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quinta-feira, maio 14, 2015

Acordo Orthographico

Armas e brazão dos Pintos (Torre do Tombo)

 

A discussão mais apaixonada e pueril do meu país


A guerrilha em volta do Acordo Ortográfico é a prova do grau zero a que chegámos. Num país onde a maioria dos indígenas não sabe falar, quanto mais escrever, poetas, escritores, artistas e intelectuais, de toda a espécie e feitio, que, na sua maioria, também dão pontapés, a torto e a direito, na gramática, agitam-se com a orthographia!

Há alguns meses, durante uma das minhas estadias no Porto —o terroir gentílico— dei-me ao trabalho de transcrever um pergaminho herdado, escrito em 1669. Trata-se de uma certidão real atestando que um antepassado meu era mesmo Pinto de gema!

Ora leiam lá o que e como se escrevia em Portugal a meados do século 17, e concluam depois se há algum motivo que me leve a emendar a minha opinião sobre a natureza desmiolada do desacordo ortográfico.


NOTA

Basta ter atenção a algumas pequenas diferenças letristas (o s escreve-se frequentemente com f, o v é u, o u é v, o j, i, e o Í, J, o til é por vezes assinalado por um apóstrofo, o símbolo < usado nesta transcrição deveria ser sobrescrito, etc.) e todo o texto poderia ter saído do Diário da República!


PORTVGAL . REY - DARMAS . PRINCIPAL

NESTES REYNOS E SENHORÍOS DE PORTVGAL


pello mujto alto, & mujto poderofo Príncepe Dom Pedro noffo Senhor, per graça de Devs, Príncepe de Portugal, & dos Algarues, da Quem, & da Lem Mâr em Africa, & de Guíne, & da Conquífta, Nauegaça’o, & Comercío da Ethiopía, Arabia, Perfía, & da Índía & El<  Faço faber aos que efta mínha Carta de Certída’o & Braza’o de Armas de Nobreza & fídalguía de línhagem dígna de fee, & Crença vjrem; que por parte de I<oa’o Campello da Cofta Pínto Capita’o môr no Confelho de Ferreíros de Tendaís, & nelle mor da Comarca de Lamego, me foj feíta petíça’o per efcrípto¶  Dízendo que pellas juftífícacoe˜s, & documentos juntos, fe moftraua fer fílho legítímo de Manoel Campello da Cofta, & de fua legítíma molher María de Barros Pinto, & netto pella parte materna de Íorge Pínto da fonfeca, & bífnetto de outro Íorge Pinto, moradores q’ fora’o no Confelho de Aregos, & 3º netto de Íoa’o Pinto, ao qual o Sor Rey Dom Íoa’o o 3º no An< de 1538, mandou paffar Brazão de Armas da geração dos Píntos, pello Rey de Armas Portugal, q’anta’o era o Bacharel Antonio Roíz, por moftrar fer filho de Gonçalo Euchefe, & de fua molher Briolanja Pínto fa legítima de Ajres Pínto, q’ foj fidalgo mto honrrado do verdadeiro tronco da ditta geraça’o, quartos, & 5º Auôs do Supe, o qual ferue a Sua Mage no d’ Cargo de Capita’o [já ha mtos annos} c’o toda afatíffaça’o, & q’ a dítta fua May María de Barros Pínto, era jrm’a jnteira de Mel Pínto da fonfeca Capam môr no d^ Confo de Aregos, & de Antº Pínto da fonfeca [aos] quais fe paffou a cada hú feu Braza’o de Armas da d’ famílía por mdo do d^ Sor, & Requerendo elle Supe feu Braza’o na meza do Tribunal do Dezo do Paço, fe mandou dar [uista] ao procurador da Coroa, & do q’ de fuas Repoftas Refoltou, fe mandou paffar’ o d’ Braza’o de Armas ao Supe, pera dellas poder vzar, & gozar dos preuílêgíos a ella concedidos. Pello q’ me pediu, que pellas memorias dos dittos feus progínítores fe na’o perderem, & conferuaça’o de fua Nobreza, lhe deffe hú Efcudo com as Armas, q’ãd [linhagem] de direito pertencem, como eftaua mandado, & como fe paffara aos dittos feus 3º Auô, & Tios, pa dellas vzar nos actos em q’a Nobreza dellas lhe deffe lugar & Receberia merce [da] qual petiça’o fendome aprezentada com os documentos, & juftificações de q nella faz mença’o, fe mostraua, mandarffe pello Dezº do Paço dâr uifta ao precurador da Coroa & [finalmte] fe Refolueo q’ fe paffaffe ao Supe feu Braza’o como fo, netto, bifneto, 3º, 4º & 5º netto das peffoas nomeadas em fua petiça’o, & como fobrinho dos Referidos nella, a quem  {???} paffado feus Brazo~es, como confta do Liuro do Regifto da Nobreza, & finalmente  pellos dittos Auttos, fe moftraua juridicamte  prouado todo o contheudo em fua petiça’o [aos quais] Auttos me Reporto em todo, & por todo, & fica’o no Cartorio da Nobreza do Efcriua’o della, q’efta fobefcreueo, Em virtude, & cumprimto do d^ defpo, & mandado do Dez. do Paço, & do q dos dittos Auttos conftaua, & se moftraua pertencerem ao Supe as dittas Armas, como ditto he_< Proui, {?} bufquei os Liuros da Nobreza da nobre, & antigua fidalguía deftes Rnos, & nelles achei affentadas, & Regiftadas as Armas, da mto nobre, & antígua familia dos Píntos, q nefte Rno fa’o fidalgos de geraça’o, & Cotta Darmas, & nefta lhas dou diuizadas, & jluminadas co’ o Metal, & Côr, q’a ellas pertencem comforme Regras de Armaria pla manra feguinte: [e a] faber hú Efcudo pofto aobalon com o Campo de prata, & nelle fínquo Crefcentes de Lua fanguínhos apontados poftos em afpa com as pontas pera fíma, & por dífferença húa Bríca Azul carregada de hua Eftrela de prata < Elmo de prata aberto guarnído douro, Paquífê de prata & Vermelho, & por Timbre hú Leo pardo de prata armado de Vermelho, com hú dos Crefcentes das Armas na Efpadua < E porq~ eftas fáo as Armas, q~ a ditta linhagem pertencem lhas dej, & ordenei do mejo defta cõ o poder & authoridade, q~ de meu mto nobre, & Real Offício pera ifto tenho, pera dellas uzar, & gozar, como acto, & perrogatiua de fua Nobreza, & fidalguía, & co’ ellas poderá entrar em Batalhas, Campos, Duelos, Reptos, Defafios, Íuftas, & Torneos, & exercitar todos os mais actos de guerra, & pax, q~licitos, & honeftos forem, & trazelas em os feus Repofteiros, Firmais, Aneis, Sinetes, & mais couzas de feu feruiffo donde conuementemente efteião, fegdo a Nobreza dellas he diuido, & mandalas pôr nas portadas de fuas Cazas, Quintas, & Edifíçios, & dexalas fobre fua propria Sepultura, & finalmte fe podera feruir, honrrar, & aproueitar dellas em todo, & por todo, como fuas, q´fáo, & a fua Nobreza, & fidalguia conuem < Pello q Requeiro â todos os Dezembargadores, Corregedores, Prouedores, Ouuidores, Juízes, & a todas as mais juftiças de Sua Mge da parte do ditto Snõr, & da minha peço por bem do Offício da Nobreza, que tnho deixem trazer, lograr, & poffuir ao Supe, o Capitaó môr Îoão Campello da Cofta Pínto as dittas Armas & com ellas gozar de todos os preuilegios, graças, honrras, favores, merçes, perrogatíuas, jzenço~es, & mais liberdades â ellas comcedidas pellos Snor~s Reys deftes Reynos, & de q’ vza’o, & goza’o, & deuem vzar, & gozar os nobres, & antigos fidalgos de geraça’o, & Cotta Darmas, & em efpecial os da ditta geração, & affy mando a todos os Officiaes da Nobreza, cmo Îuiz, que fou defta, [W]Reys de Armas, [w]Arautos, & Paffauanies o cumprão, & guardem, como fe nefta conchem, & he declarado, fem duuida nem embargo algum, que a ello lhe feja pofto < Em fee do que lhe mandei paffar a prezente por my’ affinada, como o Sinal publico do Nome de meu Offício de que vzo < Dada nefta Corte, & mo nobre, & sempre leal Cidade de Lifboa aos Quinze de Mayo do Año do Nafcimento de Noffo Senhor Iesu Chrifto de Mil feis Centos feffenta & Noue Franco Mendes a fez pello Capita’o Franco Luis Ferreira Efcriva’o da Nobreza pello Princepe Noffo Sno’r, como Regente, & Gouernador deftes dittos Reynos, & Senhorios de Portugal < {assinatura} Rey d’Armas .P.

E para que toda esta tempestade num copo d'água possa ser ainda mais relativizada, recomendo este excelente vídeo sobre o drama histórico dos galegos em volta do idioma outrora comum.





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domingo, maio 27, 2012

O tio Balsemão está vivo, porra!

Maria José Oliveira, jornalista do Público. Foto: Enric Vives-Rubio

O alvo não é o perfumado Relvas, mas Passos de Coelho

Balsemão vai processar Ongoing por causa de relatório sobre a sua vida privada


De acordo com o processo das secretas, que está no DIAP – Departamento de Investigação e Acção Penal - Jorge Silva Carvalho, ex-espião e então quadro da Ongoing pediu, no início de Setembro do ano passado, a Paulo Félix, então quadro da empresa, que elaborasse um relatório sobre Balsemão, em especial informações financeiras como os empréstimos que o grupo Impresa tinha e quando venciam. Não se percebe de quem terá partido o pedido inicial, mas são conhecidas as guerras entre o presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos e o seu padrinho Francisco Balsemão — in Público, 26 mai 201 18:37 

Que eu saiba os jornais sempre compilaram informação sobre empresas, eventos e pessoas. Se não fosse assim como é que conseguiam publicar os obituários a horas? A Ongoing (que é um grupo com investimentos vários no sector de conteúdos, nomeadamente informativos), tal como a Impresa, dona da SIC, do Expresso, da Visão e do resto do quase falido império de publicações presidido pelo notável timoneiro da imprensa portuguesa, Francisco Pinto Balsemão, têm dossiês e fazem relatórios todos os dias sobre A, B e C. Não espiam, investigam, compilam, analisam, sublinham e selecionam para depois organizar a cacha da notícia! Não confundamos, pois, os procedimentos típicos do jornalismo com os procedimentos típicos das políticas secretas. São parecidos, mas não são a mesma coisa. No primeiro caso, a missão é informar o público satisfazendo a liberdade da informação e o direito democrático a tê-la. No segundo, a informação serve para defender os interesses vitais e estratégicos do Estado. Os relatórios até podem conter informação idêntica, mas o uso e a forma que se pode ou não dar a essa informação é que varia radicalmente.

As anunciadas relações de promiscuidade entre a Ongoing e os o serviços secretos nacionais (SIED), por via de ex-funcionários destes serviços (Jorge Silva Carvalho, etc.) entretanto contratados pela Ongoing, se são ilegais (deveriam ser, mas duvido que sejam) têm que ser explicadas e demonstradas antes de as tomarmos por evidências numa guerra de gerações cujos contornos é preciso antes de mais conhecer.

No caso vertente, se o ministro Relvas fez as ameaças destemperadas que parece ter feito ao Público, nas pessoas de uma jornalista e de uma editora, deve ser liminarmente demitido. Ponto final.

E se o Jota PM não perceber isto mesmo durante este fim-de-semana, então o verdadeiro alvo deste golpe de aiquidô desenhado pela nomenclatura que promoveu uma democracia de piratas inimputáveis e que teme agora perder alguns dos privilégios acumulados é ele!

Em qualquer democracia normal já se saberia quem é o namorado oposicionista da jornalista do Público, não por qualquer curiosidade erótica, mas pela simples e óbvia necessidade de saber se pode ou não ter havido instrução partidária da jornalista. No jornalismo, como na política, o que parece é, embora neste caso, se identificarmos a motivação da guerra em curso, só por solidariedade de geração alguém do PS poderia estar envolvido nesta trapalhada.

Dito tudo isto, e estando eu de acordo com a privatização integral da RTP (1), pois não faz qualquer sentido haver televisões públicas broadcast nos dias que correm, salvo para financiar por debaixo do tapete, com dinheiro dos contribuintes, mais uma extensão partidária da democracia populista que temos, a verdade é que, pelo que hoje se julga saber, a operação RTP terá sido uma oportunidade para o senhor Relvas, afinal, tentar entregar uma infraestrutura pronta a usar e com marca registada há décadas a um Iznogoud que de cada vez que tenta assassinar o tio, perdão, o Califa, sai a perder e deixa os leitores a rir à gargalhada. Mais um motivo para despedir sem justa causa o perfumado Relvas quanto antes. O homem mentiu, e é irascível!

Francisco Pinto Balsemão ainda se cruza comigo na genealogia. Eu sou um Pinto pós-moderno herdeiro de uma larga genealogia de Pintos de Riba Bestança, dos senhores de Torre Chã, em Tendais de Cinfães, e ele também, mas herdou de outro ramo, que cresceu a partir de Balsemão, em Lamego. O distrito e o apelido são os mesmos, mas as histórias separaram-se há muito. Se faço esta excursão pela genética é para lembrar apenas que não é fácil, nem aconselhável, subestimar ou pretender destruir de ânimo leve as malhas que tecem o país. Eu também creio que o regime desta II ou III República morreu de falta de lucidez, de falta de união, de falta de estratégia, de falta de firmeza nos princípios democráticos e morais, de corrupção em suma. Mas isso não significa que o país possa ser assaltado por uma qualquer quadrilha de novos ricos, sempre muito perfumada e de pelo esculpido, mas muito estúpida e ignorante das realidades e histórias básicas do país. A transição é necessária, mas não pode fazer-se de qualquer maneira. Até por que o que parece frágil e velho, pode ser apenas antigo e por isso surpreendentemente forte!

O país caminha para uma balbúrdia. Sempre que esteve tão falido como agora está, ou veio alguém salvá-lo —cobrando um preço, claro—, ou perdeu-se em medo, assassínios, roubos e finalmente golpes de estado e guerras. Um exemplo claro do mal que os parvenu, mesmo bem intencionados, podem trazer a Portugal é a insensatez com que o Gasparinho, do alto da sua fraca coragem, começou a confiscar as células e as famílias produtivas do país. O resultado é este: perde impostos, rebenta com uma economia de resistência quase milenar, e desvia os poucos recursos que ainda existem para alimentar o mesmíssimo monstro e as mesmíssimas clientelas que objectiva ou intencionalmente consumiram, para mais de um século, Portugal.

A resposta do velho Pinto Balsemão ao seu afilhado sem regras é, tudo pesado, um sinal de esperança num país que parece desabar sob o peso de uma amnésia suicida.

NOTA
  1. Toda a poeira ofendida levantada em volta do caso das "secretas" tem uma razão: a guerra de poder em curso entre Francisco Pinto Balsemão e Nuno Vasconcellos. Este último é afilhado de casamento do primeiro, e dono de 23% da Impresa, maioritariamente detida por Balsemão. Esta batalha é a ponta de uma guerra entre os yuppies do Compromisso Portugal e a geração mais velha que, de uma maneira ou doutra, domina o país desde que conseguiram fazer regressar o MFA aos quartéis. Sem este pano de fundo não se percebe nada!

    Depois há o caso RTP. E aqui as contas são simples: se a Ongoing, por intermediação (pelos vistos desastrosa) de Miguel Relvas, tivesse conseguido ganhar a corrida à privatização parcial da RTP, teríamos a principal marca registada da televisão portuguesa nas mãos do Moniz. A consequência seria praticamente inevitável: ou a TVI, ou a SIC acabariam por sucumbir à nova RTP. Daqui a aliança que entre Balsemão e os senhores da Prisa se estabeleceu com um único propósito: impedir a privatização da RTP, ou na impossibilidade de o conseguir (por causa do Memorando da Troika), queimar por todos os meios a estratégia da Ongoing. É aqui que Miguel Relvas se transformou num alvo, pelos vistos fácil de atingir. Solução? Fechar pura e simplesmente a RTP broadcast e criar em seu lugar a RTP webcast, exclusivamente de serviço público, assente numa plataforma inovadora de redes sociais e serviços de conteúdos multicanal especializados.
REFERÊNCIAS

Última atualização 27 mai 2012 23:34