segunda-feira, agosto 11, 2003

Soberania ilimitada

A obsessão panóptica do poder imperial.


web cam PhilipsO-A-M
blog #5
Segunda-feira, Agosto 11, 2003

O 11 de Setembro, cujas origens e ocorrência detalhadas estão longe de ser conhecidas, permitiu sobretudo à actual Administração Republicana dos EUA desencadear dois projectos aparentemente inimagináveis: o da soberania imperial ilimitada, que pretende fazer tábua rasa das leis internacionais e nacionais (de qualquer país!) sempre que tal lhe convier; e o do controlo orwelliano da humanidade, a pretexto da evolução das doutrinas estratégicas da defesa e da guerra, e ainda da luta contra o terrorismo. Esta realidade, que porventura não sofrerá recuos significativos depois do Sr. Bush desaparecer do mapa, coloca questões cruciais sobre o futuro imediato da humanidade. Pensemos apenas na associação deste processo de expansão em rede do poder militar e policial norte-americano à escala planetária à anunciada hegemonia química e bio-tecnológica do mesmo país sobre a produção alimentar mundial (através de gigantes tão bestiais quanto a Monsanto). Embora não possamos comparar esta espécie de fascismo panóptico com o Fascismo italiano e o Nazismo alemão, talvez estejamos de facto no início (doce) de um autêntico pesadelo. Numa economia hiper-tecnológica, o emprego será um bem cada vez mais especializado... e escasso. Não parece assim difícil imaginarmos que boa parte dos empregados venham a transformar-se em mero agentes humanos de um Estado Mundial.

A propósito deste tema recomendo duas leituras muito esclarecedoras:

1. Surveillance total, de Ignacio Ramonet

"En el pasado, ningún gobierno había tenido el poder de mantener a sus ciudadanos bajo una vigilancia constante. Ahora la Policía del Pensamiento vigilaba constantemente a todo el mundo". -- GEORGE ORWELL, 1984

Quienes este verano piensen pasar sus vacaciones en Estados Unidos han de saber que en virtud de un acuerdo entre la Comisión Europea y las autoridades federales, la compañía aérea con la que viajen entregará, sin su consentimiento, a las aduanas de Estados Unidos algunas informaciones personales. Incluso antes de que penetren en el avión, las autoridades de Estados Unidos conocerán su nombre, apellido, edad, dirección, números de pasaporte y tarjeta de crédito, estado de salud, preferencias alimentarias (que pueden indicar su religión), viajes anteriores, nombre y edad de quienes les acompañaron, organizaciones que financiaron sus desplazamientos, etc."

Surveillance totale
Vigilancia total
par/por Ignacio Ramonet

2. The Pentagon's Plan for Tracking Everything That Moves, Big Brother Gets a Brain, de Noah Shachtman

"Everything is set for a new Pentagon program to become perhaps the federal government's widest reaching, most invasive mechanism yet for keeping us all under watch. Not in the far-off, dystopian future. But here, and soon.
The military is scheduled to issue contracts for Combat Zones That See, or CTS, as early as September. The first demonstration should take place before next summer, according to a spokesperson. Approach a checkpoint at Fort Belvoir, Virginia, during the test and CTS will spot you. Turn the wheel on this sprawling, 8,656-acre army encampment, and CTS will record your action. Your face and license plate will likely be matched to those on terrorist watch lists. Make a move considered suspicious, and CTS will instantly report you to the authorities.

Fort Belvoir is only the beginning for CTS. Its architects at the Pentagon say it will help protect our troops in cities like Baghdad, where for the past few weeks fleeting attackers have been picking off American fighters in ones and twos. But defense experts believe the surveillance effort has a second, more sinister, purpose: to keep entire cities under an omnipresent, unblinking eye.
This isn't some science fiction nightmare. Far from it. CTS depends on parts you could get, in a pinch, at Kmart."

The Pentagon's Plan for Tracking Everything That Moves
Big Brother Gets a Brain
by Noah Shachtman

¶ 1:41 PM

Fogos 2003

A economia (e a política) do fogo

Para além dos pirómanos de serviço, que são uma excelente diversão para quem manobra a economia dos incêndios, a verdade que parece indelevelmente colada ao inferno de chamas que tem consumido milhares de hectares de floresta e mais de uma dezena de vidas humanas é, uma vez mais, a criminalidade organizada. Directa ou indirectamente, esta criminalidade serve a concentração do capital florestal nas multinacionais da celulose e da pasta de papel, serve os especuladores imobiliários, e até parece servir as debilitadas finanças públicas do País (pois, como referiu uma ilustre comissária europeia, se os prejuízos atingirem 0,6% do PIB, dispara automaticamente um mecanismo de ajuda europeia no valor de muitos milhões de Euros, disponíveis já em Outubro...). Não sei se a avaliação dos estragos já estava feita quando a Senhora burocrata grega disse levianamente o que disse, mas presumo que alguém se encarregará desta aritmética maquiavélica!

Tal como noutros domínios, onde reina a lei da maquinação e o crime, este é um caso que merece uma investigação pública sem precedentes. A cidadania pode e deve criar um Observatório do Fogo, capaz de mapear a complexidade do fenómeno e de detectar as possíveis redes criminosas a ele associadas.

PS - Esta teoria, algo conspirativa, sobre a catástrofe deste Verão, não pretende ocultar duas outras realidades igualmente causadoras dos milhares de incêndios que anualmente afligem as povoações atingidas: a falta de ordenamento do território florestal (onde deve caber a legislação, a dotação de meios técnicos e humanos, a vigilância e a informação pública) e o aquecimento global, responsável por um número crescente de grandes incêndios, dificilmente controláveis, em todo o mundo. Num País densamente florestado como Portugal, mas que por outro lado se encontra pressionado pela desertificação que avança do Norte de África sobre a Península Ibérica e o Sul da Europa em geral, teremos que perspectivar urgentemente todo este problema de uma forma estratégica: com relatórios científicos apropriados, e com um Programa Estratégico Contra a Desertificação, politicamente assumido, não apenas pelos partidos políticos, mas por toda a sociedade civil. -- ACP [actualizado em 17.08.2003]

O-A-M
blog #4
Segunda-feira, Agosto 11, 2003

¶ 1:44 AM

domingo, agosto 10, 2003

Pedofilia

Estratégias perigosas

Até agora a principal defesa de Carlos Cruz, Jorge Ritto e Paulo Pedroso resume-se a um único argumento: não podemos defender os nossos clientes se não soubermos de que são efectivamente acusados! Em volta deste argumento absurdo - pois todo o País sabe quais as suspeitas que recaem sobre os ditos arguidos - levantou-se uma impenetrável cortina de fumo em volta das limitações do nosso sistema judicial (com particular ênfase no famigerado Código do Processo Penal), cujo principal objectivo parece ser a descredibilização simultânea da investigação policial e da instrução do processo acusatório. Entretanto, o episódio das escutas telefónicas acabou por envolver um conjunto inesperado de novos actores nesta perigosa táctica: o actual Secretário-Geral do Partido Socialista, o deputado e ex-Ministro da Justiça António Costa e o próprio Presidente da República! Depois de dar a conhecer a transcrição das escutas que estariam na base da manutenção da medida de prisão preventiva imposta ao seu irmão, João Pedroso, membro suspenso do Conselho Superior da Magistratura, quebrou o seu apreciado silêncio para desferir um ataque fortíssimo contra o Juiz de Instrução responsável pelo Processo da Casa Pia, acusando-o de actos "ilegítimos e ilegais". A situação é grave. E é grave sobretudo por causa da assustadora sensação de existirem forças poderosas e conjugadas apostadas em descredibilizar de qualquer maneira o trabalho da Justiça neste caso. Nem o Juiz Rui Teixeira, nem o Procurador-Geral da República, nem a respectiva Corporação se mostraram, todavia, dispostos a ceder às pressões intoleráveis que sobre eles têm sido feitas. O roubo de documentos da Casa Pia, ocorrido recentemente, pode vir a ser o primeiro episódio da segunda fase da defesa: descredibilizar as principais testemunhas deste Processo. Num caso como este, porém, todas estas tácticas acabarão por se voltar contra os seus promotores (directos e indirectos, a curto e a longo prazo).

Leitura recomendável a propósito das diferenças entre sexo intergeracional, pedofilia e abuso sexual de menores: Harmful to Minors: The Perils of Protecting Children From Sex, by Judith Levine (e a recensão de Paul Demko no City Pages, Burn this Book. - - ACP

OAM n. 3
Domingo, Agosto 10, 2003

¶ 1:40 AM

quinta-feira, julho 24, 2003

Jorge Batista

Endurance
escultura ameaçada pela sua própria definição


Uruborus, a serpente que come a sua própria cauda é uma metáfora dos ciclos vitais da Natureza. Uma espécie de objectividade inelutável perante a qual a Cultura humana acaba por parecer uma ilusão risível, ou a tragédia caricata de Sísifo subindo a montanha com uma pedra às costas, que invariavelmente deixa cair e rolar até ao fundo da montanha, para logo voltar a recomeçar. Assim também Endurance parece desafiar este tipo de impossibilidade obrigatória: a escultura e a sua peanha/montanha tombam sob o peso da própria gravidade (gravidade cultural do momento implosivo que atravessa a chamada Arte Contemporânea?), no que não deixa de ser uma inteligente e belíssima citação dos mundos telúricos de Eisenstein e Tatlin. O Propano que alimenta o bico de gás vem do depósito sobre o qual incide a chama incandescente, ameaçando curto-circuitar o futuro imediato (e "histórico") da própria escultura. Não é tanto da impossibilidade representar, mas mais da impossibilidade de crer, que esta escultura nos fala (e fala bem).

Noutra obra, apresentada nesta exposição - Passo -, deparamo-nos com um vídeo em movimento perpétuo (loop), retomando noutro suporte a mesma ideia de retroacção (feed-back), de demonstração da ilusória epistemologia da realidade em movimento e de transformação de uma narrativa vital na fatalidade de Sísifo. Os desenhos e os re-desenhos transformam-se digitalmente em animação. Mas a animação perpétua das imagens, suprindo a falta da terceira dimensão, ou melhor, transformando o movimento numa fase nova e inesperada da terceira dimensão, acaba por fazer daquele vídeo uma escultura. Uma escultura igualmente instável, porque sobra por todo o lado uma verdadeira crise de fé.

Quinta, 24 de Julho, 22h: "Endurance" (escultura) + "Passo" (animação).
A escultura "Endurance" continuará exposta em Setembro.
Galeria Quadrum

OAM n.2
Quinta-feira, Julho 24, 2003

¶ 7:41 PM

Cova da Moura

Cova da Moura
Foto © autor desconhecido

Passeio filosófico

Em Dezembro de 2001, na Cova da Moura, Angelo, um jovem de 17 anos, foi baleado mortalmente nas costas pela PSP. A actuação de 90 polícias para acalmar os ânimos dum grupo de pessoas indignadas com o sucedido foi acompanhada por todas as estações de TV, projectando a imagem do bairro duma forma duvidosa junto da opinião pública portuguesa.

Em Fevereiro de 2002, na Damaia, um traficante de droga baleou e matou Felisberto, polícia caboverdiano nascido e criado na Cova da Moura. Estes incidentes, associados ao crescente tráfico de droga na zona (especialmente depois da destruição das barracas do Casal Ventoso) e à animosidade latente nalguns grupos organizados de jovens, faz deste aglomerado sub-urbano uma zona a evitar.

E no entanto, a Cova da Moura é um extraordinário exemplo daquilo a que poderíamos chamar "cidadania lateral". Em menos de 30 anos, cerca de 7000 pessoas construiram uma cidade ilegal (clandestina seria se as autoridades oficiais desconhecessem a sua existência, o que nunca foi o caso!), pobre, desprezada pela Autarquia (que agora é Socialista...), mas onde podemos ver a matriz orgânica de uma cidade, fruto da cooperação e não, como também podemos reparar em toda a sua vizinhança, da mais corrupta e abjecta especulação imobiliária. É precisamente esta realidade que pretendemos agora cartografar, desenhando um outro mapa mental daquela zona da Grande Lisboa.

Seguindo de perto as estratégias Psicogeográficas (oriundas das acções Situacionistas de meados do século passado), resolvemos redesenhar a imagem do Bairro do Alto da Cova da Moura a partir da linha irregular pontuada pelos 35 cabeleireiros nele existentes. Cremos que para os arquitectos, artistas, antropólogos, sociólogos, psicólogos e, em geral, gente de bem, esta é uma proposta irresistível!

Cova da Moura, Passeio Filosófico - 2003, 30 de Julho
Ponto de Partida: Galeria Quadrum - 18h
Promotor: Sociedade Portuguesa de Psicogeografia
Apoio: Associação Cultural Moinho da Juventude
Guia: Joaozinho
Quadrum Galeria de Arte



Philosophical Walk  

Cova da Moura is an incredible example of what we might call lateral citizenship. In less than 30 years, 7000 men and women, mostly from the african islands of Cabo-Verde (but also from the North of Portugal, Angola, Mozambique and Eastern Europe), built an illegal town in one of the suburban areas around Lisbon.

A large part of the property is private, and a small part is either common ground or it belongs to a solidarity institution. Speculators and the municipality of Amadora city (actually a 'Socialist' one!) want to destroy this marvellous "urban tapestry".

Some violent events took place in 2001 and 2002: by December 2001, a 17 years old boy was shot dead in his back by the Police; in February 2002 Felisberto, a young black policeman born and grown up in Cova da Moura was shot and killed by some drug diller. These tragic incidents put Cova da Moura on the media map. Drug dealing, gangs and gang wars, as well as poverty are responsible for most of the fear that Cova da Moura inspires to an average Lisbon fellow.

Our walk will trace another map of this site! We will follow the trace that link the 35 hairdressers that operate in Cova da Moura and are responsable for some of the most creative hair sculptures we can see everywhere in the metropolitan area of Lisbon.


Cova da Moura, Philosophical Walk - 2003, July 30
Check Point: Quadrum Galeria de Arte - 18h
Idea: Sociedade Portuguesa de Psicogeografia
Support: Associação Cultural Moinho da Juventude
Guide: Joaozinho
Quadrum Galeria de Arte

OAM n.1
Quinta-feira, Julho 24, 2003
¶ 7:43 PM

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 2 nov 2013, 00:10