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quinta-feira, julho 04, 2019

Harakiri financeiro


Desdolarização a caminho


Donald Trump: “China and Europe playing big currency manipulation game and pumping money into their system in order to compete with USA. We should MATCH, or continue being the dummies who sit back and politely watch as other countries continue to play their games - as they have for many years!”

Basicamente, todos resolverem copiar a solução competitiva extrema do Japão: o ¥en carry-trade. Ou seja, o harakiri financeiro! Traduzindo, os governos desvalorizam as moedas e eliminam as taxas de juro dos bancos centrais, por forma a poderem endividar-se à vontade (a única proteção—dizem entre dentes—contra o holocausto financeiro), enquanto os especuladores especulam à vontade. Pelo caminho, os aforradores são depenados das suas poupanças, os preços de aquisição do imobiliário (que é contabilizado como investimento, não entrando por isso no cabaz da inflação), da educação, dos automóveis, etc. transformam-se em bolhas financeiras, os serviços públicos e o estado social vão perdendo vitalidade, e as democracias vão-se metamorfoseando em direção a uma espécie de fascismo fiscal (pois a largesse monetarista tem sempre os seus limites). Em suma, deixou de haver economia para garantir as responsabilidades contraídas por governos, sistemas de segurança social, bancos e companhias de seguros. Querem pior? Difícil...

Não vejo como poderá uma sociedade global sobreviver neste Jogo de Monopólio.

Entretanto, o regresso do mercantilismo nacionalista e do populismo são consequências naturais desta queda sistémica da procura agregada global (que, por sua vez, gera deflação) e do rendimento per capita dos países outrora mais desenvolvidos do Ocidente—ou seja, do empobrecimento dos 90% menos afortunados. No salve-se quem puder, e perante as pressões agressivas dos Estados Unidos, creio que começou finalmente um processo global de desdolarização acelerada, com a Europa, a Rússia, a China, o Irão, partes de África e da América Latina, a estabelecerem zonas de comércio e de transações financeiras imunes ao dólar. Os EUA, por outro lado, não têm nem gente, nem economia, nem sobretudo moral para se lançarem numa guerra contra todos. É a vida dos impérios: nascem, crescem e morrem.