domingo, agosto 29, 2004

Women on Waves 3

O ridículo Ministro da Defesa Nacional não vive na Europa!


Paulo Portas: metamorfoseOAM
#42
29 Agosto 2004
O imprestável Ministro da Defesa acabou por levar adiante a sua provocação contra a esperada visita a Portugal das Women on Waves. Interpretando a Lei Internacional sobre acolhimento de navios em águas territoriais com aquele calculismo cínico que tão bem caracteriza os pequenos ditadores, o Sr. Portas decidiu impedir a entrada de um navio Europeu num porto Português. Trazia bombas? Droga? Imigrantes escondidos em caixotes de bananas? Mafiosos ligados às redes criminosas de prostituição infantil? Não. Trazia, tão só, um grupo de mulheres e uma causa.
As mulheres são cidadãs europeias, e a causa — a da interrupção voluntária da gravidez — há muito que vem sendo debatida e votada em todos os países da Comunidade.
Para além do oferecimento de serviços de aconselhamento médico, as Women on Waves proporcionam ainda a possibilidade de realizar abortos em águas internacionais, sempre que reunidos os pressupostos previstos na generalidade das legislações comunitárias (e em particular na legislação Holandesa). O Governo Português não tem, pois, nada a ver com este assunto. Tal como não teria se iniciativa cívica similar viesse a ter lugar, por exemplo, no interior de um autocarro Espanhol que viesse a Lisboa defender as mesmas ideias e oferecer a prestação dos mesmos serviços, desta vez em Badajoz, ou se ainda um avião Francês viesse à Portela, fretado por uma ONG determinada a realizar acção idêntica. A interdição executada por este Governo de opereta não passa assim de uma ilegalidade e de uma prepotência manifestas. Aliás graves, se tivermos em conta que ambas se dirigiram contra cidadãos europeus no uso dos seus direitos e liberdades democráticas.
A Direita Portuguesa que actualmente nos desgoverna (por pouco tempo, felizmente) é de uma hipocrisia caricata. Na sua impotência empresarial, política e militar, rasteja como uma pedinte queixosa e baba-se diante dos divinizados Fundos Comunitários (que logo rouba, corrompe ou desbarata em parvoíces). Quando lhe convem, porém, puxa dos pergaminhos inexistentes e transforma o exercício da Política numa Revista nacionalista ao estilo do mais decadente Parque Mayer.
Como previa, o Paulo Portas continua muito bem colocado para destruir ou tomar conta do PPD. Quanto a Santana Lopes, vamos vê-lo frequentemente a assobiar para o ar e a passar intermináveis férias de trabalho em Ibiza. Do Sr. Sampaio, nem pio.

Post-scriptum [22:00] — O PPD pronunciou-se formal e pomposamente, através dum qualquer néscio recentemente promovido por Santana Lopes, a favor do “combate” contra a terrível ameaça à soberania nacional chamada Women on Waves. Que vergonha! Onde já vai o PPD de Paulo Portas...
Toda a gente sabe que as fragatas e as aeronaves do Paulinho nada fazem que se veja, em matéria de controlo da pesca ilegal nas águas territoriais Portuguesas (que aliás, para este efeito, são naturalmente e cada vez mais águas territoriais comunitárias), ou na caça aos traficantes de droga que desembarcam as suas mercadorias de Norte a Sul do País, ou no ataque às redes de tráfico e exploração de seres humanos (mulheres e crianças principalmente), ou na luta contra o expatriamento fraudulento de capitais para o “off-shore” da Madeira e similares. O Paulinho e o novo PPD são impotentes (coitados!) para fazer face a qualquer destas guerras. Mas têm uma coragem do caraças para bloquear, como se de uma armada hostil se tratasse, um pequeno rebocador com 8 mulheres ao serviço de uma causa ideológica comum à esmagadora a maioria da população europeia. Os Espanhóis têm uma expressão muito engraçada para este tipo de exercício virtual do poder: “paja mental” (i.e. pívia mental!).

1 comentário:

Anónimo disse...

Li uma vez numa "Art Press", um artigo dedicado à obra de Lobo Antunes, o nome do autor do artigo lamentavelmente não me recordo, mas lembro-me perfeitamente de um destaque que fez a uma frase do escritor (seria o Fado Alexandrino?) e que dizia mais ou menos o seguinte: "tanta miséria sob um céu tão azul"
CC.