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terça-feira, julho 24, 2012

EDP à rasca

EDP-R sofre crash de quase 7% na Bolsa de Lisboa (23 julho 2012)

Mexia e Catroga correm em defesa da sua dama chinesa

Como há muito vimos escrevendo, a EDP é uma empresa ferida de morte pelo peso insustentável da sua dívida — uns astronómicos 18 mil milhões de euros! (1)

Os problemas, aliás, acumulam-se e pioram dia a dia:

  • a insistência estúpida e arrogante do cabotino Mexia em avançar com a inútil e criminosa barragem do Tua (congeminada em parceria com o pirata Sócrates — é bom não esquecer), pondo claramente em causa a classificação patrimonial de excelência do Alto Douro, e que se transformou rapidamente numa castanha prestes a rebentar na garganta dos chineses, já levou à quase paragem silenciosa das obras (do mal, o menos);
  • os subsídios às energias renováveis acabaram, ou diminuíram drasticamente, em Portugal e em Espanha, e estão sob forte pressão nos EUA, o que veio a revelar-se uma machadada fatal no embuste do “Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH)” — destinado, precisamente, a escoar a energia nocturna potencial das ventoinhas, que doutro modo têm que parar mais de metade do tempo disponível..., mas uma solução, sob outro prisma, inaceitável, nomeadamente por causar um incremento criminoso da eutrofização das albufeiras; 
  • a Troika exige uma tesourada nas rendas excessivas da EDP, e ainda noutros custos escondidos nas faturas de energia enviadas aos consumidores (RTP, autarquias, regiões, etc.), a que nem Gasparinho, nem Passos de Coelho, nem ASP podem fugir por mais tempo; 
  • o estrondoso falhanço do governo PSD-CDS no controlo da dívida pública, agravado ainda pela decisão irresponsável do Tribunal Constitucional sobre o corte de vencimentos aos funcionários públicos, dá razão a todos os que criticam a timidez do PM no ataque à despesa pela via da supressão dos privilégios indecorosos concedidos à burguesia rendeira e à nomenclatura partidária do país, nas PPPs e nas rendas que agravam os custos da energia ao consumidor;
  • a recessão económica, o desemprego, e a subsequente queda do consumo em Portugal, em Espanha, mas também nos Estados Unidos, atingiram, atingem e atingirão duramente as vendas da EDP em 2011, 2012, 2013, 2014...;
  • a torneira do crédito, nomeadamente para financiar o serviço da dívida, está praticamente fechada (será que é desta que um banco chinês abrirá portas em Lisboa, ou será em Madrid?);
  • o serviço da dívida da EDP e da EDP Renováveis não pára de subir e andará já pelos 600 milhões de euros/ano;
  • o Euro tem vindo a desvalorizar face ao Dólar, mas também, e de que maneira, face ao Renminbi!
  • em suma, no dia 23 de julho de 2012, a EDP caiu 5,83%, e a EDP Renováveis (EDPR), 6,58%, na Bolsa de Lisboa. E não vai ficar por aqui :(

É verdade, como disse Catroga à TVI, que o Estado vendeu a EDP aos chineses com as rendas incluídas. Resta porém saber como é que foi realizada tal operação e semelhante contrato numa altura em que era mais do que público e badalado o compromisso exarado num Memorando negociado pelo próprio Catroga, em nome do PSD e de Pedro Passos Coelho, de eliminar as rendas abusivas cobradas por empresas de regime, como a EDP e as PPPs piratas, ao Estado português.

A investigação criminal entretanto iniciada pelo DCIAP sobre um eventual tráfico de influências ao longo da operação de privatização da então energética nacional fragiliza ainda mais a posição da EDP, hoje controlada pelo Estado chinês, através de António Mexia e Eduardo Catroga.

Por fim, é tão fácil demonstrar ao compadre Catroga que as rendas são abusivas e excessivas. Ora veja, compadre:

  • em 2011, a EDP obteve 1125 milhões de euros de lucros, 50% dos quais arrecadados em Portugal; no entanto, apenas 8% das vendas foram realizadas em Portugal. Ou seja, 92% da receitas vieram do estrangeiro — como explicar este extraordinário fenómeno?
  • uma explicação, parece evidente: advém dos preços de venda praticados por MWh: 99 euros em Portugal, 32,6 euros nos Estados Unidos (mais sobre este tema).
  • outra, advém certamente das rendas que ainda acrescem ao preço de monopólio (ou de cartel, não sei) praticado com a cumplicidade de Sócrates. Por alguma razão o beato Seguro só debita odes pastoris à política deste governo!

 ÚLTIMA HORA

26 julho 2012 — EDP confirma a minha previsão: a dívida deste mamute disparou para lá da sustentabilidade: “A dívida líquida EDP aumentou 6,3%, ou 1,07 mil milhões de euros, no primeiro semestre do ano, quando comparado com igual período do ano passado, de acordo com o comunicado emitido pela eléctrica para a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Situava-se em Junho nos 18,019 mil milhões de euros, o valor mais elevado de sempre.” — Jornal de Negócios, 26 julho 2012 17:03.

Quando quiserem saber alguma coisa picante antes do tempo (e tempo é dinheiro, como sabemos ;) leiam o António Maria! E a este propósito leia-se o que aqui se escrevia em 13 dez 2009;
União Europeia (30% do PIB mundial)
  • ajudas climáticas: 7200 milhões de euros

Portugal (0,4% do PIB mundial)
  • o segundo Orçamento Rectificativo de 2009 agravou a dívida pública em 15.000 milhões de euros —mais do dobro das "ajudas climáticas" da UE... 
  • a dívida do sector público dos transportes supera os 14.886 milhões de euros —mais do dobro das "ajudas climáticas" da UE...
  • o passivo acumulado da EDP supera os 14 mil milhões de euros —mais do dobro das "ajudas climáticas" da UE...
  • as Parcerias Público-Privadas, entre 2008 e 2038, ascenderão a 19.761 milhões de euros —2,74 vezes mais do que as "ajudas climáticas" da UE...
  • o passivo da Estradas de Portugal (EP) ultrapassou no final de Junho passado os 15,2 mil milhões de euros —mais do dobro das "ajudas climáticas" da UE... 
  • o assalto ao BPN rendeu 9.700 milhões de euros —mais 2.500 milhões de euros do que as "ajudas climáticas" da UE...

25 julho 2012 — EDPR recupera 1,12% relativamente ao crash dos dois últimos dias, onde acumulou perdas de 6,58% e 6,88% respetivamente. Ou seja, desde que o governo chinês assumiu os comandos da empresa, em janeiro de 2012, só a EDPR perdeu mais de 50% do seu valor: de 4,78€, em janeiro de 2012, para 2,34€ ao fim da sessão de hoje.

24 julho 2012 — EDPR continua em queda livre! Ontem perdeu 6,58%, hoje perdeu mais 6,88%. E amanhã? Depois dos bancos, que também começaram a cair assim há mais de um ano atrás, é a vez de os especuladores destaparem uma Caixa de Pandora chama EDP. Eu bem avisei, e não ganhei nada com isso!

As causas são conhecidas. O resto é folclore :(

Nogueira Leite, quadro do Grupo Mello e atual boy do PSD na CGD/Caixa BI (o homem esteve à frente do primeiro Hedge Fund do país!), não gostou da imposição da Perella Weinberg. Zangam-se as comadres….
Os administradores da Caixa Geral de Depósitos António Nogueira Leite (actual presidente da Caixa BI) e Nuno Fernandes Thomaz manifestaram a sua discordância sobre os termos em que o banco foi envolvido pela tutela na contratação da Perella Weinberg para assessorar o Estado na venda da EDP e da REN. Um dossier que não "escapou" ao escrutínio do Ministério Público (MP).

A semana passada o DCIAP comunicou que estava a "investigar a intervenção e conduta de alguns dos assessores financeiros do Estado [Caixa BI e Perella] nos processos" de privatização da EDP (21,35%) e de REN (40%), que renderam ao Tesouro 3,3 mil milhões de euros. A iniciativa surgiu depois das buscas à Caixa BI, à Parpública (que representa o Estado nas privatizações) e ao BESI, que assessorou os compradores. Público, 24 jul 2012.

Como previsto, as ações da EDP e EDPR continuam a cair :(
Grupo EDP atira bolsa para nova queda. Negócios online. 24 jul 2012 09:28.
A acção que mais contribui para a queda do índice nacional é a EDP, ao perder 0,82% para 1,809 euros, acompanhada pela EDP Renováveis que desce 2,90% para 2,413 euros, tendo já estado a cair mais de 3% para um novo mínimo histórico (2,401 euros).

Pico de audiência esta manhã no António Maria!

Acho que está na altura de recrutar um marketeer para angariar investidores para este blogue :)


NOTAS
  1. Esta é uma estimativa. Os valores que constam nos relatórios de contas da EDP são estes:
    • Dívida em 2011: 16.948.805.000 euros
    • Total do passivo no fim do 1º trimestre de 2012:  29.572.060.000 euros
    A EDPR programou um investimento de 4 mil milhões de euros num só parque eólico americano, o Meadow Lake (com fases concluídas entre 2009-2012), cuja primeira fase inaugurou em 2009, já depois do colapso do Lehman Brothers. Uma visão empresarial de génio! Ver reportagem vídeo do Expresso (2009). E a seguir, ainda outro vídeo otimista na mesma linha, de 2007.

 
Data deste vídeo: 14 maio 2007


Última atualização: 27 jul 2012 0:28

sábado, outubro 29, 2011

A água não é da AdP, nem da EDP!

A tragédia dos comuns é dupla se libertarmos o uso insustentável do que é de todos, da inércia e do egoísmo colectivos, para o entregarmos à ganância dos especuladores financeiros

Tâmega - Eutrofização - Tujidos - Amarante
©Foto: Anabela Matias de Magalhães

 Alargar a luta pelo direito à água

Mais de cem representantes de diversas organizações representativas da sociedade portuguesa deram corpo ao primeiro Encontro Nacional da Água e aprovaram um manifesto que reafirma o firme empenhamento em prosseguir os princípios e objectivos da campanha «Água é de todos, não o negócio de alguns», nomeadamente «o desenvolvimento de acções em defesa da água pública e a sua disponibilidade para trabalhar com outros movimentos que lutam contra a privatização da água e serviços públicos essenciais, convictos de que este é o caminho para a construção de uma sociedade mais justa, progressista e solidária» — in A Água é de todos.

Não podemos permitir que a voragem especulativa dos piratas que levaram Portugal à bancarrota prossiga agora sob o patrocínio do liberalismo retardatário, da distracção, ou da hipocrisia dissimulada dos novos governantes. Álvaro Santos Pereira e Assunção Cristas (o que começou bem pode acabar depressa e mal!) têm que se entender sobre o que é vital para o país, e não deixarem-se influenciar pelo poder da corrupção, que não desiste.

A água potável é um bem comum, cuja gestão deve ser publicamente controlada, límpida e cristalina, equilibrada, acautelando assim a gestão sustentável de um bem que é cada vez mais escasso e pertence à vida, não a uma turma de imbecis ávida de automóveis de alta cilindrada!

As albufeiras geridas pela EDP, por exemplo, estão em processo acelerado de eutrofização, por manifesta incúria e incumprimento contratual. A única coisa que preocupa o senhor Mexia são os lucros e as cotações do PSI20. Pois bem, por aí também já não chegará a parte alguma!

Sócrates, o capturado INAG e as Águas de Portugal levaram aliás a cabo um processo de privatização irresponsável da exploração do domínio público hídrico nacional, juntando à lógica do capitalismo burocrático, endogâmico e rendeiro, que nos conduziu à bancarrota, a adesão indígena e provinciana à lógica especuladora das bolhas financeiras que fazem do bem comum mais um casino para as suas orgias.

Uma das causas da eutrofização das albufeiras, nomeadamente no rio Douro, é o excesso de nutrientes azotados que escorrem das explorações vinícolas e olivícolas intensivas. Se queremos manter viva a bacia hídrica do rio Douro teremos que dar prioridade ao vinho e ao azeite biológicos!

Aliás, Portugal deveria seguir o exemplo da Áustria: avançar rapidamente para uma agricultura e uma silvicultura biodinâmicas, sem químicos prejudiciais, nem OGMs. A vantagem competitiva seria óbvia e poder-se-ia finalmente aumentar a segurança alimentar do país — com uma sustentada diminuição da nossa dependência das importações.

Este governo tem muito por onde começar, se quiser preparar as bases para um novo paradigma de sustentabilidade económica do país. Mas para isso, deve agir já, começando por colher e deitar no balde da compostagem todos os frutos podres da árvore da administração pública, incluindo todo o seu perímetro empresarial. E em paralelo, tem que puxar pela imaginação e pela criatividade, tem que chamar os melhores, e tem que desafiar o país a libertar-se do torpor que o mantém em estado praticamente vegetativo.

POST SCRIPTUM

Depois de publicado este artigo li a opinião de Luís Todo Bom sobre a polémica em volta da anunciada privatização da Águas de Portugal, explicitando a sua oposição à privatização da AdP, uma empresa de direito comercial privado, mas com capitais 100% públicos e um passivo de mais de 6 mil milhões de euros! Cabe perguntar qual foi afinal a vantagem de se ter constituído um tal modelo de empresa. Só se foi para permitir endividar o país sem dar cavaco ao Orçamento de Estado, permitindo, claro está, remunerar escandalosamente os boys&girls lá colocados e comprar frotas automóveis de luxo.

act. 29-10-2011 15:20