Pedro Passos Coelho (1964-) parece ter crescido que nem um feijão verde desde o ciclo eleitoral que arrasou (contra as minhas expectativas iniciais) o PSD. As duas últimas eleições atiraram de facto este partido para uma rampa declinante, por onde acabará por escorregar até à segunda divisão parlamentar se nada de novo acontecer depois da saída de Manuela Ferreira Leite. Se o opinativo Marcelo Rebelo de Sousa (1948-), político e governante manifestamente incapaz, por infelicidade, voltar à direcção máxima dos laranjas, nada de bom espera à segunda força partidária do país. Mas o pior é que, sem alternativa à máfia que tomou de assalto o PS (cuja procissão de escândalos não há meio de terminar), teremos um inevitável processo de mexicanizagem bolivariana do regime — ou o seu colapso violento!
Marcelo Rebelo de Sousa nem sequer um bom presidente da república dava. Quanto mais um primeiro-ministro! Além do mais, qual Elisa Ferreira de calças, pretende manter em aberto a possibilidade de ser candidato a primeiro ministro, mas também a inquilino do Palácio de Belém, caso o amante de tabus e recentemente mui desastrado, Aníbal Cavaco Silva, pretenda concorrer a mais um mandato. Que filme bera!
Vale a pena rever a entrevista, como sempre bem conduzida por José Gomes Ferreira, a Pedro Passos Coelho, na SIC. O rapaz de Vila Real perdeu as borbulhas — ipso facto. Já não é neoliberal, nem quer privatizar a Caixa. Pelo contrário, deseja um Estado eficiente e inteligente (onde é que eu já escrevi isto?!), e um regime onde se adopte a regra protestante —ao Estado o que é do Estado, aos Privados o que é dos Privados. Nem mais, nem menos!
Caso assinalável: Pedro Passos Coelho estudou razoavelmente bem o dossier dos grandes investimentos, sendo crítico em matéria de mais auto-estradas, crítico em matéria de Alta Velocidade (300Km/h) fora do corredor Lisboa-Madrid, defensor de uma rede de Velocidade Elevada (220Km/h) nas demais ligações previstas e sugerindo —bem!— que o dinheiro necessário ao deboche do TGV em 5 linhas de Alta Velocidade (defendidas com unhas, dentes e sacos de notas por debaixo da mesa, pela tríade de Macau) seja usado na implementação da bitola internacional (dita "europeia") para comboios de Velocidade Elevada entre todas as capitais de distrito.
O que vemos nesta entrevista são vários sinais importantes: um líder jovem para um partido súbita e dramaticamente envelhecido (1), que só poderá recuperar da sua já longa agonia se for capaz de se dirigir de forma séria e comprometida às novas gerações. Refiro-me em particular à Geração Milénio, nascida depois de 1980, e que começa agora a entrar em força na economia e na vida pública e cultural do país. Como referi em artigo anterior, a geração que fez o PSD está a morrer, e a que poderá salvá-lo da mesquinhez, da corrupção endémica, da inutilidade política e do colapso anunciado, só agora começou a despertar estrategicamente. Manuela Ferreira Leite, ao contrário do que cheguei a pensar e defender, foi um passo em falso, e sobretudo —vemo-lo agora claramente— um tampão à subida das novas gerações no interior do partido fundado por Sá Carneiro.
Mas será Passos Coelho a pessoa de que o PSD precisa? Não sei. Creio, porém, que os dados foram lançados e que o jogo já não está nas mãos dos barões da Linha onde moro, nem sequer dos autarcas que em breve terão que descalçar as botas. De uma maneira ou de outra a cadeira do poder laranja já está a caminho de um mais do que provável sucessor de Sócrates. Plantei há duas semanas um feijão verde no meu jardim. Não imaginam a velocidade a que cresce!
NOTAS
- Sobre o problema generativo, que afecta gravemente o futuro incerto do PSD —mais do que qualquer outro partido, incluindo o PCP—, ler o que escrevi a propósito neste blog. Marcelo Rebelo de Sousa (1948-) e José Pedro Aguiar Branco (1957-) são baby boomers de utilidade diminuta na grande viragem generativa de que o PSD precisa absolutamente para inverter o seu manifesto declínio demográfico. É na geração seguinte que este partido terá que encontrar a seiva necessária para uma renovação seminal do partido. Quer Pedro Passos Coelho (1964-), quer Paulo Rangel (1968-), e num plano mais recuado Marco António (1967-), são de facto os protagonistas certos para a necessária metamorfose do PSD. Paulo Rangel está bem onde está, ganhando experiência que lhe será fundamental num futuro próximo. Passos Coelho demonstrou nesta entrevista que está preparado para disputar o poder ao lamaçal criado pela tríade de Macau.
OAM 643 29-10-2009 01:34 (última actualização: 11:36)
9 comentários:
caríssimo antónio...
qd o passos (re-)apareceu no ano passado tb me entusiasmei ligeiramente..contudo, o seu apadrinhamento por angelo correiae uma aparente obedicencia de passos a este não augura nada, mas mm nada, de bom por aí..
existem até umas teorias por aí de q é o próprio ps que neste momento torce pelo passos..
por outro lado, o facto d o passos coelho andar constantemente a dizer uma coisa e passadas umas semanas mudar d ideias tb não m tranquiliza!!
mas isto tá tão mal(para quem tem negócios honestos refira-se..) que já tou como o m pai:
"o psd ao menos a roubar não formam um grupo tao fechado e tão ganancioso e ainda vão atendendo a quem quer fazer alguma coisa verdadeiramente.."
Nas actuais circunstâncias, creio que o Ângelo Correio, homem inteligente e cuidadoso (e o alter ego do Passos Coelho) já percebeu duas coisas: 1) que o "seu" PSD morreu de morte certa depois das figuras tristas que, mais Cavaco do que Manuela Ferreira Leite, têm vindo a fazer; 2) que para salvar o PSD da implosão, estando o CDS igualmente submerso nas incongruência e casos de polícia que envolvem Paulo Portas, o melhor mesmo é espevitar o Pedro da Jota, metê-lo num curso intensivo de estratégia e em estágios sucessivos de boas maneiras, assegurando previamente que o rapaz não frequenta Elefante Branco, nem sobe o Parque Eduardo VII depois da meia-noite, nem tem envelopes azeiteiros debaixo do rabo, nem andou na Independente a aprender inglês!
A entrevista ao José Gomes Ferreira mostra que as sabatinas têm dado resultado. Haja alguma esperança!
E olhe que eu sou Socialista, embora não descanse enquanto não ajudar a meter a tríade de Macau em Caxias!
Quanto ao suposto maquievalismo da tríade, que estaria a empurrar Passos Coelho para a presidência do PSD, também levantei aqui tal hipótese. Mas o interessante das previsões é que nunca acertamos! Ou seja, o que importa agora é seguir atentamente o que Passos Coelho disser depois desta entrevista...
Caro António,
A «generosidade» e as mudanças bruscas do PPC são para desconfiar...
Meu caro Cerveira Pinto, então você está convencido que o PSD é diferente do PS? Você que já tem falado do Centrão! Sabe quem subsidia uns e outros? Como é que embarca neste tipo de coisas?
O país precisa é do afundanço do PSD e PS, para varrer uma geração de funcionários para o lixo.
o passos coelho é o pinto de sousa do psd.
isto das novas gerações é uma treta. prefiro uma velha competente a um jovem imbecil. precisamos de realismo, bom senso e persistencia, o resto é televisão da má.
Eu também acreditei durante algum tempo que a MFL era uma "velha" competente. Mas afinal enganei-me! Revelou-se hirta, mal articulada, e sem capacidade nem vontade de promover a esperança em tempos melhores. Uma conjugação fatal, como se viu.
Mas o ponto principal não é este. O principal é mesmo o envelhecimento do PSD - da sua classe de dinossauros autárquicos, das suas seitas de notáveis, e sobretudo do seu eleitorado! Foi por isso que perdeu as eleições numa conjuntura que não lhe poderia ser mais favorável.
Quanto a corrupção, PS e PSD estão empatados! Daí a abstenção elevadíssima, os votos nulos e brancos e até as votações em novas siglas partidárias. Neste capítulo deve aliás sublinhar-se que Cavaco Silva muito dificilmente se recandidatará — pois não tem estômago para um campanha agressiva focada nos seus ziguezagues presidenciais e no relacionamento mais do que censurável com o BPN e com o seu Conselheiro de Estado de estimação caído em desgraça, Dias Loureiro. Marcelo tem aliás nesta crise de reedição presidencial uma boa janela de oportunidade que não deve desperdiçar (até porque o PS não tem candidato a vista!)
O voto jovem e o voto inteligente fugiram para o Bloco de Esquerda e para o PP, ainda que algum dele tenha ido, apesar das circunstâncias, parar ao PS. A percepção da falência do Bloco Central dos Interesses, do Betão e da Corrupção, foi determinante para esta significativa —ainda que instável— transferência eleitoral.
Paulo Rangel foi uma lufada de ar fresco vinda do PSD. Mas infelizmente partiu para Bruxelas! Daí à derrota de MFL foi um ápice! E agora, bom agora, ou o PSD elege para líder uma figura determinada capaz de imprimir um movimento de renovação do PSD, ou Paulo Portas acabará por roubar metade do eleitorado do PSD, consumando a cisão eleitoral da Direita Portuguesa por diversas vezes sugerida neste blogue como uma das possíveis consequências da agonia acelerada para que caminha o actual regime político. O PP pode crescer muito rapidamente, seja através do colapso eleitoral e implosão política e organizativa do PSD, seja por uma cisão resultante de uma vitória forçada do bluff político que é Marcelo Rebelo de Sousa.
Eu não sou obviamente fã do Pedro Passos Coelho. Mas reconheço que depois do desaire eleitoral de MFL, da ida de Paulo Rangel para o Parlamento Europeu, não há melhor solução à vista que o rapaz da Jota!
Que ingenuidade meu caro Cerveira!
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