putativos financiadores discretos de um sistema partidário irremediavelmente corrompido se acotovelam com muitas das sumidades aparentemente intocáveis do poder é que está o busílis da questão. Quando Almeida Santos afirmou em Felgueiras que daria um abraço à Fátima se se cruzasse com ela, percebi até que ponto estamos diante de uma trama complexa e perigosa. Se Fátima Felgueiras financiou ilegalmente o PS, e à época dos factos Jorge Coelho era, como ainda é hoje, o responsável autárquico do partido, em que situação ele e o Partido Socialista se vão ver no dia em que a arguida for acusada e resolver desfiar o seu rosário? Podemos, creio, inferir esta lógica dos factos para as restantes personagens a braços com a Justiça e imaginar o resultado. Depois do escândalo em volta da pedofilia, que nos reservará este lindo sistema político para o ano que vem? Serão os tribunais capazes de fazer o seu trabalho? Serão as polícias autorizadas a trabalhar?

Depois de muito pensar, acabei por tomar uma decisão: enquanto não se esclarecerem de forma razoável estes dois escândalos que corroem a nossa democracia (pedofilia e financiamento ilegal dos partidos) não votarei mais em partidos. Abster-me-ei, como forma de protesto silencioso. Esperando que o sistema acorde!

O-A-M #89 08 Out 2005

sexta-feira, outubro 07, 2005

OGE

O Grande Estuário: 2020-2030


O Grande Estuario, 2005 No fim de mais uma campanha eleitoral, marcada desta vez pela exibição pornográfica do estado actual dos aparelhos partidários, e por nenhuma ideia interessante sobre o futuro das nossas cidades e autarquias, vale talvez a pena divulgar neste blogue o pequeno manifesto sobre Lisboa lançado em Maio passado por um grupo de entusiastas entre os quais me incluo. Nessa altura anunciámos, com base em vários estudos pouco divulgados, que o valor do petróleo chegaria aos 60 dólares antes do fim do presente ano. Chegou! As restantes previsões têm igualmente uma base técnica sólida. Por isso, considero urgente começarmos a discutir e a planear seriamente o que vamos fazer e deixar fazer em Lisboa e cidades vizinhas nos anos que restam até ao grande crash energético ...e imobiliário.
Este mesmo texto, e mais informação e debate, podem ser encontrados no sítio web especialmente concebido para a rede cidadã do Grande Estuário.
Bom Domingo!

O Grande Estuário


Portugal tem hoje cerca de 10.5 milhões de habitantes. Oitenta por cento desta população reside ao longo da respectiva faixa litoral. A correspondente taxa anual de crescimento é da ordem dos 0,5% (0,1% de crescimento natural e 0,4% de crescimento migratório).

As cidades de Lisboa e Porto, por sua vez, perderam mais de 130 mil habitantes para as respectivas periferias. No entanto, a concentração populacional e urbana na Região de Lisboa e Vale do Tejo (3.467.483 de pessoas em 2001), e mais especialmente na Grande Área Metropolitana de Lisboa (2.661.850 de pessoas em 2001), continua a dar-se de forma contínua, com especial incidência nos concelhos de Sintra, Amadora, Loures, Almada, Seixal e Setúbal. Quem percorre as periferias das duas maiores cidades portuguesas apercebe-se dos impressionantes ritmos de suburbanização que de há três décadas para cá têm desqualificado estes arredores.

No caso da Grande Área Metropolitana de Lisboa, a par da péssima qualidade urbanística e arquitectónica do património edificado, aumentou continuamente o volume e intensidade dos movimentos pendulares periferia-centro-periferia, abrandou a velocidade de circulação automóvel entre localidades, diminuiu dramaticamente o tempo pós-laboral disponível e aumentaram as despesas com os transportes públicos e privados.

A dispersão suburbana actual, com as correspondentes cidades e aldeias dormitórios, é uma paisagem cuja origem pode ser localizada numa conjuntura muito precisa: a dos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial. Gasolina barata, crédito democrático para comprar casas e automóveis, dezenas de milhar de quilómetros de estradas e auto-estradas, cinemas "drive-in", "supermarkets", "shopping malls" e "theme parks", em suma, tudo isto e o sonho americano de uma casinha independente, com relvado e churrasqueira à porta. O mesmo sonho, recauchutado, mas ainda assim encantatório (apartamento e lareira, automóvel e 'shopping'), chegou até nós no princípio da década de 1980 e durou praticamente até ao fim do século. Entretanto, depois dos atentados de 11 de Setembro e da última guerra do Iraque, as coisas começaram a mudar.

O efeito conjugado da especulação imobiliária, do desemprego sistémico, da subida generalizada do custo de vida (com incidência particular no preço da energia) e de uma maior pressão fiscal, obrigará cada um de nós a fazer melhor as contas domésticas e a eleger com mais cuidado as prioridades de investimento e de consumo. O petróleo ultrapassou já os 60 dll/barril, poderá chegar aos 80-100 dll em 2006, e mesmo aos 300 dll antes de 2015. Com estes valores, podemos facilmente imaginar uma corrida imobiliária em direcção às malhas urbanas consolidadas e centrais das principais cidades, e ainda uma atracção acelerada pelas zonas urbanas e sub-urbanas onde se situam as principais interfaces de transportes públicos. A especulação imobiliária deverá acelerar exponencialmente, bem como a actividade de construção nos referidos atractores urbanos e de mobilidade. Se não houver, entretanto, nem visão estratégica, nem planeamento adequado, nem capacidade de liderança, por parte dos poderes autárquicos e autoridades inter-municipais e regionais, as complicações poderão adquirir uma dimensão e complexidade sem precedentes.

A nossa visão do Grande Estuário supõe, perante o actual estado de coisas, uma plataforma de diálogo e acção. Supõe-se, basicamente, duas coisas: que vai haver uma transição convulsiva e dolorosa das actuais energias carbónicas para sistemas energéticos baseados em energias renováveis (eólica, solar, marítima e fluvial) e em novas centrais de fissão nuclear; e que durante tal transição boa parte dos subúrbios poderão implodir, com o consequente hiper-crescimento das velhas cidades e o nascimento de novas cidades super-condensadas.

Até lá, que poderemos fazer?

Em O Grande Estuário propomos um grande laboratório dedicado à Região de Lisboa e Vale do Tejo, ancorado numa plataforma de investigação e discussão sobre o futuro dos grandes assentamentos humanos, baseado em quatro áreas disciplinares:


o Observatório
os Simuladores de Futuro
o Banco de Horas
o Núcleo de Exploração Urbana e Suburbana - NExUS: espécie de agência de viagens dedicada ao estudo do Grande Estuário


Começámos este processo em Dezembro de 2004... Seis meses depois, chegámos a algumas conclusões:

Que é necessário reformular os actuais sistemas de mobilidade urbana e suburbana, tendo em conta as seguintes prioridades:

    evitar o mega-investimento chamado "novo aeroporto de Lisboa", com localização prevista para a Ota (situada a 40 Km de Lisboa), considerando em alternativa a expansão do actual Aeroporto Internacional de Lisboa, na forma de um "hub" de transportes aéreos assente em três vértices operacionais e logísticos de última geração: Portela, Montijo e Tires;

    construção de duas novas pontes no estuário do Tejo: Chelas-Barreiro e Belém-Trafaria;

    introdução de novos sistemas de mobilidade e transportes: Maglev, táxis fluviais, expansão das redes de Metro subterrâneo e de superfície e expansão urbana e interurbana dos actuais corredores BUS.


Que a solução da Grande Área Metropolitana de Lisboa passa obrigatoriamente pela resolução de um problema chamado Lisboa, ou melhor dito, centro de Lisboa.

Envelhecido, atrofiado e incapaz de oferecer alternativas credíveis às novas tensões económicas e urbanísticas, este centro precisa de crescer como tal, quer dizer como grande atractor cosmopolita, e transformar-se num eficaz modelo de requalificação da grande urbe.

Crescer para Sul é a nossa proposta: a zona ribeirinha entre a Almada e Alcochete, hoje em processo de suburbanização acelerada, deverá ser o alvo principal de uma operação metropolitana estratégica e de grande envergadura.

Que uma candidatura aos Jogos Olímpicos de 2020 seria uma boa metodologia política e uma excelente estratégia anímica para criar as condições ideológicas, organizativas e políticas para a grande revolução urbana que temos em mente.

Que a Grande Área Metropolitana de Lisboa deveria apostar numa estratégia de desenvolvimento clara, assente em três grandes eixos:

Eixo A: Criação de parques de energias renováveis, tendo em vista diminuir drasticamente a nossa dependência energética dos combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão);

Eixo B: Criação de um santuário de agricultura, aquacultura, piscicultura e pecuária bio-sustentáveis na Região de Lisboa e Vale do Tejo (com a interdição imediata das tecnologias transgénicas que impliquem a interrupção dos processos naturais de sobrevivência genética das espécies);

Eixo C: Condicionamento das actividades industriais e de serviços, com três prioridades à cabeça:

    actividades relacionadas ou co-relacionadas com o mar e o rio

    actividades relacionadas ou co-relacionadas com as novas indústrias energéticas

    actividades relacionadas com a recuperação, preservação e valorização das paisagens e habitats especiais de espécies animais e vegetais


Eixo D: Desenvolvimento de um ambicioso programa de infra-estruturas captadoras de um turismo de elevada qualidade, sustentável e economicamente reprodutivo.

Com quem gostaríamos de discutir este Grande Estuário?
Com todos os interessados. Mas desde logo com algumas entidades fundamentais:

A CCR de Lisboa e Vale do Tejo
As Câmaras Municipais da Grande Área Metropolitana de Lisboa
O Comité Olímpico Português
A Ordem dos Arquitectos
As Faculdades de Arquitectura e de Engenharia do Ambiente
A ANA ? Aeroportos de Portugal SA
A APPLA ? Associação dos pilotos portugueses de linha aérea

Os dados da discussão estão lançados:
Publicámos um mapa com o essencial das nossas ideias.
Pode consultar o projecto no respectivo sítio web
Esperamos por si.


Versão original: 1 Maio 2005; última actualização: 6 Outubro 2005

O-A-M #88 06 Out 2005

sábado, outubro 01, 2005

Cavaco Silva 3

O sinal da vitória


Cavaco SilvaCavaco Silva, ao deixar escapar a opinião de que ainda é cedo para julgar o actual Governo (ver Expresso de hoje), está no fundo a reconhecer uma vitória antecipada, a sua, numas eleições para as quais nem sequer se candidatou! As intenções de voto a seu favor são muito nítidas e os restantes candidatos, já no terreno, ao resumirem praticamente os seus desertos de ideias à proclamação de que é necessário derrotar o candidato da Direita, mais não fazem do que acentuar esta tendência do eleitorado.
A dicotomia Esquerda vs. Direita há muito que deixou de fazer qualquer sentido (escrevi-o, se não me engano, em 1984), pelo simples motivo de se terem transformado em meros adjectivos adversariais entre os principais protagonistas das democracias parlamentares europeias. Os chamados partidos do arco do poder (o PS e o PSD; mas também o CDS, o PCP e agora o Bloco de Esquerda) são o Sistema, e o Sistema, como se sabe, faliu, chafurda na grande e na pequena corrupção, é irresponsável, cínico, arrogante e mentiroso. Já não vale nada para quem nele, apesar de tudo, vota. É verdade que não se vislumbra nenhuma alternativa credível. Daí a incerteza, o nervosismo e o cepticismo generalizados. Daí também o secreto desejo popular de encontrar um pai tirano, competente em matéria de finanças e honesto lá em casa, que ponha alguma ordem neste conjunto.
Já se viu que o Governo de Sócrates, como no fundo se esperava (a ilusão/desilusão com António Guterres vacinou-nos...), não vai remediar coisa alguma. O homem e o Governo atolam-se ao fim de quatro meses de rugidos na demagogia e na endogamia sinistra que vêm minando as bases morais deste País. Em vez de criar regras claras e transparentes na Administração do Estado e nas empresas públicas e semi-públicas, que regulem o que é e não é cargo de confiança política, Sócrates mantem uma conveniente poeira legislativa, sob a qual prossegue a famosa descadeirada, conhecida desde a era de Guterres como o bailarico dos jobs for the boys and girls. As mexidas conduzidas pela Senhora da Cultura no dia de ontem (Biblioteca Nacional, IA, IPPAR, e CCB), depois das mexidas caninas operadas na Caixa Geral de Depósitos, na GALP e em centenas ou milhares de outros lugares (tachos) sob alçada do Governo e do PS, são a face escancarada de um sistema político ideologicamente esgotado e corrompido até à medula. É preciso dar um pontapé no rabo desta hipócrita democracia. Para que venha uma ditadura, perguntarão os do costume? Não, para que venha um novo regime político, mais democrático. O actual perdeu a vergonha e já não sabe fazer outra coisa que não seja abusar do seu nome generoso para fins cada vez mais inconfessáveis. O mundo (não sei se sabiam...) caminha para o precipício da sua própria gula. Não é certo que tenhamos tempo e vontade de evitar a queda, mas vale mesmo assim a pena proclamar, aqui e agora, a necessidade imperiosa de mudar o actual estado de coisas. Precisamos todos, se não quisermos enlouquecer de vez, de uma Sociedade Sustentável. Batemos no fundo. Muitos mais 11S, Iraques e Katrinas nos esperam ao virar da esquina. Aproveitemos o facto para meditar e decidir. Como disse, a diferença entre Esquerda e Direita não é a diferença que realmente faz diferença numa perspectiva de futuro. Há outros paradigmas muitíssimo mais decisivos para compreender o que nos está a acontecer e para compreender o que nos irá acontecer se, entretanto, nada fizermos, ou fizermos tudo mal.
A eleição de Cavaco Silva tornou-se na inevitável catarse do momento. Despachemo-la sem demora! Para que depois possamos pensar nos verdadeiros problemas.

PS - As sondagens dizem que muitos votarão em Manuel Alegre e Francisco Louçã na primeira volta e que, se houver segunda, votarão em Cavaco Silva! Quer se queira quer não, Mário Soares, para além de velho e contraditório com tudo o que andou a dizer ao longo dos últimos anos sobre a sua retirada da vida política nacional, continua a identificar-se, não apenas com o bem que fez, mas sobretudo com o mal do sistema que ajudou a cultivar: desorganização social, proliferação e ineficiência da burocracia, nepotismo partidário generalizado, economia paralela, consagração ilegítima de poderes ocultos (Maçonaria, Soarismo, Opus Dai), promiscuidade generalizada entre os partidos e as pequenas e grandes mafias económicas, corrupção e sobretudo a ausência gritante de uma visão para Portugal. Não admira pois que as suas hipóteses de vir a ser o próximo Presidente da República sejam nulas. Última ironia: a vitória de Cavaco é o que, na realidade actual, mais convem a José Sócrates, a Marques Mendes e ao País.

O-A-M #87 30 Set 2005

terça-feira, julho 26, 2005

Cavaco Silva 2

Soares: o Animal Político


Mario Soares

A verdade é que Aníbal Cavaco Silva não tinha opositor à altura. Agora já tem!
Quatro meses de governo Sócrates abalaram profundamente o PS. E a razão é simples: pede-se-lhe que faça tudo aquilo para que não está vocacionado: encolher o Estado, cortar privilégios, despedir, gerir uma economia em crise, disciplinar uma cidadania entregue ao abandono, ao populismo e ao oportunismo, e recuperar um país em completo descontrolo cultural. A demissão do ministro das finanças revelou, para quem olha para estas coisas com olhos de ver, a dimensão real do problema: há uma ruptura fundamental a fazer, no método, organização e objectivos deste país, mas ninguém se dispõe a suportar os respectivos custos. O clima de delação existente e a degradação gritante do estatuto da Política são, na realidade, muito preocupantes. Em suma, o futuro Presidente da República vai ter que ser, necessariamente, um actor político e institucional muito forte. O País já lá não vai sem uma forte dose de presidencialismo. O precedente, como todos sabemos, já existe, aliás com a benção urbi orbi de toda a Esquerda.
Temos, para já, dois modelos de presidencialismo à vista: o económico e o político.
O primeiro, protagonizado por Cavaco Silva, levará muito provavelmente à demissão do actual governo antes de 2008, em nome de um programa económico e social de um radicalismo sem precedentes, que apenas o regresso de gente da fibra de Manuela Ferreira Leite poderá assegurar (vista a óbvia falta de recursos humanos pelas bandas do PS).
O segundo, protagonizado por Mário Soares, poderá igualmente ter que despedir José Sócrates (à contre coeur?), pela simples razão de que Bruxelas, e sobretudo os bancos estrangeiros, exigirão uma viragem inequívoca no rumo laxista e irresponsável da nossa Administração Pública, que o governo PS será incapaz de corrigir em tempo útil.
Seja como for, o centro de gravidade da política portuguesa acaba de mudar de palco. Seguiremos atentamente a sua evolução. O último grande combate político de Soares promete!

O-A-M #86 26 Jul 2005

quinta-feira, julho 21, 2005

Socrates 6

Paul do Alvarinho, Ota

Ministro ao fundo por causa da Ota


O modo como o actual ministro das obras públicas anunciou o carácter definitivo e a urgência da escolha da Ota para novo aeroporto internacional de Lisboa foi um autêntico acto de ligeireza política. Pergunta-se: poderemos um dia responsabilizar este senhor pelo disparate em curso?

Perante a perspectiva provável de vir a perder as próximas eleições autárquicas, o governo Sócrates parece ter enveredado já por uma daquelas fugas em frente que normalmente vêm a custar muito caro aos respectivos autores. Para já, custou-lhe o ministro das Finanças. Acham pouco? Pois eu acho muito. E acho também que o declínio do actual governo pode muito bem começar por deslizes deste tipo. Cavaco Silva, sobretudo depois da manhosa entrevista de Freitas do Amaral, nunca esteve tão próximo de ver realizado o seu sonho presidencial (que para ele só terá sentido se for um trampolim para um regime mais presidencialista, capaz de demitir o actual governo, apesar da respectiva maioria absoluta).

Que lóbi é este, o da Ota, que consegue eliminar um ministro tão crucial para este governo, como era Luís Campos e Cunha? Que fará o dito lóbi a gente como António Vitorino, e outros, que se atrevam a ter dúvidas sobre a bondade da opção governamental pela Ota? Este caso começa a ter contornos muito esquisitos.
Entretanto, como o tema dos novos aeroportos nos interessa, e sobre ele temos vindo expender opiniões e a resumir argumentos de alguns especialistas, recomendamos uma passagem pela compilação de textos sobre o assunto reunidos no sítio de O Grande Estuário.

O-A-M #85 21 Julho 2005

segunda-feira, julho 11, 2005

Skype this!

Reduzir para 1/3 ou menos a factura telefónica...with my new Cyber phone


Ou muito me engano ou os operadores de telecomunicações lusitanos estão num bom aperto. Já ouviram falar no Skype? E no VoipBuster? E no X-Lite? Pois bem, a ideia é simples: se tem um computador ou um Pocket PC (correndo Windows, Linux ou Mac OS X) esqueça as promoções da PT e dos anões concorrenciais que borboletam queixosos à sua volta. O Voice over IP, VoIP, veio para ficar e vai obrigar a PT e restantes operadores de voz e dados, por esse mundo fora, a baixar drasticamente as suas margens de ganância! Eu, para já, mudei-me para o Skype. E preparo-me para o funeral dos vários terminais e assinaturas que a PT me cobra com razoável indecência, mais as suas tarifas exageradas.

Numa rápida visita aos preçários da Skype e da PT retirei alguns números elucidativos.

Portugal Telecom
mensalidade -- € 15,32
rede fixa (cada min.) -- € 0,050
fixo-móvel (cada min.) -- € 0,300
móvel-outras redes (cada min.) -- € 0,457
Sapo MSG -- gratis apenas entre Sapos MSG! E só com o Windows XP...?!?...

Skype
instalação (download) -- € 0,000
mensalidade -- € 0,000
Ciber Phone K (opcional) -- € 54,99
comunicações entre computadores (cada min.) -- € 0,000
comunicações com telefones fixos e móveis (ver comparação entre os valores standard da PT e os valores da Skype)

Skype Out / Portugal Telecom (preços/min. IVA incl.)

Portugal
rede fixa -- € 0,017 / € 0,050
rede móvel -- € 0,282 / € 0,3000

Espanha
rede fixa -- € 0,017 / € 0,1231
rede móvel -- € 0,234 / € 0,3505

Reino Unido
rede fixa -- € 0,017 / € 0,1634
rede móvel -- € 0,205 / € 0,3505

França
rede fixa -- € 0,017 / € 0,2058
rede móvel -- € 0,164 / € 0,3505

Bélgica
rede fixa -- € 0,017
rede móvel -- € 0,211 / € 0,3505
rede móvel (Proximus) -- € 0.143 / € 0,3505

Alemanha
rede fixa -- € 0,017 / € 0,1634
rede móvel -- € 0,251 / € 0,3505

EUA
rede fixa -- € 0,017 / € 0,2379
rede móvel -- €0,017 / €0,2379

Brasil
rede fixa
-- geral -- € 0,044 / € 0,4654
-- Rio de Janeiro -- € 0,027 / € 0,4654
-- S. Paulo -- € 0,021 / € 0,4654
rede móvel -- € 0,173 / € 0,5409

Venezuela
rede fixa
-- geral -- € 0,042
-- Caracas -- € 0,017
ede móvel
-- geral -- €0,165
-- Caracas -- € 0,025

Angola
rede fixa -- € 0,142 / € 0,5067
rede móvel -- € 0,205 / € 0,6102

Ucrânia
rede fixa -- € 0,109 / € 0,3930
rede móvel -- € 0,151 / € 0,4344

Timor
rede fixa -- € 0,170 / € 1,2018

Palavras para quê?!
A minha ID Skype (não abusem!) é: antoniocerveirapinto

O-A-M #84 12 Julho 2005

domingo, julho 10, 2005

Netwars

Humanobombas


O Senhor Doutor Mário Soares e o Senhor Álvaro Vasconcelos (?), como muitos bons europeus antes deles, convenceram-se de que aplaudir a genealogia do terror (palestiniano, por exemplo), sob o pretexto de que há terrorismo bom e terrorismo mau, e de que ele há causas que desculpam o indesculpável (por exemplo, a causa árabe), é uma posição politicamente correcta. Creio mesmo que eles acreditam piamente que estão a perorar argumentos insofismáveis para a grande história das ideias e das causas revolucionárias do século 21. Pois eu, pelo contrário, acho que estão ambos (e os bloquistas, etc., também) redondamente enganados!
A carnificina e o terror perpretados em Londres pelos radicais islâmicos contra civis indefesos que se dirigiam para os seus empregos (à semelhança do formato usado em Madrid) são exemplos de uma cobardia sem nome. Os humanobombas são pessoas corajosas (e tolas...), mas os respectivos mestres inspiradores fazem parte da pior corja de intelectuais que o mundo jamais conheceu: a corja dos fanáticos religiosos. Foi assim no tempo da Inquisição, e é assim neste tempo de ambição e fundamentalismo muçulmanos desmedidos. Mas o pior, é que os profetas da desgraça estão-se nas tintas para Maomé e Alá. O que eles decidiram (como o maluco da Coreia do Norte também gostaria de decidir, se o deixassem e tivesse gente suficiente para tal), é levar a cabo uma guerra ilimitada contra o Ocidente. Sim, uma GUERRA! E sim, uma guerra ilimitada.
O facto de parecer um caso de terrorismo, de guerra civil iminente, ou de revolução, ou, como gostam de lhe chamar os estrategos militares, de conflito assimétrico de baixa intensidade, apenas disfarça a sua verdadeira dimensão bélica. Não se trata de um choque de civilizações, mas apenas da tentativa desesperada de uma minoria intelectual-financeira completamente corrupta, de fazer os maiores estragos possíveis ao sistema de regimes democráticos actualmente existente, com o objectivo de imporem uma nova ordem mundial.
O Senhor Bin Laden e companhia prepararam-se para uma guerra longa. Resolveram, para tal, apostar numa estratégia de guerrilha urbano-mediática de alta intensidade, descentralizada e sem mando unificado. O inimigo deles foi definido (os infiéis do Ocidente corrupto e seus aliados). E a estratégia de guerra não poderia ser mais clara: fazer os maiores estragos possíveis nos principais bastiões do Ocidente e onde quer que haja ameaças aos domínios de Alá e do seu Profeta (i.e. as reservas petrolíferas do Médio Oriente, do Mar Cáspio... e de África). Com o sacrifício da própria vida, se for o caso.
Para que é que um exército assim formado, e com uma missão tão bem definida, precisa de comando?
A base de recrutamento é imensa e global. Quando o pânico derivado da crise energética ganhar terreno, e os Estados ocidentais começarem à bofetada entre si, e com os Estados chinês e indiano, a base de recrutamento radical-islâmico aumentará exponencialmente, as acções guerreiras multiplicar-se-ão como enxames, e os impávidos políticos ocidentais ajoelherão diante da sombra imensa do seu incorrigível oportunismo e atávica estupidez. De momento, apenas o círculo dos Açores parece ter verdadeiramente entendido a ameaça. Será Tony Blair capaz de, nos próximos seis meses, congregar a opinião pública europeia para a necessidade de nos prepararmos para uma guerra defensiva contra os radicais-islâmicos?
O facto de ser ateu, fará de mim menos cristão aos olhos de Bin Laden? Não creio. Serei poupado por ser livre? Claro que não! E vocês que me lêem, esperam alguma deferência especial por parte dos fundamentalistas islâmicos? Então de que estão à espera para levar este assunto a sério?
As democracias terão que encarar este problema de frente. Sem paranóias, mas sem hesitação. Estamos metidos numa guerra. Numa guerra de estilo novo, mas numa guerra! Teremos que combater o inimigo, usando uma grande imaginação. Porque a coisa é demasiado séria para ser entregue aos militares, ou aos políticos, convencionais. Precisamos de uma estratégia de “Multitude”, como diriam Antoni Negri e Michael Hardt.

Outros artigos sobre o terror:
Vontade e Terror
Bárbaros de Beslán

O-A-M #83 13 Julho 2005