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segunda-feira, novembro 18, 2024

Haiti, uma sociedade pós-colonial falhada

Manuel López López - John Carter Brown Library, Public Domain, Wikimedia



O Haiti foi a primeira república da América Latina e a segunda do continente americano, depois dos Estados Unidos, a ser constituída. Foi o primeiro estado do mundo a nascer de uma revolta de escravos (1791), libertando-se do jugo colonial francês. O primeiro governo nascido da revolução Haitiana (1791-1804), interracial, presidido por antigo escravo, aboliu a escravatura, mas não o trabalho 'obrigatório' remunerado (trabalho forçado), que persistiu durante todo o século 19. 

O Código Rural, de 1926, não deixou lugar a dúvidas:

Art. 2: Os cidadãos de profissão agrícola não podem abandonar seus trabalhos exceto em casos previstos pela lei;
Art. 3: todos os cidadãos são obrigados a apoiar o Estado... aqueles que não estiverem engajados em cargos civis nem requisitados pelo serviço militar, os que não exercem
nenhuma profissão... enfim, todos aqueles que não puderem comprovar seus modos de existência, deverão cultivar a terra.

O Haiti sem escravos inspirou os movimentos abolicionistas da escravatura em todo o continente americano, e depois em África.

No entanto, como hoje se sabe, o fim da escravatura não significou o trabalho livre, nomeadamente entre os povos do Haiti, mas também do resto do continente americano. Pelo contrário, miséria decorrente da monocultura açucareira e da incapacidade dos sucessivos governos de criar verdadeiras democracias deixou feridas profundas na sociedade do Haiti até hoje.

Este tem sido um exemplo paradigmático de um 'estado falhado' e de como um 'estado falhado' pode durar muitos anos. décadas, e até séculos!

O debate pós-colonial ainda nem começou!

Nota—Ao escrever este comentário a um artigo do The New York Times sobre a permanente tragédia haitiana, encontrei este precioso texto de João Pedro Marques no Observador: "Os negros e o trabalho forçado de outros negros".