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domingo, dezembro 07, 2014

Prendam os ladrões primeiro!

Vítor Constâncio, vice-presidente do BCE
Foto ©
Bloomberg News

O regresso extemporâneo do PS ao poder seria um desastre


FRANKFURT—European Central Bank Vice President Vitor Constancio sent the strongest signal to date on Wednesday that the ECB is prepared to buy government bonds early next year if it decides that more aggressive stimulus measures are needed. (Update: Follow our ECB live blog). By Brian Blackstone and Todd Buell.

The Wall Street Journal, Updated Nov. 26, 2014 6:46 a.m. ET.

Quando a criação de dinheiro é um monopólio governamental, e a sua emissão deriva de uma operação simplesmente fiduciária, sem que as unidades monetárias criadas tenham qualquer valor intrínseco (por exemplo, o ouro ou a prata de uma moeda), ou as contrapartidas do valor declarado assentem apenas em garantias soberanas de países que não param de ver as suas dívidas públicas e privadas a aumentarem, afirmar que vivemos em economias neoliberais, sejam elas governadas à ‘esquerda’ ou à ‘direita’, não passa de uma fraude intelectual. Todos os governos que se conhecem atualmente neste planeta são réplicas extremistas do keynesianismo!

Nem sequer podemos qualificar estes regimes financeiros como Capitalismo de Estado, ou como Capitalismo Imperial, pois são economias intrinsecamente descapitalizadas (onde, no entanto, a concentração da riqueza cresce desmesuradamente) que há muito consomem mais do que produzem, e que por esta razão são forçadas a desvalorizar as respetivas moedas na competição externa (aumentando assim a competitividade relativa das respetivas exportações, ao mesmo tempo que diminuem o fardo financeiro da dívida externa caso a moeda em causa seja uma moeda de reserva), ao mesmo tempo que aceitam destruir as taxas de juro do dinheiro, resultado inevitável do aumento contínuo da massa monetária, ou seja das várias formas de dinheiro em circulação, promovendo desta forma uma ilusão de prosperidade, ao mesmo tempo ainda que proliferam máquinas especulativas insaciáveis que, em poucas décadas, substituem e devastam a economia produtiva e o emprego.

Não deixa de ser irónico que os megafones desta fraude intelectual sejam frequentemente empunhados por alguns protagonistas da dita ‘esquerda’.

A ideia, repetida numa famosa declaração de Jorge Sampaio, contra o que então chamou a ‘obsessão do défice’, e que desde o seu reinado se tornou uma litania da ‘esquerda’, volta a ganhar força na propaganda populista do PS, de António Costa e do mesmo Sampaio.

Poderia a austeridade brutal que atingiu Portugal ter sido menos violenta?

Podia. Mas para que tal tivesse ocorrido teríamos que ter cumprido as recomendações da Troika num ponto essencial: destruir a economia corrupta dos rendeiros que capturaram o regime partidário e que com este estabeleceram uma simbiose oportunista, transformando nomeadamente as PPP numa bateria de seringas que, sem pudor nem travão algum, tem vindo a chupar a sustentabilidade da nossa economia, destruindo empresas, empobrecendo a classe média, lançando milhões de portugueses no desemprego, na emigração e na morte antecipada por deterioração acelerada das reformas, pensões e acesso aos medicamentos mais caros ou de uso continuado.

Como se sabe (o caso do cerco e despedimento do ministro Álvaro Santos Pereira foi a este título plenamente demonstrativo), o Bloco Central da Corrupção, composto por piratas da banca, dos oligopólios indígenas e da execrável classe política que temos, com a fanfarra do Bloco de Esquerda, do PCP e da Intersindical atrás, demonizou a Troika, não em nome de uma menor ou mais calibrada austeridade, mas favorecendo precisamente o excesso desta, ao terem conseguido barrar a famosa redução da rendas excessivas dos oligopólios, a redução para metade do número de autarquias existentes, e o ajustamento da dimensão do estado em função das nossas possibilidades, prioridades e potencial tecnológico disponível, o qual tem evoluído rapidamente.

A litania que tem saído ultimamente dos velhos cérebros da ‘esquerda’ (novos não há) que enche de teias de aranha o temeroso sargento-ajudante de José Sócrates, António Costa, atirado à força para a fogueira que em breve o consumirá, é a mesma de sempre: menos austeridade e mais investimento público, como se não tivéssemos sufocados em investimento público inútil ou que apenas serviu para enriquecer os rendeiros e os devoristas desta democracia exangue, ou como se menos austeridade não implicasse automaticamente uma declaração de guerra à EDP, à Brisa e outras concessionárias rodoviárias, aos especuladores municipais da água, aos latifundiários-rendeiros da medicina e mesmo ao negócio sórdido da fome que entretanto proliferou como uma espécie de pandemia de novos parasitas.

A falsa esquerda que em nome da esquerda vocifera e prega é uma esquerda imprestável...

Deixou-se engordar no Clube dos Um Por Cento mais ricos da comunidade, e fez o favor de ajudar a corja rendeira a manter-se no poder num dos momentos mais difíceis da nossa história recente, quando, precisamente com a ajuda da Troika, teria sido relativamente fácil reduzi-la à insignificância estrutural exibida na estrondosa e súbita implosão do DDT BES.

Previsões do Scotiabank, 2 dez 2014
(clique para ampliar)


Se a Justiça trabalhar depressa e bem...

Se a Justiça trabalhar depressa e bem até às próximas eleições, metendo na cadeia os ladrões do Bloco Central da Corrupção, e este governo tiver ainda um golpe de asa para impor a renegociação imediata e global de todos os contratos de concessões e sub-concessões com cláusulas danosas (algumas delas secretas) para o estado português, tornando, por outro lado, transparente os processos de acesso e gestão relativos aos fundos comunitários do QREN 2014-2020, então a esperada janela de alívio temporário anunciada por Vitor Constâncio, através da continuação do ELA (“emergency liquidity assistance”), de empréstimos à banca a taxas reais negativas (taxa de juro do BCE a 0,05% contra uma inflação de 0,5%) e da compra direta de dívida soberana (“...purchases of covered bonds and asset-backed securities”—WSJ), será tempo ganho no inevitável ajustamento estrutural da nossa economia e das nossas instituições e hábitos de vida, a começar pelo estado e pela classe política.

As previsões apontam para que Portugal volte a convergir com a União Europeia, crescendo em 2015 e 2016 mais do que a média desta. Percebe-se, pois, a pressa dos 'socialistas'. Mas também se deve perceber que dar-lhes neste momento o poder poderia equivaler a deitar pela janela fora o sangue, suor e lágrimas dos últimos quatro anos.

Depois disto, e depois de o PS passar por uma profunda metamorfose, entretanto interrompida pelo golpe de estado dos soarista-socratinos, então sim, será tempo de sabermos o que a nova esquerda poderá fazer de bem ao século 21 português. Pois até agora fez tudo errado.

Mas nada de ilusões fora de tempo!

In Neil Howe. Forbes, 2014

Estamos ainda no interior de uma "Longa Depressão" (Neil Howe/ Forbes).

PS: Ao contrário da voz corrente, aprecio a personalidade e a competência técnica do socialista Vítor Constâncio. Tem sido uma peça essencial no BCE durante a gravíssima crise que atravessamos. Não é deste socialista que me queixo!

Atualização: 8 dez 2014, 01:55 WET