sábado, março 09, 2019

E se eu tivesse dois sexos?

Hermafrodito adormecido. Museu do Louvre.
Cópia romana restaurada de um original helénico do século II AC.

O problema da identidade de género


A integração cultural da alteridade sexual é um fenómeno recente nas democracias modernas. Não ocorre em regimes não democráticos, e mesmo nestes é uma novidade. Basta pensar na primeira pessoa: e se eu tivesse nascido hermafrodita, qual teria sido a minha vida? As morfologias sexuais dominantes, e os comportamentos sexuais dominantes impuseram-se ao longo da evolução das espécies seguindo provavelmente o paradigma seletivo proposto por Darwin, mas assim como todo o organismo animal, ou melhor todo o organismo vivo complexo, resulta não apenas de processos de seleção, mas também de processos contínuos de colaboração (Margulis, L.), também no plano cultural das sociedades humanas, quanto mais livres e evoluídas estas são, maior é a sua propensão para a integração cooperante das diferenças no enriquecimento integral da espécie. Como em todas as dialéticas sociais, há excessos de ambas as partes. Só a discussão aberta em pleno espaço público, sem polícias, poderá abrir as nossas mentes e corpos ao desconhecido, ampliando o diapasão da realidade.

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