Endurance
escultura ameaçada pela sua própria definição
Uruborus, a serpente que come a sua própria cauda é uma metáfora dos ciclos vitais da Natureza. Uma espécie de objectividade inelutável perante a qual a Cultura humana acaba por parecer uma ilusão risível, ou a tragédia caricata de Sísifo subindo a montanha com uma pedra às costas, que invariavelmente deixa cair e rolar até ao fundo da montanha, para logo voltar a recomeçar. Assim também Endurance parece desafiar este tipo de impossibilidade obrigatória: a escultura e a sua peanha/montanha tombam sob o peso da própria gravidade (gravidade cultural do momento implosivo que atravessa a chamada Arte Contemporânea?), no que não deixa de ser uma inteligente e belíssima citação dos mundos telúricos de Eisenstein e Tatlin. O Propano que alimenta o bico de gás vem do depósito sobre o qual incide a chama incandescente, ameaçando curto-circuitar o futuro imediato (e "histórico") da própria escultura. Não é tanto da impossibilidade representar, mas mais da impossibilidade de crer, que esta escultura nos fala (e fala bem).
Noutra obra, apresentada nesta exposição - Passo -, deparamo-nos com um vídeo em movimento perpétuo (loop), retomando noutro suporte a mesma ideia de retroacção (feed-back), de demonstração da ilusória epistemologia da realidade em movimento e de transformação de uma narrativa vital na fatalidade de Sísifo. Os desenhos e os re-desenhos transformam-se digitalmente em animação. Mas a animação perpétua das imagens, suprindo a falta da terceira dimensão, ou melhor, transformando o movimento numa fase nova e inesperada da terceira dimensão, acaba por fazer daquele vídeo uma escultura. Uma escultura igualmente instável, porque sobra por todo o lado uma verdadeira crise de fé.
Quinta, 24 de Julho, 22h: "Endurance" (escultura) + "Passo" (animação).
A escultura "Endurance" continuará exposta em Setembro.
Galeria Quadrum
OAM n.2
Quinta-feira, Julho 24, 2003
¶ 7:41 PM
quinta-feira, julho 24, 2003
Jorge Batista
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Jorge Baptista
este blogue e a sua página no Facebook compõem uma espécie de diário da vida política portuguesa e, por vezes, internacional.
Cova da Moura
Cova da Moura Foto © autor desconhecido |
Passeio filosófico
Em Dezembro de 2001, na Cova da Moura, Angelo, um jovem de 17 anos, foi baleado mortalmente nas costas pela PSP. A actuação de 90 polícias para acalmar os ânimos dum grupo de pessoas indignadas com o sucedido foi acompanhada por todas as estações de TV, projectando a imagem do bairro duma forma duvidosa junto da opinião pública portuguesa.
Em Fevereiro de 2002, na Damaia, um traficante de droga baleou e matou Felisberto, polícia caboverdiano nascido e criado na Cova da Moura. Estes incidentes, associados ao crescente tráfico de droga na zona (especialmente depois da destruição das barracas do Casal Ventoso) e à animosidade latente nalguns grupos organizados de jovens, faz deste aglomerado sub-urbano uma zona a evitar.
E no entanto, a Cova da Moura é um extraordinário exemplo daquilo a que poderíamos chamar "cidadania lateral". Em menos de 30 anos, cerca de 7000 pessoas construiram uma cidade ilegal (clandestina seria se as autoridades oficiais desconhecessem a sua existência, o que nunca foi o caso!), pobre, desprezada pela Autarquia (que agora é Socialista...), mas onde podemos ver a matriz orgânica de uma cidade, fruto da cooperação e não, como também podemos reparar em toda a sua vizinhança, da mais corrupta e abjecta especulação imobiliária. É precisamente esta realidade que pretendemos agora cartografar, desenhando um outro mapa mental daquela zona da Grande Lisboa.
Seguindo de perto as estratégias Psicogeográficas (oriundas das acções Situacionistas de meados do século passado), resolvemos redesenhar a imagem do Bairro do Alto da Cova da Moura a partir da linha irregular pontuada pelos 35 cabeleireiros nele existentes. Cremos que para os arquitectos, artistas, antropólogos, sociólogos, psicólogos e, em geral, gente de bem, esta é uma proposta irresistível!
Cova da Moura, Passeio Filosófico - 2003, 30 de Julho
Ponto de Partida: Galeria Quadrum - 18h
Promotor: Sociedade Portuguesa de Psicogeografia
Apoio: Associação Cultural Moinho da Juventude
Guia: Joaozinho
Quadrum Galeria de Arte
Philosophical Walk
Cova da Moura is an incredible example of what we might call lateral citizenship. In less than 30 years, 7000 men and women, mostly from the african islands of Cabo-Verde (but also from the North of Portugal, Angola, Mozambique and Eastern Europe), built an illegal town in one of the suburban areas around Lisbon.
A large part of the property is private, and a small part is either common ground or it belongs to a solidarity institution. Speculators and the municipality of Amadora city (actually a 'Socialist' one!) want to destroy this marvellous "urban tapestry".
Some violent events took place in 2001 and 2002: by December 2001, a 17 years old boy was shot dead in his back by the Police; in February 2002 Felisberto, a young black policeman born and grown up in Cova da Moura was shot and killed by some drug diller. These tragic incidents put Cova da Moura on the media map. Drug dealing, gangs and gang wars, as well as poverty are responsible for most of the fear that Cova da Moura inspires to an average Lisbon fellow.
Our walk will trace another map of this site! We will follow the trace that link the 35 hairdressers that operate in Cova da Moura and are responsable for some of the most creative hair sculptures we can see everywhere in the metropolitan area of Lisbon.
Cova da Moura, Philosophical Walk - 2003, July 30
Check Point: Quadrum Galeria de Arte - 18h
Idea: Sociedade Portuguesa de Psicogeografia
Support: Associação Cultural Moinho da Juventude
Guide: Joaozinho
Quadrum Galeria de Arte
OAM n.1
Quinta-feira, Julho 24, 2003
¶ 7:43 PM
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 2 nov 2013, 00:10
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Cova da Moura,
Joaozinho
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