Os pedófilos continuam à solta, arrogantes e, pelos vistos com poder. Dos fracos não reza a história e parece que um destes irá parar a Primeiro Ministro sem saber ler nem escrever. O naciturno demitido continua a levar estaladas e a delirar. Teremos mesmo que votar no Bloco? Que venha o Cavaco, porra!
Depois do terramoto de 1755 a Europa nunca mais foi a mesma. Se Deus tratava assim os seus mais dedicados e submissos servos, ficava provada à evidência que, das duas uma, ou aquela enteléquia não passava de espuma metafísica, ou seria um ente sádico consumado. Como de nenhuma destas alternativas poderia decorrer a prova da existência divina, o melhor seria mesmo enterrar o respectivo dogma e começar a reduzir os vendilhões do templo à sua expressão mais simples. Napoleão, e antes dele Henrique VIII, compreenderam-no perfeitamente, e começaram assim a heroica tarefa de dar a César o que é de César (e depois ao Povo o que é do Povo), limitando com clareza os latifúndios, até aí escandalosamente vastos e laicos, dos vários cleros em exercício. A ironia permaneceu: enquanto isto se passava na Europa além Pirinaica, permitindo a essa Europa desemburrar e preparar-se para a liberdade democrática, pelas Espanhas, ao contrário, persistiram o poder, as mordomias e o atavismo cultural dos anafados vigários do Senhor. O resultado está bem à vista na pantomima em que se transformou a chamada política à portuguesa: continuação da interferência indevida da hierarquia católica na vida laica do País; endogamia persistente no seio das castas dominantes (onde continuam a predominar Ordens, Irmandades e Obras clandestinas); subsidiodependência; analfabetismo (literal e funcional); autoritarismo estatal e burocracia; corrupção; bloqueio mental generalizado; pequenez e, osso realmente duro de roer, uma incurável pandemia de social-porreirismo, irresponsabilidade cívica, laxismo e estupidez.
A democracia foi uma choldra durante a Primeira República. A democracia continua a ser uma choldra na Segunda República. No intervalo entre ambas ocorreu um espirro de ditadura de aldeia, isolacionista e fervorosamenmte católica (apesar da Concordata). Os condes de Abranhos dominaram sempre e continuaram a dominar enquanto houve mesadas generosas para gastar, longe da ralé de pé descalço, ranho no nariz e massa cinzenta atrofiada. O pior agora é que Papá faliu, as árvores das patacas secaram e parece que o Além vai deixar de subsidiar a nossa proverbial pacatez. Vêm aí os Espanhois?! Não, vem aí toda a gente!
Vamos ter novas eleições. E a pergunta pertinente é: servirão para algo? O PSD, entregue como está, a uma pandilha de teddy boys corre o risco de ser partido ao meio depois das eleições, indo uma das metades parar ao cesto de Paulo Portas, e a outra, ao regaço de Manuela Ferreira Leite. O PP de Paulo Portas tem aqui a sua grande chance de crescer até aos 10-15%, sobretudo se souber apoiar Cavaco Silva. O Bloco, cujo líder teve entretanto o cuidado de extinguir o PSR, pode igualmente crescer em movimento simétrico ao do PP, bastando para tal manter um discurso político europeu actualizado, por contraposição aos tiques primitivos de que enfermam boa parte dos restantes políticos em todo o restante espectro político. O Partido Socialista, se não conseguir derrotar a manobra provocatória de Paulo Pedroso, acusado uma vez mais de pedofilia, só que desta vez, em tribunal, pelo confesso Bibi..., bem pode começar a descontar da sua contabilidade eleitoral umas boas dezenas de milhar de votos, a começar pelo meu. O PCP já não conta, ou contará cada vez menos. E o pseudo partido dos salamaleques, capitaneado por esse indescritível pedaço de asno chamado Manuel Monteiro, não passa de um erro de casting televisivo. Resumindo, somos bem capazes de ter pela frente o cenário seguinte: um PS de novo em minoria, i.e. maioria relativa [20.02.2005], na Assembleia da República, dilacerado pelas suas actuais contradições internas (que a avaliar pelo caso Paulo Pedroso, têm que ser muito sérias e preocupantes); Santana, completamente estirado no tapete da noite eleitoral, murmurarndo umas frases astrológicas indecifráveis; e dois inesperados vencedores: Paulo Portas e Francisco Louçã. Deste último dependerá, muito provavelmente, a estabilidade governativa até ao fim do novo e curto ciclo governativo do Partido Socialista.
Alguém sugeriu que eu estava a delirar. É bem possível. Mas também é possível que os meus raciocínios façam algum sentido, e nesse caso, esperam-nos tempos muito curiosos. Se assim for, que mil novos partidos e organizações políticas floresçam por esse País fora. Precisamos todos de uma grande varridela cultural e de sangue novo à frente das engrenagens que fazem mexer esta praia solarenha e preguiçosa. Seria bem bom que isto, em vez dos pactos podres sugeridos por Jorge Sampaio, e das miragens de Salvação Nacional estremunhadas por Mários Soares, acontecesse antes do desejado Cavaco Silva ascender ao poder.
O-A-M #66 04 Janeiro 2005