Mostrar mensagens com a etiqueta transição. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta transição. Mostrar todas as mensagens

sábado, abril 04, 2015

Transição ou barbárie

Average annual GWP growth rate from 1,000,000 BCE to 2011. 2011 GWP adjusted with CPI data. Wikipedia
Clicar na imagem para ampliar

Poderemos agir sem cair em novas ilusões?


Os diagnósticos da situação estão feitos. Falta saber o que fazer....

Falta-nos uma visão para futuro. E antes de a termos, subir ao poder não chega. Veja-se o caso francês, ou pior ainda, o grego. As receitas dos sucessivos revisionistas do marxismo não têm resolvido coisa nenhuma.

Há um islandês, Frosti Sigurjonsson, que quer proibir os bancos de criarem dinheiro (que efetivamente criam sob a forma de crédito), reservando esta tarefa exclusivamente aos bancos centrais (Monetary Reform). 

Na perspetiva de termos pela frente décadas sem criação significativa de novos empregos, e declínio do emprego existente, há quem proponha a criação de uma responsabilidade fiscal coletiva a que chama Rendimento Básico Incondicional, ou Renda Básica de Cidadania.

Thomas Piketty defende a criação de uma taxa sobre as grandes fortunas, embora o jovem Matthew Rognlie (Deciphering the fall and rise in the net capital share) tenha recentemente deitado alguma água na fervura do maniqueísmo esquerda-direita. Seja como for, a taxa sobre as fortunas não chegaria para tapar, nem o buraco do desemprego, nem o buraco do endividamento astronómico, público e privado, nem a exposição da economia global e do seu sistema financeiro ao buraco negro dos derivados especulativos (OTC), cujo potencial de destruição equivale a 10x o PIB mundial!

A verdade é que entrámos numa era nova caracterizada por:

— escassez de energia e matérias primas baratas
— excesso de capacidade produtiva e pseudo-inovação
— inflação dissimulada
— rendimentos do trabalho, mesmo qualificado, em queda imparável (1)
— elevados níveis de desemprego estrutural
— diminuição da procura agregada mundial por efeito da carestia escondida e do número crescente de pessoas desempregadas e à procura do primeiro emprego
— economia especulativa e endividamento excessivo por toda a parte
— sistema financeiro em processo de implosão

Em Portugal falta assistirmos ao colapso dos sistemas de proteção social, por enquanto protegidos pelos programas de resgate financeiro da Troika, para que as condições subjetivas de um terramoto social e político ocorram. Por enquanto, os milhares de milhões de euros que saem anualmente da dívida pública e da repressão fiscal em curso, para os mais necessitados, somados às receitas da emigração e do turismo têm conseguido impedir que a pressão social rebente com o regime. Resta saber até quando.

O ponto fulcral da rotura que se aproxima chama-se segurança social.

Não há dinheiro para manter o sistema de pensões e reformas atual, nem para acudir ao desemprego e falta de emprego que não param de crescer. Para evitar uma revolução, ou uma guerra civil, será preciso encontrar uma solução estrutural para estes dois problemas gravíssimos. Renegociar as predadoras PPP que os idiotas 'socialistas' introduziram irresponsavelmente no país, e de que a redução das criminosas rendas da energia é a primeira prioridade, terá que ser obrigatoriamente feito durante a próxima Legislatura, pois a atual já praticamente terminou. Estamos em plena campanha eleitoral.

Mas há outro ponto nevrálgico que precisa de sofrer uma transformação radical: o peso insustentável do Estado, esse monstro informe, incompetente, hipertrofiado, burocrático e corrompido até à medula que, a continuar a substituir-se à democracia, acabará por liquidá-la. A tendência para o fascismo fiscal é já uma das mais perigosas evidências da sua deriva autoritária.

Que fazer?


Não tem faltado discussão sobre as causas. Chegou o momento de discutir as soluções difíceis.

Sete pilares para uma estratégia reformista necessária
  1. Distribuição das responsabilidades da sociedade relativas à saúde, ao ensino, à solidariedade e à proteção social, por três setores dotados de autonomia efetiva e transparência obrigatória: o Estado e as suas autarquias; o setor privado (não subsidiado); e o setor associativo sem fins lucrativos (parcialmente subsidiado)
  2. Criação das cidades-região de Lisboa e do Porto, com fusão total das respetivas autarquias, e racionalização dos respetivos serviços.
  3. Introdução, por fases, de um sistema cuidadosamente estudado de Renda Básica de Cidadania, eliminando automaticamente todos os embustes associados atualmente à gestão do desemprego (pseudo formação profissional, etc.) e à gestão das carências familiares e individuais extremas.
  4. Redução em 30% dos custos com o pessoal político-partidário do regime (menos deputados nacionais, regionais e autárquicos, menos fnanciamento partidário, etc.)
  5. Definição de uma política de infraestruturas, mobilidade e transportes racional, onde o estado esteja presente apenas no financiamento/posse das infraestruturas, que são públicas, entregando à concorrência privada a exploração dos serviços, que deverão ser objeto de cláusulas estritas de salvaguarda do interesse público.
  6. Convergência financeira, fiscal, estatística e da competitividade com o resto da União Europeia.
  7. Manutenção de reservas de soberania em matéria de defesa, política externa e alianças, proteção do território continental, insular e marítimo, e proteção dos recursos estratégicos próprios (a poupança e a propriedade privada, a energia, a água, a diversidade biológica, a língua e a cultura).

Como fazer?


Será preciso um novo partido? Mais partidos? As próximas eleições irão demonstrar (ao contrário do que cheguei a crer) que um molho de novos partidos não será porventura a via mais realista para encetar o inadiável processo de transição para uma sociedade mais austera, mas também mais solidária, mais transparente, mais humana e mais genuinamente criativa.

Talvez seja possível forçar uma mudança do regime sem precisarmos de destruir os atores existentes. Bastaria para tal que estes fossem capazes de adaptar-se rapidamente aos novos tempos, começando por fazer a sua própria e necessária dieta mental e física.

Por outro lado, está a nascer uma Democracia Eletrónica, em rede, multipolar, heterogénea, mas genuína, cuja capacidade de mudar os acontecimentos é cada vez mais palpável. Falta apenas descobrir as articulações pragmáticas entre estes dois mundos existenciais, material um, imaterial o outro, para que o diálogo democrático dê lugar a verdadeiros processos metamórficos de transição civilizacional e cultural.

Temos que conservar, alimentar e usar com criatividade e entusiasmo a réstea de otimismo que há em cada um de nós.

NOTAS
  1. Gigantes das telecomunicações estão a contratar em Portugal licenciados a 1000 euros por 30 dias de trabalho e oito horas por dia, ou seja, 4,17 € por hora, 7 dias por semana, e nenhum descanso semanal! Outro exemplo: a Câmara Municipal de Lisboa, gerida por 'socialistas', tem nos seus variadíssimos tentáculos pseudo-empresariais dezenas de 'voluntários' a trabalhar para si sem lhes pagar um cêntimo que seja. Nem sequer lhes fornece uma refeição diária, ou paga um passe social de transportes... Não é escravatura, mas anda perto.


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

quarta-feira, agosto 13, 2014

Nem Vasco Gonçalves foi tão longe

Vasco Gonçalves, o PM que nacionalizou a banca em 1975


Por vezes confundimos a 'esquerda' com o instinto de sobrevivência do capitalismo

«(...) O BdP deliberou que o Novo Banco vai exigir aos “cônjuges, parentes ou afins em primeiro grau ou terceiro” que comprovem o direito aos fundos depositados que lhes pertencem “efectivamente”. Para isso, serão tidas em conta “as actividades profissionais das pessoas em causa, o seu grau de dependência em relação às pessoas e entidades […], o seu nível de rendimentos e o montante depositado”, esclarece o regulador. Estas provas devem ser documentadas e arquivadas “em termos que permitam o controlo e fiscalização das decisões tomadas”.

Outra das clarificações prende-se com a transferência para o Novo Banco do crédito do BES sobre a Espírito Santo Financial Group garantido pelo “penhor financeiro da Companhia de Seguros Tranquilidade”. Permanecem no BES “todos os direitos de crédito relacionados com o Grupo Espírito Santo (GES), com excepção daqueles que se incluem no perímetro de consolidação do grupo BES e daqueles que estão relacionados com seguradoras supervisionadas pelo Instituto de Seguros de Portugal”. (...)»

Público, 12/08/2014 - 10:30

É por estas e por outras que os burocratas e lobistas da dita 'esquerda' andam completamente às aranhas...

A direita mata e esfola. Que pode fazer a ridícula 'esquerda' do capitalismo de estado, burocrático e proto-fascista em matéria fiscal que temos? Marinho Pinto escusa de vir a correr para Lisboa!

Como há muito escrevemos sobre as consequências inevitáveis do buraco negro da especulação financeira que alimentou, pela via da monetização das dívidas e da expansão monetária, o capitalismo consumista e cada vez mais burocrático do Ocidente, haveria um momento em que os estados agiriam com pata pesada sobre o sistema financeiro. Tal ocorreria, como está a acontecer desde o colapso da Islândia, desde a nacionalização do Lloyds Bank, desde confisco bancário de Chipre, desde o confisco fiscal em curso em França, Itália, Grécia, Espanha, Portugal, etc., e desde a execução do BES, quando a ameaça social sobre a estabilidade sistémica dos regimes demo-populistas ultrapassasse um certo limiar. Ultrapassou.

Ao contrário dos tempos do explosivo e expansionista capitalismo industrial, que viu desenvolver os socialismos revolucionários de que a indigente esquerda atual é a herdeira oportunista em fim de linha, as correções do sistema são agora operadas por quem está no poder. Tanto faz ser um governo pseudo 'social-democrata', um governo pseudo 'liberal' ou outra coisa informe qualquer.

Vivemos num mundo complexo em transição para sociedades cognitivas avançadas que terão que mudar, de alto abaixo, o perfil cultural da economia.

O desperdício nas sociedades consumistas, burocráticas e paternalistas atuais (tanto faz serem dirigidas por 'socialistas' ou 'neoliberais') é imenso e completamente insustentável. Provavelmete teremos que caminhar mais depressa do que se supunha para uma espécie de sociedade de recursos mínimos garantidos (social flat rate society— I would say it in English) onde todas as pessoas tenham acesso gratuito, sem exceção, a recursos e consumos mínimos monitorizados — abrigo, água, alimentos, energia, transportes sociais, e realidade aumentada: tele-estado, tele-trabalho, tele-economia, tele-finanças, tele-medicina, tele-aprendizagem contínua —as palavras 'educação' e 'formação' devem ser abolidas pela sua natureza intrinsecamente paternalista e autoritária—, e tele-cultura.

Garantindo-se estes mínimos per capita, que serão calibrados diferentemente consoante os indíviduos vivam predominantemente em ambientes rurais ou urbanos, e consoante também o PIB per capita de cada país e região, desenvolver-se-ão naturalmente dois novos setores sociais: o setor coopetitivo de mercado e o setor voluntário. Dou-vos um exemplo: neste blogue escrevi voluntariamente e sem remuneração, até hoje, 1638 textos. O facto de não ter sido remunerado por este trabalho não significa que o mesmo não tenha sido realizado, ou que não contribua para o PIB nacional, ou para o setor de exportação de bens intangíveis. Alguém sabe como calcular este valor? Pois, é preciso fazer uma revolução teórica na economia!

Neste ambiente para onde caminham as sociedades avançadas, nem tudo está definido à partida. Deus não existe. Logo, a opção será entre sociedades baseadas na liberdade, na leveza institucional e na transparência, e sociedades neo-fascistas disfarçadas de democracias justiceiras com sucessivas camadas de adoçante populista e uma total manipulação das massas.  Qual queremos?

A dicotomia 'esquerda'/'direita' é uma ilusão do passado, como bem o demonstra a execução do BES.

Ou pensamos fora da caixa (ver diagrama), ou morreremos todos sufocados pelo situacionismo oportunista.

Parece pouco, mas é a única revolução por vir.


ANEXO: DIAGRAMA DA NOVA ECONOMIA


Atualização: 13/8/2014, 12:41 WET