Microsoft Word atraiçoa Tony Blair
Depois do último relatório de Hans Blitz, que era inconclusivo sobre a existência de Armas de Destruição Maciça (ADM) no Iraque, e depois de Saddam Hussein ter ordenado a destruição supervisionada dos misseis cujo raio de acção ultrapassava os limites impostos pelas sanções da ONU, os falcões de Washington estavam sem um único motivo plausível para uma acção de guerra ao abrigo da Lei Internacional. Não havia agressão Iraquiana, nem havia sinais de uma ameaça credível iminente. Foi então que Tony Blair e os seus incompetentes Serviços de propaganda resolveram deixar escapar para a opinião pública dois relatórios supostamente comprometedores para o Iraque. Num deles (Setembro 2002), mencionava-se a aquisição de combustível nuclear ao Niger e a possibilidade de o Iraque desencadear um ataque com AMD, 45 mn após dada a respectiva ordem; no outro (Fevereiro 2003), explanava-se longamente sobre a complexa máquina de informação e guerra Iraquiana. Ambos os relatórios, soube-se pouco tempo depois, foram substancialmente forjados, e no segundo deles, pior do que isso: procedeu-se a um extenso e descarado plágio dum artigo do analista e doutorando Ibrahim al-Marashi, publicado na Internet pela revista MERIA. As famosas informações a que Tony Blair teria tido acesso devido ao trabalho dos seus brilhantes Serviços Secretos não passavam, afinal, de contra-informação grosseira e de crime de abuso dos direitos de autor.
A bronca tornou-se ainda mais grave quando alguém - Glen Rangwala - resolveu analisar a "meta data" do documento Microsoft Word publicado na Internet pelo próprio Gabinete de Tony Blair. Soube-se então que o texto fora não só largamente copiado, mas que pessoal da mais estrita confiança de Tony Blair havia retocado e apimentado o documento para fins propagandísticos! Tudo isto não passaria dum "fait divers" se não estivessem em causa muitas coisas importantes, tais como a credibilidade das democracias ocidentais, a morte misteriosa do Dr. David Kelly e a morte de muita gente inocente no Iraque, e sobretudo o agravamento de uma fractura civilizacional (entre o Ocidente anafado e ávido de bens, cada vez mais laico, e um Oriente Islâmico, cada vez mais pobre e religiosamente radicalizado).
Embora a meta-informação dos documentos Microsoft Word possa ser apagada, nomeadamente quando salvamos os documentos no formato HTML, RTF ou PDF, a verdade é que há milhões de documentos Word publicados na Web no interior dos quais repousa uma infinidade de dados escondidos, cuja importância pode ser tão decisiva como a que levou à descoberta da marosca cozinhada no célebre N10 de Downing Street. O Governo de sua Magestade decidiu, depois deste escândalo, abandonar o processador de texto do Sr Bill Gates, optando decididamente pelo formato PDF do Acrobat Publisher da Adobe. E por cá, como vão as coisas? Quantas confidencialidades permanecerão semi-escondidas nos milhares de Microsoft Word "docs" publicados por empresas e organismos oficiais na Net? -- ACP
Referências:
BBC News. The hiden dangers of documents, by Mark Ward.
Microsoft Word bytes Tony Blair in the butt, by Richard M. Smith.
[casi] Intelligence? the British dossier on Iraq's secutity infrastructure, by Glen Rangwala.
Dodgy Dossier - Wikipedia.
Scalable Exploitation of, and Responses to Information Leakage Through Hidden Data in Published Documents, by Simon Byers. (PDF)
Cure Zone [the misterious deaths of too many microbiologists].
U K Parliament. Oral evidence by Dr. David Kelly.
Ibrahim al-Marashi. Bios.
¶ 5:15 PM
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