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sábado, maio 14, 2011

O dilema de votar

Pintelho (Puffinus obscurus)

O voto no PS é um voto inútil
Só uma vitória do centro-direita poderá salvar a Esquerda!

Na guerra das sondagens, quem paga mais consegue, por vezes, travar as más notícias, e sobretudo inundar os média com muito ruído. A sondagem da Marktest dava há dois dias atrás uma vantagem clara ao PSD (39,7%) sobre o PS (33,4%), apesar das quedas fortíssimas, que ainda podem ser invertidas, do PCP e do Bloco. Ontem, a Intercampus respondeu com uma sondagem, no mínimo hilariante, onde o PS supera o seu próprio resultado de 2009 (passando de 36,56 para 36,8%), batendo o PSD (33,9%), uma vez mais com o PCP e o Bloco em colapso eleitoral. Mas a verdade é que quase 50% dos eleitores ainda não decidiram! Como diz a Manuela Moura Guedes só um PIG (Povo Idiota e Grunho) é que votaria em quem lhe acaba de assaltar a casa. Mas o mais grave é que os grunhos, uma vez de bolsos vazios, o que ocorrerá ao longo dos próximos dois anos, mudarão de ideias num ápice — e não será para alimentar, uma vez mais ainda, a demagogia populista da Esquerda! Não sei, pois, o que é que a dita Esquerda, perdida entre o irrealismo panfletário do PCP e do Bloco, e o comportamento proto-fascista do cadáver adiado do PS, tem a ganhar com o actual curso dos acontecimentos. Agarrados aos pequenos e grandes poderes, agarrados às pequenas e grandes mordomias, agarrados à falsa profissão que têm, os partidocratas levaram Portugal à falência, por acção ou por omissão hipócrita e oportunista. Talvez seja altura de arrepiarem caminho e pensarem a sério sobre o seu próprio futuro, já que não pensam no país, nem no povo que os sustenta.
Greece [Ireland and Portugal] Defaulting on Debts Anticipated by 85% in Global Poll of Investors

Eighty-five percent of those surveyed this week said Greece probably will default, with majorities predicting the same fate for Portugal and Ireland, which followed Greece in seeking European Union-led bailouts, a new Bloomberg Global Poll shows. The outlook for all three countries deteriorated since January.

“All these countries will go bust at some stage,” said Wilhelm Schroeder, a poll participant who helps manage the equivalent of about $172 million for Schroeder Equities GmbH in Munich. “I just can’t see a scenario in which these countries get out of their debt problems”— Bloomberg.
Os americanos e os ingleses são suspeitos, pois são quem mais aposta no insucesso do euro. Provavelmente cairão primeiro do que a Eurolândia. Mas isso não altera um facto óbvio: a União Europeia está confrontada com problemas gravíssimos que poderão, no limite, conduzir a um congelamento, ou mesmo à implosão nacionalista do projecto. O regresso das fronteiras demográficas, a incapacidade de transformar a tragédia do norte de África numa oportunidade para ambas as margens do Mediterrâneo, e a incapacidade de lançar uma estratégia económico-financeira que amorteça o colapso financeiro em curso, por efeito da explosão da bomba relógio do endividamento —soberano, das empresas, dos especuladores perdedores, e dos consumidores—, são ameaças globais à estabilidade e ao sonho europeu.

O apoio da China ao euro pode não ser suficiente. E se não for, ou os grandes blocos geoestratégicos se sentam a uma mesa e equilibram a geometria da globalização, como outrora portugueses e espanhóis fizeram em Tordesilhas, ou os tambores de uma nova guerra mundial começarão em breve a rufar.

A queda praticamente inevitável da moeda americana e o colapso do Japão, hoje com uma dívida pública —a mais elevada do mundo— que supera (antes da tragédia que recentemente assolou o país) os 225% do PIB, conjugados com a procura crescente de recursos energéticos, industriais e alimentares por parte dos países emergentes (China, Índia, Brasil, Rússia) e da África, são já os cenários das guerras assimétricas em curso, mas também da nova grande guerra por vir. É para isto que a Europa, e cada um dos estados membros da União tem que se preparar a sério. Entre nós, portugueses, não podemos continuar a discutir os problemas como se estivéssemos na Cova da Iria, e o drama maior que se desenrola aceleradamente diante de todos, fosse uma fantasia longínqua de que estaríamos, pelo amor que a Virgem nos dedica, protegidos. Só não vê quem não quer ver — por medo, ou oportunismo.

Onde está a tradução do Memorando de Entendimento da Troika? 

Como dizia e bem Eduardo Catroga, a precária comunicação social que temos só se interessa por pintelhos, isto é, por minudências que ninguém conhece — como, por exemplo, a pequena ave marítima chamada Pintelho (Puffinus obscurus), que não é o pentelho a que tantos púdicos reagiram ofendidos. O pentelho, palavra específica e correcta para pelo púbico, é também uma designação comum no Brasil para as melgas, chatos e sarnas, i.e. aquele tipo de criaturas humanas que não desgrudam e fazem perder a paciência a qualquer santo, como se o futuro do país fosse apenas mais um concurso para descerebrados, ou mais um reality show. “O Pentelho” é, por exemplo, o título brasileiro do filme protagonizado por Jim Carrey, The Cable Guy. Pentelhos são, no caso que aqui interessa, as agendas vigiadas e manipuladas da comunicação social. Em inglês chamam-se scramblers a estas ferramentas de perturbação da comunicação correcta dos sinais. Por cá deveríamos passar a chamar-lhes pentelhos!

Sobre o que interessa a todos, o silêncio é de ouro.

O governo assinou um memorando crucial para o país — mas não o traduziu, nem divulgou junto de quem lhe sustenta as mordomias, a pirataria e os vícios. Os partidos, a quem pagamos para pouco fazerem, também não se deram ao trabalho de traduzir o memorando, e por isso falam de pintelhos (minudências que ninguém conhece) e de pentelhos (ruído para entreter), em vez de explicar aos portugueses o que os nossos credores impõem, e bem, à corja que tem o país nas mãos e o conduziu à bancarrota, com reflexos inevitavelmente dolorosos para todos nós. Mas também a precária comunicação social que temos (que ou depende do partido que está no governo, ou de quem os financia e compra espaço publicitário) se esqueceu de traduzir o que a Troika desenhou para os próximos três (ou trinta!) anos da nossa vida colectiva, encontrando aí uma boa desculpa para esconder o tema dos olhares indiscretos das audiências. A tradução, no entanto, existe! Mas devêmo-la a mais um acto de cidadania da Blogosfera, desta vez por iniciativa do blogue Aventar. O Memorando da Troika, em português, encontra-se aqui, e é de leitura e discussão obrigatórias.

PCP e Bloco podem recuperar e enterrar o PS — para bem da Esquerda, incluindo o PS!

O PCP e o Bloco de Esquerda podem acolher centenas de milhar de votos de eleitores descontentes com a ladroagem e manipulação proto-fascista do PS de Sócrates. Basta moderarem a linguagem, falarem claro e colocarem-se, como é sua obrigação, ao serviço do país e da justiça social.

Depois de o PSD e o CDS terem esclarecido que não formarão governo com o PS, nomeadamente por este ter sido capturado por uma teia de piratas, associações secretas, máfias e famílias ricas ignorantes —improdutivas, incapazes de competir a céu aberto e rentistas (1)—, a agremiação cientologista do Pinóquio das Beiras ficou literalmente sem base de sustentação pós-eleitoral. Ou seja, quer perca, quer ganhe (uma ficção alimentada pelas sondagens da treta), não tem com quem dançar o tango. Logo, voltaria a cair, antes de aprovar o orçamento de 2012. Novas eleições se seguiriam, ou em alternativa, Cavaco chamaria alguém do PS, do PSD ou do CDS para liderar a formação de um governo de convergência nacional. Se este improvável cenário viesse a ocorrer, Eduardo Catroga seria porventura the man for the job!

Ou seja, o voto no PS é um voto completamente inútil. Pelo contrário, votar no PCP, ou no Bloco de Esquerda, para quem for incapaz de votar na Direita, abre a porta a três desenhos partidários futuros da maior importância:
  • a expulsão dos corpos estranhos que envenenam o PS, permitindo assim a refundação deste partido; 
  • uma reforma generativa efectiva no interior do PCP, com possível mudança de sigla e adopção de um programa político e social adequado aos tempos que aí vêm, claramente aberto aos cenários da governação que não se limitem apenas às autarquias; se pode governar cidades, vilas, aldeias e bairros, porque carga de água não pode governar o país?
  • e, finalmente, a desinfecção do Bloco, eliminado os ácaros leninistas, estalinistas e trotskistas que ainda impedem esta associação intelectual pequeno-burguesa de contribuir de forma útil e pragmática para a alternância democrática no nosso país.

A Direita será com toda a probabilidade governo depois do dia 5 de junho. Vou votar em Passos Coelho para que isso aconteça, deixando de votar à esquerda pela primeira vez na minha vida. E a motivação é puramente pragmática: só derrotando o possuído PS actual, e portanto só abrindo caminho a um governo do PSD, ou do PSD-CDS, daremos tempo à Esquerda para renascer...

Compreendo os eleitores de esquerda incapazes de votar à direita. Trata-se de um atavismo como outro qualquer. Eu, por exemplo, algures na minha tenra infância tornei-me benfiquista, por motivos que desconheço inteiramente. Se me perguntarem se sou capaz de mudar de clube, direi que não. E no entanto nunca entrei num estádio de futebol! Nem nunca vi um jogo de futebol profissional ao vivo!! Então, perguntar-se-à, por que serei eu benfiquista, se ainda por cima o Benfica é há décadas um perdedor sem remédio? Por atavismo. No entanto, talvez porque os partidos chegaram à minha vida quando era já adulto e consciente, o medo atávico da traição à marca não existe. Voto em consciência, e não como um autómato emocional. Faço apostas e cálculos. Procuro, em suma, na pequena escala do meu voto pessoal, influir nos resultados. No caso vertente, o meu diagnóstico é claro: a Esquerda aburguesou-se e corrompeu-se em trinta e tal anos de delegação inusitada de poderes. Faz parte do problema, e precipitou-o na última década e meia, levando o país à bancarrota. É tempo de expiar os erros, e preparar, com honestidade e inteligência, o futuro!

POST SCRIPTUM



— É preciso deixar bem claro que a Esquerda, partidária, sindical e cultural, viveu em perfeita simbiose oportunista com Os Donos de Portugal —sobre quem recentemente Francisco Louçã, Jorge Costa, Luís Fazenda, Cecília Honório e Fernando Rosas publicaram um livro. Essa mão mal cheia de endogamia familar (os Mellos, os Espírito Santo, os Champallimaud, os Roquete, os Ulrich, os Ricciardi, e os d'Orey — ver aqui a árvore genealógica publicada no livro citado) está associada quase toda ao principal espinho do nosso sobre endividamento: as 120 parcerias público-privadas (ver mapa 1; ver mapa 2). Mas de quem é, em última instância, a culpa, se não da democracia populista que temos? O FMI entendeu num ápice onde estava o tumor da nossa democracia, e o que é preciso para extirpar o bicho. Mas como reagem Sócrates, os sindicatos, o PCP, e o Bloco? Com o FMI, nunca! É por estas e por outras que precisamos de uma cura de direita! É que há muita gente a querer trabalhar, criar empresas e ganhar dinheiro honestamente! O biocapitalismo incestuoso que tivemos até esta bancarrota acabou!