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segunda-feira, outubro 12, 2015

A revolução de outubro

Palacete da Palma—a sede do Bloco de Esquerda, Lisboa

Acabaram-se as greves!


“O Governo de Passos e Portas acabou hoje” 
No que ao Bloco diz respeito, ficou hoje claro que o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas acabou. Temos hoje as condições para termos um Governo e um Orçamento dentro da Constituição da República portuguesa, depois de quatro anos de uma direita que não soube nunca respeitar a lei fundamental do país” 
[…] 
A dirigente bloquista, com um discurso muito claro e objetivo, insistiu que "há outra solução de Governo". E acrescentou quais as "condições essenciais" que seu partido colocou sobre a mesa para dar estabilidade a um Governo socialista: "a recuperação da economia, a defesa do Estado social e o rompimento com a política de austeridade da direita.” 
—in Expresso, 12.10.2015 às 13h23

Como escrevemos na noite eleitoral, depois de se saber que nenhum partido ou coligação teria a maioria absoluta, houve um vencedor e não era obviamente António Costa. Esse vencedor foi e é o Bloco de Esquerda. Ficou demonstrado, pela forma como hoje Catarina Martins derrubou formalmente a coligação de centro-direita ainda no poder, que tínhamos razão na análise que então fizemos.

Quisemos crer que o Bloco preferiria entalar devagarinho o PS, deixando-o preso entre a opção de viabilizar o programa e o governo do PàF, e a opção de governar sozinho, sem obstrução do resto da esquerda, até que os espinhos da governação em austeridade acabassem por levar metade do PS para o colo do Bloco, preparando assim as condições de um futuro governo de esquerda a meio da próxima legislatura.

Fomos, no entanto, surpreendidos pelo cenário, já quase certo, da formação em breve de um governo de frente popular, ainda que de uma frente popular pós-moderna, pois os camponeses foram substituídos por drones, e os operários por robots, restando apenas uma imensa mole humana composta por reformados e pensionistas, desempregados, empresários aflitos, banqueiros insolventes, burocratas depauperados, profissionais humilhados e uma classe média em vias de extinção. Em suma, em vez de liderar uma revolução proletária, o PCP e o Bloco vão liderar, arrastando mais de metade do PS pelos cabelos, uma insurreição de precários contra um capitalismo que entretanto se esfumou em dívidas e paraísos fiscais. Um antepassado dos mesmos Rothschild que hoje administram a dívida portuguesa ficou conhecido por afirmar: Quando o sangue corre nas ruas de Paris, compro!

Não sabemos que resposta dará Passos Coelho a este xeque-mate do Bloco. Abdicará de formar governo? Se o fizer, então a coligação PSD-CDS/PP morre no dia em que tal decisão for comunicada ao país. Que fará então Cavaco? Chamará Paulo Portas para formar governo? Manterá o atual governo em funções de gestão, contra a vontade de Passos Coelho, alegando que é necessário um governo do Bloco Central? Mas como, se o que sai derrotado em todo este processo é, precisamente, o Bloco Central? Deixará o país suspenso até à sua substituição pelo novo inquilino do Palácio de Belém?

O mais provável, no imediato, é que todos esperem pela reação dos mercados!

Mas a avaliar pela recentes declarações de Mario Draghi a propósito da Grécia de Tsipras,

«Muitas coisas assumiram um rumo melhor nos últimos tempos e isso deve-se ao primeiro-ministro grego, ao Governo grego e ao povo grego. Creio que é do interesse de todos que a atenção se centre a partir de agora na aplicação rápida das medidas que foram acertadas em conjunto, de acordo com os prazos previstos», disse o responsável italiano, numa entrevista a ser publicada este domingo no jornal grego Katherimini. 
— in Expresso, 10.10.2015 às 20h23 


o mais provável é que os mercados digiram rapidamente a nova situação e a sancionem.

Se for o caso, Cavaco irá à vida e o Bloco Central também.

Objetivamente interessa a Washington e Londres enfraquecer a Alemanha e dividir a Europa, e sobretudo conter a aproximação de Berlim a Moscovo e Beijing. Tentaram destruir o euro, mas não conseguiram; escutaram ilegalmente Merkel e Sarkozy; lançaram fogo à pradaria ucraniana; alimentaram o terrorismo e derrubaram regimes no Médio Oriente e no norte de África e, cereja em cima do bolo, dificilmente levantarão um dedo contra a balbúrdia que em breve poderá tomar conta do sul da Europa. A pedra de toque será o comportamento dos famosos mercados, e ainda o que em breve dirão Christine Lagarde e Mario Draghi sobre a nova Revolução Portuguesa.

O povo é sereno, mas vamos estar muito atentos.