Em 1974 esta nota dava para um dia em Lisboa... |
Terá valido a pena?
A velha nota de 100$00 (adaptação de um email que corre por aí...)
Há quem se lembre da velhinha nota de 100$00, e do que podia fazer com ela há 40 anos...
Comíamos um frango de churrasco no Bom Jardim -- 20$00
Víamos uma matiné no Cinema S. Jorge (Música no Coração) -- 10$00
Bebíamos 2 ginginhas no Rossio -- 3$00
Comíamos 2 sandes de presunto no Solar dos Presuntos -- 6$00
Jantar no Parque Mayer (Sardinhas Assadas) -- 17$50
Assistíamos a uma Revista à Portuguesa no Parque -- 16$00
Telefone para dizer que tínhamos perdido o último barco -- 1$00
Dormir numa pensão com pequeno-almoço incluído -- 5$00
O resto da nota dava para ir de carro eléctrico-- 1$50
TOTAL 100$00
Hoje ... 100$00 são 50 cêntimos e dão para uma tímida gorjeta!
Os tempos são outros, diferentes realidades, e o valor do dinheiro também ...
Mas pior...
Em 1974 um técnico de 1ª classe em princípio de carreira na Função Pública ganhava uns 8.000$00 (oito contos), o que daria hoje cerca de 40€; hoje, pela mesma posição profissional, ganhará uns €1000, o que em escudos queria dizer mais de duzentos contos, ou seja 25x mais do que em 1974.
Assim sendo, aquele dia bem passado acima descrito, se não tivesse havido uma ENORME PERDA DE PODER DE COMPRA dos portugueses, custaria hoje 2.500$00, ou seja, 12,5€. Não daria sequer para chegar ao fim do frango... na Churrasqueira do Campo Grande.
Apesar de se ganhar hoje 25x mais do que em 1973-74, a verdade é que o poder de compra caiu abruptamente. É por isso que a população deixou praticamente de se reproduzir, está a envelhecer, a decrescer, e sem capacidade alguma de sustentar o famoso estado social.
Perguntem ao PCP, ao PS e ao resto dos partidos o que é que andaram a fazer, além de enganar os portugueses com doses cada vez mais intragáveis de demagogia e populismo.
Mário Soares dirá, em resposta, que temos hoje o que não tínhamos em 1974: estradas, escolas, hospitais e férias pagas... Temos, é verdade. Mas até quando?
Um exemplo desta vantagem comparativa está à vista sangrada em mais uma greve dos professores, desta vez aos exames.
O grave, grave, disto tudo, é que em vez de discutirmos seriamente o essencial —isto é, que o professorado de massas tem os dias contados, seja por falência fiscal dos governos, seja pela diminuição inexorável da população escolar (a diminuição de alunos por turma e a extensão do período obrigatório da escolaridade já deram o que tinham a dar), seja pela emergência das novas tecnologias informação e realidade aumentada, seja pelo esgotamento do próprio paradigma do academismo de massas inventado pelos consultores de Ronald Reagan na década de 70 do século passado, deixámos a situação apodrecer. Ninguém leu, ou ninguém ligou ao que leu, por exemplo, de Jeremy Rifkin (The End o f Work, etc.)
E assim chegámos à guerra permanente entre os sindicatos dos professores e o governo, com os alunos a servir de pião das nicas. Não mudou nada de essencial desde as guerras contra Ferreira Leite e contra Maria de Lurdes Rodrigues. Ou por outro, mudou: o estado entretanto faliu, continua à beira da bancarrota, e como instituição está a caminho dum trágico colapso. Já não tem dinheiro, como bem se percebeu da ordem dada por Passos Coelho à Administração: não paguem os subsídios de férias! Que querem os professores?! Que quer o indecoroso estalinista do sindicato?
Será que iremos perceber a tempo a tragédia que se abateu sobre Portugal? A tempo, nomeadamente, de pararmos para olhar à nossa volta, e tomar as necessárias medidas de emergência, doa a quem doer? Começando, obviamente, por colocar a nomenclatura devorista na ordem?
A perda de valor da nota de 100$00 não foi compensada pela expansão do estado social, como querem Mário Soares e a esquerda populista vender-nos. E a razão é simples: os serviços prestados não se podem transmutar em poupança para expandir as famílias e assegurar a reprodução equilibrada da espécie. Logo, estamos em depressão demográfica e a envelhecer coletivamente. Logo, estamos a destruir as bases materiais do próprio estado social. Logo, a esquerda populista falhou em toda em linha. Como sempre votei à esquerda, até ter deixado de votar, perceber isto mesmo foi naturalmente um choque epistemológico, só superado pela crise que me levou a desacreditar na existência de Deus.
Última atualização: 18 jun 2013 12:12