Mostrar mensagens com a etiqueta Europa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Europa. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, novembro 18, 2024

A próxima grande guerra na Europa

A C-P + DALL.E, War, 2023

More than 70% of young respondents in Western Europe see terrorism as the biggest threat to European security, followed by concerns about cyberattacks, natural disasters due to climate change, and Russia. Furthermore, almost half of them believe their country will be directly involved in an armed conflict within the next ten years. Yet, all that being said, young people do not view security and defence as a structural concern given the absence of an imminent threat to their own countries. Other issues and policies, such as healthcare and education, are perceived as having a greater relevance for their daily lives.  
Next-Generation Security 
This research program analyses the European youth's perceptions of the security and defence landscape and its future. 
ie UNIVERSITY, Segovia, Spain 
@ieuniversity


A Rússia de Putin é uma autocracia medievo-industrial, assassina por herança histórica, incapaz de evoluir, salvo se voltar a ser ocupada, embora desta vez por um poder mais civilizado, a Europa, em vez de um da mesma laia, a China...

A probabilidade de uma guerra alargada entre a Europa e a Rússia, com botas europeias nos campos de batalha, e assistência norte-americana à distância, parece evidente a um número crescente de europeus.

Assim sendo, valem os velhos provérbios: mais vale prevenir do que remediar; há que pôr as barbas de molho; em tempo de guerra não se limpam espingardas; quem vai para o mar avia-se em terra...

Este cenário mais do que provável terá implicações profundas em Portugal, desde logo quando for intimado a subir o orçamento da defesa para os 3%. Os oportunistas, incompetentes, corruptos e indigentes populistas que desgraçadamente nos governam só irão mexer-se quando forem ferrados, e bem ferrados, pelos credores.

domingo, maio 14, 2023

Um mundo multipolar?

Mapa português (1502), dito Planisfério de Cantino

Bretton Woods and the post-Cold war solidified the position of the United States as the leading, sometimes only superpower in the financial and military world. But it didn’t always do it by force, as many assume, and it didn’t do it alone. Everything settled out that way because that is the lowest energy, the most efficient state for society to be in, and it’s going to take more than Xi’s dreams and Putin’s hallucinations to change it.

Haverá neste momento, ou nos tempos mais próximos, alguma alternativa à hegemonia norte-americana, ou euro-americana, para ser mais claro?


Teoricamente, sim, ou assim pensei nos últimos anos, até que Putin perdeu a cabeça e invadiu a Ucrânia. Seria uma espécie de Tratado de Tordesilhas 2.0. Hoje, porém, não sei como é que a China conseguiria impor aos Estados Unidos e à Europa uma nova divisão do mundo.

Quando portugueses e castelhanos se sentaram à mesa para dividir o novo mundo entre si havia um equilíbrio entre os dois países em matéria de exploração marítima de novos continentes. Os portugueses estavam mais avançados do que os espanhóis nas artes de navegação, mas a tecnologia passou por osmose para o resto da península. Os holandeses precisaram de quase três séculos para disputar o mesmo território 'descoberto' (terminologia inaugurada pelos portugueses) e 'conquistado' (a terminologia espanhola que nunca mudou...). O negócio foi, portanto, possível porque havia uma espécie de paridade tecnológica e mapas de navegação e de marear que só as elites e os marinheiros ibéricos conheciam. E também porque o tratado foi concebido e assinado entre dois estados concorrentes, mas irmanados numa mesma genealogia religiosa e cultural. No caso da China que hoje desafia a América e o resto do mundo com a sua prosápia, tal equilíbrio não existe. Pelo contrário, os países da Ásia e da África que ainda não estavam avisados para o novo perigo chinês acordaram depois da invasão da Ucrânia e depois de perceberem em toda a sua extensão a bestialidade imposta pelos cretinos prepotentes de Pequim a mais de 1,3 mil milhões de desgraçados. O senhor Xi, se queria um Tratado de Tordesilhas 2.0, tê-lo-à porventura perdido depois exibir a sua falta de inteligência (e desespero) na gestão da pandemia, piorando ainda mais as coisas à medida que se foi colocando ao lado da besta de Moscovo. Em suma, estou hoje menos convicto que seja possível dividir o planeta entre dois gigantes. 

Os Estados Unidos e a Europa sairão reforçados desta enorme e sangrenta crise em curso, ao contrário do que sopram as anafadas excrescências do marxismo retardatário da laia do Boaventura Sousa Santos e quejandos. Chomsky, por outro lado, é um moralista obtuso.

sexta-feira, outubro 15, 2021

A incerta Europa das nações

 

Guerra Civil de Espanha
Mapa da Guerra Civil de Espanha

Ao contrário da tese de Jean Delumeau —de que o mapa da Europa foi essencialmente definido entre 1320 e 1620 (La Civilization de la Renaissance, 1984)—, as duas últimas guerras mundiais, a guerra que se seguiu ao colapso da Jugoslávia protagonizada por Tito, o colapso da antiga URSS, os movimentos de autonomia e independência irlandês do norte, catalão, escocês, flamengo, italiano do norte e o Brexit provam que o mapa europeu continua instável. Observando esta cronologia de perto, vale a pena perguntar: podemos confiar em Madrid? Sabe-se hoje que Franco, vencedor da guerra civil espanhola de 1936-39, mandou elaborar um plano de invasão de Portugal que seria executado caso as potências do Eixo vencessem a guerra. Tentou mesmo obter (sem sucesso) a aprovação antecipada dos seus desígnios por parte de Mussolini e de Hitler.

Não é a nova rede de Alta Velocidade ferroviária espanhola uma teia ibérica de comunicações rápidas com centro em Madrid? Não estará aqui o ponto nodal da resistência portuguesa à possibilidade de o AVE chegar a Lisboa? Não é este também o principal motivo da manutenção da falida e mal gerida TAP a todo o custo? A ambição dos Reis Fernando II de Aragão e Isabel de Castela ainda não morreu.

Gostemos ou não dos ingleses, o Tratado de Windsor (1386), que se seguiu à vitória portuguesa de Aljubarrota (1385) e antecedeu o casamento de Philippa of Lancaster e João I (1387) continua a ser a nossa única bússola segura, à qual deveremos acrescentar a necessidade de reforçar a nossa posição atlântica e construir alianças estratégicas com os Estados Unidos, o Brasil e Angola. A extensão da plataforma continental portuguesa é, nesta projeção histórica, uma prioridade absoluta. Assim como manter todos as relações preferenciais possíveis com o Reino Unido. Acolher a Galiza na CPLP, sim, quando aceitarem a Língua Portuguesa. Ibéria, só se a capital for Lisboa!

Vale a pena ler o artigo de Maria José Oliveira que transcrevo na íntegra (sem autorização)... 


FRANCO MANDOU PLANEAR A INVASÃO DE PORTUGAL


“Decidi preparar a invasão de Portugal”

Por Maria José Oliveira  (in Público)

Em 1940, o Alto Estado-Maior espanhol elaborou, a pedido de Franco, um plano de ataque a Portugal, com a ocupação de Lisboa e a tomada de toda a costa nacional. O documento foi descoberto pelo historiador espanhol Manuel Ros Agudo, que estará em Lisboa, na terça-feira, para dar uma palestra sobre o tema.

O plano não permitia qualquer falha. Tudo começaria com um ultimato (impossível de cumprir) e um prazo limite de 24 horas ou 48 horas, findas as quais teria início a invasão de Portugal.

A operação incluía intervenções por terra, ar e mar e as primeiras incursões terrestres, realizadas por um contingente de 250 mil combatentes espanhóis, avançariam em direcção a Ciudad-Rodrigo, Guarda, Celorico da Beira, Coimbra, Lisboa, Elvas, Évora e Setúbal - a ocupação da capital e a divisão do país em três parcelas constituíam os passos fundamentais para a conquista de Portugal. Ao longo de quase 70 anos, o Plano de Campanha nº 1 (34), o grande projecto de Franco para invadir Portugal, delineado em plena II Guerra Mundial (1940), esteve “adormecido” nos arquivos da Fundação Francisco Franco. Os rumores da tentação franquista de conquistar Portugal há muito que circulam no meio historiográfico - até porque uma das grandes orientações da política externa de António de Oliveira Salazar, durante o conflito mundial, consistia na independência nacional face à ameaça da anexação espanhola. Mas só recentemente foi possível confirmar que os temores de Salazar tinham justificação.

Em 2005, o historiador espanhol Manuel Ros Agudo foi o primeiro investigador a aceder às cem páginas que compõem o plano de ataque contra Portugal, elaborado pela 1ª secção do Alto Estado-Maior (AEM) espanhol no segundo semestre de 1940. O ineditismo da descoberta levou o investigador, de 47 anos, a dedicar-lhe um capítulo na sua obra A Grande Tentação - Franco, o Império Colonial e o projecto de intervenção espanhola na Segunda Guerra Mundial, recém-editada em Portugal pela Casa das Letras. Na próxima terça-feira, Ros Agudo é um dos oradores da conferênciaA Península Ibérica na II Guerra Mundial - Os planos de invasão e defesa de Portugal, a realizar no Instituto de Defesa Nacional, a partir das 14h30, numa iniciativa conjunta com o Instituto de História Contemporânea.


Devastador e célere

O projecto de invadir Portugal não configurava uma “acção isolada”, como se pode ler numa das alíneas dos documentos analisados por Ros Agudo. Tratava-se de uma operação preventiva, no âmbito da ambição franquista de declarar guerra à Inglaterra. Numa altura em que França já caíra sob o domínio da Alemanha nazi, Espanha, então com o estatuto de país não-beligerante, acalentava o sonho de um império norte-africano. Nem Hitler nem Mussolini podiam, em 1940, garantir a Franco a concretização deste desejo. Mas isso não fez esmorecer as ideias expansionistas e bélicas do “Caudilho”.

A guerra contra a Inglaterra teria início com a tomada de Gibraltar. Porém, os estrategas do AEM prenunciavam que a primeira resposta britânica a este ataque fosse “um desembarque em Portugal com a ideia de montar uma cabeça-de-ponte para a invasão da península”. Por isso, no plano ofensivo, determinava-se o emprego dos “meios necessários para bater o Exército português e o seu Aliado; ocupação do país e defesa das suas costas”.

Tudo isto seria realizado sem o conhecimento prévio de Hitler e Mussolini. Porque Franco “queria manter o carácter secreto das operações, ter liberdade de manobra e também por questões de orgulho”, explicou Ros Agudo ao P2.

Contudo, após iniciados os ataques a Gibraltar e a Portugal, Espanha previa o apoio da aviação alemã, “nomeadamente com o reforço de bombardeiros e caças”. A participação da aviação espanhola estava também definida no plano de ataque (com as missões de “destruir a aviação inimiga e as suas bases” e de “atacar os núcleos de comunicação, especialmente nas direcções da invasão, e os transportes de tropas”). Mas Espanha receava que o vasto contingente de homens em terra se confrontasse com a superioridade luso-britânica no ar. Neste âmbito, o reforço alemão seria indispensável. Assim como se afigurava prioritário um ataque terrestre devastador e célere.

Para a Marinha, o AEM planeara um conjunto de acções de defesa (“exercer acções com os submarinos sobre as comunicações inimigas”, “proteger as comunicações com o Protectorado de Marrocos e Baleares”; “efectuar acções de minagem nos próprios portos”) que pressupunham uma reacção rápida da Marinha britânica.


E Salazar?

Em Dezembro de 1940, quando Franco escreveu, assessorado pelo AEM, que decidira atacar Portugal - “Decidi [...] preparar a invasão de Portugal, com o objectivo de ocupar Lisboa e o resto da costa portuguesa” -, o Tratado de Amizade e Não Agressão, firmado pelos dois países em Março de 1939, não passava de um documento sem importância para o “Caudilho”. Mas foi a partir desse acordo que os franquistas intensificaram as pressões diplomáticas para Portugal deixar de respeitar os compromissos da aliança luso-britânica: fizeram-no através de Nicolau Franco, irmão do ditador espanhol e embaixador em Lisboa; e também “aconselharam” o então embaixador português em Madrid, Pedro Teotónio Pereira.

Perante os planos de anexação, Espanha não desprezava apenas o pacto de não agressão, mas também a intervenção activa e material do Governo de Salazar no apoio aos franquistas durante a Guerra Civil de Espanha - três a cinco mil “viriatos” combateram nas fileiras das milícias da Falange, do Exército e da Legião espanhola, muitos deles recrutados através de anúncios nos jornais pagos pelo Estado; a rádio emitia propaganda franquista; e Salazar promoveu a mobilização anti-comunista (recolhendo benefícios para a sustentação do Estado Novo).

Atentando no rigor e na determinação plasmadas no Plano de Campanha nº 1 (34), urge questionar qual o destino que reservava Franco para o ditador português, na eventualidade de a ocupação ter avançado.

A documentação descoberta por Ros Agudo cinge-se aos aspectos puramente militares e não contempla a “sorte pessoal” do presidente do Conselho. Mas o historiador, professor de História Contemporânea na Universidade San Pablo, em Madrid, avançou ao P2 duas hipóteses: “O destino de Salazar e do seu Governo, no caso de Portugal não conseguir resistir à invasão, seria estabelecerem-se nas colónias (Angola ou Moçambique); ou podiam exilar o Governo em Londres, como aconteceu com alguns países europeus ocupados pelo Eixo”.


Palavras encomendadas

Quanto ao futuro de Portugal, não há qualquer referência nos documentos, ficando sem resposta a pergunta sobre se a ocupação seria ou não temporária. No entanto, Ros Agudo cita no seu livro as “inquietantes” palavras de Serrano Suñer, ministro dos Assuntos Exteriores espanhol, ao seu homólogo alemão, Joachim von Ribbentrop, datadas de Setembro de 1940: “(...) ninguém pode deixar de se dar conta, ao olhar para o mapa da Europa, que, geograficamente falando, Portugal na realidade não tinha o direito de existir. Tinha apenas uma justificação moral e política para a sua independência pelo facto dos seus quase 800 anos de existência”.

Ros Agudo acredita que estas palavras, proferidas em Berlim, foram “encomendadas” a Suñer por Franco, com a intenção de averiguar “a reacção de Hitler perante a ideia de um Portugal integrado num futuro grande Estado ibérico”. Mas  o Führer não quis fazer qualquer compromisso sobre este assunto”, nota o historiador.

Apesar das declarações de Serrano Suñer, Manuel Ros Agudo não crê que Franco pretendesse “uma integração pura e dura num Estado ibérico” Porque isso arrastaria “muitos problemas”. “É possível que, sob uma Nova Ordem europeia, na eventualidade da vitória fascista e da derrota da Grã-Bretanha, Franco tivesse permitido a existência de um Portugal marioneta, fascista e inofensivo”, diz. E, continuando num exercício de História virtual, acrescenta: “Se a Rússia tivesse sido eliminada por Hitler, o grande confronto, ou a Guerra Fria dos anos 50 e décadas posteriores, teria acontecido entre os EUA, por um lado, o grande bloco euro-africano fascista, pelo outro, assumindo este último um papel semelhante ao bloco soviético que conhecemos. Tanto Espanha como Portugal teria feito parte desse bloco constituído pelas potências do Eixo”.

Nos últimos meses de 1940, o Plano de Campanha nº 1 (34) esteve prestes a ser realizado. Franco ordenara a prontidão militar para o ataque. Mas o que lhe sobrava em meios operacionais faltava-lhe em condições políticas, nomeadamente a garantia dos apoios alemão e italiano e a concretização das ideias imperialistas. “Os requisitos políticos para dar esse passo - as garantias de obtenção de um império em África - acabaram por não ser dados”, explica Ros Agudo.

O plano foi então depositado em arquivo e tornado inacessível durante quase sete décadas.

quarta-feira, fevereiro 06, 2019

César e Francisco

El papa Francisco, durante la rueda de prensa en el avión de regreso a Roma.
ALESSANDRA TARANTINO (AP)/ cropped

O meu reino não é deste mundo


El cinismo del papa Francisco 
La neutralidad del Vaticano en la crisis venezolana sirve de apoyo a Maduro
RUBÉN AMÓN
El País, 5 FEB 2019 - 15:30 CET 
No es Irán la única teocracia contemporánea que abjura del presidente Guaidó. Se resiste a reconocerlo el Vaticano, tanto por la idiosincrasia bolivariana del papa Francisco como porque su actual secretario de Estado, Pietro Parolin, fue el artífice de la reconciliación —de la comunión— entre el chavismo y la Santa Sede en los tiempos idólatras del mariscal Hugo. 
Es la razón por la que Nicolás Maduro ha pedido la mediación moral y política del sumo pontífice. Pretende involucrarlo como árbitro de una conferencia de países “neutrales” —México, Uruguay— convocada en Montevideo este jueves como salida al aislamiento del tirano venezolano.

Interessante, esta análise! É um facto que as ditaduras nunca assustaram o Vaticano. Basta lembrar a Itália de Mussolini, a Espanha de Franco, o Portugal de Salazar, e o Chile de Pinochet. Porque haveria então o Papa Francisco, que encanta o hedonista Marcelo, de se preocupar com o chavismo e o seu desastrado herdeiro, Nicolás Maduro? A Deus o que é de Deus, a César o que é de César. Foi este negócio com as autocracias que garantiu a esta, como a outras igrejas, a longevidade do atavismo religioso. Secundariamente, esta posição 'simpática' para com o ditador Maduro, até permitirá ao Vaticano fazer a mediação que o resto dos europeus já não é capaz.

Russos e chineses acharam que poderiam avançar pelo Atlântico e pelas Américas dentro. Não podem. Mas lá que os Estados Unidos e os caniches europeus lhes deram pretexto, nomeadamente na forma hipócrita, interesseira e estúpida como lidaram com o colapso da União Sovética, e mais recentemente com a Ucrânia, ou ainda com a soberania sobre o mar do Sul da China, deram...

Agora vai ser preciso reequilibrar os dispositivos de forças, quer a leste de Berlim, quer no quintal latino-americano dos gringos. Voltamos sempre ao mesmo: a paz futura depende da realização dum Novo Tratado de Tordesilhas. Dum lado deve ficar a Euro-América, do outro a China. No meio, precisamos dum continente independente, próspero e neutral: a África.

Dito isto, a posição diplomática assumida pelo governo português é absolutamente correta. Não se defendem os interesses de Portugal, nem dos portugueses emigrados na Venezuela, apoiando um ditador alimentado com sinodólares e euros de Moscovo.

Vamos provavelmente assistir a um prolongado braço de ferro, sobretudo porque dependerá de concessões a fazer ao longo da antiga cortina de ferro, na Síria e... no Irão. Já agora, um Irão nuclear será um player decisivo no Médio Oriente, podendo mesmo afastar o espectro de Putin na região. Daí que seja tempo de os americanos e europeus darem corda aos snickers!


REFERÊNCIAS
El Papa sobre Venezuela: “Temo un derramamiento de sangre” 
DANIEL VERDÚ
El País, A bordo del avión del Papa 28 ENE 2019 - 14:23 CET 
La posición del Vaticano en el conflicto de Venezuela ha sido siempre ambigua y discreta. Su frustrado papel como mediador lo requirió en su momento. Pero ahora, en pleno ultimátum de un nutrido bloque de países a Nicolás Maduro para que convoque elecciones, millones de venezolanos y los propios mandatarios implicados —con Juan Guaidó a la cabeza de la oposición— se preguntan cuál es la opinión del Papa y la postura que adoptará la Santa Sede, con enorme influencia en la comunidad católica del país, en un conflicto que camina peligrosamente hacia la violencia. El Papa, tras varios días de silencio, pidió en el Ángelus del domingo en Panamá “una solución justa y pacífica”. Pero, ¿qué quiere decir eso? 
Los hombres de Pinochet en el Vaticano 
JUAN JOSÉ TAMAYO
El País, 2 MAR 1999 
Desde su toma de poder en Chile, tras el golpe de Estado contra el presidente Salvador Allende, el general Pinochet buscó denodadamente el apoyo del Vaticano a su dictadura militar alegando como credenciales su fe católica y su cruzada contra el marxismo, llevada a cabo en plena sintonía con Juan Pablo II, antimarxista como él. Mientras el arzobispo de Santiago de Chile, cardenal Silva Enríquez, denunciaba los atentados de Pinochet contra los derechos humanos -incluido el derecho a la vida- a través de la Vicaría de Solidaridad, el Vaticano legitimaba las actuaciones del dictador, sobre todo a través de la nunciatura.Tras los resultados adversos del plebiscito de octubre de 1988, que le obligaron a abandonar el poder, Pinochet redobló sus esfuerzos por asegurarse el aval del Vaticano, confiando en que saliera en su defensa en caso de que fuera procesado. Y la larga sombra del general se extendió hasta la curia romana, donde hoy ocupan puestos de responsabilidad de primera línea personalidades eclesiásticas afines a él.


domingo, janeiro 27, 2019

Um novo Tratado de Tordesilhas, ou?

Federica Mogherini, chefe diplomática da União Europeia

Maduro terá que abandonar o poder em breve


A Rússia não tem força para transformar a Venezuela numa espécie de Ucrânia. E a China também não tem interesse em precipitar os acontecimentos nesta direção. O resultado de mais um braço de ferro entre o despotismo asiático e as democracias ocidentais só pode ser um: salvar ambas as faces, do Ocidente e do Oriente, levando o senhor Maduro a passar umas férias nas Caraíbas.

O modo como a crise na Venezuela evoluir (Guterres tem que abrir os olhos!) depois do reconhecimento de Juan Guaido pela maioria dos estados americanos (12 contra 3) e pela União Europeia, deixará ver de forma bem nítida a fratura em curso na famosa globalização. O recuo dos Estados Unidos e dos seus aliados na Síria depois de uma clara vitória da Rússia e do Irão da guerra civil que destruiu boa parte daquele país, será, por assim dizer, compensado com o despedimento de Maduro e a subsequente pressão contra a excessiva presença económica, militar e diplomática da Rússia e da China naquelas paragens. As negociações, que já estarão a decorrer, suponho, sobre a revisão drástica da permeabilidade do continente americano à influência chinesa, russa e indiana, ditarão a duração e os contornos mais ou menos violentos da guerra entre Maduro e Guaido.

O equilíbrio MAD nunca esteve na realidade em causa, mesmo durante a implosão da URSS. O que sim tem estado a mudar é a posição geográfica do centro de gravidade da prosperidade mundial. No século 15, por volta de 1430, a China fechar-se-ia paulatinamente ao mundo, assustada com o eterno perigo do Norte, ou por outro motivo ainda por esclarecer. O seu hoje incensado Almirante Zheng He (1371—1433 ou 1435), depois de sete viagens memoráveis (1403, 1407, 1409, 1413, 1416, 1421, 1429) pelos mares da China, Oceano Índico, até à costa ocidental de África, que poderiam ter aberto o caminho marítimo da China até à Europa, não chegou a conhecer o Infante Dom Henrique (1394—1460), vinte e três anos mais novo, o qual, em 1415, daria início a um ciclo de expedições marítimas que acabariam por nos levar à China, em 1513-1517, e ao Japão, em 1543.

Seiscentos anos depois, a China quer refazer a Rota da Seda, por mar e terra, cruzando toda a Eurásia, mas também os mares da China, o Oceano Índico, África e o Atlântico. A sua ambição é, pois, incomensurável com as pretensões algo tacanhas do que resta do império dos czares russos. Num certo sentido, podemos dizer que Putin é, de momento, o braço armado da China nesta sua acelerada fase expansionista, mas que a imensa terra russa é também uma espécie de espaço vital futuro da China.

Daqui a dificuldade de saber onde estão os meridianos do futuro Tratado de Tordesilhas que irá regular uma nova divisão ao meio do planeta humano. Há que procurá-los, pois a alternativa a uma divisão pacífica das influências pode ser mesmo a extinção da humanidade.

Existe uma teoria diferente sobre a carnificina venezuelana (1), a qual interpreta o 'golpe' contra Nicolás Maduro como uma placagem ao acesso oriental (sobretudo da China) ao petróleo venezuelano. De um ponto de vista geoestratégico, esta interpretação decorre de uma visão que, no essencial, diz isto: os impérios marítimos e coloniais que dominaram o mundo nos últimos seiscentos anos irão ceder ao poder da grande massa continental e humana que é a Eurásia. O objetivo tático para apressar esta mudança tectónica passa, segundo os teóricos desta visão, por separar a Europa ocidental da América, forçando-a a ser apenas a península ocidental cooperante de uma Eurásia centrada nos seus grandes poderes estratégicos: Alemanha, Rússia, Irão, Índia, e China.

Vale a pena, para uma melhor compreensão deste ponto de vista, ler dois artigos recentes (de que incluímos dois extratos) escritos por Pepe Escobar e por Federico Pieraccini.

“The supreme nightmare for the U.S. is in fact a truly Eurasian Beijing-Berlin- Moscow partnership.” 
“The Belt and Road Initiative (BRI) has not even begun; according to the official Beijing timetable, we’re still in the planning phase. Implementation starts next year. The horizon is 2039.” 
[...] 
“The New Silk Roads were launched by Xi Jinping five years ago, in Astana (the Silk Road Economic Belt) and Jakarta (the Maritime Silk Road). It took Washington almost half a decade to come up with a response. And that amounts to an avalanche of sanctions and tariffs. Not good enough. 
Russia for its part was forced to publicly announce a show of mesmerizing weaponry to dissuade the proverbial War Party adventurers probably for good – while heralding Moscow’s role as co-driver of a brand new game. 
Were the European peninsula of Asia to fully integrate before mid-century – via high-speed rail, fiber optics, pipelines – into the heart of massive, sprawling Eurasia, it’s game over. No wonder Exceptionalistan elites are starting to get the feeling of a silk rope drawn ever so softly, squeezing their gentle throats.” 
— in Pepe Escobar, “Back in the (Great) Game: The Revenge of Eurasian Land Powers”, Consortium News, August 2018.



“Even if the US dollar were to remain central for several years, the process of de-dollarization is irreversible.  
Right now Iran plays a vital role in how countries like India, Russia, and China are able to respond asymmetrically to the US. Russia uses military power in Syria, China seeks economic integration in the Silk Road 2.0, and India bypasses the dollar by selling oil in exchange for goods or other currency.  
India, China, and Russia use the Middle East as a stepping stone to advance energy, economic and military integration, pushing out the plans of the neocons in the region, thereby indirectly sending a signal to Israel and Saudi Arabia. On the other hand, conflicts in Syria, Iraq and Afghanistan are occasions for peacemaking, advancing the integration of dozens of countries by incorporating them into a major project that includes Eurasia, the Middle East and North Africa instead of the US and her proxy states.  
Soon there will be a breaking point, not so much militarily (as the nuclear MAD doctrine is still valid) but rather economically. Of course, the spark will come from changing the denomination in which oil is sold, namely the US dollar. This process will still take time, but it is an indispensable condition for Iran becoming a regional hegemon. China is increasingly clashing with Washington; Russia is increasingly influential in OPEC; and India may finally decide to embrace the Eurasian revolution by forming an impenetrable strategic square against Washington, which will shift the balance of global power to the East after more than 500 years of domination by the West.”
—in “Russia, China, India, and Iran: The Magic Quadrant That is Changing the World”
by Federico Pieraccini @ Strategic Culture Foundation, 25.01.2019


Post scriptum

Acabo de ler a comunicação de Georges Soros ao Forum de Davos deste ano. Pela sua clareza relativamente à China, recomendo a sua leitura e deixo aqui um extrato elucidativo.

Remarks delivered at the World Economic Forum 
Davos, Switzerland, January 24, 2019 
“China is not the only authoritarian regime in the world but it is the wealthiest, strongest and technologically most advance. This makes Xi Jinping the most dangerous opponent of open societies. That’s why it’s so important to distinguish Xi Jinping’s policies from the aspirations of the Chinese people. The social credit system, if it became operational, would give Xi total control over the people. Since Xi is the most dangerous enemy of the open society, we must pin our hopes on the Chinese people, and especially on the business community and a political elite willing to uphold the Confucian tradition.” 
—in Georges Soros
NOTAS



  1. Este relatório anual do Observatorio Venezolano de Violencia dá bem a dimensão da crise política, social e humanitária desencadeada pela ditadura de Nicolás Maduro.

Atualizado em 28/1/2018, 13:05 WET

quinta-feira, agosto 09, 2018

Xiiiiiiiiii....!


China suspendou a importação dos SUV da Mercedes fabricados nos EUA

Os três erros fatais de Xi


1—Não existe tal coisa a que os mentores de Xi chamam “Chinese exceptionalism”;

2—A América, mesmo ferida, é um gigante cultural, tecnológico, energético e militar;

3—A China tem o mesmo problema genético da Alemanha: não dispõe de autonomia energética, mineral e alimentar. E tem um grande problema histórico, que se agravou: uma população envelhecida que é mais do que quatro vezes a população dos Estados Unidos da América;

Recomendação aos meus queridos conterrâneos: preparem-se para reforçar as alianças com ingleses e americanos, sem deixar cair as boas relações com a China e Bruxelas, claro.

Mas a prioridade das prioridades portuguesas tem um nome: África!

Handling of U.S. trade dispute causes rift in Chinese leadership: sourcesBen Blanchard, Kevin Yao
Reuters, August 9, 2018 / 8:52 am 
“Many economists and intellectuals are upset about China’s trade war policies,” an academic at a Chinese policy think tank told Reuters, speaking on condition of anonymity due to the sensitivity of the issue. “The overarching view is that China’s current stance has been too hard-line and the leadership has clearly misjudged the situation.” 
[...] 
Under Xi, officials have become increasingly confident in proclaiming what they see as China’s rightful place as a world leader, casting off a long-held maxim of Deng Xiaoping, the former paramount leader who said the country needed to “bide its time and hide its strength”.

“The Outlook Has Become Grim”: Trump Trade War Causing “Rare Cracks” Within China’s Communist Partyby Tyler Durden
ZeroHedge, Thu, 08/09/2018 
Over the weekend, Trump claimed on Twitter that the US is winning the trade war with China for one simple reason: whereas US stocks are back to all-time highs, the Chinese market has tumbled and remains mired in a bear market. Now, another - less naive - indication has emerged suggesting that the US is indeed getting the upper hand in the ongoing trade feud: according to Reuters, the trade war with the United States is “causing rifts” within China’s Communist Party, with some critics saying that China’s overly nationalistic stance “may have hardened the U.S. position.”


Two models: Building Stuff (China) or Bombing Stuff (Us)?
In this Summer Solution episode of the Keiser Report, Max and Stacy contrast the situation with China, a perhaps emerging superpower, to the United States, a possibly declining superpower. As the US grew powerful as an empire of debt, extracting resources and equity from economies colonized by their debt rather than their military armies, what happens when China begins doing the same? Lots of complaints from U.S. officials who want American lenders to take over debt markets the U.S. has overlooked in the past few decades. They look at the case of Africa where Chinese mobile phone manufacturers and tech entrepreneurs are radically altering the telecom landscape left wide open to them after the departure of Nokia. What happens when the African consumer becomes wealthy enough to transform the Chinese global power play?


APOIE O ANTÓNIO MARIA
O acesso a este blog é gratuito, mas a sua doação, por pequena que seja, ajudar-me-à a mantê-lo e a melhorá-lo. Um euro por mês é muito? Obrigado.

terça-feira, julho 03, 2018

Refugiados, uma crise artificial


Nós, sim, tivemos uma crise de refugiados de guerra! Em 1974-75.


Não há dia, nem noticiário, indígena ou internacional, que não nos encha a cabeça com a crise dos refugiados. Ora são refugiados de guerra, ora são refugiados políticos, noutros casos ainda, refugiados da fome que pagam fortunas a redes ilegais de migração para atravessar o Mediterrâneo—e para, às vezes, nele perder a vida—, em suma, dizem as televisões e os jornais, uma crise humanitária a que os malvados europeus se têm mostrado cada vez mais insensíveis, sobretudo por causa do populismo de direita em ascensão.

Os argumentos, sempre lancinantes e vagos, da ONU e das ONG, por sua vez, deixaram de nos convencer, em parte, pela repetição das suas ladaínhas carpideiras sobre factos mal contados, e sobretudo mal explicados aos povos da Europa. 

Mas afinal, porque está esta questão a envenenar a política, a comunicação social, e as redes sociais europeias, ameaçando a estabilidade da União e da sua moeda? 

Se repararmos bem no quadro publicado na Statista, por Patrick Wagner (que aqui republicamos), dos 29 países que consam desta lista (UE + Turquia), à exceção da Letónia e da Estónia, onde o número de não nacionais residentes chega aos 12% e aos 6% das respetivas populações, em nenhum dos restantes países, até finais de 2017, a população de refugiados ultrapassa os 4,6% (Turquia). Nos casos sempre badalados —Alemanha, Holanda, Áustria, Itália, e França— os refugiados não chegam aos 2%. Por sua vez, na Suécia, célebre pela sua política de acolhimento a refugiados políticos, e onde a nova vaga de imigrantes corresponde 3,25% da sua população nacional, os protestos têm sido menos audíveis, e a proatividade das respetivas autoridades públicas praticamente exemplar.

Quando António Costa se mostra magnânimo perante os microfones da terrinha, afirmando que Portugal pode acolher mais refugiados, e afirmando também que já comunicou essa disponibilidade aos seus parceiros comunitários, está simplesmente a fazer figura de urso, e a fazer de nós parvos!

Portugal é o país de toda a União Europeia a 28 que menos refugiados acolheu em percentagem da sua população: 0,2% (1 682). A Espanha, para citar o país vizinho, recebeu 54 028, 1,2% da sua população, mais de cinco vezes mais em percentagem do que nós! Onde estão os jornalistas do meu país?!

A razão porque digo que a crise europeia de refugiados que entope os canais da informação é ainda uma crise menor e perfeitamente gerível com humanidade e bom senso, advém de uma comparação: a crise de refugiados em Portugal que se seguiu à descolonização precipitada pela queda da ditadura. Foram mais de 500 mil pessoas, das quais pouco mais de metade nascida no continente europeu, ou seja, no total, 5% da população portuguesa residente à época!

Os então chamados “retornados” trouxeram enormes problemas de gestão e administração a um país por sua vez abraços com uma crise pré-revolucionária sem precedentes. No entanto, há quem pense, e bem, que este afluxo de refugiados trouxe mais benefícios do que prejuízos.

A crise europeia de refugiados, em boa parte causada pelos americanos e pelos europeus desde a Guerra do Iraque (2003-2011) —a que se seguiram a Guerra Civil Iraquiana, a Primavera Árabe, e a Guerra da Síria—, mistura-se com a guerra assimétrica movida contra os 'infiéis' americanos e europeus pelos movimentos radicais islâmicos, nomeadamente sob a forma de ataques terroristas de grande eficácia mediática. É nesta mistura explosiva entre crise de refugiados e guerra assimétrica que os governos europeus perderam o norte e a capacidade de gestão conjunta dos efeitos de uma crise que antes de ser de refugiados é sobretudo uma crise político-militar e uma crise bélica, onde religião, petróleo e gás natural fazem o cocktail de todas as desgraças.

Estou, neste tema, ao lado de Angela Merkel e dos suecos. É preciso desdramatizar (com informação clara e detalhada) as verdadeiras proporções da crise de refugiados, em vez de alimentá-la com gasolina e populismo político e mediático, como fazem a toda a hora as redações acríticas dos meios de comunicação, e os serviços secretos de vários países.

Quanto ao Governo português, recomendo mais vergonha nas palavras, ações concretas, e menos festarolas em volta do senhor António Vitorino e da sua eleição para a ONU de Guterres. A ONU inspira-me pouca ou nenhuma confiança no que faz pelo mundo.

domingo, junho 11, 2017

Portugal fora da nova Rota da Seda?

Comboios circulam a 250Km/h no Casaquistão, TALGO fornece e mantém carruagens.

Durão Barroso foi, se não me engano, o coveiro da indústria ferroviária portuguesa. Despachou os canadianos da Bombardier, e depois desta decisão irresponsável nunca mais o país e os seus sucessivos governos foram capazes de definir uma política de transportes adequada à estratégia de interoperabilidade e uniformização da norma ferroviária (UIC). Basta lembrar a este propósito o que o ministro João Cravinho não fez e deixou fazer na Linha do Norte, cujos remendos continuam por rematar.

As Cimeiras Ibéricas têm sido um ritual vazio em matéria de harmonização ferroviária e energética.

A chamada ligação Lisboa-Madrid, em bitola europeia, apesar de ser a ligação menos cara e de concretização relativamente rápida, apesar de vir a servir uma populaçao residente e flutuante na casa dos 16 milhões de pessoas, e apesar de corresponder a uma das prioridades da União Europeia há muito traçada (TEN-T), continua no limbo da indecisão indígena lisboeta, boa parte da qual foi, na minha opinião, claramente induzida pelos lóbis financeiros, partidários e autárquicos da construção civil especulativa, do transporte rodoviário (TIR), da falida TAP, e do famigerado NAL—Novo Aeroporto de Lisboa, que esteve para acontecer na Ota.

Para o NAL da Ota, que não chegaria a existir, construiram-se o gigantesco nó rodoviário do Carregado, a Ponte das Lezírias (mais de 11 Km), a Plataforma Logística de Castanheira do Ribatejo, o moderno apeadeiro de caminhos de ferro com o mesmo nome (ambas às moscas), e a autoestrada A10. Quanto custou toda esta corrupção em cadeia? Onde estão os seus responsáveis políticos, autárquicos e técnicos? Quem paga agora a óbvia falta de rentabilidade destas infraestruturas? A esta última pergunta é fácil responder!

A mudança de agulha do NAL da Ota para um NAL em Alcochete obedeceu à mesma força que produziu o escândalo na Ota: o DDT Espírito Santo e os seus ministros assessores, o lóbi 'socialista' de Macau e a prometida Alta de Lisboa, em suma, obedeceu a um plano clandestino há muito desenhado e que consiste numa operação simples: fechar o Aeroporto da Portela, pois aí se prometera ao senhor Stanley Ho uma Chinatown de luxo, e construir entretanto um novo aeroporto fosse onde fosse!

Mas para justificar o fim do aeroporto da capital era preciso demonstrar que a sua capacidade estava esgotada, o que sucessivas levas de piratas e louva-a-deuses intentaram ao longo de mais de uma década, instrumentalizando a dócil e cada mais indigente imprensa que temos. Pior, forçando a TAP a saturar os slots disponíveis na Portela, com prejuízos crescentes nas suas contas, até que a empresa faliu e teve que ser esquartejada de qualquer maneira.

Pelo caminho, a Câmara Municipal de Lisboa de António Costa empochou umas valentes centenas de milhões de euros pela venda dos terrenos do aeroporto a um fundo soberano do Qatar, perdão, à Vinci!

Mas o mais extraordinário desta história sórdida, que só um regime renovado será capaz de aspirar convenientemente, é que foi ela que, no essencial, atrasou criminosamente o imprescindível upgrade da rede ferroviária portuguesa, sem o qual Portugal se transformará rapidamente num ilhéu ferroviário desconetado das vias rápidas do crescimento sustentável.

A China relançou aquela que é a mais importante, historicamente decisiva mesmo, via de comércio entre Lisboa e Vladivostoque, ou Xangai: a Rota da Seda. Sem esta rota, composta por uma via terrestre que atravessa toda a Eurásia, e por duas vias marítimas, uma entrando pelo Mediterrâneo, e outra seguindo pelo Índico até à Zâmbia e Moçambique, para depois, por via férrea, chegar aos portos angolanos, em direção ao Golfo da Guiné, à Europa, e ao continente americano (ver mapa interativo que preparei há já algum tempo sobre este assunto), a Europa ocidental continuará sujeita às tensões geoestratégicas de um pequeno território dividido por montanhas, rios e religiões.

É por tudo isto que a ausência de Portugal na EXPO2017, em Astana, capital do Casaquistão, é daqueles erros de política externa só compreensível como um resultado triste da corrupção e das asneiras crassas que temos tolerado à classe política e ao demo-populismo vigente. Menos mal que, apesar da ausência oficial, lá estiveram, ainda que por mérito próprio, dois socialistas: António Guterres e Leonel Moura.


Inauguração da EXPO2017, em Astana, Casaquistão.


Longe, longe está Astana ... a cidade da EXPO2017 e do forum future energy 
fcsseratostenes, domingo, 11 de junho de 2017 
Longe, longe está a cidade de Astana, capital do Kasaquistão. 
Escrevo isto por ter lido a notícia, hoje, da inauguração da Expo2017, em Astana, com a presença de António Guterres e de Filipe VI de Espanha. Guterres porque é das normas internacionais, Filipe VI porque a ligação ferroviária de 800km entre Astana, a capital e Almaty, a capital económica, é feita em Talgo de alta velocidade. O Kazaquistão é um país rico em petróleo e gás, é governado por uma elite que sobreviveu ao colapso da união soviética, está mal classificado quanto aos direitos humanos, mas é das boas práticas internacionais colaborar com a economia dos países assim para estimular a consolidação da democracia. O canal mezzo mostra por vezes concertos e ópera na sala principal de Astana. Estão abertos à Europa, estão no caminho da nova rota da seda. 
...porque não está ninguém dos orgãos superiores da nossa república na foto oficial? E porque mesquinhez o XIX e o XXI governos portugueses recusaram a presença na Expo2017? Cujo tema é a energia do futuro... Desculpa esfarrapada do governo: nenhuma companhia do ramo quis cofinanciar a participação. No tempo da bancarrota de 1892 estes problemas resolviam-se com subscrições públicas. Agora, é o silencio. Só hoje foi tornada pública a ausencia de Portugal, e nas páginas escondidas do interior dos jornais.

domingo, maio 17, 2015

Pior é impossível


Economistas do PS e da coligação PSD-CDS/PP, analyze this!


A nova normalidade:
  • trabalho temporário (1);
  • queda nominal e real dos rendimentos do trabalho;
  • regresso ao mercado de trabalho das pessoas com mais de 55 anos — única maneira de compensarem os cortes nas pensões de reforma, a destruição das taxas de juro (e consequente assalto às poupanças individuais e familiares), e a cleptocracia fiscal (confisco, subreptício ou descarado, mas cada vez mais generalizado, das poupanças e da propriedade familiar: casas, quintas e depósitos bancários!)
  • desemprego e falta de emprego sistémicos sobretudo para os grupos demográficos mais jovens e qualificados;
  • institucionalização da mentira estatística como propaganda dominante dos governos, instituições financeiras e partidos políticos;
  • este fenómeno não é episódico, começou no Japão em 1997, alastrou aos Estados Unidos e Europa sobretudo após 2007 (episódio Lehman) e poderá  permanecer na vida das pessoas e das sociedades por mais uma, duas, ou três décadas.

Com papas (estatísticas) e bolos se enganam os tolos! 

Como já não há crentes de direita, nem de esquerda, o truque agora é atrair os eleitores com bla bla bla estatístico e programas supostamente validados por sábios que nunca acertam. O modelo da mentira estatística (acompanhado das táticas agressivas de desvalorização cambial e destruição das taxas de juro) tem sido aperfeiçoado no Japão ao longo das últimas duas décadas. Os 0,1% que dominam o mundo tentam agora confiscar toda a riqueza mundial, para o que programam já a proibição do dinheiro metálico ou de papel. Num ambiente monetário puramente virtual os bancos centrais, instrumentos privilegiados dos 0,1%, poderão, em fim, controlar os movimentos físicos e monetários de qualquer indivíduo, de qualquer empresa, de qualquer estado. Capiche?

Um amigo meu, que no ano passado deveria ter começado a receber a sua reforma, anda desde então perdido no labirinto kafkiano do nosso sistema de pensões, onde ninguém sabe nada e onde abunda a falta de sensibilidade e de profissionalismo. Onde, ao mesmo tempo, os processos se perdem e pronto, onde ninguém responde às cartas ou e-mails, e onde se protelam as pensões a quem não é obviamente deputado da nação, nem governante, ou ex-governante, nem gabiru de partido. Perdem-se —perdemos todos!— milhões de horas por ano a aturar esta execrável burocracia. Menos mal que o meu amigo tinha direito a uma pensão do Luxemburgo, dos tempos em que por lá andou a trabalhar, e que esta veio no momento devido, sem que o pensionista tivesse sequer que se preocupar em alertar os serviços luxemburgueses. Nenhuma complicação, nenhum envido de papelada, uma carta simples e simpática a comunicar o direito, o primeiro cheque, e votos de felicidade. Por cá prevalece há séculos o excesso de burocracia inútil e mal educada que, como nos tempos de Salazar, serve sobretudo para sustentar a nomenclatura sem lei que domina, e trata invariavelmente mal os seus concidadãos. No fundo, estamos bem pior, muito pior, do que o Japão, os Estados Unidos e o resto da Europa. Pior é impossível!

Desiluda-se quem pensar que isto muda com António Costa. Não muda. E como não muda, precisamos de perceber bem onde está o mal e qual é o grau de gravidade da situação.

Recomendo, a propósito da cada vez mais insistente questão demográfica, e das mentiras sistémicas em volta do crescimento e do emprego, a leitura deste artido publicado pela Zero Hedge

How Japan Became The Benchmark For America's Fraudulent "Jobs Recovery"

Submitted by Tyler Durden on 05/16/2015 20:57 -0400

In the US the most recent unemployment rate was 5.4%, about as close to full employment as possible, and yet neither in Japan nor in the US has there been any wage improvement.

So how does one explain the paradox of a labor market that at least quantitatively has no further slack and yet where real wage growth has never been lower. Simple, and incidentally the explanation is one which Zero Hedge provided all the way back in 2010 when we charted "America's Transformation To A Part-Time Worker Society."

It turns out that in Japan the answer is the same, only when one peeks beyond the merely quantitative and into the qualitative, it is worse. Much, much worse. As the following chart shows, virtually all the job growth in Japan since the great financial crisis has been thanks to part-time jobs!


EUA: evolução recente da composição geracional do emprego
Japão: evolução dos salários nominaic e reais (1991-2015)

NOTAS
  1. As empresas de trabalho temporário, em todo o mundo, são das que mais lucros têm apresentado nos últimos anos. Esta espécie de novos negreiros emprega trabalho precário, temporário, mal pago e praticamente sem direitos. Compram e vendem força de trabalho a preços de sobre-exploração, servindo as empresas do PSI 20 e o próprio estado e autarquias do país, sem que estes tenham que preocupar-se com a lei, nem com a dignidade. Assim vai a nomenclatura de consciência tranquila pelo meio do naufrágio que se aproxima.


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

quarta-feira, abril 29, 2015

INFOGRAPHIE : Les anciennes colonies, premières bénéficiaires de l'APD des pays européens.

O poder da cultura favorece a reconciliação entre os antigos impérios coloniais e o 'novo mundo' americano, asiático e africano — o que é bom para os interesses económicos e sociais partilhados.

La France, le Royaume-Uni, la Belgique, l'Espagne et le Portugal,
anciennes puissances coloniales européennes jusqu'à la moitié du XXe
siècle, consacrent aujourd'hui une majorité de leur aide publique au
développement (APD) à leurs anciennes colonies.

INFOGRAPHIE : Les anciennes colonies, premières bénéficiaires de l'APD des pays européens. | EurActiv.fr

sábado, fevereiro 28, 2015

Pax Americana? Niet! 不


China apoia Rússia no conflito ucraniano. Tordesilhas 2.0 dá mais um passo


Chinese diplomat tells West to consider Russia's security concerns over Ukraine
Reuters. BEIJING Fri Feb 27, 2015 3:48am EST

(Reuters) - Western powers should take into consideration Russia's legitimate security concerns over Ukraine, a top Chinese diplomat has said in an unusually frank and open display of support for Moscow's position in the crisis.

Qu Xing, China's ambassador to Belgium, was quoted by state news agency Xinhua late on Thursday as blaming competition between Russia and the West for the Ukraine crisis, urging Western powers to "abandon the zero-sum mentality" with Russia.

Há anos que vimos defendendo que o futuro do planeta oscila entre uma terceira guerra mundial em cenário MAD e uma espécie de um compromisso win-win semelhante ao famoso Tratado de Tordesilhas que, 1494, permitiu aos

“...mui poderosos príncipes os senhores D. Fernando e D. Isabel, pela graça de Deus rei e rainha de Castela, de Leão, de Aragão, de Sicília, de Granada, de Toledo, de Valência, de Galiza, de Mailhorca de Sevilha, de Cerdenha, de Córdova, de Córsega, de Murcia, de Jahem, do Algarve, de Algezira, de Gibraltar, das ilhas de Canárea, conde e condessa de Barcelona e senhores de Biscaia e de Molina, duques de Atenas e de Neopátria, Condes de Roselhão e de Cerdónia, marqueses de Oristão e de Goçiano.”
e ao
“...mui alto e mui excelente senhor o senhor D. João, pela graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém-mar em África e senhor de Guiné...”

dividir o mundo desconhecido entre si.

Enfim, depois vieram os holandeses, os ingleses e os franceses, mas no início foi assim: um meridiano elástico serviu de buffer à concorrência e conflitualidade sempre iminente entre Portugal e a ambição de hegemonia ibérica estabelecida pelos reis católicos Fernando de Castela e Isabel de Aragão—soberanos da região central da península para quem o acesso ao mar atlântico e mediterrânico e as passagens para França sempre foram críticas e vitais.

Os Descobrimentos Portugueses inseriram-se no primeiro verdadeiro movimento de globalização que se conhece, e foi, em grande medida, fruto de problemas semelhantes aos que voltamos a ter de forma aguda no Médio Oriente e na antiga Rota da Seda, ou seja na crucial Eurásia sobre a qual tanto tem escrito um dos principais estrategas norte-americanos, Zbigniew Brzezinski, ou ainda, com grande profundidade, o historiador britânico residente nos Estados Unidos, Paul Kennedy.

A Guerra dos 100 Anos foi igualmente um detonador importante da expansão ultramarina, sobretudo pelo lado inglês, depenado pela guerra, já sem ouro para pagar a colaboração holandesa na estratégia de tensão e guerra contra a França e os seus aliados: Escócia, Boêmia, Castela e Papado de Avinhão.

Os nossos historiadores, quase sempre mui atentos e obrigados, raramente objetivos, nunca estudaram convenientemente o casamento entre a inglesa de gema Phillipa of Lancaster e o nosso João I, nem o papel crucial que Filipa viria a ter na educação política e humanista dos seus filhos (Filipa fora educada por Geoffrey Chaucerthe Father of English literature, e autor dos famosos The Canterbury Tales), e sobretudo naquela que viria a ser a maior aventura do povo português desde que Afonso Henriques afirmou de espada na mão o nosso território vital.

A rainha portuguesa, com fortes ligações diplomáticas a Inglaterra e uma notória influência no seu país de origem, terá estado na origem da estratégia da conquista de Ceuta, a qual abriria as portas aos impérios ultramarinos europeus. Apanhada por uma epidemia de peste bubónica, morreira menos de um mês antes da Batalha de Ceuta, que teve lugar em 14 de agosto de 1415.

Esta breve excursão histórica é importante, pois completam-se este ano seis séculos de uma rotação da história mundial, hoje prestes a sofrer uma oscilação em sentido oposto, com o desembarque financeiro da China em Portugal. Quando a Europa do século XV saía da Idade Média, a China mergulhava no isolacionismo imperial que lhe daria cinco séculos de regressão tecnológica, económica, social e cultural.

Nasci em Macau e sei o suficnete da sensibilidade chinesa para poder afirmar que este é um ano de grande simbolismo para a China. Que grande oportunidade perdida por António Costa! Podia ter lido um discurso à altura deste momento simbólico, redigido por algum intelectual digno do nome, com grandeza e sabedoria. O que ocorreu foi uma farsa deprimente que em breve acabará com a imprestável carreira política de um alcaide que nem o cargo respeita.

Defendi e defendo que Lisboa seja para a China o que as Portas do Cerco sempre foram para Pequim ao longo de quatrocentos e quarenta e seis anos: um caminho de acesso à Europa, e um entreposto comercial privilegiado com a China.

Quando passeava pelo Bund de Xangai, numa noite de 1999, polvilhada de humidade e mistério, olhei para Pudong, então com menos de uma década de transformação naquilo que hoje é: uma impressionante metrópole. Não resisti anos mais tarde (2005) a imaginar a extensão do centro de Lisboa para a Margem Sul—uma cidade com duas margens como hoje Xangai é. Mais pequenina, sem perdermos a graça barroca da nossa história, mas ainda assim virada corajosamente e com imaginação para o futuro. Poderia a China ajudar-nos a tornar realidade esta visão? A guia que me acompanhava naquele passeio após um jantar memorável perguntou: em que pensas? Respondi: que o mundo é pequeno e que somos todos muito parecidos.

A China sabe que o inferno que hoje se vive no Médio Oriente e nas fronteiras naturais da Rússia resultam da estratégia de antecipação imperial americana, que pretende deste modo travar a expansão chinesa no mundo. Para que tal estratégia resulte será necessário aos americanos fazerem o contrário do que os europeus fizeram depois da queda de Constantinopla e da Batalha de Ceuta: fechar o ex-império ocidental ao exterior, ao Outro, numa espécie de Nova Idade Média, burocrática, autoritária, ressuscitando a caça às bruxas e o medo—matando a liberdade, claro.

Se é esta a ideia americana, tal implicará duas grandes guerras, uma contra a Rússia, na qual boa parte da Europa poderá ser destruída, e uma guerra contra a China, que começará, pelo norte, com uma confrontação liderada pelo Japão, e a sul, com a destruição da nova Rota da China em acelerada construção, através do bloqueio do Estreito de Malaca. O Pacífico será de novo um Inferno.


Talvez por compreender que os relógios desta aparente inevitabilidade aceleraram subitamente, a China tenha decidido esta semana tomar a decisão histórica de se colocar oficialmente ao lado da Rússia no conflito que a esta foi imposto pelo Ocidente, através de sucessivas provocações, de que a tentativa de integrar a Ucrânia na União Europeia e na NATO foi a gota de água que transbordou de um copo já demasiado cheio.

Se esta análise aderir à realidade, como penso que adere, Portugal está metido num grande sarilho.

A menos que acorde e resolva lançar-se na missão histórica de propor e intermediar a negociação dum novo Tratado de Tordesilhas, em nome da paz, mas sobretudo em nome de uma estratégia win-win, como aquela que no longínquo dia 7 de junho de 1494 os reis na Ibéria souberam pactar, seremos sujeitos a enormes pressões vindas do Oriente e do Ocidente. A minha cabeça está em Portugal, mas uma parte do meu coração vive em Pequim, Xangai e os olfactos primordiais nasceram em Macau.

China Just Sided With Russia Over The Ukraine Conflict
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/27/2015 22:25 -0500

When it comes to the Ukraine proxy war, which started in earnest just about one year ago with the violent coup that overthrew then president Yanukovich and replaced him with a local pro-US oligarch, there has been no ambiguity who the key actors were: on the left, we had the west, personified by the US, the European Union, and NATO in general; while on the right we had Russia. In fact, if there was any confusion, it was about the role of that other "elephant in the room" - China.


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Os limites do otimismo

Clique para ampliar

Não haverá milagre na Grécia, mas destruir as classes médias não é solução


O notável artigo de Michael Pettis, que abordámos em post anterior, dedicado ao pensamento efeverscente e maniqueísta sobre as responsabilidades pelas crises grega, cipriota, portuguesa, espanhola, italiana, e em geral da maioria dos países europeus, demonstrando que o capitalismo global é um sistema de vasos comunicantes onde as crises financeiras tendem a assumir natureza sistémica, exigindo, por esta razão, remédios permanentemente concertados, precisa talvez de uma contextualização económica mais ampla.

Recomendo, por isso, a leitura de um outro artigo recente, não menos notável, de Gail Tverberg, analista de risco, editora do extinto e célebre The Oil Drum, e autora do blogue Our Finite World.

Gail Tverberg considera, como eu e um número crescente de observadores, que nos aproximamos ou estamos já no quadro energético previsto por M. King Hubbert [1956, “Nuclear Energy and the Fossil Fuels”—pdf], conhecido como Pico do Petróleo. Este quadro casa, aliás, com um outro mais recente, traçado em 1972 pela equipa do relatório The Limits to Growth, que analisa os limites do paradigma de crescimento em que ainda vivemos, do qual temos que sair, mas ninguém sabe como.

Clique para ampliar

Os quadros estatísitcos têm vindo a confluir na perceção de que estamos no fim de uma longa era de prosperidade e crescimento explosivo, único na história humana, cujos motores principais foram o carvão mineral, o petróleo e o gás natural, a par de descobertas e invenções tão extraordinárias quando a eletricidade, a energia nuclear, a higiene e o saneamento básico, ou as vacinas e os antibióticos.

Sem energia abundante e barata o paradigma civilizacional em que nascemos e nos habituámos a perceber como natural há três coisas que desaparecerão depois de sucessivas e dolorosas crises:
  • taxas de crescimento demográfico e económico acima dos 2%
  • crescimento baseado na utilização de capital intensivo e em endividamento
  • boa parte da atividade discricionária não produtiva, nomeadamente o consumo conspícuo de massas.

Esta versão inesperada de The Tragedy of the Commons [Garrett Hardin, 1968] parece já estar, de facto, em cena num qualquer smartphone, ou televisão perto de si. O aparente triunfo argumentativo de Yanis Varoufakis face à inércia burocrática de Bruxelas e Berlim, e face ao defensismo atávico do BCE e do sistema financeiro em geral, espelha bem que o problema que temos entre mãos é um daqueles problemas a que Hardin chamou “a no technical solution problem”.

Clique para ampliar

Recomendando desde já a leitura integral do artigo em três partes de Gail Tverberg reproduzi a modo de convite alguns extratos e alguns gráficos esclarecedores. Quem quer que seja que pretenda chegar ao poder, nomeadamente para mtigar a contínua má direção que temos seguido, deverá, antes de mais, ler atentamente os três artigos aqui citados—o de Gail Tverberg, o de Michael Pettis, e o célebre artigo de Garrett Hardin, publicado pela Science em 1968.

Clique para ampliar

A new theory of energy and the economy, Part 1
Generating economic growth
By Gail Tverberg
Posted on January 21, 2015

[...]

What if oil prices are artificially low, on a temporary basis? The catch is that not all costs of oil producing companies can be paid at such low prices. Perhaps the cost of operating oil fields still in existence will be fine, and the day-to-day expenses of extracting Middle Eastern oil can be covered. The parts of the chain that get squeezed first seem to be least essential on a day to day basis–taxes to governments, funds for new exploration, funds for debt repayments, and funds for dividends to policyholders.

Unfortunately, we cannot run the oil business on such a partial system. Businesses need to cover both their direct and indirect costs. Low oil prices create a system ready to crash, as oil production drops and the ability to leverage human labor with cheaper sources of energy decreases. Raising oil prices back to the full required level is likely to be a problem in the future, because oil companies require debt to finance new oil production. (This new production is required to offset declines in existing fields.) With low oil prices–or even with highly variable oil prices–the amount that can be borrowed drops and interest costs rise. This combination makes new investment impossible.

If the rising cost of energy products, due to diminishing returns, tends to eliminate economic growth, how do we work around the problem? In order to produce economic growth, it is necessary to produce goods in such a way that goods become cheaper and cheaper over time, relative to wages. Clearly this has not been happening recently.

The temptation businesses face in trying to produce this effect is to eliminate workers completely–just automate the process. This doesn’t work, because it is workers who need to be able to buy the products. Governments need to become huge, to manage transfer payments to all of the unemployed workers. And who will pay all of these taxes?

The popular answer to our diminishing returns problem is more efficiency, but efficiency rarely adds more than 1% to 2% to economic growth. We have been working hard on efficiency in recent years, but overall economic growth results have not been very good in the US, Europe, and Japan.

Artigo completo


A new theory of energy and the economy, Part 2
Charts showing the long-term GDP-energy tie
By Gail Tverberg
Posted on February 5, 2015

The high oil prices–around $100 per barrel–continued until United States QE was tapered down and stopped in 2014. About the same time, China made changes that made debt more difficult to obtain. Both of these factors, as well as the long-term adverse impact of $100 per barrel oil prices on the economy, brought oil price down to its current level, which is around $50 per barrel (Figure 10). The $50 per barrel price is still very high relative to the cost of oil when our infrastructure was built, but low relative to the current cost of oil production.

[...]

Where Does the World Economy Go From Here?

In Part 1, I described the world’s economy as one that is based on energy. The design of the system is such that the economy can only grow; shrinkage tends to cause collapse. If my view of the situation is correct, then we need an ever-rising amount of  inexpensive energy to keep the system going. We have gone from trying to grow the world economy on oil, to trying to grow the world economy on coal. Both of these approaches have “hit walls”. There are other low-income countries that might increase industrial production, such as in Africa, but they are lacking coal or other cheap fuels to fuel their production.

Now we have practically nowhere to go. Natural gas cannot be scaled up quickly enough, or to large enough quantities. If such a large scale up were done, natural gas would be expensive as well. Part of the high cost is the cost of the change-over in infrastructure, including huge amounts of new natural gas pipeline and new natural gas powered vehicles.

New renewables, such as wind and solar photovoltaic panels, aren’t solutions either. They tend to be high cost when indirect costs, such as the cost of long distance transmission and the cost of mitigating intermittency, are considered. It is hard to create large enough quantities of new renewables: China has been rapidly adding wind capacity, but the impact of these additions can barely can be seen at the top of Figure 14. Without supporting systems, such as roads and electricity transmission lines (which depend on oil), we cannot operate the electric systems that these devices are part of for the long term, either.

We truly live in interesting times.

Artigo completo


A new theory of energy and the economy, Part 3
The Problem of Debt as We Reach Oil Limits
By Gail Tverberg
Posted on February 11, 2015

Many readers have asked me to explain debt. They also wonder, “Why can’t we just cancel debt and start over?” if we are reaching oil limits, and these limits threaten to destabilize the system. To answer these questions, I need to talk about the subject of promises in general, not just what we would call debt.

In some sense, debt and other promises are what hold together our networked economy. Debt and other promises allow division of labor, because each person can “pay” the others in the group for their labor with a promise of some sort, rather than with an immediate payment in goods. The existence of debt allows us to have many convenient forms of payment, such as dollar bills, credit cards, and checks. Indirectly, the many convenient forms of payment allow trade and even international trade.

Each debt, and in fact each promise of any sort, involves two parties. From the point of view of one party, the commitment is to pay a certain amount (or certain amount plus interest). From the point of view of the other party, it is a future benefit–an amount available in a bank account, or a paycheck, or a commitment from a government to pay unemployment benefits. The two parties are in a sense bound together by these commitments, in a way similar to the way atoms are bound together into molecules. We can’t get rid of debt without getting rid of the benefits that debt provides–something that is a huge problem.

There has been much written about past debt bubbles and collapses. The situation we are facing today is different. In the past, the world economy was growing, even if a particular area was reaching limits, such as too much population relative to agricultural land. Even if a local area collapsed, the rest of the world could go on without them. Now, the world economy is much more networked, so a collapse in one area affects other areas as well. There is much more danger of a widespread collapse.

Our economy is built on economic growth. If the amount of goods and services produced each year starts falling, then we have a huge problem. Repaying loans becomes much more difficult.

In fact, in an economic contraction, promises that aren’t debt, such as promises to pay pensions and medical costs of the elderly as part of our taxes, become harder to pay as well. The amount we have left over for discretionary expenditures becomes much less. These pressures tend to push an economy further toward contraction, and make new promises even harder to repay.

[...]

Governments of “advanced” countries now have debt levels that are high by historical standards. If there is another major financial crisis, the plan seems to be to use Cyprus-like bail-ins of banks, instead of bailing out banks using government debt. In a bail-in, bank deposits are exchanged for equity in the failing bank. For example, in Cyprus, 37.5% of deposits in excess of 100,000 euros were converted to Class A shares in the bank.

[...)

The economy, as it exists today, has been made possible by countries working together. With sanctions against Iran and Russia, we are already moving away from this situation. Low oil prices are now putting the economies of oil exporters at risk. As countries try different approaches on interest rates, this adds yet another force, pulling economies apart.

[...]

Conclusion

If the current economic system crashes and it becomes necessary to create a new one, the new system will have to deal with having an ever-smaller amount of goods and services available for a fairly long transition time. This is one chart I have shown in the past of how the growth in energy products, and thus growth in goods and services, might look.

Because of this, the new system will have to be very different from the current one. Most promises will need to be of short duration.  Transfers among people living in a particular area might still be facilitated by a financial system, but it would be hard to have long-term or long-distance contracts. As a result, the new economy will likely need to be much simpler than our current economy. It is doubtful it could include fossil fuels.

Many people ask why we can’t just cancel all debt, and start over again. To do so would probably mean canceling all bank accounts as well. Most of our current jobs would probably disappear. We would probably be without grid electricity and without oil for cars. It would be very difficult to start over from such a situation. We would truly have to start over from scratch.

I have not talked about a distinction between “borrowed funds” and “accumulated equity”. Such a distinction is important in terms of the rate of return investors expect, but it is not as important in a crash situation. Similarly, the difference between stocks, bonds, pension plans, and insurance contracts becomes less important as well. If there are real problems, anything that is not physical ends up in the general category of “paper wealth”.

We cannot count on paper wealth (or for that matter, any wealth) for the long term. Each year, the amount of goods and services the economy can produce is limited by how the economy is performing, given limits we are reaching. If the quantity of these goods and services starts falling rapidly, governments may fail in addition to our problems with debts defaulting. Those holding paper wealth can’t count on getting very much. Workers producing whatever goods and services are actually being produced will likely need to be paid first.

Artigo completo

terça-feira, novembro 04, 2014

Alemanha trava apetite pavloviano da 'esquerda' europeia

Schaeuble não desiste de proteger a Europa da sua deriva suicidária


Quem não fizer reformas fica sem fundos


Alemanha quer cortar fundos a países que não cumpram reformas
Jornal de Negócios, 02 Novembro 2014, 16:22 por Lusa

A Alemanha quer reforçar o controlo do processo de reformas na Zona Euro e defende que as recomendações da Comissão Europeia sejam vinculativas e que os países que não as cumprem num determinado prazo sejam penalizados com cortes de fundos.

A proposta consta de um documento subscrito pelos ministros alemães das Finanças, Wolfgang Schäuble, e da Economia, Sigmar Gabriel, publicada este domingo, 2 de Novembro, pela revista Der Spiegel.

Segundo a publicação, o Governo alemão entregou a proposta em finais de Outubro à Comissão Europeia, ao presidente do Eurogrupo e à presidência rotativa da União Europeia (UE), actualmente ocupada pela Itália.

Lá se vai o sonho despesista dos populistas da 'esquerda' e do cheque em branco António Costa e seus patrões, Mário Soares, Almeida Santos e José Sócrates. A família Espírito Santo já era.

O pessoal já andava a salivar o QREN que nem Porquinhos-da-Índia. A guerra partidária de há quase um ano para cá resumia-se, aliás, a uma disputa pelo controlo, em 2015, dos famosos fundos comunitários. A receita orçamental já não pode crescer mais, apesar do fascismo fiscal em curso, e o crescimento da economia ainda menos, ou seja, sem a massa que vem de fora, do BCE, do FMI, de outros países europeus e dos emigrantes, o país voltaria a caminhar rapidamente para a bancarrota, arrastando na implosão uma parte substancial da partidocracia e do regime. Até lá, a demagogia, o populismo e o golpismo institucional tenderiam a agravar-se.

A menos que a Alemanha tome ela mesma a decisão de abandonar o euro, jamais permitirá a continuação do deboche orçamental nas corruptas partidocracias europeias, nomeadamente do sul da União Europeia. No entanto, se Berlim perdesse este braço de ferro, o resultado seria um tiro na cabeça da Europa, à semelhança daquele que a cleptocracia japonesa acaba de dar no seu sacrificado povo. A Rússia, Israel e a América agradeceriam certamente encarecidamente esfe favor da descerebrada e oportunista 'esquerda' europeia. Podemos, aliás, começar a olhar para o exemplo ucraniano como se de um espelho se tratasse.

Se a pseudo esquerda portuguesa ganhar as próximas eleições, criando expetativas infundadas e irrealizáveis, todo o sacrifício até agora feito será deitado à rua e a consequência de tamanha cegueira coletiva será um novo resgate bem mais duro do que aquele que tivemos, a par do descrédito completo da democracia populista que afundou o país. Nessa altura, se formos por aí, talvez surja então um movimento parecido com o espanhol Podemos, só que de sinal contrário!