Mostrar mensagens com a etiqueta Slavoj Zizek. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Slavoj Zizek. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, janeiro 17, 2013

Partido X


As siglas não importam, as ideias, sim!

Porque não varrer o regime político corrupto, incompetente e imbecil que temos, usando para tal os nossos computadores, os nossos ipads e os nossos telemóveis? A democracia portuguesa, como muitas outras, é uma farsa populista ao serviço de uma cleptocracia capitaneada por banksters, partidocratas e devoristas. Precisamos de opor ao descalabro em curso uma DEMOCRACIA ELETRÓNICA. Os nossos irmãos espanhóis já começaram a encarar os problemas de frente. O exemplo veio da Islândia e é preciso segui-lo!

Na sequência do movimento dos indignados surgiu em Espanha uma nova plataforma política cidadã cujo objetivo é, pura e simplesmente, substituir a corrupta democracia espanhola por uma verdadeira democracia: referendária, direta, transparente, participativa, colaborativa, deliberativa, e solidária. Chama-se Democracia Y Punto, porque o seu programa se resume a isto: Democracia! 

Para chegar à Democracia y Punto, o Partido X, um partido já formalmente constituído, mas que prefere para já o anonimato, defende o uso do que chama 4 mecanismos para mudar o sistema:
  1. Referendo
  2. Wikigoverno
  3. Voto permanente
  4. Transparência

A nomenclatura do regime está a tentar diminuir a importância desta iniciativa, mas um recente artigo publicado pelo conhecido sociólogo espanhol Manuel Castells irá certamente mudar a escala e intensidade do debate em volta desta promessa de superar o bloqueio dos decadentes regimes constitucionais que conduziram uma série de países europeus à falência, com a colaboração ativa ou passiva do velho espetro maniqueista Esquerda-Direita.


Começa assim, e vale a pena ler o artigo de fio a pavio:


“El 8 de enero se anunció en internet la creación del “partido del futuro”, un método experimental para construir una democracia sin intermediarios que sustituya a las actuales instituciones deslegitimadas en la mente de los ciudadanos. La repercusión ciudadana y mediática ha sido considerable. En tan sólo el primer día del lanzamiento, y a pesar de que se colapsó el servidor tras recibir 600 peticiones por segundo, hubo 13.000 seguidores en Twitter, 7.000 en Facebook y 100.000 visitas en YouTube. Medios extranjeros y españoles, incluyendo este diario, se han hecho eco de una conferencia de prensa desde el futuro que anuncia el triunfo electoral de su programa: democracia y punto.”
— in Partido del futuro, Manuel Castell, La Vanguardia (12 jan 2013).

Ao contrário do Syriza, Democracia y Punto parece para já apostar num quadro estruturante de alternativas de cariz essencialmente aberto à cooperação das ideias e de vontades no seio da larga maioria dos espanhóis atingidos por um assalto combinado entre banksters e burocratas sedentos de impostos. O ângulo de ataque é pois menos previsível, menos ideológico, e sobretudo menos formatado do que aquele que os herdeiros recauchutados do estalinismo continuam a utilizar. Os filósofos que poderão inspirar a nova rebelião das massas são menos Slavoj Zizek do que Manuel Castells, Michael Hardt e Antoni Negri e Gene Sharp.

Os dados estão lançados.

NOTA: este post foi originalmente publicado no blogue do Novo Partido Democrata — NPD .

sábado, junho 09, 2012

Remarx?

Slavoj Zizek. d'aprés Luca del Baldo (2011)

Quem fará a revolução?

Slavoj Zizek em Atenas 2012 não é o Sartre cauteloso e realista que visitou Portugal em 1975.

O discurso proferido pelo filósofo radical esloveno Slavoy Zizek num debate promovido pelo partido Syriza, em Atenas no passado dia 3 de junho, e intitulado “The heart of the people of Europe beats in Greece”, merece o visionamento repetido por parte dos eleitores do PS, do Bloco e do PCP. Recomendo também que se complemente tal exercício com uma meditação sobre esta frase de Zizek retirada do seu volumoso The Paralax View:

(...) today, the only political agent that could logically be said to represent the interests of capital as such, in its universality, above its particular factions, is Third Way Social Democracy....)"

Quer dizer: Blair, Obama, Pinto de Sousa, mas também Hollande (mais perto do inspirador Olof Palm?) representam afinal o mecanismo crítico que tem garantido a continuidade do sistema que em retórica populista acusa de ser propenso à injustiça, mas reformável em democracia.

As contradições no interior do PPD/PSD, nomeadamente as que opõem hoje Balsemão e Cavaco a Passos Coelho, retratam de forma ímpar esta noção da representação contraditória, oscilante, rotativa, dos interesses dominantes do Capitalismo, mesmo numa fase de aparente implosão.

Ainda assim, creio que Zizek deveria inquirir a proveniência profissional da sua audiência interessada, antes de embrulhar entusiasticamente as suas palavras no calor das massas.

A burocracia, nomeadamente intelectual, nunca foi tão extensa, nem esteve tão integrada no aparelho político e administrativo do Capitalismo como hoje. Nunca tanta riqueza foi transferida das classes produtivas para os donos do capital, mas também para a crescente população, sobretudo urbana, cuja maior contribuição para o dito Crescimento tem decorrido sobretudo pelo lado do consumo e mais recentemente pela via sem saída do endividamento.



A intelectualização e burocratização do Ocidente foi conseguida através de duas vias: o desemprego do trabalho manual e das tarefas repetitivas a favor de tecnologias mais rentáveis e socialmente inertes, e a eliminação maciça de empregos rurais, industriais e mesmo pós-industriais para os antigos espaços coloniais, onde o preço do trabalho e os custos de contexto (higiene, segurança, ambiente) continuam a ser muito inferiores. Enquanto o preço do petróleo e do gás natural, e as novas sociedades asiáticas, africanas e latino-americanas, o permitirem, estas duas formas de substituir o trabalho produtivo na Europa e nos EUA continuarão a pressionar as economias destas regiões no sentido da sua desintegração financeira, social, política e cultural.

Desde 1973 para cá, o rotativismo keynesiano, mais social-democrata, ou mais neoliberal, foi garantindo a sobrevivência, embora empobrecendo, das chamadas classes médias. Mas a crise do endividamento explosivo das empresas, das famílias e dos governos, desencadeada em 2007-2008 com o rebentamento da bolha imobiliária americana e o colapso do Lehman Brothers, e que hoje se agrava hora a hora, está a levar os povos da Europa e dos Estados Unidos para um beco sem saída.

Salvo os mais ricos —pouco mais de cem mil portugueses, três milhões de americanos (EUA) e 5 milhões de europeus (UE)—, a crise ameaça levar ao empobrecimento muito rápido, pela via do desemprego, da falta de emprego, da queda das remunerações, e da subida criminosa dos impostos, mais de 806 milhões de europeus e americanos! Ora bem, não vejo eu, nem certamente Slavoj Zizek e muitos outros, como sairemos deste bloqueio em larga escala sem, ou uma paragem e reforma radical dos pressupostos da globalização, mediada até lá por uma revalorização do trabalho, das coisas e do dinheiro, ou então... uma revolução!

As ditas classes médias empobrecidas, quando perceberem que os mais ricos não irão em seu auxílio, por desorientação e impotência momentânea, mas também por puro egoísmo, ou mesmo banditismo descarado, e que o governo está irremediavelmente falido, irão progressivamente engrossar, nomeadamente com os seus conhecimentos específicos e grande potencial de fogo informativo, técnico e ideológico, as ruas do protesto democrático.

Os poderes instalados terão uma irreprimível tendência para reforçar as leis e as forças repressivas, sem cuidar sequer da constitucionalidade e legitimidade cultural das decisões. Gasolina, portanto, sobre uma fogueira que não pára de alastrar!

E agora?