quarta-feira, março 02, 2016

Pânico na banca portuguesa


Santander-Totta-Banif persegue agora o Novo Banco


O lóbi ligado ao Cavaco está em pânico. A campanha começou com Vítor Bento, depois foi o programa Prós e Contras, e ontem o apelo feito por Alexandre Patrício Gouveia no programa do Medina Carreira. Este responsável quer que o BCE aceite as exigências locais. Como se o BCE tivesse que obedecer ao Governo português.
O programa Olhos nos Olhos de ontem fica para a história. Alguns responsáveis do país só agora perceberam que já não mandam nada. RR

Ontem ouvimos no programa Olhos nos Olhos (TVI) um apelo lancinante pela manutenção do ex-BES (Novo Banco) sob controlo do regime populista, incompetente, irresponsável e corrupto que conduziu o país à bancarrota. Tarde demais.

O pânico foi descrito assim por Alexandre Patrício Gouveia:

“...o Banco Central Europeu entende —e já transmitiu essa mensagem, essa posição, a várias entidades em Portugal— que o mercado da banca comercial deve ser repartido entre a Caixa Geral de Depósitos, o Banco Santander, o BBVA, e o La Caixa da Catalunha. Tem esta visão como uma forma fácil e rápida de resolver o problema, acabando com os problemas de gestão bancária em Portugal, arrumando o assunto com grandes grupos bancários.”

O banco Santander é o maior banco da zona euro, e está entre os 30 maiores bancos do planeta, mas como assinalámos em post anterior (“Banca portuguesa por um fio”) apenas 0,77% da instituição pertence aos acionistas que detêm o respetivo controlo gestionário: a família Botín.

Este pequeno detalhe significa que a preocupação do BCE relativamente ao Santander, que necessita de reforçar a sua almofada de capital (TLAC) em mais de 27 mil milhões de euros, até 2019(1), é de natureza sistémica, enquanto a sua preocupação relativamente aos Banifs e Novos Bancos desta Europa se resume à necessidade de tirar as maçãs podres do cesto bancário europeu, procedendo cumulativamente ao reforço das suas grandes instituições bancárias, absorvendo nomeadamente os ativos bons dos pequenos e médios bancos insolventes. O Novo Banco detém responsabilidades em depósitos na ordem dos 20 mil milhões de euros, mas ninguém ofereceu até hoje mais de 2000 milhões pela instituição(2). Que aconteceria se a TVI repetisse a graça que deitou o Banif ao chão, entregando os despojos bons ao Santander?

Para o BCE é essencial demonstrar que o mecanismo de resolução aplicado ao falido BES funciona. Dificilmente aceitará qualquer desvio à sua estratégia, menos ainda a nacionalização do Novo Banco, e muito menos a sua integração na Caixa Geral de Depósitos, pois implicaria transpor para os contribuintes mais um enorme custo bancário, ao arrepio do próprio Mecanismo Único de Resolução que entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 2016.

Alternativa ao Santander já houve. Chamou-se Fosun. O que não houve foi coragem para vender o NB a este grupo chinês. Agora, tudo será mais difícil.


ÚLTIMA HORA

CMVM suspende negociação das ações do BPI
RTP 02 Mar, 2016, 11:14 / atualizado em 02 Mar, 2016, 12:01

Mais um banco fora da órbita indígena. Desta vez nas mãos de els nostres germans catalans! Como seria de esperar, Isabel dos Santos, e Angola em geral, não resistiram às pressões do... BCE. Pobre país, o nosso, que mais parece uma carcaça moribunda rodeada de abutres. Quem nos conduziu ao precipício é incapaz de nos salvar. Da esquerda à direita, entenda-se. Tempo de renovar a casta dirigente, nos partidos, nas empresas e nos bancos.


NOTAS

  1. “El grupo Santander necesitaría 27.600 millones extra para cumplir las nuevas exigencias para bancos sistémicos”. Expansión, 25/9/2015.
  2. Apesar de avaliado em 4mM€ ninguém ofereceu pelo Novo Banco mais de 2mM€. Aliás, nos últimos seis meses o ex-BES poderá ter perdido 50% do seu valor. Para chegarmos a esta estimativa basta ponderar nisto: o Stoxx 600 Europe Banks (47 bancos europeus, entre os quais o BCP) perdeu 40% do seu valor desde 31 de julho de 2015 (28,8% nos últimos 12 meses). Outro valor a ponderar é este: o BCP perdeu 60% nos últimos doze meses. E ainda: em 2015 o Novo Banco teve prejuízos de 980 M€. Em suma, o banco bom do BES, atualmente sob um regime de resolução bancária diretamente controlado pelo BCE/Banco de Portugal, poderá neste momento valer pouco mais do que 220 M€ (2000 M€ - 800 M€ - 980M€), apesar de deter uma carteira de depósitos de 20 mil milhões de euros.

1 comentário:

Unknown disse...

Está gente está como aquelas tartarugas de pernas para o ar