Quarenta anos depois, para os que podem lembrar-se, foi ontem.
Estamos melhor e estamos pior.
Pela frente teremos, no mínimo, mais sete anos de sofrimento e de crise política, institucional e cultural.
Não importa quem governe.
Até 2026, pelo menos, dependeremos inteiramente dos credores.
Em 2020 perderemos a última rede de proteção especial conferida pela afluência ao nosso país de gigantescos fundos financeiros da União Europeia.
Estaremos em breve fora da casca imperial que nos protegeu durante seiscentos anos (1415-2015).
Como será a casca europeia depois de 2020 é uma incógnita.
Se a Europa vingar, bastará educar os indígenas. Se a Europa voltar a colapsar, faltará saber se seremos ou não capazes de evitar o regresso a um regime autoritário e de pobreza sem solidariedade.
No dia 25 de abril de 1974 fui acordado de madrugada por um comandante da TAP que deu ao meu pai a notícia de que um golpe militar estava em marcha. Era um desfecho esperado há meses.
Levantei-me e fui dar a notícia a um amigo, notável intelectual e comunista. Disse-me que se a coisa era entre militares talvez não desse em tragédia, pois os militares sabem o que é uma guerra e não gostam de morrer estupidamente.
Segui no comboio até ao Cais Sodré. Estava fresco. Chuviscava de vez em quando, mas o Sol acabou por ganhar o dia. Horas depois fugia de uma saraivada de balas da PIDE. Não morri.
Parece que foi ontem.
Claro que valeu a pena!