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quinta-feira, julho 04, 2019

Harakiri financeiro


Desdolarização a caminho


Donald Trump: “China and Europe playing big currency manipulation game and pumping money into their system in order to compete with USA. We should MATCH, or continue being the dummies who sit back and politely watch as other countries continue to play their games - as they have for many years!”

Basicamente, todos resolverem copiar a solução competitiva extrema do Japão: o ¥en carry-trade. Ou seja, o harakiri financeiro! Traduzindo, os governos desvalorizam as moedas e eliminam as taxas de juro dos bancos centrais, por forma a poderem endividar-se à vontade (a única proteção—dizem entre dentes—contra o holocausto financeiro), enquanto os especuladores especulam à vontade. Pelo caminho, os aforradores são depenados das suas poupanças, os preços de aquisição do imobiliário (que é contabilizado como investimento, não entrando por isso no cabaz da inflação), da educação, dos automóveis, etc. transformam-se em bolhas financeiras, os serviços públicos e o estado social vão perdendo vitalidade, e as democracias vão-se metamorfoseando em direção a uma espécie de fascismo fiscal (pois a largesse monetarista tem sempre os seus limites). Em suma, deixou de haver economia para garantir as responsabilidades contraídas por governos, sistemas de segurança social, bancos e companhias de seguros. Querem pior? Difícil...

Não vejo como poderá uma sociedade global sobreviver neste Jogo de Monopólio.

Entretanto, o regresso do mercantilismo nacionalista e do populismo são consequências naturais desta queda sistémica da procura agregada global (que, por sua vez, gera deflação) e do rendimento per capita dos países outrora mais desenvolvidos do Ocidente—ou seja, do empobrecimento dos 90% menos afortunados. No salve-se quem puder, e perante as pressões agressivas dos Estados Unidos, creio que começou finalmente um processo global de desdolarização acelerada, com a Europa, a Rússia, a China, o Irão, partes de África e da América Latina, a estabelecerem zonas de comércio e de transações financeiras imunes ao dólar. Os EUA, por outro lado, não têm nem gente, nem economia, nem sobretudo moral para se lançarem numa guerra contra todos. É a vida dos impérios: nascem, crescem e morrem.

quinta-feira, janeiro 15, 2015

Guerra e Gás

A corrida do gás está ao rubro!

A mudança de paradigma energético é o principal responsável pelas guerras e pelo terrorismo em curso na Europa.


A guerra pelo gás substituiu a guerra do petróleo(clicar para ampliar)

A bolha financeira do petróleo começou a desinchar. Quer dizer, o Pico do Petróleo é hoje um facto adquirido, e a migração para a principal alternativa, que irá dominar o século 21, ou seja o gás natural, está na origem dos principais conflitos geoestratégicos em curso.

A Rússia, que detém as maiores reservas comprovadas de gás natural do mundo (Wikipedia), quer proteger o seu monopólio no fornecimento à Europa, mas cometeu um erro ao desafiar, de forma brutal, a estratégia europeia de segurança energética. A Alemanha, por sua vez, também cometeu um erro, privilegiando a integração apressada da antiga Cortina de Ferro na União Europeia, nomeadamente em detrimento da Turquia, e uma vez mais praticando jogo duplo com a Rússia e com a Eurásia em geral, tendo por esta via provocado desnecessariamente os países do Mediterrâneo, onde predominam as religiões católica, ortodoxa e muçulmana. O trio Merkel, Hollande, Netanyahu, que vimos na linha da frente da manifestação de Paris, contra os ataques terroristas reivindicados pela Al-Qaida do Iémen, é todo um gráfico dos jogos de guerra em volta do Corredor Sul de abastecimento de gás à Europa. Não me admiraria nada que, neste momento, Obama esteja a apoiar discretamente o Syriza, e até o Podemos! (1)

A Grécia e a Itália tem uma carta na manga...
(clicar para ampliar)

Os principais produtores de petróleo começaram a fazer regressar em massa os petrodólares a casa, e a China estancou o ritmo especulativo e perigosamente tóxico do seu crescimento.

O crescimento mundial está a caminhar rapidamente para uma longa era de crescimento zero (0-1%), à medida que as bolhas especulativas e a financiarização da economia vão implodindo, e as dívidas públicas insustentáveis vão forçando os governos a abandonar o endividamento sistémico e a economia virtual.

A falta de liquidez proveniente dos petrodólares vai necessariamente rebentar com muitas empresas e bancos, sobre-endividados, e/ou sobre-expostos, nomeadamente, ao buraco negro dos derivados financeiros, e/ou ao negócio, cada vez menos rentável, das dívidas soberanas.

O fim do petrodólar é a principal origem da falta de liquidez(clicar para ampliar)

Os casos da PT e do BES estão aí. A EDP poderá ser a próxima vítima. Até porque é mais barato produzir energia elétrica com gás natural do que com ventoinhas e paineis solares dependentes do tempo e de bolsas de capital especulativo que estão a encolher, ou dos subsídios públicos indecorosos em países à beira da explosão social.

A proteção que os rendeiros até agora gozaram dos políticos desmiolados, ou corruptos, acabou.

A guerra pelo gás natural substitui as anteriores guerras do petróleo.

A procura excedentária e especulativa do ouro negro vai provavelmente deixar muito crude nas profundidades do pré-sal brasileiro, nas areias betuminosas do Canadá, e nas rochas de xisto por fraturar na América de Obama. Os países exportadores de petróleo, sobretudo os que dependem de petróleo pesado e muito caro (60-80 USD/bbl.), perante a queda da procura e a queda prolongada dos preços, serão forçados a diminuir a exportação de capital oriundo da venda do crude (petrodolares), e nalguns casos até, a importar capital. A seca nos mercados bolsistas não se fará esperar, e a falta global de liquidez, nomeadamente para investimentos produtivos, também não.

O Quantitative Easing, quer no Japão, quer nos Estados Unidos, chegou ao fim, com resultados miseráveis. O ensaio que Mario Dragi promete na União Europeia (2), e que servirá apenas para impedir o colapso das dívidas soberanas de países como a Grécia, Portugal, Espanha, Itália, França, ou Reino Unido, e que jamais chegará à economia, terá provavelmente a mesma má sorte.

A produção de petróleo estagnou, dando lugar a uma bolha financeira (clicar para ampliar)
A especulação terminou, por agora. Logo...(clicar para ampliar)


E no entanto, porque precisamente estamos no início de uma metamorfose energética da economia mundial, que implicará necessariamente mudanças de paradigma na economia (eficiência, eficiência, eficiência), nas tecnologias, nas sociedades, nas democracias e na cultura, as oportunidades começarão também a surgir, apesar do horror das guerras assimétricas em curso e da manipulação mediática permanente.


NOTAS
  1. ÚLTIMA HORA (16/1/2015 10:18): A Guerra do Gás está ao rubro!
    A Rússia anunciou anteontem que desviará o abastecimento do seu gás à Europa para a Turquia, com entrada... pela Grécia! O Syriza abre hoje uma garrafa de Champagne — pois ganhou, de repente, dois aliados: Obama e Putin!

    EurActiv: European Commission Vice President Maroš Šefčovič was told in Moscow Wednesday (14 January) that Russia would shift all its gas transit from Ukraine to Turkey, and that EU customers should buy this gas at the border with Greece.

    According to press reports, Šefčovič, who visits Russia for the first time since he was appointed Commission Vice-President for the Energy Union, said he was “very surprised” by the Russian move.
  2. ÚLTIMA HORA: Enquanto escrevíamos este post a Suíça (i.e. o SNB) anunciou que desligava a sua moeda do euro. E catapum! Na iminência de uma diarreia de euros destinada a salvar governos e bancos, a libra suíça bate com a porta; coloca a taxa de juro de referência nos -0,75%, e mostra que vai deixar de ser um fiel comprador de euros... depois de a moeda única ter decidido alinhar com os lémures japoneses e americanos... em direção ao precipício. Tempo de comprar francos suíços e ouro (se tiver francos suíços, claro!) 
REFERÊNCIAS
Russia Just Pulled Itself Out Of The Petrodollar
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 01/14/2015 12:45 -0500

Back in November, before most grasped just how serious the collapse in crude was (and would become, as well as its massive implications), we wrote “How The Petrodollar Quietly Died, And Nobody Noticed”, because for the first time in almost two decades, energy-exporting countries would pull their “petrodollars” out of world markets in 2015.

This empirical death of Petrodollar followed years of windfalls for oil exporters such as Russia, Angola, Saudi Arabia and Nigeria. Much of that money found its way into financial markets, helping to boost asset prices and keep the cost of borrowing down, through so-called petrodollar recycling.

We added that in 2014 “the oil producers will effectively import capital amounting to $7.6 billion. By comparison, they exported $60 billion in 2013 and $248 billion in 2012, according to the following graphic based on BNP Paribas calculations.”

“Oil May Drop To $25 On Chinese Demand Plunge, Supply Glut, Ageing Boomers”
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 12/17/2014 11:45 -0400

By Paul Hodges of International eChem via Russell Napier’s ERIC

We have forecast since mid-August that Brent oil prices would fall to “$70/bbl and probably lower”, and the US$ would see a strong rise. As Chart 1 shows, Brent has now reached our target, falling 40%, whilst the US$ has risen 10%. We believe this represents the first stage of the Great Unwinding of policymaker stimulus that has dominated markets since 2009. This Note now takes our oil price forecast forward into H1 2015.

Astonishingly, most commentators remain in a state of denial about the enormity of the price fall underway. Some, failing to understand the powerful forces now unleashed, even believe prices may quickly recover. Our view is that oil prices are likely to continue falling to $50/bbl and probably lower in H1 2015, in the absence of OPEC cutbacks or other supply disruption. Critically, China’s slowdown under President Xi’s New Normal economic policy means its demand growth will be a fraction of that seen in the past.

This will create a demand shock equivalent to the supply shock seen in 1973 during the Arab oil boycott. Then the strength of BabyBoomer demand, at a time of weak supply growth, led to a dramatic increase in inflation. By contrast, today’s ageing Boomers mean that demand is weakening at a time when the world faces an energy supply glut. This will effectively reverse the 1973 position and lead to the arrival of a deflationary mindset.
Petróleo, gás, Síria e Estado Islâmico
O dossier energético e a guerra na Síria: o caso do pipeline Irão-Iraque-Síria
O António Maria. Por José Manuel Castro Lousada

End of Nabucco – end of Southern Gas Corridor?

Energy Post. June 27, 2013 by Agata Loskot-Strachota and Janek Lasocki

TAP—Trans Adriatic Pipeline

The Geopolitics of Gas and the Syrian Crisis: Syrian “Opposition” Armed to Thwart Construction of Iran-Iraq-Syria Gas Pipeline
Global Research

quarta-feira, novembro 27, 2013

Banco de Portugal?

Público, Foto: Nelson Garrido

A banca é a melhor aliada da dívida pública!

Banco de Portugal afirma que a carga fiscal conjugada com cortes nos salários e pensões vai afetar rendimento disponível em 2014. E avisa que a consolidação orçamental não é amiga do crescimento do emprego e constitui uma ameaça à própria estabilidade financeira do sistema bancário. Diário de Notícias, 27/11/2013.

O Banco de Portugal foi um banco privado até 1974. E depois desta data, apesar de ter sido nacionalizado pelo PREC, e de ser um banco central público, ao contrário, por exemplo, da Reserva Federal americana, que continua a ser um cartel privado de banqueiros, o BdP é, na realidade, uma entidade que vela, em primeiro lugar, pelos interesses do cartel bancário nacional. É tendo bem presente esta ideia que devemos ler o aviso de Carlos Costa (ex-BCP, ex-CGD, ex-BEI) sobre o recessivo Orçamento de Estado ontem aprovado no parlamento.

Em vez de exercer uma ação punitiva clara e determinada junto da banca privada que desgraçou o país ao proteger e alimentar-se da corrupção que galopou desde meados da década de 1990, financiando, com endividamento público e externo, de forma especulativa, investimentos sem retorno e uma partidocracia voraz, ignara e irresponsável, o Banco de Portugal vem dizer agora que quer continuar a ter uma Administração Pública sobre-endividada. Porquê? Eu digo: porque é a principal mama financeira da banca comercial que temos. Ou seja, uma vez que a banca comercial não coloca um cêntimo na economia, apesar da propaganda vigarista que vemos por aí, a sua principal fonte de estabilidade indolente é o endividamento público!

O mecanismo é basicamente este: o Estado emite dívida pública, os bancos indígenas compram essa dívida com dinheiro emprestado pelo BCE, que fica com os títulos como garantia. Os bancos indígenas cobram ao Estado português juros muito superiores aos juros que pagam ao BCE, e este, por sua vez, cobrando um juro mínimo à cabeça, contorna os tratados da União e aumenta assim a massa monetária no SME. Ao que parece, esta é a única maneira que Mario Draghi conhece para forçar os países a pagar as suas dívidas, nomeadamente, aos grandes especuladores globais: JP Morgan, Goldman Sachs, Bank of America, Citi, HSBC, Deutsche Bank, Barcleys, etc.

Por sua vez, o dinheiro da Troika chamada a intervir nos países à beira da bancarrota, cobra juros bem mais elevados do que os juros que o BCE cobra aos bancos comerciais, e serve, no essencial, para obrigar os estados a devolverem aos investidores que apostaram de forma aventureira ou especulativa no endividamento público de vários países, os seus capitais e os juros na sua totalidade, retirando, assim, todo o risco às operações realizadas, como se o risco não fosse a essência do jogo capitalista e da especulação financeira!

Pior: os bancos comerciais portugueses, como não emprestam um cêntimo à economia real (continuam, no entanto, a ‘viabilizar’ operações financeiras puramente especulativas, como se viu ontem na aquisição parcial da Soares da Costa e da Controlinveste Media pelo senhor Mosquito), colocam o excesso de reservas (1) no próprio BCE, cobrando um juro exíguo mas seguro, em vez de arriscar o tal cêntimo que não investem na economia real.

Como se diz na gíria do economês, os mecanismos de transmissão do sistema financeiro para a economia deixaram de funcionar. O aumento da massa monetária nos EUA, como na Europa e no Japão, é um circuito fechado que retira rendimento aos salários, pensões e subsídios, que bloqueia financeiramente a economia, destrói centenas de milhar de empresas em todo o mundo, provoca centenas de milhões de desempregos, e que tem por único fim forçar os contribuintes a pagar o que devem e o que não devem, em nome da estabilidade dos bancos e dos governos que estes controlam.

Este embuste está, porém, a destruir as sociedades e ameaça perigosamente a estabilidade dos regimes democráticos americanos e europeus. É por isso que, tanto nos Estados Unidos, como na Europa, se buscam soluções de compromisso que, nomeadamente, garantam o financiamento da economia real. O banco central americano anunciou recentemente a sua intenção de fazer duas coisas: deixar de pagar juros pelos excessos de reservas bancárias depositadas no Fed, assim como diminuir a quantidade de dinheiro colocado à disposição dos mercados finaneiros para comprarem e especularem com a dívida americana. A ideia destas medidas é estimular, finalmente, a transmissão de liquidez à economia. Na Europa, o BCE espera pela Grande Coligação alemã para saber o que vai fazer. E em Portugal, há tempos, falou-se muito da criação de um Banco de Fomento, destinado a financiar a economia real, em vez de continuarmos a criar apenas mais dívida em nome do monstro estatal e das clientelas que dele vivem. Os bancos privados opuseram-se, claro, pois tal ameaçaria o seu bem estar indolente. E o senhor Costa do BdP, que eu saiba, assobiou para o ar.

Em vez de atacar o problema da asfixia económica do país agarrando o touro pelos cornos, o governo cobarde de Passos Coelho preferiu a falácia de colocar o quadro comunitário de apoio de 2014-2020 ao serviço da economia, chamando o seu controlo ao Terreiro do Paço, na pessoa dum jovem maduro que começa a cair de podre e fala cada vez mais como os disléxicos procuradores da república que temos. Na realidade, não vejo como é que a Comissão Europeia irá autorizar um governo nos bolsos da banca e das tríades indígenas a desviar verbas, com destinos previamente desenhados, para pequenas e médias empresas que normalmente fazem parte dos grandes grupos de sempre e são escolhidas a dedo.

A menos que a posse da Grande Coligação da Alemanha ilumine Mario Draghi, e algo parecido com um Banco de Reconstrução Europeia surja no horizonte para financiar de modo meticuloso (diria mesmo, marcial) a economia europeia, a situação tenderá a piorar. No caso português, a coisa poderá agravar-se ao ponto de ficarmos sem outra solução que não seja um Quantitative Easing à chinesa, isto é, a introdução no país, por um longo período, de medidas expressas e apertadas de controlo de capitais, as quais forçarão imediatamente os bancos a deixarem de brincar ao Monopólio, começando, por fim, a emprestar dinheiro à economia real — isto é, à economia produtiva, de bens materiais e serviços com valor acrescentado.


NOTAS

  1. Os depósitos bancários e os empréstimos do BCE são ambos dinheiro emprestado ao banco, o qual vence, de uma forma ou doutra, juros. Logo o banco não pode ter estas reservas paradas. Tem que as por a circular, isto é a render, ou seja, tem que aplicar o dinheiro que recebe, sob pena de o banco negar o próprio negócio e começar a ter prejuízos. Aliás, é emprestando um certo número de euros por cada euro que é depositado, que os bancos criam literalmente dinheiro do nada, na expectativa de que os investimentos tragam retornos que farão do nada criado dinheiro a sério! Se este mecanismo se rompe, como se rompeu desde 2008, e não mais retomou a normalidade, os bancos ficam à mercê dos bancos centrais, vivendo numa espécie de indigência para ricos. Claro que alguns deles acabarão mesmo na falência, e até na miséria. Em Portugal, pelo menos um destes banqueiros já sucumbiu à pressão dos acontecimentos. É por esta razão que o pseudo Banco de Portugal fez hoje este alerta ao Tribunal Constitucional sobre as pensões e sobre os cortes salariais nos dependentes diretos do Orçamento de Estado. Os bancos comerciais e os especuladores vivem hoje, essencialmente, da explosão especulativa das dívidas soberanas. E o PCP não vê isto? Ou será que, como Lenine um dia defendeu, aposta na hiperinflação monetária?

segunda-feira, julho 30, 2012

Bolha chinesa à vista

Do tigre de papel ao leão de peluche?
Foto © ?

Sombras sobre Beijing e Xangai
Factual data point after factual data point is indicating more than a little stress in the Chinese economy (and the Asian engine of growth in general). Whether it is bank loan losses escalating, shadow-banking stress, real-estate corruption, dismal retail spending, the shrinking textile industry, the artificial production in the crushingly slow metals industry , the construction industry’s contraction, or the massive ‘50%-above-demand’ channel-stuffing now occurring in the Chinese auto market, Diapason Commodity’s Sean Corrigan succinctly notes: “China bulls will not heed any of this, of course, for they are prisoners of the nested illusion that all increases in outlay represent genuine growth (cf, Occidental property bubbles) and that higher growth must imply greater profitability. They will also argue, on any uptick in the macro numbers, that the worst is not only behind us, but that it has been more than fully priced in.” Given a picture paints a thousand words, Asian trade volumes have ended their rebound and are exhausted.

“The Unbearable ‘Factual’ Lightness Of The Chinese Economy”, ZeroHedge.

Os gráficos não enganam! Bloomberg.


Salvo no desporto olímpico, parece que o Milagre Chinês está a revelar-se mais um balão cheio de ar :(

Eu estive três vezes na China desde 1999, e a verdade é que tendo eu um fraquinho pelo país (nasci em Macau, noblesse oblige), não posso deixar de constatar que as notícias que reiteradamente me chegam daquelas paragens são cada vez menos animadoras :(

Num certo sentido, o crescimento tumultuoso da China tem dois pontos em comum com as bolhas de desenvolvimento frágil ocorridas, por exemplo, na Espanha e nos Emiratos Árabes Unidos: inundações de capital barato (oriundo de exportações, de investimento especulativo e/ou de fundos comunitários) e trabalho barato  (no caso dos Emiratos, a mão-de-obra sobre-explorada e sem direitos veio/vem da Índia e sobretudo do Paquistão; no caso da Espanha, veio das antigas colónias americanas e do Magrebe; e no caso da China, veio e vem das suas províncias rurais interiores).

Como todas estas economias dependeram e dependem de exportações baratas e raramente criativas (manufacturas, serviços e matérias primas) para o Ocidente, a inversão agora verificada dos ritmos de expansão destes milagres económicos encontra-se estreitamente correlacionada com o colapso em curso das economias, do sistema financeiro e das sociedades afluentes e consumistas do Ocidente.

Se os especuladores pensavam poder deixar a América e a Europa em chamas e abrir novos paraísos de corrupção na Ásia, enganaram-se!

sexta-feira, maio 11, 2012

Dona Branca Europeia

 DBE quer dizer Dona Branca Europeia. Em inglês, chama-se Ponzi Patriotism™

Zero Hedge has a habit of trying to simplify that which is otherwise unnecessarily complex, convoluted and opaque. Today, we wish to explain the primary reason why Europe has still not be engulfed in fire and brimstone and collapsed straight to the 9th circle of overlevereged Hell(as). The reason, as we henceforth dub it, is Ponzi PatriotismTM.
What is Ponzi PatriotismTM you may ask? Good question - instead of providing verbal explanation we will demonstrate it visually, courtesy of the two Reuters charts below. The bottom line is that since everyone else is rushing far and away from Europe's doomed countries, it is up to the countries themselves to double, then triple, then quadruple down on their own terminal insolvency, until, finally one day, it's all over.

ZeroHedge, "Visualizing Europe's 'Ponzi Patriotism'"

 Os detentores externos de dívida pública europeia dos países sobre endividados estão a desfazer-se rapidamente dos títulos! Os detentores nacionais destes mesmos títulos (bancos, sobretudo) aumentam sem parar a sua carteira altamente tóxica de obrigações que colocam no BCE como colateral de empréstimos virtualmente sem juros, esperando um dia cobrar os ganhos desta especulação combinada com a corja burocrática que tomou de assalto os governos e a generalidade das instituições políticas, patronais, sindicais e culturais das democracias populistas europeias.

Que acontecerá? Nacionalizações em série, para não deixar falir boa parte da banca europeia? Desemprego imparável e galopante, na sequência da multiplicação das falências? Deflação suicida, ou hiperinflação criminosa?

Numa economia oportunista, virada do avesso, especuladora por natureza, capturada por uma imensa burocracia bem remunerada, que esperança podemos ter numa solução equilibrada para aquele que é já o maior desastre económico, financeiro, e em breve, social, que o chamado mundo desenvolvido conheceu desde a Grande Depressão dos anos 1930? Desta vez, nem sequer uma guerra tão criminosa e hedionda como a que terminaria com o holocauto nuclear de Hiroshima e Nagasaki seria uma solução possível. Por um lado, ainda bem! Mas por outro, falta responder à pergunta: onde tudo isto irá parar?

OLHEM E VOLTEM A OLHAR BEM PARA ESTE QUADRO PUBLICADO HOJE -- 11 DE MAIO -- PELA REUTERS :(

A tesoura assassina. Poderá Hollande travar o suicídio da Europa?


POST SCRIPTUM

Já agora, combinar este gráfico com estes dois, que ilustram o artigo "Explaining The European €2.5 Trillion Liquidity Catch 22 Closed Loop", de Tyler Durden (ZeroHedge):

Origem: Diapason


Origem: Goldman


ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 11 Maio 2012 22:48

quarta-feira, setembro 07, 2011

Derivatives

A Besta dos Derivados Financeiros

Touro morto na arena, Pamplona. Bernat Armangue—photo/AP (versão mod. p/ PB)

Aquilo a que se chama produtos "tóxicos" são regra geral (1) contratos de derivados financeiros, complexos (porque agrupam vários produtos financeiros em pacotes embrulhados com designações que não permitem ver o que está lá dentro), e negociados por debaixo da mesa, i.e. fora da bolsa e das demais praças (como são, por exemplo, os mercados públicos das "commodities": café, petróleo, trigo, arroz, carne argentina, etc.) A esta negociação fora dos mercados "transparentes" chama-se OTC: Over The Counter, que eu traduzo Por Debaixo da Mesa, na medida em que tais contratos, embora registados no seu valor, não são negociados em praças públicas (bolsas, etc.) e escapam aos organismos de supervisão financeira.

O derivado mais antigo e simples, que não é necessariamente "tóxico", é o chamado contrato de futuros, por exemplo, um seguro de colheitas, um seguro contra naufrágios, um seguro contra falências, ou contra alterações cambiais, etc. Um contrato de promessa de compra e venda de trigo por um dado valor numa dada moeda realizado antes da colheita é um bom exemplo de um contrato de derivados (não financeiro). Estes contratos existem desde que há comércio marítimo de longa distância, mas com a exportação progressiva das actividades produtivas (extração de matérias primas, produção industrial, serviços) do Ocidente para os chamados países emergentes, a base material da economia ocidental (a começar pela sobre endividada economia dos EUA) começou a decair. O modo como os gurus de Wall Street (de que tais Big Five são a marca distintiva) reagiram a esta perda progressiva de riqueza real foi precisamente a especulação com os mercados de futuros, tornando este tipo de contratos cada vez mais elaborados, opacos e fortemente apostados em ganhar dinheiro a partir de operações de risco: por exemplo, apostando na falência de um banco, ou de um país, apostando na subida e descida das taxas de juro interbancários, ou na subida e descida das taxas de juro das Obrigações soberanas no mercado secundário das dívidas públicas, etc.

Apostar contra/a favor das  taxas de juro, ou a favor/contra as taxas de câmbio, são o principal jogo da especulação financeira mundial de há umas duas décadas para cá, muito à frente das apostas no mercado imobiliário especulativo (de que o Subprime foi o mais recente exemplo), precisamente através dos tais produtos "tóxicos" que compõem o mercado de derivados financeiros: CDO (Credit Debt Obligations), CDS (Credit Default Swaps), Options, Naked Short Selling (vendas a descoberto sem garantia de recompra), etc....

Um dos principais estímulos concertados desta monumental bolha especulativa foi o chamado Yen Carry-Trade, i.e. a especulação com a moeda japonesa, e com as suas baixíssimas taxas de juro interbancário. Porém, no momento em que a China começou a emular este estratagema, e os Estados Unidos também decidiram optar por uma política de desvalorização agressiva do dólar e de destruição das taxas de juro, colocando-as cada vez mais perto de zero, o Yen Carry-Trade entrou em colapso, e com este colapso, começou o turbilhão desse inimaginável buraco negro financeiro chamado derivados.

A partir do momento em que estes produtos se autonomizaram a ponto de serem vistos e transaccionados como fichas de um gigantesco casino, o monstro do mercado de derivados financeiros começou a crescer exponencialmente. Hoje este mercado tem um valor "nocional" —quer dizer, um potencial de exposição ou de risco— na ordem de 12x o PIB mundial, i.e. 12x63 000 000 000 000 = 756 biliões de USD (ou como dizem os americanos: $756 trillions)

Bastaria que 30% dos contratos de Derivados dessem para o torto —e estão a dar!— para que se evaporassem da Terra qualquer coisa como 226,8 biliões de dólares (68E12 USD)

É este maremoto financeiro que está em curso :(




Vale a pena ver os 6 episódios deste excelente doc.

 NOTÍCIAS DO BURACO

A exposição dos cinco principais bancos americanos (JPMorgan Chase Bank, Bank of America, Goldman Sachs Bank USA, HSBC Bank USA) ao mercado de derivados financeiros, sobretudo envolvidos na especulação cambial (82%), com Credit Default Swaps (97,28% dos contratos), equivale a 4x o PIB mundial!

O crescimento desta exposição em 2010 (12,7%), a manter-se, seria claramente exponencial — i.e. virtualmente fora de controle.

Estes Big Five estão entre as dezassete instituições financeiras recentemente processadas pelas autoridades de Washington por terem defraudado a Fannie Mae e a Freddie Mac, causa principal do colapso do Subprime em 2007-2008.

É por estas e por outras que a imprensa anglo-saxónica berra histericamente e todos os dias contra os PIIGS. Estamos mal, sim, mas porque somos o elo fraco de uma cadeia de especulação e ganância mundiais com sede, precisamente, em Wall Street, sob o comando dos piratas que dirigem os Big Five.

CITAÇÕES
The notional value of derivatives held by U.S. commercial banks increased $12.8 trillion, or 5.5%, from the fourth quarter of 2010 to $244 trillion. The notional value of derivatives is 12.7% higher than a year ago. Derivative contracts remain concentrated in interest rate products, which comprise 82% of total derivative notional values. Credit derivatives, which represent 6.1% of total derivatives notionals, increased 5.3% to $14.9 trillion — in OCC’s Quarterly Report on Bank Trading and Derivatives Activities First Quarter 2011, Comptroller of the Currency Administrator of National Banks

World GDP in US$ (Wikipedia)
Listed by:
—IMF: 62,909,274,000,000
—World Bank: 63,048,823.000.000
—CIA: 63,170,000.000.000

JP Morgan still is the biggest HOLDER of derivative contracts. It has only $1.7 trillion in total assets while holding a hot hand of $73.6 trillion in derivatives! Wow. Talk about a heavy overhang of vapid paperwork that has no reality! Goldman Sachs has a mere $84 billion in assets but this lets them toy with $44 trillion in derivatives — in Culture of Life News.

NOTAS
  1. Esta versão simplificada não dispensa aos interessados leituras mais detalhadas sobre o fenómeno. Ler este artigo na Wikipedia.

domingo, abril 24, 2011

Portugal a descoberto

Ganhar com a falência de um país adormecido
A especulação é uma droga. Quem conhece os seus efeitos, não lhe resiste!

Um dos maiores vigaristas da nossa praça financeira é amigo íntimo (mesmo íntimo) de um dos maiores vigaristas que a política portuguesa alguma vez conheceu. Ambos apostam em lucrar como nunca com a falência de Portugal. Não os engavetem a tempo, e depois queixem-se!

Até Mário Soares se apercebeu do verdadeiro perigo que a democracia portuguesa corre se continuar entregue por mais alguns meses à turma de piratas que nos conduziu à beira do precipício.

Uma atitude firme do governador do Banco de Portugal, suspendendo por seis meses, ou ilegalizando mesmo, as operações a descoberto (short selling) com as obrigações e os títulos da dívida soberana —uma das clássicas e mais perigosas formas de especulação financeira (1) de que há memória— poderá, porém, fazer toda a diferença. Se Carlos Costa tiver coragem para avançar, e Pedro Passos Coelho antecipar o seu apoio a esta defesa in extremis do país, contra a grande pilhagem especulativa em preparação, ainda poderemos evitar que Portugal se transforme, como diz K. neste seu pertinente alerta, numa "colónia de escravos".

Começou o ataque a Portugal e à Grécia

POR FAVOR LEIAM ATÉ AO FIM:

As seguintes operações estão em andamento na Grécia, Portugal (e possivelmente em Espanha e Itália), com o objectivo de ganhar todo o dinheiro possível utilizando as dividas dos periféricos Europeus e os 400 mil do fundo de estabilização, instrumentalizando os stress tests dos bancos:

O objectivo é tirar partido da ineficiência criada pelo BCE, que emprestou dinheiro a juros reduzidos aos bancos portugueses para comprarem dívida pública portuguesa, o que duplicou o problema original.

A posterior subida dos juros no mercado secundário fez cair o valor das obrigações compradas pelos bancos portugueses. Esta queda do valor das obrigações fez cair os ratios de capital dos bancos. Quando os Stresstestes começaram, os bancos portugueses aperceberam-se da situação e levaram o Governo a um pedido de ajuda de cerca de 100 mil milhões.

Os 100 mil milhões destinavam-se inicialmente a comprar dívida pública portuguesa.

Assim, existem 100 mil milhões de Euros que poderão ser retirados do País com a seguinte

TÉCNICA:

A ideia é, vendendo obrigações a descoberto (short selling) criar a ilusão da existência de dois buracos que não existem, um na dívida e outro nos activos dos bancos, forçando o dinheiro da ajuda a tapar o buraco que seria criado nos bancos por uma reestruturação. Isto permite ganhos adicionais com short selling nos bancos.

Os juros são pressionados em alta no mercado secundário de obrigações portuguesas (fácil, pois é pouco líquido) no periodo em que é feito o stress test aos bancos.

Os ratios dos bancos descem fortemente obrigando o dinheiro da ajuda a ser usado para recapitalização dos bancos, de acordo com as exigências dos stress tests.

A dívida em si acaba por ser restruturada por pressões de agentes financeiros e meios de comunicação sobre o poder políticas e FMI (já o estão a fazer na Grécia). Ao não pagar o valor total da obrigação, estas vão proporcionar um ganho na maturidade às posições short, criando assim um buraco REAL nos activos dos bancos que assim substitui o anterior (que era VIRTUAL). Todo este dinheiro é discretamente ganho em posições curtas de Obrigações e de Bancos, sendo coberto pelo dinheiro do fundo de estabilização e FMI, deixando Portugal com uma dívida gigantesca. 
A única maneira de evitar este roubo é denunciar a situação e impedir a todo o custo a reestruturação da dívida publica. Receio que nem toda a gente esteja a ter a percepção disto. Quando comecei a ouvir as notícias sobre a reestruturação na Grécia, não vi ninguém a alertar para esta situação, por isso decidi partilha-la com o maior numero de pessoas antes que seja demasiado tarde, pois pode acontecer a situação de Portugal roubar-se a si prioprio sem se aperceber, dar o lucro a estrangeiros, criando assim um gigantesco buraco nas contas publicas, o que iria levar à crise que se tentou evitar e transformar o país numa colónia de escravos (tal como a Grécia).

Divulguem e comentem o mais possível. Manobras deste tipo já foram feitas com sucesso.

Se as obrigações maturarem (i.e. se a dívida não for reestruturada), os ratios dos bancos ficam normais e as posições short dos especuladores vão ter um prejuízo elevado, obrigando-os à compra de obrigações no mercado secundário, levando os juros a níveis normais, retirando-lhes os lucros e forçando os capitais a regressar ao país pela compra de acções dos bancos para short covering.

Os stress-tests serão assim instrumentalizados pelos especuladores. É esse o seu fim.

Vamos tentar evitar que isto de facto aconteça, informando o poder político e a opinião pública da situação.

K.
in Jornal de Negócios/Caldeirão de Bolsa

NOTAS
  1. Short selling (especular a descoberto) — Esta forma de especulação tem conduzido à ruína bancos e países ao longo da já longa história do Capitalismo. Basicamente, trata-se de ganhar, e de ganhar muito, com as dificuldades alheias. O especulador a descoberto snifa as presas feridas, por exemplo, como é o nosso caso, de sobre-endividamento, e aposta na sua desgraça. Como? Sempre da mesma maneira: compra e promete pagar mais tarde um dado lote de obrigações, moedas, terrenos, casas, obras de arte, flores, o que seja, desde que manifeste um claro potencial de especulação (no valor, por exemplo, de 1000 euros). Na data prevista o especulador terá que honrar o contrato de compra e venda, e pagar os 1000 euros, ou devolver as obrigações (em ambos os casos pagando uma comissão). Entretanto, o que se passou? É simples: o especulador vendeu no mesmo dia e pelo mesmo preço as obrigações —que ainda não pagou— a um comprador que naturalmente ignora os meandros da operação. Entretanto, o valor destas cai, em linha com a aposta do especulador. Quando tal ocorre, este volta a comprar um lote de obrigações, desta vez por menos dinheiro (por exemplo, por 800 euros) e devolve-as a quem lhas vendeu por mil.  Ganhou, portanto 200 euros (menos a comissão paga aos intermediários), sem produzir um único cêntimo de riqueza. Mas a riqueza terá que vir de algum lado! De onde? Invariavelmente, de quem produz, de quem poupa e de quem paga impostos. É por isso que estes processos de pilhagem legalizada acabam não raras vezes por conduzir a revoluções e guerras civis.

domingo, agosto 31, 2008

Allgarve

Férias à beira do cimento

Os nove dias de praia e grelhados em Olhos de Água terminaram antes da hora prevista, por causa de um inesperado amanhecer fresco e nevoento (1). O famoso mar do Algarve não esteve tão cálido como seria de esperar. Mas nem por isso houve menos veraneantes, sobretudo do norte do país, ingleses, mais espanhóis do que alguma vez vi por aquelas bandas, eslavos, italianos, alemães e franceses. Alguns milhares de veraneantes que optaram este ano pelo "Allgarve" foram seguramente mais sensíveis à leveza das suas contas bancárias do que aos apelos publicitários da mente brilhante do BES e actual ministro do governo "socialista", Manuel Pinho. Consequências, em suma, da crise económica e financeira em curso.

A longa e extraordinária falésia entre Olhos de Água e Vila Moura, que há mais de uma década me fascina continua sob uma criminosa pressão urbanística e automóvel. Os distraídos de Olhão, que certamente não ouviram falar do pico petrolífero, nem da água que deixou de chegar a muitos pomares e quintais, assinaram contratos para construir um autódromo e mais não sei quantos campos de golfe.

Sabiam que um campo de golfe com 18 buracos consome em média 5 metros cúbicos de água por dia, i.e. mais de 1800 milhões de litros de água por ano, o suficiente para satisfazer o consumo médio anual de 2000 pessoas? Quantos campos de golfe portugueses são alimentados com águas recicladas ou dessalinizadas? Está na altura de exigir auditorias regulares aos impactes ambientais destrutivos, quer dos desportos motorizados, quer dos campos de golfe que proliferam como coelhos no nosso país. Outro tipo de auditorias necessárias diz respeito ao próprio negócio multinacional especulativo dos campos de golfe, a maioria dos quais acaba na falência e ao colo dos bancos e sócios que foram no conto do vigário.

Ao que parece, há uma crescente presença da indústria turística espanhola no "Algarbe". Prevejo, pelo andar apressado da carruagem, que los promotores, que em Espanha como cá mandam nos políticos de turno, estejam a ponto de parir um terramoto urbanístico no pouco que resta da costa algarvia ainda livre das barbaridades da dita "construção civil". Quem deu cabo de toda a costa marítima espanhola, prepara-se agora, ao que parece, para rebentar de vez com o Algarve. Espero que os algarvios acordem a tempo e travem a corja que ameaça exportá-los para as degradantes periferias de Lisboa, Setúbal, Huelva e Sevilha. Não tenham dúvidas de que é a sorte que espera os vossos filhos, se não formos capazes de agir a tempo.

O ano passado visitei o horror de Ayamonte, a povoação andaluza vizinha de Vila Real de Santo António. A primeira coisa que vi foram bandos de prostitutas à entrada da povoação. Não me pareciam profissionais sofisticadas, mas antes pobre gente desempregada acudindo em desespero de causa à humilhação. Tinham o mesmo semblante envergonhado que há anos atrás encontrara no Vale do Ave num daqueles anos em que centenas de fábricas fecharam as suas portas. Claro que a "esquerda caviar" do PSOE, que é igual a toda a "esquerda caviar" europeia, i.e. neo-liberal, novo-riquista e aparvalhada, ignora estes pequenos detalhes da civilização e segue alegremente em frente na direcção do precipício social.

O dono de um simpático restaurante algarvio comentava os novos hotéis espanhóis de Olhos de Água: "Eles não compram cá nada! Nadinha mesmo. Até a água trazem de Espanha! É ver os camiões que chegam todas as manhãs ao parque do hotel: leite, pão, água, tomate, fruta, carne... e peixe espanhóis. Tudo espanhol! Uma vergonha. -- Vá lá a Espanha montar um restaurante ou um hotel, e veja se o deixam fazer o mesmo. É ó deixas!! Olhe o Marrachinho foi vendido aos franceses e o Ali-Super vai pelo mesmo caminho! Uma tristeza, sabe. Uma tristeza"

As previsões sempre optimistas do futuro turístico do Algarve esbarram numa realidade cada vez mais dura, que os pequenos políticos não querem ver: o declínio económico-social da Europa. O turismo de massas e o bem estar social foram inventados por causa e sobretudo para as classes médias. No entanto, estas estão a desaparecer rapidamente, tanto nos Estados Unidos, como na Europa, enquanto prometem emergir noutros continentes! Os célebres 150 mil postos de trabalho prometidos pelo "socialista" José Sócrates são empregos maioritariamente temporários, precários, socialmente desprotegidos e mal pagos, que vão substituir nas estatísticas do emprego os profissionais produtivos com anos de formação, e os especialistas, por uma nova espécie de estivadores intelectuais mal pagos, descartáveis e mendicantes. Ou seja, um proletariado novo, socialmente inconsciente (veremos por quanto tempo) e sem qualquer rede social ou sindical a segurá-los. Fantástico, não é? O mal formado engenheiro que faz de primeiro ministro ainda tem a lata de inaugurar "call centers"! O Salazar mandava os seus ministros inaugurar chafarizes. Sempre tinha alguma noção das proporções!

As economias ocidentais estão a transformar-se em economias de telefone, casinos financeiros e prostituição sofisticada (de que a classe política é uma sub-espécie em franco renascimento.) Vêm no entanto substituir empregos outrora úteis à sustentabilidade económica, social e ecológica das sociedades, razoavelmente bem pagos, estáveis e socialmente protegidos. Alguém ouviu o Bloco de "Esquerda" desmontar este truque de prestidigitação do Capitalismo decadente, que está a levar os EUA e a Europa à beira do colapso civilizacional? Não não ouviram! É que o Bloco aprendeu a ser um partido "responsável", rezando agora banalidades de "esquerda" do alto da sua frágil estabilidade parlamentar. Nunca pensaram muito na causa das coisas, mas agora menos. Do que mais gostam é mesmo viajar e exibir a sua ridícula maioridade política. Pobres diabos! Se Manuela Ferreira Leite continuar a dominar a agenda política como fez até agora -- investimentos prioritários para o país, questão social urgente e eficiência do Estado, nomeadamente na prevenção e punição do crime individual e organizado --, pondo o necessário ênfase numa visão clara e pro-activa dos interesses nacionais, sem cedências ao Bloco Central do Betão, e manobrando habilmente os poderes fáticos das grandes famílias (Espírito Santo, Mello e Cª), tenho poucas dúvidas de que a esquerda adormecida que actualmente hegemoniza o parlamento (sem deixar herança que se veja), passará à Oposição em 2009.

No Algarve, desliguei-me da Net. Faz parte da terapia. Mas ainda assim fui lendo a nossa indigente imprensa escrita. Ignorava que estava tão mal fornecida de assuntos, de verdadeiros jornalistas e de escritores. Que desgraça! Em tempos fazia a diferença para a desmiolada televisão. Hoje está mil vezes pior que a desmiolada televisão. Santa Net!

Regresso ao trabalho.



NOTAS
  1. Pode ser que a causa deste Verão esquisito esteja na actividade explosiva de alguns vulcões:
    Vulcão Okmok Caldera (Alasca, USA), 12 Julho 2008
    Vulcão Llaima, (Cherqunco, Chile), 10 Julho 2008
    Vulcão Chaiten (Patagónia, Chile), 02 Maio 2008
    Vulcão Soputan, Sulawesi (Indonésia) 6 Junho 2008
    Vulcão Rabaul, Kokopo (Papua Nova Guiné), 13 Abril 2008
    Vulcão Galeras (Colômbia) 18 Janeiro 2008

OAM 424 02-09-2008 00:32

domingo, junho 22, 2008

Petroleo 18

Jogos de guerra

A explicação jornalística mais comum, pelo menos no Ocidente, das causas da actual crise petrolífera mundial envolve reiteradamente três argumentos:
  1. a realidade demonstrável do chamado pico petrolífero;
  2. o extraordinário crescimento económico da China, da Índia e dos demais países emergentes (BRIC);
  3. a recusa de aumento da produção de crude por parte dos países produtores de petróleo, com destaque para a OPEC, de onde o G7 destaca invariavelmente a Arábia Saudita, na sua qualidade de maior produtor mundial.
Apesar de ser um nexo óbvio de causalidade, raramente se associa a subida do preço do petróleo à queda sucessiva do valor da moeda dos Estados Unidos, mesmo sabendo-se que esta perdeu já 25% do seu valor desde 2002, ou que no fim deste ano 1 dólar americano valerá pouco mais de 57 cêntimos de Euro.

Por outro lado, embora todos os quatro argumentos citados tenham o seu peso específico na actual crise energética, a verdade é que há pelo menos mais dois factores de que pouco se fala, mas cuja importância no desenlace a curto prazo da mesma podem ser decisivos:
  1. a especulação dos mercados financeiros, que após a hecatombe provocada pelo rebentamento da bolha imobiliária associada às hipotecas de alto risco (Subprime), alastrou para o sector bancário, cuja falta de liquidez levou os solícitos bancos centrais a lançarem sobre os vários náufragos banqueiros uma escandalosa chuva de empréstimos de curto prazo, a taxas ridículas, provocando ao mesmo tempo um desvio dos derivative markets e respectivos fundos de investimentos (nomeadamente hedge funds e fundos pensões e reformas) para os contratos de futuros de bens energéticos e alimentares, com especial destaque para o petróleo e os cereais - ou seja, as chamadas commodities. Segundo dados citados por Ni Jianjun, num excelente artigo (1) publicado no China Daily de 11 de Junho (li-o no avião entre Pequim e Paris), antes de 2003 os mercados especulativos representavam menos de 10% do volume total de negócios realizado pelo New York Mercantile Exchange (NYME). William Engdahl, por sua vez, alerta para o facto de 60% do preço actual do barril de petróleo decorrer da especulação nos desregulados mercados de futuros (2);
  2. o paralelismo impressionante entre a actual crise petrolífera e a actual crise americana e a crise energética, económica e militar de 1973, sobre o qual li recentemente um notável artigo de Jeffrey D. Sachs, na revista Fortune (3).
Embora seja cada vez mais evidente que há um problema de fundo no modelo energético global que ameaça as possibilidades de desenvolvimento económico assentes em paradigmas de crescimento contínuo da produção e do consumo, com profundos impactos nas reservas naturais do planeta e na qualidade dos eco-sistemas, podemos por outro lado estar uma vez mais diante de um jogo de luzes e sombras, e de uma sofisticada barragem de contra-informação e operações especiais, cujo fim imediato é o de prolongar a todo o custo a supremacia Anglo-Americana no mundo. Para que este desiderato seja alcançado, a prevalência da actual elite financeira mundial judaico-cristã, cujo domínio de longa data sobre todos nós decorre do controlo absoluto do dinheiro à escala global, não pode ser ameaçada.

No entanto, a explosão demográfica e económica da Ásia e da África, já para não falar do Brasil, leva-me a pensar que uma tão selecta estirpe esteja de facto seriamente ameaçada, e deva por isso negociar, em vez de exterminar. A menos que, como fizeram no passado, consigam levar o mundo para nova Guerra Mundial. Por trás da cortina de fumo da luta contra o terrorismo, da luta contra a ameaça nuclear iraniana (que é tão real e próxima quanto fora a das Armas de Destruição Maciça que o Miguel Monjardino jurou a pés juntos existirem no Iraque), e da necessidade de pôr os produtores de petróleo na linha (ladainha em que até o João Soares caiu que nem um patinho viajante), o que realmente existe é uma agenda de guerra. Uma agenda estratégica destinada, uma vez mais, a trocar as voltas ao projecto europeu, liderado actualmente por uma turma de alegres imbecis. O sucesso da agenda Sionista e Anglo-Americana conta aliás com o "Não" da Irlanda ao Tratado de Lisboa e a ambiguidade da República Checa sobre o mesmo documento. Do ponto de vista sociológico, a Irlanda e o Reino Unido são quintais da América, e como tal, presas fáceis dos jogos de sedução desta última. A República Checa, por sua vez, é um dos centros da inteligência Sionista na Europa. Nada melhor pois do que a morte do Tratado de Lisboa para deixar as mãos livres a Israel, aos Estados Unidos, ao Reino Unido e ao garnisé Sionista de Paris para atacarem o Irão e forçarem-no, como forçaram o Iraque, a abandonar o Euro!

Os sinais de que algo nesta missão suicida está em fase adiantada de preparação são cada vez mais aparentes. Os indícios mais próximos foram as manobras da aviação militar israelita na primeira semana deste mês de Junho, e depois a resposta verbal do Irão ao que foi ostensivamente apresentado pela propaganda militar de Washington como um exercício demonstrativo de um possível ataque ao Irão nos tempos mais próximos (4).

Entretanto, o Irão decidiu levantar depósitos no montante de 75 mil milhões de dólares das suas contas em bancos europeus perante a possibilidade de serem aplicadas sanções contra o seu país (5).

Nos Estados Unidos, o sindicato Sionista procura fazer aprovar uma resolução na Câmara dos Representantes cuja finalidade é a imposição de um bloqueio naval ao Irão (6), sob o pretexto de este representar uma ameaça à sobrevivência do Estado de Israel. Basta ler a história das sucessivas mudanças de regime operadas pelos serviços secretos britânicos e americanos no Irão ao longo de todo o século 20 para se perceber que nada do que se tem dito sobre o perigo iraniano corresponde de facto a algo que faça sentido. O Irão percebeu, como outros países permanentemente ameaçados pelas potências dominantes perceberam, que só adquirindo reais poderes de dissuasão militar, conseguirão travar o saqueio sistemático das suas riquezas e a humilhação. O Irão não tem ogivas nucleares, mas deveria tê-las, para compensar o arsenal nuclear israelita, que ninguém investiga, nem põe em causa. Talvez só depois de ascender a este nível de responsabilidade, seja finalmente capaz de resolver os seus gravíssimos problemas internos, provocados nomeadamente pelo cancro da corrupção que domina completamente mais esta desgraçada cleptocracia (7).

Não tenhamos demasiadas ilusões sobre a futura política internacional de Barak Obama, no caso de vir a ser eleito presidente dos Estados Unidos da América. Ele, na realidade, já vendeu a alma ao diabo Sionista, quando afirmou que Jerusalém seria a capital exclusiva de Israel!

Um último e preocupante sinal de que alguns influentes Democratas americanos estão desejosos de atacar o Irão, servindo assim o Sionismo e a Economia Militar dos EEUU, resulta da recente recusa por parte de Nancy Pelosi de fazer depender um tal ataque da autorização prévia do Congresso. Esta conspiração foi entretanto denunciada pelo congressista republicano heterodoxo Ron Paul (8). Mas muitos receiam que a iniciativa do poderoso American Israel Public Affairs Committee (AIPAC) acabe por passar.

A analogia inteligentemente estabelecida por Jeffrey D. Sachs, entre a crise petrolífera de 1973 e a crise actual precisa, para ser completamente consequente, de ir até ao fim. A tese é esta: se o petróleo chegar aos 200 dólares em Setembro, e depois Israel atacar o Irão, e a América vier em auxílio dos seus mais exigentes aliados (com o apoio da França, do Reino Unido e da República Checa), impondo um bloqueio naval ao Estreito de Ormuz, atirando o preço do barril de crude para os 300 USD, que acontecerá? Acontecerá uma coisa muito feia chamada estagflação mundial, de que os países mais pobres ou com economias debilitadas serão as principais vítimas. O consumo de petróleo diminuirá e baixará de preço. Mas o crescimento mundial entrará em recessão prolongada (20 ou 30 anos são apostas realistas) e o mundo anglo-saxão ensopará as suas monumentais dívidas no suor, na fome e no sangue de milhões de seres humanos. A víbora Cheney crê que se este cenário não ocorrer antes das próximas eleições americanas, poderá tornar-se inviável para sempre. É caso para dizer que os dados estão lançados. Foi mais ou menos isto o que se passou em 1973 (9).




NOTAS
  1. Futures trading, weak dollar behind oil shock
    By Ni Jianjun (China Daily)
    Updated: 2008-06-11 07:51

    The power to decide oil prices has been taken over by the oil futures market in New York from the OPEC group since the 1980s as futures trading became synonymous with profiteering. Some studies indicate, however, speculative trading accounted for less than 10 percent of the total trading value of the New York Mercantile Exchange (NYME) before 2003 and did not dictate the long-term trend of oil prices.

    In recent years, by hyping the so-called Chinese demand factor on the world oil market and driving up marketable surplus in an underhand manner, the US has managed to increase the generalized speculative trading volume to more than half of the total on NYME and turned profiteering into the dominant trend of investments.

    One of the "symptoms" of this "epidemic" is that huge amounts of US pension funds and investment banks, driven by the need to avoid risks and increase value, have become little different from the traditional experts in speculation - the hedge funds - and frequently dive into the oil and other futures markets.

    As the volume of speculative trading grows and the amplifying effect of rumor-mongering adds to it, any geopolitical stirring would cause a tsunami on the oil futures market. The speculative investment mania has reached such "unprecedented" severity that the US Commodity Futures Trading Commission announced not long ago it had begun extensive investigation into the suspected oil price-fixing activities on the New York Mercantile Exchange.

    Citing Japan's suspension of rice futures trading to prevent profiteering as an example, Malaysian Prime Minister Abdullah Ahmad Badawi even suggested that international oil futures trading should also be suspended to contain rampant price hikes.

    Lastly, the US and the EU acted on a whim to advocate bio-energy resources and misguided international energy investment.

    Motivated purely by their own interests, the US and the EU have pushed for the use of biofuel, but it failed to stabilize international oil price predictions and caused grain prices to soar worldwide instead.

  2. More on the real reason behind high oil prices
    By F. William Engdahl, 21 May 2008

    As detailed in an earlier article, a conservative calculation is that at least 60% of today's $128 per barrel price of crude oil comes from unregulated futures speculation by hedge funds, banks and financial groups using the London ICE Futures and New York NYMEX futures exchanges and uncontrolled inter-bank or Over-The-Counter trading to avoid scrutiny. US margin rules of the government's Commodity Futures Trading Commission allow speculators to buy a crude oil futures contract on the Nymex, by having to pay only 6% of the value of the contract. At today's price of $128 per barrel, that means a futures trader only has to put up about $8 for every barrel. He borrows the other $120. This extreme "leverage" of 16 to 1 helps drive prices to wildly unrealistic levels and offset bank losses in sub-prime and other disasters at the expense of the overall population.

    The hoax of Peak Oil--namely the argument that the oil production has hit the point where more than half all reserves have been used and the world is on the downslope of oil at cheap price and abundant quantity--has enabled this costly fraud to continue since the invasion of Iraq in 2003 with the help of key banks, oil traders and big oil majors. Washington is trying to shift blame, as always, to Arab OPEC producers. The problem is not a lack of crude oil supply. In fact the world is in over-supply now. Yet the price climbs relentlessly higher. Why? The answer lies in what are clearly deliberate US government policies that permit the unbridled oil price manipulations.

  3. Stagflation is back. Here's how to beat it.
    By Jeffrey D. Sachs, director of the Earth Institute at Columbia University.

    (Fortune Magazine) -- "Three decades ago, in a bleak stretch of the 1970s, an economic phenomenon emerged that was as ugly as its name: stagflation. It was the sound of the world hitting a wall, a combination of no growth and inflation. It created an existential crisis for the global economy, leading many to argue that the world had reached its limits of growth and prosperity. That day of reckoning was postponed, but now, after a 30-year hiatus, at least a mild bout of stagflation has returned, and matters could get much worse. We are back to the future, with the question we asked 30 years ago: How can we combine robust economic growth with tight global supplies of such critical commodities as energy, food, and water? It's worth comparing the earlier episode of stagflation with our current travails to help us find our way. In fact, this time the resource constraints will prove even harder to overcome than in the last round, since the world economy is much larger and the constraints are much tighter than before.

    The similarities with the first half of the 1970s are eerie. Then as now, the world economy was growing rapidly, around 5% per year, in the lead-up to surging commodities prices. Then as now, the United States was engaged in a costly, unpopular, and unsuccessful war (Vietnam), financed by large budget deficits and foreign borrowing. The Middle East, as now, was racked by turmoil and war, notably the 1973 Arab-Israeli war. The dollar was in free fall, pushed off its strong-currency pedestal by overly expansionary U.S. monetary policy. And then as now, the surge in commodity prices was dramatic. Oil markets turned extremely tight in the early 1970s, not mainly because of the Arab oil boycott following the 1973 war, but because mounting global demand hit a limited supply. Oil prices quadrupled. Food prices also soared, fueled by strong world demand, surging fertilizer prices, and massive climate shocks, especially a powerful El Niño in 1972.

    Here we go again. Oil prices have roughly quintupled since 2002, once again the result of strong global demand running into limited global supply. World grain prices have doubled in the past year. Just as in 1972, the recent run-up in food prices is aggravated by climate shocks. Australia's drought and Europe's heat waves put a lid on grain production in 2005-06. Even the politics are strangely similar. In both 1974 and 2008, an unpopular Republican President, battling historically low approval ratings, was distracted from serious macroeconomic policymaking. The country was adrift.

    Then as now, Dick Cheney was close to the helm."

    "(...) Conventional oil supplies will remain tight in the years ahead. New discoveries will not suffice. World crude-oil production nearly tripled in 1960-73 (from 21 million barrels a day to 56 million), but has grown a mere 30% since then, to around 73 million barrels per day in 2006. In fact, Persian Gulf crude-oil production stopped growing entirely after 1974, peaking at around 21 million barrels per day. Discoveries and production increases outside the Middle East rose only modestly and now in many cases are in decline in such fields as Britain's North Sea and Alaska's North Slope."

  4. BBC: Iran has said it considers a military attack on its nuclear facilities by Israel as "impossible".

    "Such audacity to embark on an assault against the interests and territorial integrity of our country is impossible", said spokesman Gholam Hoseyn Elham.

    The statement follows reports in the US media that Israeli aerial manoeuvres over the eastern Mediterranean were a possible test-run for a strike on Iran.

    Iran insists that its nuclear programme is for peaceful purposes.

    (...) The head of the UN's nuclear watchdog, Mohammed ElBaradei, meanwhile said an attack would put Iran on a "crash course" to building nuclear weapons and would turn the region "into a fireball".

    He said he did not believe there was any "imminent risk" of proliferation by Iran given the current status of its nuclear programme.

    In an interview with Al Arabiya television, Mr ElBaradei said that if any military action was taken against Iran he would find it impossible to continue as the head of the IAEA.

  5. Iran withdraws $75 billion from Europe.
    June 16, 2008. TEHRAN (Reuters) - Iran has withdrawn around $75 billion from Europe to prevent the assets from being blocked under threatened new sanctions over Tehran's disputed nuclear ambitions, an Iranian weekly said.

    Western powers are warning the Islamic Republic of more punitive measures if it rejects an incentives offer and presses on with sensitive nuclear work, but the world's fourth-largest oil exporter is showing no sign of backing down.

    "Part of Iran's assets in European banks have been converted to gold and shares and another part has been transferred to Asian banks," Mohsen Talaie, deputy foreign minister in charge of economic affairs, was quoted as saying.

  6. House Resolution Calls for Naval Blockade against Iran
    America's powerful pro-Israel lobby pressures the US Congress


    June 18, 2008. A US House of Representatives Resolution effectively requiring a naval blockade on Iran seems fast tracked for passage, gaining co-sponsors at a remarkable speed, but experts say the measures called for in the resolutions amount to an act of war.

    H.CON.RES 362 calls on the president to stop all shipments of refined petroleum products from reaching Iran. It also "demands" that the President impose "stringent inspection requirements on all persons, vehicles, ships, planes, trains and cargo entering or departing Iran."

    Analysts say that this would require a US naval blockade in the Strait of Hormuz.

    Since its introduction three weeks ago, the resolution has attracted 146 cosponsors. Forty-three members added their names to the bill in the past two days.

    In the Senate, a sister resolution S.RES 580 has gained co-sponsors with similar speed. The Senate measure was introduced by Indiana Democrat Evan Bayh on June 2. In little more than a week’s time, it has accrued 19 co-sponsors.

    AIPAC's Endorsement

    Congressional insiders credit America’s powerful pro-Israel lobby for the rapid endorsement of the bills. The American Israel Public Affairs Committee (AIPAC) held its annual policy conference June 2-4, in which it sent thousands of members to Capitol Hill to push for tougher measures against Iran. On its website, AIPAC endorses the resolutions as a way to ''Stop Irans Nuclear Proliferation" and tells readers to lobby Congress to pass the bill.

    AIPAC has been ramping up the rhetoric against Iran over the last 3 years delivering 9 issue memos to Congress in 2006, 17 in 2007 and in the first five months of 2008 has delivered no less than 11 issue memos to the Congress and Senate predominantly warning of Irans nuclear weapons involvement and support for terrorism. -- Global Research.

  7. Worst of times for Iran

    24-06-2008. What happened to the US$35 billion of oil revenues that Iran's Shabab News, in a now notorious account, claims disappeared from official accounting during the year through March 2008? Half the country's oil revenues disappeared from the books. A great deal of it left the country for banks in Dubai in the United Arab Emirates and elsewhere; capital flight already was running at a $15 billion annual rate last year, by my estimate.

    During the past year, though, conspicuous consumption in the form of a luxury housing boom has absorbed even more of Iran's oil windfall. Luxury apartments in Tehran's better neighborhoods now sell for $15,000 per square meter, Agence France Presse reported May 26, equal to the best neighborhoods in Paris or New York. A 200-square-meter apartment in northern Tehran sells for about $1 million. Real estate prices in outlying suburbs and some provincial cities have doubled over the past year.

    Corruption has metastasized, that is to say, for the scale of the property boom implies that tens of thousands of Iranians are taking six-to-seven figure bites out of the oil budget. Rather than a handful of officials siphoning state funds into bank accounts in Dubai, an entire class of hangers-on of the Islamic revolution is spending sums beyond the dreams of the average Iranian, and in brazen public view. -- By Spengler, in Asia Times.

  8. June 18, 2008. Representative Ron Paul says House Speaker Nancy Pelosi removed a section from a bill passed by Congress which would have barred the U.S. from going to war with Iran without a congressional vote, claiming she did so at the behest of the leadership of Israel and AIPAC. -- in Newsmax.

  9. "In May 1973, with the dramatc fall of the dollar still vivid, a group of 84 of the world's top financial and political insiders met at Saltsjöbaden, Sweden, the secluded island resort of the Swedish Wallenberg banking family. This gathering of Prince Bernhards's Bielderberg group heard an American participant, Walter Levy, outline a 'scenario' for an imminet 400 per cent increase in OPEC petroleum revenues. The purpose of the secret Saltsjöbaden meeting was not to prevent the expected oil price shock, but rather to plan how to manage the about-to-be-created flood of oil dollars, a process U.S. Secretary of State Kissinger later called 'recycling the petrodollar flows'.

    (...) "Present at Saltsjöbaden that MAy were Robert O. Anderson of Atlantic Richfield Oil Co.; Lord Greenhill, chairman of British Petroleum; Sir Erik Roll of S.G. Warburg, creator of Eurobonds; George Ball of Lehman Brothers investment bank, and the man who some ten years earlier, as assistant secretary of state, told his banker friend Siegmund Warburg to develop London's Eurodollar market; David Rockefeller of Chase Manhattan Bank; Zbigniew Brzezinski, the man soon to be President Carter's national security adviser; Italy's Gianni Agnelli and Germany's Otto Wolff von Amerongen, among others. Henry Kissinger was a regular participant at the Biderberg gatherings.

    (...) "What the powerful men grouped around Bilderberg had evidently decided that May was to launch a colossal assault against industrial growth in the world, in order to tilt the balance of power back to the advantage of Anglo-American financial interests and the dollar. In order to do this, they determined to use their most prized weapon -- control of world's oil flows. Bilderberg policy was to trigger a global oil embargo, in order to force a dramatic increase in world oil prices. Since 1945, world oild had by international custom been priced in dollars, since American oild companies dominated the postwar market. A sudden sharp increase in world demand for U.S. dollars to pay for that necessary oil.

    (...) On October 6, 1973, Egypt and Syria invaded Israel, igniting what became known as the Yom Kippur War. Contrary to popular impression, the 'Yom Kippur' War was not the simple result of miscalculation, blunder or an Arab decision to launch a military strike against the state of Israel. The entire constellation of events surrounding the outbreak of the October War was secretly orchestrated by Washington and London, using the powerful secret diplomatic channels developed by Nixon's national security adviser, Henry Kissinger.

    (...) " From 1949 until the end of 1970, Middle East crude oild prices had averaged approximately $1.90 per barrel. They had risen to $3.01 in early 1973, at the same time of the fateful Saltsjöbaden meeting of the Bielderberg group, which discussed an imminet 400 per cent future rise in OPEC's price. By January 1974, that 400 per cent increase was a fait accompli." -- William Engdahl, A Century of War.

OAM 378 23-06-2008, 01:19 (última actualização: 23-06-2008, 23:20)

segunda-feira, maio 26, 2008

Petroleo 16

Refinaria da GALP, Sines
GALP, Refinaria de Sines. Para onde vai a gasolina refinada em excesso?

Cartel, ganância e falta de regulação

O mundo caminha para uma mutação dramática do seu modelo energético. Deixaremos em breve o paradigma do desenvolvimento e do progresso assentes na afluência de energias baratas. Vale a pena ler, a este propósito, The Oil Depletion Protocol, proposto à discussão por Richard Heinberg. No mundo que espreita ao virar da esquina teremos que saber redefinir drástica e corajosamente o sentido da vida e as nossas metafísicas. - in O António Maria, 01-12-2005.

O facto de a especulação petrolífera ser um fenómeno geral nos países que privatizaram e liberalizaram este negócio (mas não na Rússia, nem na China, nem no Irão, nem nos Emiratos Árabes Unidos, nem na Venezuela...), não impede que desmontemos os estratagemas da formação dos lucros escandalosos e ilegítimos da GALP e demais fornecedores de gasolina e gasóleo a operar no nosso país. O economista Eugénio Rosa, do PCP, fê-lo de forma clara e sucinta em dois documentos, respectivamente publicados em março e maio deste ano.

No essencial, ficamos a saber três novidades muito importantes, e que deveriam ser as principais bases de interpelação ao governo:
  1. que os preços do gasóleo e da gasolina produzidos em Sines são, antes de lhes serem aplicados quaisquer impostos, mais caros em Portugal do que na média da União Europeia a 15 (UE15);
  2. que os preços destes produtos, depois de lhes serem aplicados os impostos e taxas, continuam a ser mais caros no nosso país do que na média da UE15, não só porque os produtos refinados em Sines saem mais caros, mas ainda porque a nossa fiscalidade energética (e em especial petrolífera) é em regra mais gravosa que a da média da UE15;
  3. que pelo menos a GALP especula com a subida dos preços do crude, tendo ficado demonstrado já que essa especulação lhe valeu um sobre-lucro de 21 milhões de euros no primeiro trimestre de 2007, e um sobre-lucro de 69 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano. Ou seja, o tal "efeito stock" -- i.e., "a diferença entre o preço a que a GALP adquiriu o barril de petróleo, muito mais baixo porque foi comprado cerca de 2,5 meses antes da sua utilização, e o preço a que depois foi considerado para cálculo do preço de venda de combustíveis aos portugueses" (Eugénio Rosa) -- traduziu-se, entre o primeiro trimestre de 2007 e o primeiro trimestre de 2008, num aumento dos sobre-lucros de 286% !
Se pensarmos que um dos factores de produção que influi na formação do preços finais dos carburantes (refinação, transporte, distribuição, gestão e publicidade) advem dos salários de quem trabalha na GALP e para a GALP, os quais, à excepção das remunerações dos altos funcionários da empresa, correspondem a metade ou mesmo menos de metade da factura social das demais congéneres europeias, ninguém consegue entender como podem o gasóleo e a gasolina, antes de qualquer imposto, custar mais em Portugal do que na França, na Alemanha, no Reino Unido e na média dos países da UE15!

Sabendo-se, por outro lado, que a refinação do crude gera, por exemplo, mais gasolina daquela que conseguimos consumir, e que portanto um tal excedente é vendido a terceiros países (nomeadamente aos Estados Unidos), sempre gostaríamos de saber a que preços saem as gasolinas de 95 e 98 octanas para tais clientes.

Provada a actividade especulativa da GALP (enfim falta que a famigerada entidade reguladora e fiscalizadora o faça!), não resta outro caminho democrático que não seja aplicar a lei ao que não poderá deixar de ser considerada uma actividade ilícita, danosa para o país e sobretudo reveladora da mais escandalosa insensibilidade de um monopólio onde o Estado português está presente com uma participação acumulada significativa: Parpública - Participações Públicas (SGPS), S.A. - 7%; e Caixa Geral de Depósitos, S.A. - 1% .

Para além deste aspecto do problema -- o preço antes de impostos é descaradamente abusivo e especulativo --, temos ainda que atacar a questão da fiscalidade.

O Estado precisa de dinheiro. Pois precisa... Resta saber para fazer o quê!
A fiscalidade imposta aos carburantes tem servido ao que parece para financiar o descalabro das SCUTs. Se o petróleo estivesse a 20 euros, com tendência para descer, ainda se poderia equacionar a ideia de usar o ISP para continuar a financiar as nossas redes de estradas e auto-estradas. Mas no panorama em que estamos, e que não vai melhorar, antes irá piorar daqui para a frente, tal ideia só poderá conduzir a péssimos resultados e sucessivos embaraços. Na situação em que nos encontramos, é realmente complicado baixar a carga fiscal aplicada aos carburantes, não aumentando em compensação outros impostos correlacionados com o transporte rodoviário... Mas uma coisa, pelo menos, devemos aprender de uma vez por todas: não é possível continuar a construir autoestradas por esse país fora, sem previamente saber se as ditas são ou não absolutamente imprescindíveis e bancáveis.

Como dizia e bem Manuela Ferreira Leite, o país precisa de atrair investimento, muito investimento. Ora investimento é precisamente coisa que neste momento não existe em nenhuma parte do planeta que não disponha de riqueza acumulada e dos famosos Fundos Soberanos! Muito menos num país depenado como o nosso. A banca está seca que nem um carapau. Temos uma dívida pública astronómica para a nossa dimensão. As corporações da justiça e da medicina são verdadeiros cancros que matam o país por dentro. Em suma, sem uma fiscalidade minimamente competitiva, não vamos a parte nenhuma. São, como diz uma crítica americana que adoro ler (Elaine Meinel Supkis) os Cornos do Dilema!

Tabela

Manuela Ferreira Leite não subscreve redução do ISP
«A redução do imposto sobre as petrolíferas é algo que parece muito fácil, mas para que o Estado o consiga tem duas hipóteses - ou vai criar outro imposto ou vai reduzir uma despesa, que não se está a ver qual é» -- Manuela Ferreira Leite, 26-05-2008 - 09:00 Lusa, Sol.

Custa admiti-lo, mas Manuela Ferreira Leite tem absoluta razão no que diz sobre o ISP.
  1. O problema da especulação sobre o petróleo veio para ficar e é estrutural. O pico petrolífero foi atingido mais cedo do que se previa, nomeadamente no México, no Mar do Norte e na Rússia!
  2. Se for aliviado o ISP, qualquer governo irá buscar noutro canto a receita fiscal perdida, estimulando as condições para uma guerra fiscal no seio da sociedade!
  3. Podemos actuar sobre a especulação da GALP, por razões de moralidade pública, e devemos fazê-lo; mas os resultados úteis serão ainda assim parcos no preço final de um bem cada vez mais escasso, que vai continuar a encarecer, e que não tem alternativas comerciais (i.e. mais baratas) à vista.
  4. Temos que aproveitar esta crise para uma revolução na eficiência energética do país, único caminho seguro para evitar o desastre. Esta alternativa política e cultural afectará tudo e todos, e será em muitos casos uma boa oportunidade para a criatividade, para a produção, para o trabalho e para novas trocas comerciais;
  5. Apesar de criticar asperamente o governo PS em muitos domínios, devo reconhecer que tem sido muito ágil na negociação da nossa segurança energética para o intervalo decisivo da metamorfose energética que agora começa, e que se prolongará convulsivamente até 2020, 2030... e 2050. Ano em que muita coisa terá mudado à face da Terra.
  6. Aos consumidores, sejam eles quais forem, uma recomendação: façam uma tabela dos gastos com gasóleo e/ou gasolina e eliminem imediatamente todas as deslocações supérfulas; depois estudem e busquem soluções que possam optimizar na vida doméstica e na vida profissional o tamanho da pegada ecológica, modificando progressivamente o modus operandi da casa, do emprego, da empresa e dos negócios.
  7. Manuela Ferreira Leite demonstrou na resposta que deu à questão do momento ser a personalidade credível e responsável que o PSD merece para regressar ao planalto do poder, de onde foi sendo expulso por demasiados acidentes e disparates de percurso.
Mais petróleo em Tupi, com Galp pelo meio!
  • Continua a ser descoberto mais petróleo nos lençóis de profundidade do campo Tupi (desta vez a 6.773 metros), situado em pleno Atlântico, na ZEE brasileira, a 250 Km do Estado de São Paulo. Tupi é a maior reserva petrolífera encontrada no Hemisfério Ocidental desde que foi descoberto, em 1976, o grande poço de Cantarell, no Golfo do México, que entretanto já atingiu o respectivo pico produtivo.
  • Petrobras detem 66% da nova parcela descoberta, a Royal Dutch Shell PLC detem 20% e a Galp Energia, 14%. -- in Steel Guru.
  • Receita: faça um plano de emergência energética pessoal, reduza de forma consciente e ponderada as despesas com energia, invista o resultado da poupança em acções da Galp Energia. Não venda nos próximos anos nenhuma destas acções!

OAM 369 26-05-2008, 03:036 (última actualização 27-12-2008 23:03)