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sábado, abril 25, 2015

A Corja e o 25 de Abril



O gene fascista continua vivo nas entranhas da nossa democracia


A princípio atribuí o ruído à inépcia burocrática proverbial das turmas de deputados que povoam o galinheiro de São Bento, sempre muito ocupados a redigir, discutir e aprovar opacidades constitucionais e legislativas ao sabor dos escritórios de advogados que dominam a poda parlamentar no que realmente interessa ao feudalismo urbano secular e ao indelével corporativismo que continuam a dominar o país, independentemente das máscaras e cores que levam ao baile.

Depois fui começando a ler descrições e transcrições do monstro partidário que o PS, PSD e CDS se preparavam para aprovar no hemiciclo da incompetência e corrupção que conduziu Portugal à pré-bancarrota. Tratava-se, nada mais, nada menos, do que ensaiar a criação de um dos muitos espartilhos da frente populista autoritária que tanto Cavaco Silva, como António Costa, gostariam de instaurar depois das próximas, previsivelmente inconclusivas, eleições.

Ou seja, este ensaio de regresso à censura fascista destina-se a testar a solidez cultural da democracia, saber se a cidadania é ou não capaz de impedir o golpe de estado constitucional que, pelos vistos, está em preparação por quem o povo deseja, cada vez mais, ver pelas costas.

Na realidade, esta farsa é uma prova de pânico do regime. Temem, e ainda bem que temem, um duro castigo eleitoral, sem distinção de qualquer das pernas do Bloco Central da Corrupção.

Ainda não temos nenhum Podemos, nenhum Syriza, nem, felizmente, nenhuma Aurora Dourada a atear fogos pelo país.

Para já emigraram permanentemente, desde o ano 2000, mais de 260 mil portugueses. Só em 2011, 2012 e 2013, entre emigrantes permanentes e temporários, saíram do nosso país mais de 350 mil pessoas (PORDATA). Mas o pico da emigração já foi atingido. Resta agora, aos que ficam, enfrentar a situação de ruína a que uma casta de piratas e de inúteis conduziram o país. No centro desta desgraça está a nomenclatura financeira, corporativa e partidária, uma espécie de argamassa oportunista beneficiada por uma repartição desigual, injusta e corrupta dos rendimentos disponíveis.

Acredito que as novas gerações, que não viveram a ditadura, e mal se lembram do período pré-revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril, em geral melhor preparadas academicamente, saberão travar esta deriva, mudando por dentro os partidos existentes, criando novos partidos, e sobretudo expandindo a cidadania democrática livre, nomeadamente através do investimento intelectual e cultural nas redes sociais.

Espero, por isso, que nas próximas eleições a corja leve mais uma tareia de abstenções e de votos nos partidos minoritários e ultra-minoritários. É por aqui, e não ruminando uma vez mais as promessas da corja que quase destruiu o país, que nos salvaremos e salvaremos Portugal, a liberdade e a democracia.

O modo como o El País viu a tentativa golpista dos 'democratas' e 'socialistas' indígenas contra a liberdade de imprensa, a um dia de comemorar o 25A, é um daqueles estímulos culturais que não podemos deixar de estimar e agradecer.

A propósito, já se demitiu algum deputado? O Podemos chama, com razão, a esta malta, casta.
El Gobierno y los socialistas portugueses, de acuerdo en censurar a la Prensa
El País, Javier Martín Lisboa 23 ABR 2015 - 22:22 CEST

Un proyecto de ley obliga a que los medios envíen previamente sus planes de cobertura electoral y a que el espacio de opinión no exceda al de la información
Portugal celebra los 40 años de libertad de expresión, pero parece que no cumplirá los 41 años. Con nocturnidad y alevosía, con una celeridad desconocida en este país, los tres partidos mayoritarios, los gobernantes PSD y CDS, y el principal partido de la oposición, el Partido Socialista, se han puesto de acuerdo para un proyecto de ley que pretende establecer el control previo de los medios de comunicación en la próxima campaña electoral.

El texto de la proposición, que ha sido enviado también a los partidos parlamentarios Partido Comunista y al Bloco de Esquerda, obliga a que cada medio de comunicación, público o privado, presente antes del periodo electoral un plan de cobertura de las elecciones, que será controlado por una comisión mixta formada por personas designadas por los partidos políticos. El incumplimiento de ese plan acarreará multas y sanciones de hasta 50.000 euros, aparte de otras amenazas.

El llamado oficialmente "visto previo”, o sea, la censura previa, afectará a cualquier tipo de contenido, ya sean noticias, reportajes, entrevistas o debates, y abarca a todo tipo de medios: escritos, radiofónicos, televisivos, analógicos y digitales; por primera vez, las páginas de internet van a tener que enviar sus planes de cobertura electoral al poder político.

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sábado, abril 26, 2014

O corropio do Carmo

Ramalho, Mário Soares e Otelo cantam no Largo do Carmo no dia 25 de abril de 2014
Tiago Miranda/ Expresso, 25/04/2014

Andam todos muito agitados, mas não trazem nada de novo...


Aníbal Cavaco Silva disse no seu discurso de 25 de abril, pela primeira vez, que o regime partidocrata está em causa, pedindo uma reflexão urgente aos partidos.

Como é evidente os partidos do sistema não ouviram.

Mas a discussão sobre a necessidade de uma reforma profunda do regime tem agora uma nova arena de debate e movimentos brownianos mais ou menos estridentes. Uma mão cheia de almas inocentes parecem ter acordado ao mesmo tempo, afiando facas. No CDS-PP, Paulo Portas; no PSD, Rui Rio; e no PS, a reincarnação cubana de Mário Soares.

Para derrubar o atual governo, temos os bonzos da 'esquerda'. Para uma revolução democrática institucional, vimos esta semana Rui Rio substituir Durão Barroso na linha de partida para as presidenciais.

A balbúrdia é, como se vê, enorme e vem desaguar no que há muito vimos descrevendo como o fim de um regime partidocrata populista e corrupto que conduziu Portugal a uma vergonhosa bancarrota.

Os partidos estão a desfazer-se por dentro. PSD, PS e Bloco de Esquerda vão ser duramente abanados pela abstenção crescente do eleitorado e pela politização cada vez mais articulada desta abstenção. A carnagem começou. Os latifundiários de Abril pensam que têm a História no papo. Mas não têm!

Há em Portugal um limite objetivo aos devaneios oportunistas da 'esquerda', que esta nunca entendeu, por ser em regra dirigida por cabeçudos anestesiados com ideologias requentadas, quando não completamente obsoletas.

Em Portugal há, sensivelmente:
  • 10,6 milhões de portugueses
  • 11,7 milhões de prédios rústicos (1)
  • 305 mil explorações agrícolas (36.681,45 Km2; 40% da superfície agrícola útil)
  • 7,9 milhões de prédios urbanos
  • 4,4 milhões de alojamentos (num total de mais de 5,8 milhões) ocupados pelos seus proprietários

Não é preciso saber mais nada sobre a sociologia do país.

Uma parte dos mais de 120 mil portugueses que emigraram desde 2000 para cá fizeram-no para poder honrar os compromissos que assumiram junto da banca na compra das suas casas. Ou seja, nada há de mais importante para a esmagadora maioria dos portugueses do que as suas famílias e as suas propriedades, grandes ou pequenas, urbanas ou rústicas, tanto faz. Quem não entender estas cifras simples não entenderá nunca porque está eleitoralmente acantonado, ou porque o rotativismo no interior do Bloco Central depende exclusivamente do número de lugares que o PS e o PSD são capazes de distribuir e sobretudo manter na administração pública e em geral na órbita do estado.

Como a insolvência do país vai obrigar, esteja quem estiver no governo, a encolher o estado e os partidos, a sorte da presente nomenclatura partidária está mais ou menos traçada.

Podemos imaginar, com muito esforço, que surgiam luminárias novas dos partidos sentados em São Bento, e que da sua luz surgiria, por exemplo, uma frente alargada e pragmática de esquerda integrada pelo PCP, Verdes, BE e uma cisão do PS (2), disponível para formar governos futuros; e que uma parte do PSD se juntaria ao PS depois de este ver partir os fraturantes; nascendo desta recomposição um novo espetro partidário capaz de se apresentar ao eleitorado com algumas ideias arejadas e ajustados à sociologia do país.

Podemos imaginar até que haveria uma revisão constitucional constituinte, através da qual se reduziria o número de deputados centrais, regionais e municipais e se mudariam as respetivas regras de representação; e uma regionalização decente, com a criação das cidades-região de Lisboa e Porto, e o fortalecimento político das juntas de freguesia, enquanto pilares micrológicos reforçados da democracia; e que haveria até uma nova câmara dedicada à representação dos principais interesses corporativos do país, aumentando desta forma a transparência do sistema.

Os receios de que esta utopia não passe disto mesmo, ou seja, de um não lugar, leva-me diretamente ao próximo cenário: preparar Portugal para uma democracia sem partidos!

Nesta democracia por vir predominariam as instâncias de democracia direta, predominariam de forma transparente as instituições cognitivas, profissionais e espirituais do país. Os partidos, talvez muito diferentes dos atuais, continuariam a existir e a contribuir para a definição política da comunidade, mas já sem o poder de dominar (e arruinar) as sociedades.


NOTAS
  1. Census 2011 (web), RCM n.º 56/2012 (DRE), Pordata e O Cadastro e a Propriedade Rústica em Portugal (pdf)
    © Fundação Francisco Manuel dos Santos e Rodrigo Sarmento de Beires, 2013. 
  2. Esta frente é improvável, para não dizer impossível, dada o perfil genético jacobino e sectário comum a todas as formações da dita 'esquerda'. Já ontem vimos, como voltaremos a ver no dia 1 de maio, o PCP, a Intersindical e os pseudo Verdes, numa rua, e o PS, arrastando pela mão alguns testamenteiros oportunistas do MFA, num largo aconchegado qualquer. Convém a este propósito reter um dado importante: na minha opinião, Mário Soares comprou (ou melhor dito, vendeu) a saída do euro aos grandes rendeiros do país, do latifúndio à banca, passando pelos monopólios naturais. Doutro modo seria inimaginável ver um ex-presidente da república apelar à subversão violenta do regime. O que ele está a dizer, uma vez mais, é que, com os 'socialistas' dele, a cleptocracia, os devoristas e as corporações do regime serão, uma vez mais, defendidos. Adivinho ainda, nesta manobra em preparação, a mão da diplomacia americana, a quem interessa ver Portugal regressar ao redil atlantista, e a quem não interessa nada permitir uma extensão e reforço súbito da presença militar da União Europeia (i.e. da Alemanha), do Dniepre até ao Corvo.

sexta-feira, abril 25, 2014

40 anos depois

  

Quarenta anos depois, para os que podem lembrar-se, foi ontem. 


Estamos melhor e estamos pior.

Pela frente teremos, no mínimo, mais sete anos de sofrimento e de crise política, institucional e cultural.

Não importa quem governe.

Até 2026, pelo menos, dependeremos inteiramente dos credores.

Em 2020 perderemos a última rede de proteção especial conferida pela afluência ao nosso país de gigantescos fundos financeiros da União Europeia.

Estaremos em breve fora da casca imperial que nos protegeu durante seiscentos anos (1415-2015).

Como será a casca europeia depois de 2020 é uma incógnita.

Se a Europa vingar, bastará educar os indígenas. Se a Europa voltar a colapsar, faltará saber se seremos ou não capazes de evitar o regresso a um regime autoritário e de pobreza sem solidariedade.

No dia 25 de abril de 1974 fui acordado de madrugada por um comandante da TAP que deu ao meu pai a notícia de que um golpe militar estava em marcha. Era um desfecho esperado há meses.

Levantei-me e fui dar a notícia a um amigo, notável intelectual e comunista. Disse-me que se a coisa era entre militares talvez não desse em tragédia, pois os militares sabem o que é uma guerra e não gostam de morrer estupidamente.

Segui no comboio até ao Cais Sodré. Estava fresco. Chuviscava de vez em quando, mas o Sol acabou por ganhar o dia. Horas depois fugia de uma saraivada de balas da PIDE. Não morri.

Parece que foi ontem.

Claro que valeu a pena!


quinta-feira, abril 25, 2013

O que diz Cavaco

A sombra azul de Soares.

Esquerda Cómoda, à rasca

Para além da algazarra monocórdica do costume, o que importa realçar é a descolagem de Belém do golpe de estado populista que Mário Soares, o PCP e o Bloco, em sintonia com a maioria das corporações, oligopólios e rendeiros do regime (da banca ao setor energético), que vivem todos, sem exceção, do orçamento do Estado (e da miséria crescente de milhões de portugueses), imaginaram ser possível levar a cabo ainda antes das eleições autárquicas.

Curiosamente, esta evolução dos acontecimentos, para muitos inesperada, veio criar condições ímpares para a consolidação da direção socialista de António José Seguro — e para o grande dilema que agora enfrentam as tropas de José Sócrates e o Bloco.

Ao PS de Seguro interessa cada vez mais deixar a coligação fazer o trabalho sujo que tem que ser feito, de uma maneira ou doutra, sofrendo todo o ónus da destruição de poupanças, de empregos e de contratos sociais insustentáveis formalmente celebrados ao longo de três décadas de prosperidade ilusória e de consolidação de um neocorporativismo institucional sem precedentes.

Não há saída para o buraco negro do endividamento (1) cavado por décadas de populismo, ganância corporativa e partidocracia, que não passe por uma redução do peso paquidérmico do Estado, pela libertação fiscal da sociedade e pelo fim da canga partidária sobre a vida económica, institucional e cultural dos portugueses.

Há, sim, Estado a mais. Há, sim, partidos a mais nas nossas vidas (2). Há, sim, uma oligarquia económico-financeira e polipartidária que vive criminosamente à custa do esmagamento da criatividade social, empresarial e cultural dos portugueses. Há, sim, um regime em fim de vida que é preciso substituir por uma democracia transparente, responsável e justa.

Post scriptum

Os opinocratas de serviço exibiram ontem a sua indignação perante o discurso do Presidente. Criticaram-no por dinamitar as pontes com os partidos da esquerda cómoda. Mas não criticaram o golpe de estado palaciano que esteve em curso contra a maioria governamental; mas não criticaram o cerco de rua montado pelo PCP e pela Intersindical ao Presidente da República, aos ministros em funções e ao próprio parlamento!

Cavaco, que chegou a confundir-se com a fronda neocorporativa e populista anti-Troika, cedo percebeu que a maré iria virar depois do alívio vindo de Bruxelas e de Frankfurt na sequência do fiasco de Chipre e da deterioração da situação em França e na Holanda. Cedo percebeu que o regresso de Sócrates, depois dos dois ataques virulentos que este desferiu contra o seu comportamento e carácter, mudara as circunstâncias. Uma coisa seria a queda de Passos Coelho, estando Seguro à frente do PS, outra muito diferente seria provocar a queda do governo de coligação sabendo que está em curso uma guerra civil dentro do PS, onde Almeida Santos, Mário Soares, Manuel Alegre e José Sócrates são aliados! Aníbal Cavaco Silva, seja pelo seu apurado instinto de sobrevivência, ou porque Durão Barroso lhe explicou a situação, deu meia volta, anunciou o fim da telenovela das eleições antecipadas, foi premiado com a nomeação de um apoiante seu para o governo —Miguel Poiares Maduro (pdf)— e depois, como mandam os manuais, perseguiu o inimigo! Só mesmo os cagarros da nossa indigente imprensa não perceberam, ou não querem perceber.

Noticias ao Minuto - O controverso discurso de Cavaco

O chefe de Estado apelou aos partidos para que definam as suas estratégias além dos calendários eleitorais, dizendo ser “uma ilusão pensar que as exigências de rigor orçamental irão desaparecer no fim do programa de ajustamento, em meados de 2014" e alertando que, se persistir uma visão imediatista, “de nada valerá ganhar ou perder eleições, de nada valerá integrar o Governo ou estar na oposição".

"É essencial alcançar um consenso político alargado que garanta que, quaisquer que sejam as concepções político-ideológicas, quaisquer que sejam os partidos que se encontrem no Governo, o país, depois de encerrado o actual ciclo do programa de ajustamento, adoptará políticas compatíveis com as regras fixadas no Tratado Orçamental que Portugal subscreveu", defendeu, num discurso que foi sendo pontuado por vários apartes das bancadas da oposição.

Cavaco defendeu ainda existir hoje uma “fadiga de austeridade” no país – mas pedindo que não se explore a ansiedade e inquietação dos cidadãos -, pediu que o desemprego seja uma “prioridade da acção governativa” e destacou, apesar das “consequências gravosas” do programa de assistência financeira, os objectivos alcançados e o sentido de responsabilidade revelado pelos portugueses.
Jornal de Negócios - Seguro prudente...

O secretário-geral socialista, António José Seguro, afirmou hoje que, durante o congresso do PS, haverá bastantes oportunidades para discutir "as consequências políticas" do discurso do Presidente da República na sessão solene do 25 de Abril.

[...] Perante a insistência nesta questão, o líder do PS apenas acrescentou que compreendia o interesse da comunicação social.

"Mas também compreendem que na sexta-feira, quando se iniciar o congresso, no sábado durante os trabalhos do congresso e no domingo, terei várias oportunidades de intervir e pode ter a certeza satisfarei a curiosidade", afirmou.

NOTAS

A lei geral é esta, o resto é demagogia de piratas.
  1. Não há regra sem exceção, mas regra é regra: quanto mais deves (acima de um certo patamar) menos cresces:. A propósito: “It’s A Bit Early To Declare A Winner In The Economic Debate” — Written by Lance Roberts | Thursday, April 25, 2013. Streettalk Live.
  2. Não é que sejam muitos, mas interferem demasiado nas nossas vidas e na vida da economia.

Última atualização: 26 abr 2013, 12:27 WET

segunda-feira, setembro 26, 2011

Portugal dos Pequenitos - 8

Afinal quem são os "indígenas"?

Deixando de lado as ideias de Sousa Tavares, que valem apenas o papel onde se embrulham, Vasco Pulido Valente retoma a velha teoria sobre os culpados do descalabro português, sacudindo a água do capote da sua geração, a dos sessenta anos e que em 25 de Abril andavam na casa dos trinta, portanto já estudados, formados e empregados.

VPV acha que a sua geração, afinal, logo que chegou a alvorada da liberdade de Abril de 74 “tentou tudo para a suprimir”, depois de a ter ansiado. “Assistiu, calada, ou mesmo se juntou, à louca procissão do PREC, em nome de uma doutrina que não percebia e de uma sociedade em que nunca aceitaria viver.”

Mas diz ao mesmo tempo que “a ausência do que tinha sido o movimento estudantil entre 1960 e 1974 no Governo e nos partidos entregou o poder a uma série de arrivistas, que não o tornaram a largar.”

Ora é aqui que a porca torce o rabo. Então a “geração estudantil de 60 a 74” não teve nada a ver com os governos e partidos correlativos? — in Os idos de 60, por José, Porta da Loja.

Parece que Vasco Pulido Valente tentou desculpabilizar a sua geração pela tripla bancarrota sucessiva do país, nos últimos 30 anos. Logo ele, que tanto ridicularizou os "indígenas" galaico-lusitanos!

Se preferirem, posso substituir a expressão "bancarrota sucessiva" por declínio escandaloso de uma democracia populista, incestuosa e corrupta até ao tutano. Na verdade, a guerra colonial insustentável (que durou de 1961 a 1974) conduziu ao desgaste inexorável das elites militares (nomeadamente do Quadro Permanente de Oficiais, sobretudo as oriundos da Academia Militar), que acabaram por conspirar e derrubar uma ditadura exangue que, nem o movimento estudantil, nem as Oposições verbais, tinham força, ou sequer estratégia inteligente, para derrubar. Mas quem derrubou a ditadura —os chamados "Capitães de Abril"—, apesar do apoio popular que obteve de imediato, e das instrumentalizadas ideologias marxistas-leninistas requentadas que o movimento estudantil e o Partido Comunista exportaram para a cacafonia do PREC, acabaria por ceder o poder à fraca Oposição anti-Salazarista, que apressadamente se foi metamorfoseando em partidos, sindicatos e numa crescente burocracia que não mais largaria o poder e o espaço público, até que o cancro da perda acelerada de soberania se revelou em toda a sua trágica dimensão: a bancarrota evidente de Portugal. Se a Eurolândia sobreviver, perderemos boa parte da nossa soberania (é o preço a pagar pelo calote cometido); se a Eurolândia não sobreviver, perderemos ainda mais depressa a nossa soberania, e neste caso, se vier a ocorrer, os credores entrarão pelo país dentro como a Índia, em Dezembro de 1961, entrou por Goa, Damão e Dio — sem cerimónia, nem aviso!

O problema maior de Vasco Pulido Valente, do Miguel Sousa Tavares e de muitos outros comentadores da coisa pública, é que não são analistas, não estudam a verdadeira mecânica do mundo actual, das economias e das nações, e têm horror intelectual aos pormenores. Sabem coisa nenhuma de finanças, de política económica, de mobilidade e transportes, de demografia, e se isto não bastasse para os desqualificar como leituras recomendáveis, detestam o estrangeiro e o mundo como qualquer dos "indígenas" ignorantes e brutos que criticam. Querem lá saber, o Vasco, o Miguel, o Marcelo, e todas as suas réplicas, de geografia e estratégia!

Para a maioria dos nossos jornalistas intelectuais, o que importa acima de tudo é a coscuvilhice entre-portas, a fulanização do texto, a qualidade literária dos adjectivos. Escrúpulo analítico e atenção aos factos e às séries estatísticas nunca os preocuparam. Posam para a história esquecendo que esta mesma vem sendo destruída pela superficialidade bacoca e complacente da nossa fraca inteligência nacional.

Que nos valham, uma vez mais, e agora, se possível, mais profundamente, os estrangeirados, os emigrantes e os novos portugueses que percorrem o mundo como a sua própria casa — pequena, cada vez mais familiar, e onde é urgente tecer uma nova ordem de inteligência, justiça e equilíbrio económico global. Portugal são os Portugueses, e não a dúzia de seitas que, julgando-se donas do país, nos conduziram de novo à vergonha. Sobreviveremos, sim, mas para não demorarmos mais tempo do que o necessário, seria bom reformar compulsivamente a corja responsável pelo descalabro, começando por desfazer as antinomias da sua fraca retórica.

PS: regressei a Lisboa e à minha praia de Carcavelos, para voltar de novo ao Porto e ao Douro no final desta, ou da próxima semana. Que lugares tão irresistíveis, e tão estranha gente.


domingo, março 13, 2011

Um 25 de Abril sem partidos?

Mário Soares não esperou certamente assistir a uma nova revolução popular no seu país, muito menos contra o PS!

Geração à Rasca, Avenida da Liberdade, Lisboa, 12 mar 2011 (Foto: OAM)
Tal como escrevi noutra ocasião, a ira que se vem acumulando na sociedade portuguesa não resulta apenas da precariedade profissional de uma juventude mal orientada, mas também da desilusão e revolta, por enquanto contida, dos pais e avós dessa mesma juventude. Estes dedicaram atenção, esforço e poupança ao futuro dos seus entes mais queridos. Quantas vezes, ao som cantante do optimismo libertário que ajudaram a fundar.

De há uma década para cá, porém, assistem incrédulos ao desmoronar aparentemente imparável de um imenso sonho e de uma não menos formidável esperança. O que eu hoje vi e senti ao longo da avenida da Liberdade foi a aliança, que irá crescer nas próximas semanas e meses, entre avós, filhos e netos, revoltados contra uma democracia que degenerou num regime partidocrata, clientelar e burocrático, a caminho de uma descarada cleptocracia.

Como se não bastasse este cancro instalado no âmago e nos vasos capilares do regime saído do 25 de Abril, estamos também no olho de um furacão financeiro e geoestratégico sem precedentes. O Ocidente decadente, apesar de todas as aparências modernas e pós-modernas, tem vindo a empobrecer, tem vindo a deixar de produzir, e entregou-se ao clássico frenesim do pão e circo, acumulando ao longo das últimas quatro décadas uma monumental dívida, acompanhada da transferência suicida do trabalho produtivo para os países, nações e tribos que colonizou e violentou ao longo dos últimos seiscentos anos.

Mais recentemente, em meados da década de 1980, perante a deterioração acelerada dos termos de troca entre os grandes consumidores anglo-americanos e europeus, e os novos grandes produtores de energia, matérias primas e bens transaccionáveis, os piratas da finança euro-americana resolveram abandonar o padrão-ouro e criar dinheiro a partir do nada. Nem sequer se deram ao trabalho de imprimir papel-dinheiro. Um simples clique de rato, um tecla de computador e uma escritura, passaram a ser suficientes para gerar meios de pagamento autocráticos e puramente virtuais, criando por esta via (de derivados financeiros e quantitative easing) um inimaginável buraco negro financeiro, cujo potencial destrutivo equivale, segundo o Bank For International Settlements, a dez vezes o PIB mundial. Ou seja, 600 mil pontes Vasco da Gama!

Estamos, como se vê, perante um problema de sobre endividamento generalizado, que não diz apenas respeito a Portugal, à Espanha, à Grécia e à Irlanda. Castanhas muito maiores estão prestes a rebentar: Inglaterra, Japão e... Estados Unidos. A situação mundial não poderia ser mais perigosa.

Mas ao contrário do que diz o mitómano que em má hora elegemos para primeiro ministro, o mal dos outros não nos ajuda nada. A Alemanha rejeitou claramente o financiamento das economias que produzem pouco, consomem muito, e aldrabam as contas.

Só percebendo este ponto, estaremos em condições de tomar algumas decisões colectivas inadiáveis. Como, por exemplo, correr com Sócrates, travar sem hesitação o Bloco Central do Betão, refundar a democracia partidária e parlamentar, e fazer um novo contrato social, inteligente, transparente, justo e solidário. Só depois disto, que não é pouco, os cidadãos activos estarão em condições de ponderar um envolvimento sadio na vida partidária do país.

Mário Soares não esperou certamente assistir a uma nova revolução popular no seu país, muito menos contra o PS! Mas a verdade é que ela está a caminho.