segunda-feira, abril 17, 2006

Crise Iraniana 1

Dois hemisférios e uma interface energética

Em 1905, o Governo de Sua Majestade, através dos serviços do notório ‘ás dos espiões’, Sidney Reilly, assegurou direitos exclusivos extraordinariamente significativos sobre o que então se acreditava ser uma vasta e inexplorada zona petrolífera do Médio Oriente. Assim, no princípio daquele ano, os serviços secretos Ingleses enviaram Reilly (nascido em Odessa, Rússia, sob o nome de Sigmund Georgjevich Rosenblum) com a missão de sacar os direitos de exploração dos recursos minerais da Pérsia a um excêntrico geólogo amador e engenheiro Australiano chamado William Knox d'Arcy ” — in A Century of War, de William Engdahl.

Estimado Lorde Rothschild,
Tenho o prazer de lhe comunicar, em nome do Governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia pelas aspirações Judaico Sionistas, a qual foi submetida ao Gabinete e aprovada:
‘Sua Majestade vê com agrado o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo Judeu, e dedicará os seus melhores esforços à consecução deste projecto, ficando claramente entendido que nada será feito que possa prejudicar os direitos civis e religiosos de comunidades não-Judias existentes na Palestina, ou os direitos e estatuto político usufruidos por Judeus em qualquer outro país.’ Ficar-lhe-ia agradecido se levasse esta declaração ao conhecimento da Federação Sionista. Com os melhores cumprimentos, Arthur James Balfour (Londres, 2 de Novembro de 1917).

Na mais importante e bela reserva natural Portuguesa existe uma águia solitária. É uma fêmea com vinte anos e perdeu o seu companheiro há algum tempo. Cada Primavera, porém, cumprindo um dever genético que a transcende, faz os seus magestáticos voos nupciais e prepara o ninho para a prole que há-de vir. Ela não sabe, mas é a última águia real da Serra do Gerês. Quando um dia desaparecer, desaparecerá com ela muito mais do que uma águia. Tal como a civilização Maia, ou a população da Ilha da Páscoa, ou tantos outros casos documentados de civilizações e comunidades extintas, houve um desequilíbrio grave na paisagem magnífica de que as águias reais do Gerês faziam parte e ajudaram a construir. A pouco e pouco, a falta de alimentos (nomeadamente coelhos bravos, por efeito da pneumonia viral hemorrágica e outras doenças), o abandono das práticas agro-pecuárias tradicionais, a perseguição humana, a electrocução nos cabos de alta tensão, as estradas, as barragens, os parques eólicos, a extracção de inertes, a produção florestal, a instalação de regadios, a invasão alegre dos todo-o-terreno, o turismo... conduziram em poucas décadas ao declínio demográfico irreversível de uma espécie rara residente num dos poucos e ameaçados santuários ecológicos de Portugal. Aquela última águia real, mostrada recentemente num documentário televisivo da SIC, fez-me meditar sobre os limites do crescimento, e em especial, sobre os limites do crescimento da mais predadora das espécies existente à face da Terra, o Homem.

Ao contrário do que escrevera um antigo secretário de estado da energia Português (1), o conhecido relatório de Donella Meadows, Jorgen Randers e Dennis Meadows, encomendado pelo Clube de Roma e financiado pela Fundação Volkswagen, Limits to Growth (datado de 1972 e de que não conheço nenhuma tradução Portuguesa), nunca foi tão dramaticamente actual como hoje. A trinta e quatro anos de distância, e na linha de um outro relatório igualmente fundamental, embora desconhecido da maioria de nós (refiro-me ao estudo de M. King Hubbert, Nuclear Energy and The Fossil Fuels (2.6 Mb), apresentado em Março de 1956 ao American Petroleum Institute), Limites ao Crescimento (e a sequela Beyond Limits, dos mesmos autores) revelam o modo e o quanto fomos caminhando ao longo do século 20 para um beco sem saída aparente. Com alguma probabilidade, este beco poderá mesmo levar-nos, se não a um processo de extinção, certamente a uma redução catastrófica da actual população mundial. O ex-governante Português deveria ler atentamente estes dois estudos, e corrigir rapidamente o seu optimismo leviano.

Enquanto procurava perceber porque teria o Presidente Francês ameaçado o Irão com a possibilidade de um primeiro ataque nuclear se Ahmanidjad persistir na sua arruaça atómica, tropecei em dois textos especialmente oportunos e actuais. Um deles, mais jornalístico, foi escrito por Jared Diammond para o The New York Times, em 1 de Janeiro de 2005, e chama-se The Ends of the World as We Know Them. O outro, mais antigo e fundamental, foi escrito em 1968 por Garrett Hardin, sob o título The Tragedy of the Commons.
Nos quatro textos que acabo de referir abordam-se os efeitos objectivos e dramáticos das dinâmicas de crescimento exponencial. Citarei neste artigo apenas os últimos dois, porque tive já a oportunidade de me referir em blogues anteriores à importância dos trabalhos de Donella Meadows/Jorgen Randers/Dennis Meadows e de M. King Hubbert.
Assim, e no caso de Jared Diamond, gostaria de vos trazer o sintomático aviso com que começa a sua crónica para o The New York Times:
“Neste ano que agora começa, com os Estados Unidos aparentemente no cume do seu poderio e no começo de um novo mandato presidencial, os Americanos estão cada vez mais preocupados e divididos sobre o caminho a seguir. Até quando poderá a América prosseguir a sua ascensão? Onde estaremos daqui a dez anos, ou mesmo no ano que vem?” (...) “A História ensina-nos que quando as sociedades poderosas colapsam, tendem a fazê-lo rápida e inesperadamente.”

O problema da liberdade associada ao bem comum (quer dizer, à propriedade colectiva, aos baldios, ao domínio público) abordado no polémico ensaio do professor de biologia da Universidade da Califórnia, merece ser recordado no preciso momento em que pretendemos perceber como pode o comportamento de Ahmadinejad ameaçar tão fortemente a economia, a estabilidade política e a segurança mundiais. Tem o temerário líder iraniano a liberdade de ameaçar o status quo energético gerado pelas ‘democracias’ ocidentais ao longo dos séculos 19 e 20 (mesmo invocando os danos que estas produziram)? Estarão estas últimas (quando o entendimento do problema se tornar claro para a generalidade das suas comunidades) dispostas a sacrificar a sua sobrevivência económica, e sobretudo cultural, aos direitos de um conjunto de países que, por junto, não representam mais de 2% da população mundial? O facto de Garrett Hardin analisar o problema do crescimento populacional como um desses problemas que não têm solução técnica à vista... pode muito bem ser a metáfora que nos faltava para entender a complexidade deste momento político angustiante. O grau de generalidade da sua hipótese teórica não poderia ser mais oportuno ao verificarmos como as nossas deficiências analíticas parecem tornar-se óbvias face aos dilemas da confrontação em curso.
“A classe dos ‘problemas sem solução técnica’ tem membros. A minha tese diz que ‘o problema populacional’, tal como é convencionalmente concebido, é um membro dessa classe. O modo como ele tem sido visto merece um comentário. É justo dizer que a maioria das pessoas que se afligem com o problema populacional procuram encontrar uma maneira de fugir aos demónios da sobrepopulação sem abandonar nenhum dos privilégios de que gozam. Pensam que explorar os mares como se fossem quintas, ou desenvolver novas variedades de trigo resolverá os problemas — tecnicamente. Eu procuro mostrar que a solução que procuram não pode ser encontrada. O problema populacional não pode ser resolvido tecnicamente, tal como não podemos vencer um jogo do galo.”

Porque é que a França ameaçou atacar o Irão, enquanto o escol político-militar estado-unidense parece um pára-brisas atingido por um pedaço de brita?
Há que distinguir nesta pergunta duas situações distintas: uma, é a fragilidade actual dos Estados Unidos da América perante a eventualidade da abertura de uma nova frente de guerra, que não pode descartar abertamente, para a qual dispõe de suficiente capacidade de projecção tecnológica, mas não de suficientes meios humanos disponíveis para uma acção prolongada e sangrenta no teatro de operações anunciado. Por outro lado, os Estados Unidos estão a ficar sem petróleo próprio, dependendo cada vez mais de fontes de abastecimento situadas em regiões crescentemente hostis ao seu império. Embora a lista dos seus principais fornecedores de petróleo — Canadá, México, Arábia Saudita, Venezuela, Nigéria e Iraque — não inclua o Irão, a verdade é que as suas recentes manifestações de proteccionismo anti-árabe (caso DPWorld), a criminalização dos imigrantes ilegais, sobretudo mexicanos (que provocou um dos mais massivos e provavelmente duradouros protestos cívicos desde a guerra do Vietnam), o modo desajeitado como vem provocando a Venezuela de Chavez, o atoleiro do Iraque, a sua incontrolável dívida externa e a provável tentativa de monetarização da mesma ($8.421,992.180.187,49 em 17 abr 2006), a recente perda do controlo das reservas energéticas do Mar Cáspio, e o facto de as suas próprias reservas petrolíferas estarem no fim (mais 8 anos de vida se se mantiver o nível de produção actual: 7,6 milhões de barris por dia), têm vindo a reduzir o espaço de manobra global desta super potência militar e tecnológica. Um ataque ao Irão provocaria, muito provavelmente, o caos, como opina um dos mais emblemáticos conservadores estado-unidenses, Patrick Buchanan:
O que é que faria o Irão? Poderia enviar Guardas Revolucionários para o interior do Iraque para tornar aquele país bem pior do que está para os 135 mil soldados norte-americanos. Incitar o Hezbollah a lançar morteiros contra Israel para ampliar a frente de batalha. Atacar os aliados da América no Golfo. Encorajar os Shiitas do Iraque e da Arábia Saudita a atacar os Americanos. Minar o Estreito de Ormuz. Activar as células Islâmicas adormecidas, trazendo o terror ao nosso país. Numa palavra, um ataque norte-americano ao Irão poderia levar a guerra a toda a região e interromper o envio dos 15 milhões de barris de petróleo/dia que nos chegam do Golfo, o que conduziria a economia mundial a uma paragem cardíaca instantânea.” — Is war with Iran inevitable? — por Patrick J. Buchanan. Abril 11, 2006

A outra questão, diz respeito à França, à Alemanha (que alinhou imediatamente com a declaração de Chirac) e em geral a toda a Europa dos 25. Neste caso, o principal problema reside igualmente na situação energética deste outro gigante económico e populacional. A União Europeia precisa diariamente de 15 milhões de barris de petróleo para manter o seu actual estilo de vida. Todavia, apenas produz (via Noruega e Reino Unido) 3,4 milhões de barris diários. Isto é, precisa de importar quase 12 milhões de barris/dia. Grande parte destas importações, ao contrário do que sucede com as importações petrolíferas dos EUA, tem origem precisamente no Golfo Pérsico (45%) e na Rússia (25%). Ocorre ainda que a Rússia de Putin, depois de ter sabido contrariar e finalmente anular o envolvimento do Mar Cáspio por parte dos EUA, estabeleceu acordos estratégicos de grande importância com a China e com... o Irão, sendo assim cada vez mais nebulosas as suas intenções estratégicas relativamente à União Europeia (o tal sonho que ia do Atlântico até aos Urais). É neste contexto que Paris antecipou uma jogada realmente arriscada. Se a França atacar o Irão com mísseis nucleares (esclarecendo que o objectivo da Europa é apenas o de impedir uma corrida nuclear no Médio Oriente), e Israel levar a cabo uma série de operações de assassinato selectivo dirigidas ao coração do actual poder iraniano, que faria a Rússia? Se a situação continuar a deteriorar-se naquela zona vital para a sobrevivência económica de 4/5 da humanidade, a decisão da França (que é na realidade, e neste caso, porta-voz da decisão implícita de todo o hemisfério ocidental) pode vir a revelar-se como a única saída violenta capaz de limitar os estragos e sobretudo de impedir uma reacção nuclear em cadeia (como seria o caso, se a iniciativa pertencesse aos Estados Unidos, ao Reino Unido ou a Israel).

O consumo mundial de energia depende em 86% das reservas fósseis conhecidas.
A produção de electricidade depende em 64% desses mesmos recursos.
A era petrolífera, por sua vez, dificilmente sobreviverá ao ano 2030, ou segundo os mais optimistas, ao ano 2050.
Neste quadro de referência, a lista dos maiores consumidores mundiais de petróleo, (dados de 2003),

  • EUA (20,3 M bpd)
  • União Europeia a 25 (14,59 M bpd)
  • China (6,4 M bpd)
  • Japão (5,6 M bpd)
  • Rússia (2,8 M bpd)
  • India (2,3 M bpd)
  • Mexico (1,7 M bpd)
  • Brasil (1,6 M bpd)
  • Indonesia (1,08 M bpd)
  • Paquistão (365 m bpd)

corresponde à maioria esmagadora da população mundial. Assim sendo, estes países acabarão sempre por exercer o peso das suas decisões sobre a distribuição dos recursos disponíveis. É no âmbito das suas alianças que a tensão em torno da repartição do petróleo remanescente se delineará nas próximas semanas, nos próximos meses e nos próximos anos.
As maiores reservas estratégicas de petróleo conhecidas não se encontram nestes países (à excepção da Rússia e do México). Encontram-se, na realidade, em países e regiões geralmente pouco povoados (neste caso, à excepção da Rússia, México e Nigéria). São estas as principais reservas de petróleo conhecidas em 2005 (em mil milhões de barris):
  • Arabia Saudita = 262,7
  • Canada (inclui areias betuminosas) = 178,9
  • Irão = 133,3
  • Iraque = 112,5
  • Emiratos Árabes Unidos = 97,8
  • Kwait = 96,5
  • Venezuela = 77,2
  • Rússia = 69
  • Líbia = 39
  • México = 33,3
  • Nigeria = 36
  • Casaquistão = 26
  • Angola = 25

Assim sendo, seria totalmente suicida a ideia de deixar evoluir estes países para o estatuto de potências militares sofisticadas. Seria menos perigoso e mais barato negociar um novo Tratado de Tordesilhas entre os grandes aglomerados populacionais e as grandes economias do planeta, que fosse ao mesmo tempo capaz de regular os seus interesses e equilíbrios, mantendo no seu devido lugar boa parte dos produtores líquidos de petróeo e gás natural. De um lado, o Ocidente, ficaria a União Europeia (de Istambul a Lisboa), a metade ocidental de África, o Atlântico e as Américas. Do outro, o Oriente, ficariam a Rússia, a China, a India, a Indonésia, a Austrália, a metade oriental de África e o Japão. As principais interfaces petrolíferas (e de gás natural) ficariam fora desta divisão, mas obrigadas a servir o bem comum! Talvez assim fosse possível ultrapassar o actual jogo do galo, que como sabemos todos, do ponto de vista da guerra, e da tecnologia, não tem solução.
A presente crise de recursos (pois é fundamentalmente disso que se trata) talvez possa ter uma resolução não catastrófica. Pelo menos, deveríamos procurá-la com toda a nossa imaginação. Ganharíamos, se tivéssemos êxito nesta desesperada tentativa de negociação a quente, algum tempo para enfrentar a questão, bem mais radical, da nossa sobrevivência como espécie. De contrário, e bem mais cedo do que seria verosímil crer, estaremos na situação da última águia real que sobrevoa (sem saber o que a espera) a bela serra do Gerês.



Notas
1. Nuno Ribeiro da Silva, “Petróleo A 70 dólares ou mais?”, in DN,5 Set., 2005.

Post Script [18 abr 2006] — Em vez da guerra, sempre possível ao virar da esquina, sempre terrível (autêntica pornografia negra!), sempre desejada por alguns dos mais insuspeitos amantes da beleza e respectivas artes, seria bem mais inteligente optar por uma nova e urgente agenda de cooperação global. Pois a agenda energética que actualmente ameaça lançar o mundo numa recessão económica de proporções dantescas tem um horizonte histórico muito curto (e sobretudo nenhum ciclo expansivo que lhe suceda). Que sentido faz lançar a humanidade numa carnificina planetária por causa de algo que não tem solução, o fim anunciado das energias carbónicas baratas e a ameaça climática global? Não deveríamos, pelo contrário, começar a desenhar planos de contingência bem mais radicais? Por exemplo, para fazer uma revolução social contra o crescimento? À contínua obsessão dos corruptos e bimbas do poder com a liberdade de enriquecer às custas da pobreza crescente das maiorias, à sonolência demonstrada pelos autoproclamados ‘especialistas em energia’ que enchem os écrãs de ilusões, oponho uma recomendação, que me chegou de um amigo: leiam o último livro de James Lovelock, The Revenge of Gaia. Deixo-vos com esta esta aterradora passagem:
Os centros climáticos de todo o mundo, que são o equivalente dos laboratórios de anatomia patológica dos hospitais, enviaram um relatório sobre o estado físico da Terra. Os especialistas climáticos consideram-na gravemente enferma, à beira de entrar num estado de morbidez febril que poderá durar cem mil anos. Tenho que vos dizer, como membros da família terrestre e uma parte íntima dela, que todos vós e em especial a civilização enfrentam um grave perigo.


OAM #118 16 ABR 2006

quarta-feira, abril 12, 2006

Petroleo 2

Bingo Project

Enche na GALP!


Recebi um mail propondo mais um boicote em cadeia, desta vez por parte dos consumidores de gasolina e de gasóleo, ao cartel que monopoliza, entre nós, a refinação e distribuição destes preciosos líquidos, sem os quais não sabemos como fazer mover os automóveis privados, os autocarros escolares, as ambulâncias, os tractores agrícolas e algumas centrais eléctricas. A ideia seria deixar de nos abastecermos nas estações da GALP, Repsol e BP durante um certo período de tempo, optando em alternativa pelos operadores minoritários que operam no nosso país: Agip, Cepsa, Elf e Esso, entre outras. Segundo a proposta, a tríade seria levada a baixar ou pelo menos a diminuir os aumentos hoje impostos ao mercado.
Tenho dúvidas sobre a eficácia desta proposta, quer no imediato, quer sobretudo no médio e longo prazo. O problema principal e intransponível de trocar a tríade GALP-BP-Repsol pelas bombas minoritárias é o de saber onde é que estas últimas estão! Não consigo imaginar largas centenas de milhar de carros à procura, nos próximos dias, das marcas que ficaram pelo caminho na corrida concentracionária que determinou a formação da tríade petrolífera que coube ao nosso cabaz de compras. A ideia revela a indignação dos proponentes, certamente comungada pela generalidade dos Portugueses. Mas é, lamento dizê-lo, impraticável. A mantermo-nos no registo da guerra global de classes, então seria preferível boicotar simultaneamente duas das grandes irmãs do cartel que manipula as nossas actuais preocupações energéticas e será seguramente responsável por maiores sofrimentos antes mesmo de esta década terminar. Se conseguíssemos por de pé uma cadeia de cidadania activa, como conseguimos (embora com ajudas...) durante a causa por Timor, em torno desta questão, que será cada vez mais sensível para todos, ela poderia assumir, não a forma de um boicote (coisa feia), mas antes a forma (bem mais simpática!) de uma preferência. Por exemplo, pela gasolineira “nacional” — a GALP! E-mails, blogues e SMS convocando a cidadania ao uso exclusivo de produtos GALP durante o próximo mês de Maio provocaria seguramente uma enorme dor de cabeça à tríade, aos bancos e ao próprio Governo. Isto sim, seria uma bofetada de luva branca numa das piores corjas da globalização. Para reforçar a intensidade política da acção, a mesma deveria ainda conter um ingrediente futurista: reduzir em 20% o consumo de combustível previsto para o mesmo mês (basta dividir as despesas de um ano por 12 e depois multiplicar o resultado por 20, voltando a dividir o último resultado por 100), adiando certas decisões para os meses seguintes e cancelando mesmo pequenos projectos dispensáveis... Experimente, é um exercício de racionalidade económica divertido e muito rentável!
Enquanto esta acção decorresse, deveria elaborar-se um verdadeiro livro branco energético, no qual fosse esclarecido de uma vez por todas:
1 - que o petróleo barato acabou para todos, embora mais depressa para uns do que para outros...;
2 - que a disputa em volta do que resta deste recurso energético precioso, de que as duas guerras contra o Iraque foram testemunhas, será terrível;
3 - que a pandilha Bush-Cheney-Rumsfeld, em grande parte alavancada pelos grandes protagonistas anglo-saxónicos do dinheiro e do petróleo, já começou a tagarelar sobre guerras nucleares preventivas (para já contra o Irão), o que implica o dever de civilização de reclassificar política e eticamente a natureza actual dos poderes que operam a partir de Londres e de Washington;
4 - que precisamos urgentemente de energias alternativas; elas existem, mas não podem, em caso algum, vir a ser apropriadas pelos mesmos ladrões que ao longo de todo o século 20 manipularam criminosamente o seu mais decisivo recurso energético; podemos opor à globalização da ladroagem uma interminável rede de criatividade global e de solidariedade efectiva;
5 - que teremos que consumir menos e melhor, sobretudo muito menos lixo sólido, líquido e cultural;
6- que perante a iminente implosão dos subúrbios, é inadiável redesenhar o território e as cidades, abandonando radicalmente a centralidade que, desde o Senhor Ford, foi conferida ao automóvel privado — numa fase transitória, criando em todas as cidades zonas de circulação automóvel interdita, condicionada e comunitária (1);
7 - que perante as catástrofes económicas que se avizinham, é impreterível devolver o poder aos cidadãos, aumentando a transparência do Estado, conferindo maiores poderes e autonomia às autarquias locais, limitando de forma muito clara os poderes invisíveis mas virtualmente incontroláveis das grandes corporações globais, sobretudo energéticas e financeiras.

Este livro pensaria seriamente nestas questões e responderia com factos e modelos estratégicos que todos poderíamos discutir. A imagem que ilustra este comentário faz parte e um projecto em rede para desenvolvimento de motores de combustão alimentados por uma mistura de combustíveis carbónicos e ... água. Nalguns casos, a poupança de combustíveis fósseis chega aos 75%!

O mais provável é que este apelo, em resposta a uma inciativa ingénua, mas justa, também fique pelo caminho. Mas de uma coisa estou certo: vamos ter muitas oportunidades para retomar os grandes problemas que nos afligem e afligem grande parte da humanidade nesta perigosa hora de incerteza. A tese de que é preciso sacrificar um ou mesmo dois terços da humanidade, submetendo-a à privação de energia, à fome, à doença, ao crime e finalmente à eliminação pela guerra, convencional, assimétrica, nuclear, química e biológica, é um cenário dantesco contra o qual a dignidade humana tem que se erguer sem hesitações.


Notas
1 — Uma boa solução para reduzir o número de automóveis, sobretudo nas cidades, seria adoptar em certas zonas urbanas um sistema de transporte individual, ou particular, baseado no uso partilhado de automóveis comunitários não poluentes, de grande duração e altamente recicláveis. Estes veículos seriam adquiridos pela cidade, em número suficiente para cada zona onde fosse aplicado o sistema, e o seu uso seria regulado por cartões de utilizador electronicamente validados, aplicando-se aos seus utentes todos os dispositivos legais que actualmente regulam os detentores de cartas de condução.


OAM #117 12 ABR 2006

quinta-feira, abril 06, 2006

Tamiflu

Uma nova forma de guerra preventiva: a biológica!

Cada dia que passa fico mais atónito com o que alguns dos mais refinados FdP deste planeta são capazes. Escrevi num blog anterior que temo muito ver a guerra biológica como uma das possibilidades mais sinistras da guerra do futuro. Na realidade, a guerra do futuro, que já chegou, e tem sido amplamente teorizada pelas luminárias da RAND CORPORATION (1), nomeadamente em volta do que chamam a guerra preventiva contra o terrorismo —um eufemismo para defender o controlo das principais regiões energéticas do planeta à base de ameaças e intervenções militares cada vez mais cínicas e sinistras—, está sendo e vai continuar a ser uma guerra assimétrica apoiada no uso intensivo dos média, de tácticas de guerrilha hiper-tecnológica, e da chantagem, se não mesmo do uso secreto de armas nucleares miniaturizadas (mini NUKES) e... de armas biológicas. O panorama é aterrador. Mas tem que ser friamente estudado e denunciado sem hesitações. É neste quadro que o artigo que reproduzimos parcialmente (mas que vale a pena ler na íntegra) se insere.

Todos os dados da citação que se segue foram devidamente comprovados. Mas o melhor mesmo é tirar as teimas e pesquisar os dados a partir dos próprios sítios web das entidades mencionadas no artigo de Antonio Campoy, publicado há dias na revista espanhola DSALUD.

Extracto do Editorial do número 81 (abril-2006) da revista "DSALUD" (espanhola)— por José Antonio Campoy

— Sabias que o virus da gripe das aves foi descoberto há 9 anos no Vietnam?
— Sabias que desde essa altura morreram apenas 100 pessoas em TODO O MUNDO com essa doença?
— Sabias que os EUA foi quem alertou para a eficácia do medicamento TAMIFLU (antiviral humano) como agente preventivo?
— Sabias que o TAMIFLU apenas alivia alguns dos sintomas da gripe comum?
— Sabias que a sua eficácia contra a gripe comum está a ser questionada por grande parte da comunidade científica?
— Sabias que perante um SUPOSTO virus mutante como o H5N1, o TAMIFLU apenas aliviaria a doença?
— Sabes quem comercializa o TAMIFLU?
— Os LABORATÓRIOS ROCHE
— Sabes a quem comprou a ROCHE a patente do TAMIFLU em 1996?
— À GILEAD SCIENCES INC.
— Sabes quem era o presidente da GILEAD SCIENCES INC. e ainda hoje um dos seus principais accionistas?
— DONALD RUMSFELD, actual Secretário da Defesa dos EUA.
— Sabias que a base do TAMIFLU é a árvore do Anis?
— Sabes quem ficou com 90% da produção mundial desta árvore?
— A ROCHE.
— Sabias que as vendas do TAMIFLU passaram de 254 milhões de dólares em 2004 para 1000 milhões em 2005?
— Sabes quantos milhões mais pode ganhar a ROCHE nos próximos meses se continuar este negócio de medo???

Os amigos de George W. Bush decidem que um fármaco como o TAMIFLU é a solução para uma pandemia que ainda não se verificou e que causou apenas 100 mortes em todo o mundo nos últimos 9 anos. Este fármaco não cura sequer a gripe comun. O virus não afecta o homem em condições normais. Donald Rumsfeld vendeu a patente do TAMIFLU à ROCHE e estes pagaram-lhe uma fortuna. A Roche adquire 90% da produção da árvore de anis, base do antivírico. Os Governos de todo o Mundo, com medo da especulada pandemia, compram à ROCHE quantidades industriais do produto e nós acabamos pagando o medicamento, e Rumsfeld, Cheney e Bush é que fazem o negócio....



Actualização [10 Abril 2006] Risk of human flu outbreak ‘low’

1 — John Arquilla e David Ronfeldt escreveram dois elucidativos ensaios sobre a natureza do que chamam a próxima guerra: The Advent of Netwar (1996) e Networks and Netwars (2001), ambos publicados pela RAND corporation para o Gabinete do Secretário de Estado da Defesa dos EUA.

OAM #116 06 ABR 2006

terça-feira, abril 04, 2006

H5N1

Indústria, na origem da gripe aviária
Porquê culpar as aves selvagens?

por ASHOK B SHARMA (Finantial Express, Bombaím), 06 mar 2006.


Não é só na India, que as aves de criação industrial são a causa da disseminação mundial da gripe aviária.

Vários estudos mostram que a indústria aviária transnacional está na origem do problema. A expansão da produção industrial de aves para abate e das respectivas redes de comércio criaram as condições ideais para a emergência e transmissão de vírus letais tais como a variante H5N1 do vírus responsável pela gripe aviária.

No interior das explorações aviárias os vírus tornam-se letais e multiplicam-se. O ar carregado de concentrações virais oriundas de explorações infectadas espalha-se a quilómetros de distância, ao mesmo tempo que as redes integradas de distribuição chrome://foxytunes-public/content/signatures/signature-button.pngdisseminam a doença através de múltiplos portadores, tais como as aves vivas e o respectivo estrume.

Em termos relativos, pode dizer-se que não são as aves de capoeira que estão a potenciar a actual vaga de surtos epidémicos que atinge grandes zonas do globo. O epicentro destes surtos são os aviários da China e Sudeste Asiático. Segundo estudos recentes, ainda que as aves selvagens possam transportar os vírus, pelo menos a pequenas distâncias, estes são na realidade espalhados pela falta de higiene das explorações aviárias industriais.

Isto é especialmente verdadeiro no caso do recente surto da gripe aviária na India. O epicentro do surto foram 18 explorações industriais em e à volta de Navapur, em Maharashtra, onde não existe nenhum santuário de aves migratórias por perto.

A Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas referiu em Novembro de 2005, que "Até à data, os testes extensivos realizados em aves migratórias clinicamente sãs, nos países infectados, não produziram quaisquer resultados positivos relativamente ao H5N1." Mesmo nos casos conhecidos de H5N1 em aves selvagens na Europa, os especialistas concordam que tais aves terão sido provavelmente infectadas na região do Mar Negro, onde o H5N1 se encontra fortemente disseminado entre as aves de criação, vindo a morrer enquanto se dirigiam para oeste, fugindo às inusitadas baixas temperaturas.

A causa da disseminação do H5N1, atribuída aos gansos do Lago Qinghai no norte da China, foi negada pela BirdLife International, apontando o facto de aquele lago estar rodeado de explorações pecuárias. Estas explorações integram unidades de piscicultura onde as fezes dos galináceos são comummente utilizadas como alimento e adubo. Além disso, as redes ferroviárias ligam esta região às áreas onde se deram os surtos de gripe aviária, nomeadamente Lanzhou.

As aves selvagens e as aves de capoeira são as vítimas e não os portadores da doença. Ainda segundo a BirdLife International, a distribuição geográfica da doença não coincide com as rotas migratórias e correspondentes épocas de migração.

Um estudo efectuado por uma organização global, Grain, mostra que as aves migratórias e as aves de capoeira não são vectores efectivos da gripe das aves. Na Malásia, por exemplo, a taxa de mortalidade do H5N1 entre as galinhas de aldeia é de apenas 5%, indicando que o vírus tem dificuldades em disseminar-se entre pequenos bandos de galináceos. O surto de H5N1 no Laos, que está rodeados de países infectados, ocorreu apenas nos poucos aviários existentes, que por sua vez foram fornecidos de pintos por incubadoras Tailandesas.

O único caso de gripe aviária ocorrida num galinheiro, que no Laos é responsável por 90% da produção de aves domésticas para consumo, ocorreu perto de uma exploração aviária industrial.

Os surtos letais de gripe das aves tiveram lugar em grandes explorações aviárias na Holanda em 2003, no Japão em 2004 e no Egipto em 2006. O surto que ocorreu na Nigéria no início deste ano ocorreu numa única exploração pecuária afastada dos zonas frequentadas pelas aves migratórias, mas conhecida pela importação de ovos não certificados para incubação .

Em Setembro de 2004, as autoridades do Camboja concluíram que a origem de um surto da gripe das aves fora um fornecimento de pintos da empresa Tailandesa , Charoen Pokphand. Este conglomerado agro-industrial domina a indústria de rações e é o maior fornecedor de pintos à China, Indonésia, Vietnam e Turquia, que também conheceu alguns surtos de gripe aviária. A Ucrânia, onde ocorreu um surto de gripe aviária, importou 12 milhões de aves vivas em 2004 daquela mesma empresa.

A Rússia apontou as rações aviárias como uma das principais suspeitas de estarem na origem de um surto de H5N1 numa grande exploração pecuária na província de Kurgan.

Um boletim do e_Pharmail afirmou que o surto de gripe aviária em Maharashtra pode ter ficado a dever-se à inoculação de uma vacina impropriamente preparada (vírus inactivos) em aves, alegadamente distribuída pela Venkateshwara Hatcheries.

versão original em Inglês


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: [6 Abril 2006] H5N1 NA ESCÓCIA — o cisne mudo selvagem encontrado morto em Cellardike pertence a uma espécie residente e não migratória. Ou seja, é bem mais provável que o animal tenha sido vitimado pelo H5N1 na própria zona —onde existem 175 explorações industriais de aves e produtos relacionados (ovos, pintos para criação, etc.), com 3,1 milhões de aves, dedicando-se 48 das referidas explorações à criação de mais de 260 mil aves ao ar livre—, do que o contrário, i.e. que o pobre cisne mudo tenha entrado em contacto com alguma ave migratória que por ali tenha passado. Se as aves migratórias fossem os principais portadores do H5N1 teríamos que ver muitos milhares de aves selvagens mortas por aí, não é verdade? Porque será que boa parte dos casos até agora detectados ocorreram nas proximidades de explorações pecuárias industriais?

CONSELHO: comece a pensar em evitar o consumo de aves e seus derivados oriundos da indústria aviária nacional e internacional: frangos, galinhas, patos, codornizes, perus, ovos, fiambes de aves. Só metendo toda a cadeia produtiva e de distribuição de quarentena podemos atacar radicalmente o problema. Os prejuízos devem pagá-los os seus primeiros responsáveis, ou seja, uma indústria que não olha a meios para engordar à custa da saúde pública. Ao mesmo tempo, devemos exigir uma investigação efectiva sobre a origem e o negócio em volta do TAMIFLU, bem como sobre a origem e contornos mediáticos do alarme social promovido em volta do H5N1 e da gripe das aves.

Ver, a propósito desta notícia, o relato da BBC online


Para complemento deste artigo ler o Documento Informativo da SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves) e a Declaração da BirdLife International sobre o mesmo tema.



OAM #115 04 ABR 2006

domingo, março 26, 2006

2006 crise mundial 2


Stock Market crash in Saudi Arabia

A acumulação dos factores de risco

“ The plain truth is, if anything happens to upset the current management and allocation system of the the global oil markets, the industrial economies of the world will collapse, and America's will collapse hardest and worst because of the way we have arranged things for ourselves. The global oil markets currently revolve around Middle East oil production. If the region is overcome by instability, than it's simply GAME OVER.” — James Howard Kunstler in Clusterfuck Nation.


1. A suspensão da publicação do agregado estatístico M3 por parte do banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve System (Fed), com efeitos desde 23 de Março último, serve, segundo alguns analistas, para esconder uma possível monetarização da gigantesca dívida dos Estados Unidos (pública e privada.) Qualquer coisa como $42.000.000.000.000, i.e. 42 biliões de dólares, 18 vezes o orçamento federal de 2006, e 3 vezes o PNB dos EU em 2005 (segundo os cálculos da conservadora Heritage Foundation.)

2. Apesar de não ter sido concretizada, a ameaça de cotizar o petróleo iraniano em euros continua a pairar sobre a presente crise mundial, assim como o efeito de contágio que uma tal decisão poderia desencadear noutras bolsas mundiais cada vez mais incomodadas com a persistente instabilidade da moeda americana e a galopante dívida dos EU. Na própria Noruega há já quem defenda a cotização do petróleo do Mar do Norte em euros...
“Não utilizaremos a arma do petróleo por agora porque não queremos enfrentar outros países. Porém, se a situação mudar, ver-nos-emos obrigados a modificar a nossa atitude e a nossa política”

— declarou Javad Vaidi, vice-presidente do Conselho Superior de Segurança Iraniano, à AFP.

3. A chamada crise nuclear iraniana (há muito inscrita na agenda geo-estratégica dos EU) entrou num compasso de espera, dados os múltiplos factores adversos às intenções agressivas da Administração Bush: falta óbvia de uma ameaça credível por parte do Irão (este país não dispõe de nenhuma bomba atómica, nem sequer da tecnologia para a desenvolver, ao contrário de Israel, que detem em seu poder 200 cabeças nucleares prontas a disparar...); a China e a Rússia já disseram que não querem aventuras militares perigosas no Irão; os inquéritos de opinião mostram que os povos Europeus estão absolutamente contra tal perspectiva; parece ainda que sectores importantes do Pentágono têm vindo a minar paulatinamente o desencadeamento, para já, de um novo e imprevisível teatro de guerra.

4. No dia 14 de Março as bolsas do Qatar e Emiratos Árabes Unidos perderam 15% em apenas 24 horas. A bolsa da Arábia Saudita perdeu 1/3 do seu valor ao longo no mês passado e continuava a cair a pique este Sábado, 26 de Março. Dada a invisibilidade mediática desta ocorrência, vale a pena acompanhar os números na Gulf Base e no site da Bahrain Tribune

5. O governo dos EU encontra-se em situação de falha técnica (technical default) desde meados de Fevereiro do corrente ano, por ter ultrapassado o tecto do endividamento público fixado pelo Congresso, sem que o mesmo Congresso, avisado pelo Secretário de Estado do Tesouro, John Snow, mas receoso dos resultados eleitorais de Novembro, tenha decidido subir o referido tecto em 10% da actual dívida pública, i.e. 800 mil milhões de dólares (a dívida publica dos EU dólares, em 22 de Março, era de $8.347.486.113.319,40).

6. O Vice-Presidente do Fed, Roger Ferguson, abandonou em Fevereiro passado as suas funções, 8 anos antes de terminar a sua comissão de serviço e algumas semanas depois de o novo governador indicado por Bush, Ben Bernanke, assumir a presidência.

7. A subida das taxas de juros por parte do Banco Central Europeu e o Banco Central do Japão pôs fim à sua política de facilidades no acesso ao dinheiro.

8. O Fed comprou 1/3 dos Títulos de Tesouro por si lançados no último trimestre de 2005. Os restantes títulos foram comprados por bancos centrais estrangeiros.

9. Dúvidas crescentes sobre a credibilidade dos números anunciados pelo governo americano (em linha com o hábito de mentir instalado na Casa Branca desde a crise iraniana), temem que se venha a reconhecer, depois das eleições de Novembro, que o país entrou efectivamente em recessão em 2005, e que só sairá dela, na melhor das hipóteses, em 2007! Para mais detalhe: John Williams' Shadow Government Statistics

10. O Fed pediu discretamente aos negociantes de Wall Street para desenvolverem um banco de recurso (stand-by bank) que entraria em acção se algum dos dois principais bancos responsáveis pelo clearing das operações do Fed com títulos de tesouro (JP Morgan Chase e Bank of New York) vierem a ter problemas. in Finantial Times - 28/02/2006

11. O euro parece ser a única divisa capaz de resistir a um eventual colapso do EU dólar. Não se prevê qualquer abandono da moeda europeia por parte dos actuais aderentes, não sendo de descartar a hipótese de países como o Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia acabarem por antecipar a sua entrada no clube monetário Europeu.


A conjunção destes factores agravantes da presente crise mundial não deu até agora origem à anunciada catástrofe financeira global. Mas que a rolha da garrafa de champanhe está prestes a saltar, ninguém duvida. Chineses, Britânicos, Japoneses e Árabes, entre outros detentores de trilionárias quantidades de notas verdes, suplicam para que não seja já, pois não estão nada interessados em perder dinheiro precioso para o lançamento de grandes investimentos (como o futuro pipeline que levará petróleo da Sibéria directamente à sequiosa China). A pandilha de Bush, gorada ao que parece a hipótese de uma nova aventura militar imediata no Irão, tenta evitar a todo o custo estatísticas adversas aos resultados eleitorais de Novembro próximo. O Irão, por sua vez, procura estancar os planos dos ultra-liberais americanos, ameaçando com o uso da arma petrolífera, mas sabendo abrandar habilmente esta ameaça quando obtem os resultados pretendidos — neste caso, uma unanimidade mundial contra os planos belicistas de Bush.

Se os mercados não entrarem em pânico com os trambolhões das bolsas do Médio Oriente (silenciados prudentemente pela generalidade dos média de todo o mundo); se se mantiver a pressão da opinião pública europeia contra qualquer tipo de envolvimento ou apoio a uma acção militar contra o Irão; e se a popularidade de Bush e Blair continuarem a pique em consequência das suas aventuras iraquianas e faltas de carácter, talvez possamos esperar por um adiamento do deflagrar da crise mundial. Teremos, nesta hipótese, a emergência de sucessivos epifenómenos, que a activa contra-informação com sede nas principais agências e informações mundiais (controladas, como se sabe, por grandes conglomerados económicos nada interessados em tornar público o que é bom manter como informação privilegiada) procurará ocultar. O Big Brother chegou!

Agradecimento: GlobalEurope Anticipation Bulletin Nr3 — March 16, 2006

Para uma circunstanciada selecção de links, que foi sendo actualizada ao longo da semana passada, ver a primeira parte deste artigo.

OAM #114 27 MAR 2006

terça-feira, março 21, 2006

Strategic Foresight Group 4

As Grandes Questões do Nosso Tempo

- por Sundeep Waslekar

Parte 4: 88 Milhões de Verdades Escondidas sobre as Caricaturas


Num almoço recente com um distinto grupo de líderes intelectuais do Qatar, alguém me colocou a questão óbvia. Que podemos fazer à polémica das caricaturas? Respondi-lhe que me fazia lembrar a história da briga entre marido e mulher sobre o café. Um casal dividido sobre o tipo de café a tomar à tarde inicia uma acalorada disputa verbal, a qual acabará lamentavelmente à chapada. É claro que o aroma do café não poderia provocar semelhante tempestade. O café foi apenas um pretexto. A causa real da tensão entre os dois era mais profunda. As caricaturas são como o café. Para perceber porque geraram tamanha revolta, é necessário olhar para o fundo da questão.

Durante os últimos vinte e cinco anos, os países Nórdicos foram os paladinos das causas a favor dos pobres e dos países em desenvolvimento. Estiveram no topo da liga de doadores. Acolheram imigrantes de braços abertos. Praticaram o contrato social em casa e advogaram-no no exterior. Em especial, o seu apoio às minorias, sobretudo as mais forçadas a deslocações, é bem conhecido, quer sejam os Palestinianos no Médio Oriente, os Curdos no Iraque e Turquia, os Tamiles no Sri Lanka ou os democratas na Burma.

O modelo de bem-estar social dos Nórdicos e de outros países europeus funcionou bem na economia industrial. Mas à medida que a economia do conhecimento foi substituindo largos sectores da economia industrial, milhares de pessoas perderam os empregos e muitas mais continuam a ir para o desemprego em cada dia que passa. Esta mudança económica reflecte-se igualmente numa subtil mas crucial mudança política: os partidos políticos estão cada vez mais ao serviço dos interesses do centro. Os Novos Trabalhistas e os Novos Conservadores Ingleses estão cada vez mais parecidos. Na Alemanha, Socialistas e Democrata-Cristãos uniram-se para criar um governo de coligação. O governo Holandês há muito que é uma coligação e as diferenças entre Socialistas e Conservadores nos países Escandinavos têm vindo a atenuar-se.

Num mundo assim, politicamente desenhado ao centro, quem se mantiver nas margens, Direita ou Esquerda, fica de fora. Perdem economicamente se as suas capacidades industriais se revelarem irrelevantes para a economia do conhecimento. E perdem a sua voz política à medida que os que estão no poder querem representar a crescente classe média, preocupando-se cada vez menos com os operários desempregados.

Ironicamente os perdedores na nova paisagem económica e política englobam tanto as populações locais como as populações imigrantes. De entre estas últimas, os perdedores tendem mais a lutar contra os que são como eles do que contra os que são diferentes. Desde que viajo para a Europa, assisto à hostilidade diária dos motoristas de táxi e empregados de hotel de origem imigrante. Eles não podem pura e simplesmente tolerar que alguém vivendo num país em vias de desenvolvimento possa alugar os seus serviços quando eles, que deixaram os seus lares para melhorar a sua condição de vida na Europa, acabaram a guiar táxis apesar dos seus estudos de engenharia ou medicina. Deparei-me com tais afrontas sempre que pretendia dar uma gorjeta que já não me atrevo a fazê-lo. É muito mais seguro fingir junto de um motorista de táxi imigrante que estou a apanhar o táxi por uma questão de absoluta necessidade e pedir-lhe um favor. O seu ego fica satisfeito e a minha segurança garantida.

Enquanto os imigrantes odeiam pessoas que aparentam ser visitantes bem sucedidos oriundos dos seus próprios países, atraem por sua vez o ódio daqueles a quem a vida não corre tão bem nos países de acolhimento. A sua incapacidade de integrar-se na sociedade de acolhimento é ainda causa de preocupação para aqueles que foram atirados para o desemprego por uma fábrica que se deslocalizou para um país de Leste ou para a China. É o ódio mútuo entre aqueles que falharam na adaptação às transformações económicas da Europa que se vê reflectido nos grafitos aqui e ali, em artigos de jornal e agora nas caricaturas.

Não são só os trabalhadores desempregados que usam a cultura como uma desculpa para odiar alguém. Mesmos os capitalistas que temem pelas suas perspectivas se comportam de forma parecida. No exacto momento em que a polémica das caricaturas ocupava o palco mediático mundial, a oferta pública de aquisição lançada pela Laxmi Naraim Mittal sobre a Arcelor, uma companhia ainda Francesa, suscitou a fúria dos nacionalistas Europeus. De facto, as empresas da Mittal são europeias e têm as suas sedes no Reino Unido e na Holanda. O seu crescimento deve-se sobretudo às políticas de livre concorrência do Reino Unido. Uma oferta de aquisição por parte de uma empresa Britânica sediada na Holanda, lançada sobre uma empresa Francesa sediada no Luxemburgo, deveria ser normal. No entanto, foi contrariada com base no argumento de que a Mittal é de origem indiana. A Cultura é a arma suave do jogo económico e político.

Mais cedo ou mais tarde, os Europeus terão que aprender a lidar com a aquisição das suas empresas pela Mittal e outras parecidas, como as equivalentes Chinesas. Se os países Árabes exportadores de petróleo aprenderem a utilizar os seus excedentes financeiros de uma forma mais inteligente do que o simples financiamento do consumo nos Estados Unidos, entrarão seguramente para o grupo dos bolsos sem fundos. Ao mesmo tempo, os Europeus terão que aprender a viver com o facto de actualmente 88 milhões de jovens habitarem este planeta, sendo que muitos deles se encaminharão legal ou ilegalmente para as suas costas. Por razões geográficas, os primeiros candidatos terão origem nos 10 milhões de jovens que vivem no Médio Oriente e nos 18 milhões que vivem em África. Se os Europeus decidirem continuar entretidos a desenhar caricaturas, os Asiáticos e os Árabes ocupar-se-ão de comprar as suas empresas e de ocupar os seus empregos.

Os Europeus deveriam aliás estar satisfeitos com as perspectivas migratórias dos jovens da África e do Médio Oriente. A mudança demográfica e o envelhecimento da Europa é uma história velha e conhecida. Em 2025 e mais ainda em 2050, a Europa precisará de trabalhadores jovens. Boas políticas de integração inter-cultural servirão a economia Europeia. Se, pelo contrário, a Europa não encontrar forma de coexistir com as culturas diferentes, atrairá sobre si mesma uma catástrofe económica.

Por outro lado, Árabes e Asiáticos devem a si mesmos a decisão de jogar com as regras europeias se quiserem operar no espaço económico Europeu. Uma coisa é preservar a sua cultura. Outra é viver em ilhas (ghettos) e não fazer qualquer esforço para aprender as melhores práticas do país hospedeiro. Se os Países Ocidentais conseguiram ultrapassar nos últimos 500 anos o Médio Oriente, que teve um bom começo 1000 anos atrás, isso deveu-se em parte à eficácia das instituições que souberam construir. Asiáticos e Árabes têm que aprender a usar estas instituições a seu favor, tal como a Mittal vem fazendo. No caso das caricaturas dinamarquesas, um processo judicial justificado na Secções 266B e 140 do Código Penal Dinamarquês poderia possivelmente ter mandado o cartunista para a cadeia durante 24 meses, com base apenas na actual lei Dinamarquesa, e proibir que outros o seguissem. É igualmente necessário saber distinguir um cidadão do Estado. No caso da Dinamarca, o ódio contra o Estado era compreensível na medida em que o Primeiro Ministro da Dinamarca recusou encontrar-se com os embaixadores Árabes em Copenhague. Apesar de reflectir o sentimento nacional dinamarquês, esta decisão não justifica a violência física contra os interesses e missões diplomáticas dinamarquesas. No caso da Noruega, o acto solitário de um jornal não pode ser usado como desculpa para atacar as missões diplomáticas Norueguesas quando sabemos que o Estado e a sociedade da Noruega se conduzem de modo muito diverso. Ao contrário do governo de direita da Dinamarca, que apoia a guerra no Iraque e o consumismo doméstico, a coligação Trabalhista e Socialista Norueguesa está empenhada em processos de paz por esse mundo fora, bem como no uso doméstico disciplinado das receitas petrolíferas. É necessário que Asiáticos e Árabes saibam desenvolver análises mais sofisticadas quando desencadeiam respostas a provocações resultantes de problemas mais profundos, causados tanto pelos comportamentos das suas populações, que se sentem abandonadas pelo progresso, quanto pelos comportamentos das populações locais, igualmente atingidas por um sentimento de marginalização, provocado pelo novo mundo consumista.

Felizmente existem dirigentes esclarecidos tanto no Ocidente como nos países Islâmicos, que têm uma visão construtiva do futuro e do mundo. Houve diálogos que cheguem para meras trocas de pontos de vista. Agora é mais do que urgente examinar os factos em profundidade e fazer esforços para aplainar um terreno comum. Há vontade política, mas não foi escutada. O Strategic Foresight Group encontra-se numa posição única para fazer a diferença, graças a uma visão desapaixonada que foi bem recebida por parte de altos dirigentes da Arábia, do Sudeste Asiático e da Europa. Siga este espaço nos próximos meses.



Sundeep Waslekar é o Presidente do Strategic Foresight Group, sediado em Mombaim. É um especialista em governação, conflitos, segurança global e regional, economia política — e filosofia política.
IMG - Jesus Christ The Musical, de Javier Prato (video still)

OAM #113 21 MAR 2006

segunda-feira, março 20, 2006

Strategic Foresight Group 3

As Grandes Questões do Nosso Tempo
- Por Sundeep Waslekar

Parte 3: O Futuro do Poder

Estive recentemente em Waterloo, uma pequena cidade universitária a uma hora de Toronto, Canadá, onde o meu amigo John English criou recentemente o Center for International Governance (CIGI), com o apoio de Jim Balsillie, fundador do sistema de comunicação Blackberry. O pretexto foi a conferência CIGI sobre poderes emergentes.

Os profes presentes na conferência assinalaram a chegada da India, Brasil, África do Sul e México à categoria de novos poderes emergentes, baseando-se nos respectivos PIB e despesas militares, deixando escapar a realidade que os rodeava. (Os profes mencionaram também a China, mas eu creio que a China deixou de ser uma força emergente. Ela já é, de facto, uma grande potência.) O Canadá, onde decorreu a conferência, está a emergir como um dos grandes centros de inovação do futuro. Arnold Toynbee e Paul Kennedy demonstraram nos seus aturados livros de história que os países que inovam ascendem, ao passo que aqueles que se excedem nas despesas militares, declinam. A queda do Império Romano 977 anos antes do império Bizantino, apesar da maior distância face a agressores externos, ficou a dever-se, precisamente, a um atraso na inovação tecnológica e à qualidade da governação.

Os canadianos parecem entender isto bem, sem reclamarem para si qualquer estatuto de futura grande potência. Waterloo, por exemplo, fornece anualmente o maior de número de recrutas à Microsoft. Os fundadores da Blackberry, por sua vez, montaram o CIGI, um Instituto de pesquisa dedicada à física teórica, esperando que o Canadá venha a conseguir no futuro grandes conquistas nesta área do conhecimento. O Governador de Ontário toma pessoalmente conta do departamento de investigação e inovação, dando um sinal inequívoco sobre a importância deste dossiê na política provincial. A região de Waterloo no seu todo vem sendo promovida como um centro de investigação e desenvolvimento, e o governo provincial vai onde for preciso para atrair investimentos de companhias de alta tecnologia.

Os canadianos lançaram-se numa revolução tranquila pelas energias limpas. Encontrei o meu amigo Nicholas Parker ao fim de vários anos e fiquei a saber que ele criara o fórum Cleantech Venture para atrair investidores de capital de risco e pequenos empreendedores para o campo das energias não poluentes. Assim, as empresas de energia da big Alberta estão hoje centradas na investigação e desenvolvimento das energias renováveis e limpas do futuro. Pouco depois da minha visita a Waterloo, o governo federal anunciou uma nova política de imigração destinada a atrair talentos de outras partes do mundo.

Além do Canadá, a ênfase na inovação vem dos países Escandinavos. Voei de Toronto para Estocolmo para jantar com o Dr. Michael Nobel, o presidente da Nobel Family Society. Esta família promove os prémios Nobel em memória de Alfred Nobel, tio bisavô do Dr. Michael Nobel. O Dr. Michael Nobel prepara-se agora para criar um prémio em memória de Ludwig Nobel, o seu bisavô e irmão de Alfred. Este novo prémio servirá para distinguir a inovação nos domínios da energia.
É claro que os prémios Nobel são apenas um símbolo do espírito inovador na Escandinávia, onde várias grandes e pequenas empresas confluem na investigação tecnológica e na inovação governativa. A Nokia e a Eriksson são famosas no sector das comunicações. Mas existem muitas outras experiências tecnológicas a decorrerem nos domínios da agricultura e da energia, ou da medicina e da metalurgia.

Curiosamente, o Canadá, a Suécia, a Noruega e a Finlândia, com menos de 1% da população mundial, desempenham um importante papel nas instituições de governação global. Os seus naturais detêm posições chave no Banco Mundial e em várias agências das Nações Unidas. O seus representantes dirigem muitas comissões multilaterais e comandam a agenda global de modo mais efectivo do que a maioria dos restantes países, excepto, claro está, os poderes P-5 do Conselho de Segurança. À medida que aqueles países ganharem a corrida tecnológica, a sua relevância no comércio transnacional e na economia global não deixará de crescer.

A China já percebeu a importância deste tipo de desenvolvimento. Há alguns meses atrás, o governo de Pequim seleccionou cinco universidades para serem elevadas ao patamar das melhores universidades do mundo — incluindo Harvard, Stanford e MIT —, com especial destaque para os campos científico e tecnológico. Os chineses sabem que os produtos baratos podem ajudar a atrair o investimento e a aumentar as receitas no curto prazo mas que não são a solução no longo prazo. É claro que os chineses têm um grande problema com a sua população agrícola. Se fracassarem na gestão do mesmo, as aspirações de momento poderão desaparecer num milhar de revoluções.

Para aqueles que querem escalar o pico da ciência e tecnologia, muito precisa ainda de ser explorado e inventado. Sir Martin Rees, um cientista britânico de topo, publicou um pequeno livro, Our Final Century, onde enumera aquilo que falta ainda à ciência conseguir. De acordo com este cientista, é ainda demasiado cedo para concluir que existem apenas três dimensões ou que a Terra é o único planeta com biosfera. Conhecemos a história do tempo a partir do segundo momento após o Big Bang, mas falta-nos descobrir o que aconteceu no primeiro momento e imediatamente antes dele. Sabemos como foi criada a vida, de uma célula para entidades multi-celulares e destas até à explosão Cambriana, mas desconhecemos como foi que a primeira célula apareceu. Mais incisivamente, Sir Martin alerta para o facto de ser ainda demasiado cedo para concluir que a nossa evolução biológica já chegou ao fim. Com o advento da biotecnologia e da nano-tecnologia a espécie humana poderá evoluir para uma espécie de semimáquinas capazes de proliferarem e autoreproduzirem-se no espaço (outer space), e talvez mesmo para lá do sistema solar.
Algumas destas ideias podem não passar de ciência-ficção, mas às vezes aquilo que parece impossível imaginar pode tornar-se realidade mais cedo do que esperávamos. Em 1937, um notável grupo de cientistas americanos foi incapaz de prever, o nascimento da energia nuclear, dos computadores e da Internet.

Com um historial destes na previsão do futuro, algumas das fantasias de Sir Martin poderão deixar de o ser mais cedo do que pensamos. Os países e companhias que rompem no campo das energias novas, baratas e limpas, ou na viabilização da vida no espaço (outer space), ou na medicina holística (all purpose mediciene) estão vocacionados para serem mais influentes do que os países que procuram ganhar um pedaço de território aqui e ali, ou se entretêm a derrubar um ou dois pequenos ditadores. Se andasse à procura dos protagonistas dos futuros jogos de poder, preocupar-me-ia menos com sistemas de armas dispendiosos, que se tornarão provavelmente obsoletos antes de serem usados, e manteria os meus olhos e ouvidos bem abertos, tentando descortinar o que andam a fazer os institutos de física teórica na invisível cidade de Waterloo.



Sundeep Waslekar é o Presidente do Strategic Foresight Group, sediado em Mombaim. É um especialista em governação, conflitos, segurança global e regional, economia política — e filosofia política.

OAM #112 20 MAR 2006