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terça-feira, julho 10, 2018

Lead or leave it!

Poderá a próxima crise europeia nascer, outra vez, na Áustria?

Sair e permanecer no euro, ao mesmo tempo? 


Poderão as criptomoedas e outras formas de dinheiro eletrónico conduzir os países mais endividados do sul da Europa, com a Itália à cabeça, a promover em breve um xeque mate aos alemães e seus satélites do norte da Europa?

Um artigo de Joseph Stiglitz que vai dar que falar, e animar as hostes dos que defendem uma alternativa à zona euro tal como é atualmente gerida avança a seguinte ideia: a Itália e os países do sul da Europa, como Grécia, Espanha e Portugal, poderiam lançar moedas virtuais paralelas ao euro, forçando assim uma reestruturação das suas dívidas, e a existência, na prática, de uma moeda euro com duas faces de desigual valor, sem precisarem de tomar a iniciativa de uma saída voluntária da zona euro. Uma ideia explosiva, a juntar ao Brexit!

A parallel currency for Italy is possibleRome can regain control of its monetary policy without breaking the rules of the eurozone. 
POLITICO. By Biagio Bossone, Marco Cattaneo, Massimo Costa And Stefano Sylos Labini | 7/5/18, 10:10 AM CET Updated 7/5/18, 4:18 PM CET 
In Joseph Stiglitz’s recent article for the POLITICO Global Policy Lab (“How to Exit the Eurozone,” June 29, 2018), the Nobel-prize wining economist proposes that Italy issue a parallel currency as a way to retake control of its monetary policy.


How to exit the eurozoneItaly is right to consider leaving the EU’s common currency area. 
POLITICO. By Joseph Stiglitz | 6/26/18, 1:02 PM CET Updated 7/2/18, 7:23 AM CET 
If Germany is unwilling to take the basic steps needed to improve the currency union, it should do the next best thing: Leave the eurozone. As George Soros famously put it, Germany should either lead or leave. With Germany (and possibly other Northern European countries) out of the currency union, the value of the euro would decline, and exports of Italy and other Southern European countries would increase. The major source of misalignment would be gone. At the same time, the increase in Germany’s exchange rate would go a long way to curing one of the most destabilizing aspects of the global economy: Germany’s trade imbalance. 
[...] 
From an economic perspective, the easiest thing to do would be for Italian entities (governments, corporations and individuals) to simply redenominate debts from euros into new lira. But because of legal complexities within the EU, and because of Italy’s international obligations, it may be preferable to enact a super-Chapter 11 bankruptcy law, providing expeditious recourse to debt restructuring to any entity for whom the new currency presents severe economic problems. Bankruptcy laws remain an area within the purview of each of the nation states of the EU. 
Italy could even choose not to announce that it’s leaving the euro. It could simply issue script (say government bonds) that would have to be accepted as payment for any euro debt obligation. A decrease in the value of these bonds would be tantamount to a devaluation. This would at the same time restore the efficacy of Italy’s monetary policy: Changes in central bank policy would affect the value of the bonds. 
Hue and cry 
Of course, there would be a hue and cry from other members of the eurozone. Introducing a parallel currency, even informally, would almost certainly violate the eurozone’s rules and certainly be against its spirit. But this way, Italy would leave it to the other members of the eurozone to decide to expel it. 
Rome could take the chance that the fractious members of the currency union would never take such strong action, since that would confirm the fraying of the eurozone. Then Italy would have its cake and eat it too. It would remain part of the eurozone but would have accomplished a devaluation. 
[...] 
Advances in technology over the past three years make creating electronic currency systems all the easier and more effective. Should Italy choose to use one, it wouldn’t even have to face the difficulties of printing new currency. 
Italy could also blunt some of the pain of its departure if it were to coordinate its exit with other countries in a similar position. 
The motley group of countries that now forms the eurozone is far from what economists call an optimal currency area. There is just too much diversity, too many differences, to make it work without better institutional arrangements of the kind that Germany has vetoed. 
A southern eurozone would be far closer to an optimal currency area. And while it would be difficult to arrange a coordinated departure in a short period of time, if Italy successfully manages its way out of the euro, others will almost surely follow.

segunda-feira, janeiro 30, 2017

A dúvida de Trump


Quem é o inimigo principal? A China, ou a Rússia?


Irá Donald Trump abandonar a teoria estratégica que dominou a diplomacia mundial desde 1904, ou, pelo contrário, o que está em causa, como sugere Immanuel Wallerstein, é saber se os Estados Unidos estarão finalmente preparados para ceder à China a missão estratégica de conter o expansionismo potencial da Rússia, esse famoso Coração da Terra descrito por Halford John Mackinder?

Most politicians, journalists, and academic analysts describe the relations of China and the United States as one of hostile competition, especially in East Asia. I disagree. I believe that the top of both countries' geopolitical agenda is reaching a long-term accord with the other. The major bone of contention is which of the two prospective partners will be the top dog.
—in “China and the United States: Partners?”
Immanuel Wallerstein. Commentary No. 441, Jan. 15, 2017

A verdade é que a Grande Rússia, czarista, soviética, ou putiniana é mesmo o coração da Eurásia, e é muito grande! Trata-se de um país continental com autonomia energética e alimentar, onde é possível ensaiar mísseis balísticos, bem como tentar aplicar a teoria do socialismo num só país. Ou seja, a sua inércia geopolítica é incomensurável, sendo que qualquer exercício de contenção sobre a elasticidade das suas fronteiras internas e próximas (Rimland) obriga a esforços económicos e humanos de incalculáveis custos, que sucessivas derrotas militares (Napoleão e Hitler, mas também Clinton, Bush e Obama) comprovaram tragicamente. A Alemanha tentou conquistar este Heartland e só não foi absorviva pela União Soviética porque os seus inimigos ocidentais da véspera lhe deitaram a mão imeditamente após a chegada das tropas russas a Berlim. O preço da ambição alemã foi, no entanto, a expansão da fronteira elástica da Mãe Rússia ao longo da chamada Cortina de Ferro e mesmo até ao interior da Alemanha, dividindo a sua capital em duas metades.

“From Stettin in the Baltic to Trieste in the Adriatic an iron curtain has descended across the Continent. Behind that line lie all the capitals of the ancient states of Central and Eastern Europe. Warsaw, Berlin, Prague, Vienna, Budapest, Belgrade, Bucharest and Sofia; all these famous cities and the populations around them lie in what I must call the Soviet sphere, and all are subject, in one form or another, not only to Soviet influence but to a very high and in some cases increasing measure of control from Moscow.”  
—Winston Churchill

A América e a Europa ocidental, apesar de serem as mais ricas regiões económicas do planeta não têm disponibilidades financeiras e anímicas suficientes para continuarem a suportar os custos de um cerco geopolítico cada vez mais caro e com perdas colaterais cada vez maiores, de que a crise migratória, a par da radicalização social e política de um e outro lado do Atlântico são as maiores ameaças recentes à sua estabilidade. Mas se assim é, porque pretende Donald Trump uma trégua com Moscovo, provocar a Alemanha, e atacar Pequim? Não seria mais lógico aproximar-se da China e encomendar-lhe parte dos custos de contenção da ameaça russa?

Segundo Immanuel Wallerstein, este é o caminho, mas tem um senão: implica que os Estados Unidos cedam o seu papel de potência dominante à China, como outrora os ingleses acabariam por fazer relativamente à sua antiga colónia. Uma tal cedência, porém, é o contrário do que diz a consigna Make America Great Again.

Nada disto faz sentido. Aparentemente. Salvo se estivermos em presença de uma manobra perversa por parte dos Estados Unidos, nomeadamente depois de constatarem que o seu declínio prossegue de forma imparável e a sua sociedade está cada vez mais dividida e violenta, ao contrário de uma União Europeia e de uma moeda, o euro, que parecem resistir a todas as tentativas (americana, inglesa e russa) de as destruirem. A manobra seria esta: criar atrito com a China, provocar a União Europeia, dar espaço de manobra à Rússia, e esperar que os temores da China comecem a aflorar nas conversas privadas entre Washngton e Pequim. É que a autonomia energética chinesa chegou virtualmente ao fim. Sem energia abundante e barata mais limpa que o carvão, até hoje usado, e sem o petróleo/ gás natural do Médio Oriente e da Ásia Central, o colapso ecológico, mas também económico de Pequim, poderá estar a menos de duas décadas de distância. O crescimento real do PIB chinês não ultrapassa hoje os 5%. Ou seja, mais do que a América, cuja suficiência energética e alimentar continua a ser evidente, é a China—a qual faz parte do famoso Rimland do Coração da Terra— que precisa de conter a Rússia! Chegados aqui, os americanos bem poderiam recolher a penates e lamber as feridas de um século de imperialismo violento.

Conclusão: os Estados Unidos desejam secretamente ceder a supremacia à China, mas sem perder a face.



REFERÊNCIAS À TEORIA GEOESTRATÉGICA DE MACKINDER

A modernidade pós-medieval começa em 1415 (tomada de Ceuta pelos portugueses), ou em 1453 (queda de Constantinopla), ou em 1492 e 1500 (descoberta do continente americano), ou em 1522 (conclusão da primeira viagem de circum-navegação), e termina, segundo H. J. Mackinder, pouco depois de 1900. Este foi o tempo que levou a conhecer e desenhar o mapa da Terra até às suas mais ínfimas paragens. Depois desta aventura, o mundo tornou-se uma realidade geopolítica fechada, não havendo mais nenhuma 'última fronteira' a descobrir ou conquistar, mas tão só territórios delimitados por nações e estados, compondo placas tectónicas e geopolíticas cujos movimentos e atritos marcam o pulsar, por vezes violento, entre as comunidades humanas que nelas habitam.

Como escreveu Harold John Mackinder na sua famosa conferência de 1904 (traduzo livremente),
Quando os historiadores num remoto futuro olharem para o grupo de séculos por que estamos a passar, com uma perspetiva comprimida como aquela que nos dá a ver as dinastias do Egito, poderá muito bem acontecer que descrevam os últimos 400 anos como a época colombiana, e digam que a mesma acabou pouco depois de 1900. 

CITAÇÕES

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“Who rules East Europe commands the Heartland; Who rules the Heartland commands the World Island; Who rules the World Island commands the World.”(Mackinder, Democratic Ideals and Reality, p. 150) 
Competition for gaining control over natural resources between Russia and the United States together with geopolitical and strategic factors characterized the geopolitics of Central Asia. Control over natural resources as well as market access is indeed the main motto of the foreign policy direction of both states. In fact, it may be said that outlined in 1904 through his speech, the “Heartland theory” was a founding moment for geopolitics. His argument regarding the control of the Eurasian landmass (Europe, Asia, and the Middle East), is still considered as the major geopolitical prize.  
—in “Heartland Theory” of Mackinder & its Relevancy in Central Asia Geopolitics
By Suban Kumar Chowdhury and Abdullah Hel Kafi
IndraStra. Saturday, June 25, 2016

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In Europe, North America, South America, Africa, and Australasia there is scarcely a region left for the pegging out of a claim of ownership, unless as the result of a war between civilized or half-civilized powers. Even in Asia, we are probably witnessing the last moves of the game first played by the horsemen of Yermak the Cossack and the shipment of Vasco da Gama. Broadly speaking, we may contrast the Columbian epoch with the age which preceded it, describing its essential characteristic as the expansion of Europe against almost negligible resistances, whereas medieval Christendom was bent into a narrow region and threatened by external barbarism. From the present time forth, in the pos-Columbian age, we shall again have to deal with a closed political system, and none the less that it will be one of worldwide scope. [...] 
European civilization is, in a very real sense, the outcome of the secular struggle against Asiatic invasion. [...] 
...the settled peoples of Europe lay gripped between two pressures—that of the Asiatic nomads from the east, and on the other three sides that of the pirates from the sea. From its very nature, neither pressure was overwhelming, and both, therefore, were stimulative. [...] 
It is probably one of the most striking coincidences of history that the seaward and the landward expansion of Europe should, in a sense, continue the ancient opposition between Roman and Greek. Few great failures have had more far-reaching consequences tan the failure of Rome to Latinize the Greek. The Teuton was civilized and Christianized by the Roman, the Slav in the main by the Greek. It is the Romano-Teuton who in later times embarked upon the ocean; it was the Graeco-Slav who rode over the steppes, conquering the Turanian. Thus the modern land-power differs from the sea-power no less in the source of its ideals than in the material conditions of its mobility. [...] 
For a thousand years a series of horse-riding peoples emerged from Asia through the broad interval between the Ural mountains and the Caspian sea, [...] 
The all-important result of the discovery of the Cape road to the Indies was to connect the western and the eastern coastal navigations of Euro-Asia, even though by a circuitous route, and thus in some measure to neutralize the strategical advantage of the central position of the steppe nomads by pressing upon them in the rear. 
—in The Geographical Pivot of History
H. J. Mackinder
The Geographical Journal
Vol. 23, No. 4 (Apr. 1904), pp. 421-437

##
Mackinder’s article argued that the coming of steam power, electricity, and the railways were, at last, permitting continental nations to overcome the physical obstacles that had hampered their development in the past. 
In particular, the railway was enabling tsarist Russia to exploit its vast internal resources and to make strategic inroads in the far east and towards India that its imperial rival Great Britain could not counter. Land power was thus eroding the geopolitical advantages that had been enjoyed by the western sea powers. 
The rest of the 20th century bore witness to Mackinder’s thesis. The two world wars were struggles for control of what the author called the “rimlands”, that swathe of territories running from eastern Europe to the Himalayas and beyond, just outside the Asian “heartland” itself. Soviet domination of that region during the cold war caused many a US geopolitician (Nicholas Spykman, for example) to recall Mackinder’s theories. And the recent projection of US military power into Afghanistan and various central Asian republics has rekindled interest in the hypothesis. 
—in The pivot of history
Paul Kennedy
The Guardian, Saturday 19 June 2004 12.02 BST

segunda-feira, março 16, 2015

O dedo de Varoufakis

Yanis Varoufakis numa palestra em 2013 sobre o futuro da Grécia.
O dedo no ar é um efeito especial ;)

O Syriza aposta no colapso do euro


Tudo o que é preciso saber sobre o que Varoufakis pensa da Alemanha e do euro.
Vale a pena ver este vídeo. O novo governo grego aposta no colapso do euro, e não no colapso da Grécia, pois esta já colapsou :(

Ou seja, o governo grego vai continuar a manter a batata quente ao colo do Schäuble, e do BCE.

Muda-se a terminologia, o BCE diz que não envia mais, mas envia mais dinheiro, e em maio saberemos todos quantos atores participam nesta farsa a caminho da tragédia.

Varoufakis' Latest Fiasco: FinMin Claims "Middle Finger To Germany" Clip Fake; Germany Disagrees
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 03/16/2015 11:46 -0400

It was a tough weekend (again) for Greece's embattled FinMin Yanis Varoufakis. After walking out on a CNBC interview when asked if he was a liability (after his photo shoot caused a storm in Greece), a video surfaced showing the outspoken minister giving the middle finger to Germany saying "solve the problem yourself." He has come out swinging this morning, as The Telegraph reports, Varoufakis exclaims, "That video was doctored. I've never given the finger, I've never given the middle finger ever." However, the user who uploaded it to YouTube denied it was a fake and, based on The Telegraph's poll, 67% believe Varoufakis did it. Furthemore, the German talk-show that aired the clip has confirmed "no evidence of manipulation or falsification," and, for the first time, a majority of Germans now want Greece out of the union.

O dedo no ar é falso!

Todo o audio do vídeo viral é verdadeiro, incluindo a frase "stick the finger to Germany", mas o gesto, esse resultou de uma trucagem genial realizada por um programa de humor do canal público de televisão alemão ZDF. Ver a revelação da fraude humorística nesta reportagem.

Jan Bohermann, host of satirical programme "Neo Magazin Royale" on public broadcaster ZDF, claimed he had been waiting since Sunday for someone to ask him if he had faked the controversial footage, but no one had questioned him.

"Sorry Mr Varoufakis, we won't do it again," he said, detailing how a production team had manipulated the video.

Atualização: 21/3/2015 23:59

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quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Germanexit?

O buraco negro da Alemanha é o verdadeiro problema
(clique para ampliar)

A mentira alemã é o verdadeiro problema do euro


Afinal quem é que está endividado ate às raízes dos cabelos?

O Eurostat revela, em %/PIB, as dívidas escondidas dos governos europeus, de que as famosas PPP são o prato forte. Mostramos três pares de resultados que desmistificam completamente a narrativa dos lémures do Eurogrupo.

Dívida pública não reportada nos orçamentos de estado em % do PIB
  • Alemanha=126,26; Grécia=6,82
  • Holanda=107,15; Portugal: 51,79;
  • Reino Unido=60,88; Espanha=12,46.
—in Eurostat News Release, 26/2015 - 10 February 2015/ A new data collection for government finance statistics/ First time release of data on contingent liabilities and non-performing loans in EU Member States.

A maior dívida pública da Europa em % do PIB é alemã.

Somando as dívidas públicas dos países comparados neste post, ou seja, somando as estimativas da CIA relativas ao ano 2013, a que hoje acedemos no respetivo sítio, mais as divídas escondidas reveladas pelo Eurostat no passado dia 10 de fevereiro, ficamos a saber que, afinal, a dívida pública alemã, em percentagem do PIB (imaginem o montante!), é superior à dívida grega!

  • Alemanha 79,9 + 126,26 = 206,16
  • Grécia  175 + 6,83 = 181,83
  • Holanda 74,3 + 107,15 = 181,45
  • Portugal 127,8 + 51,79 = 179,59
  • UK  91,1 + 60,88 = 151,98
  • Espanha 93,7 + 12,46 = 106,16

Mas comparando as dívidas externas, de vários países, a Alemanha também não sai bem.


Vejamos o panorama em percentagem do PIB (Wikipédia)

  • Luxemburgo (um verdadeiro paraíso fiscal): 3.443%
  • Reino Unido: 406%
  • Portugal 223%
  • Grécia: 174%
  • Espanha: 167%
  • Alemanha: 145%

E agora em valores nominais (CIA)
  • Reino Unido (2ª maior dívida externa do mundo)
    $9.577 trillion (31 December 2013 est.)
  • Alemanha (3ª maior dívida externa do mundo)
    $5.717 trillion (31 December 2012 est.) 
  • Luxemburgo
    $2.935 trillion (31 December 2012 est.)  
  • Espanha
    $2.278 trillion (31 December 2012 est.) 
  • Grécia
    $577.2 billion (2012) 
  • Portugal
    $508.3 billion (31 December 2012 est.) 

Masaccio (1401 – 1428)
Adão e Eva Expulsos do Paraíso

Se a esta vergonha, que andou embrulhada em mentiras sobre os PIIGS (1), somarmos o grande buraco negro do Deutsche Bank (ver gráfico acima), teremos em toda a sua plenitude o embuste da retórica do senhor Schäuble a propósito da Grécia e a verdadeira natureza e gravidade do problema da dívida europeia.
Sideways: Deutsche strategy – Twilight of the bank
by Jon Macaskill

Is Deutsche Bank contemplating a secret Götterdämmerung trade that would hive off sections of its investment bank and offer senior executives an escape route?

The strategy of the bank is looking increasingly perplexing to outsiders, with a potential spin-off of German retail banking unit Postbank widely seen as a measure that might raise some money, but that would leave the group even more exposed to an investment bank that is heavily biased towards struggling areas of the fixed-income markets. The verdict of shareholders on the current Deutsche Bank business model is clear. Its shares fell by 24% last year and its capitalization of around €35 billion is roughly 0.6 of nominal book value, making Deutsche effectively the least-trusted big bank.

Full article
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Os alemães têm que baixar a bolinha ou... serão eles a ter que abandonar o euro. Aliás, faria todo o sentido termos uma moeda única competitiva!

O doente não é a Grécia, mas toda a Europa. Controlo de capitais, reintrodução de fronteiras e limitações de uso das caixas multibanco podem já estar prontas a entrar em ação em caso de Grexit.

Europe Will Implement Both Border and Capital Controls in the Coming Months
Zero Hedge. Submitted by Phoenix Capital Research on 02/18/2015 09:30 -0500

The European banking system as a whole is leveraged at over 26 to 1. That’s the ENTIRE European Banking system leveraged at near Lehman levels (Lehman was 30 to 1 when it collapsed).

To put this into perspective, with a leverage level of 26 to 1, you only need a 4% drop in asset prices to wipe out ALL capital. What are the odds that European bank assets have fallen 4% in value in the last two years?

Atualizado em 18/02/2015 22:21 WET

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terça-feira, fevereiro 10, 2015

Alemanha e o cliente europeu

Porsche Cayenne—são bons, mas não invencíveis

Sem euro, como seria?


Exportações alemãs em alta: €217 mil milhões de saldo líquido positivo. O último máximo, verificado em 2007, de €195,3 mM, foi ultrapassado em 2014. Já que o tema do dia é a Grexit, convém lembrar a este propósito que este crescimento provém sobretudo das expotações alemãs para o resto União Europeia, e que se está produzindo, desde a criação do euro, à custa do decréscimo contínuo das balanças comerciais do resto da Europa!

German exports hit record highs in 2014, despite international crises
EurActiv. Published: 10/02/2015 - 07:48 | Updated: 10/02/2015 - 08:59

“The main driver of growth was our core market, the European Union. However, more attention must still be paid to the eurozone, which only marginally contributed to growth. Apparently the results of exports to third countries were only able to be shown in a positive light due to the solid outcome from US exports.”

Com o euro forte como está, apesar da queda face ao dólar, e conhecidas as medidas chinesas de ataque ao despesismo público e à corrupção, incluindo um corte de 50% na aquisição de viaturas ao serviço dos dirigentes do estado, é de prever que a dependência económica alemã dos seus parceiros comunitários permaneça, pelo que fustigá-los diariamente com lições hipócritas de ética protestante não será o melhor caminho.

A Alemanha beneficiou claramente com o euro

Alemanha: o desvio do comércio externo para fora da Zona Euro, após o início da crise de 2007-, é evidente, mas não compensa em volume o que poderia perder se perdesse o mercado europeu

Percebe-se, à luz destes números e gráficos, e da ameaça de colapso do euro, que Berlim e Washington andem numa lufa-lufa para fechar o muito polémico e obscuro Transatlantic Trade Investment Partnership (TTIP) (1) (2).

No fundo, estamos a caminho de uma espécie de Tratado de Tordesilhas 2.0. Ou seja, de uma nova divisão da globalização em duas metades. Uma metade euroatlântica, que inclui o máximo do continente europeu, o máximo dos recursos energéticos fundamentais do Médio Oriente, metade de África e as Américas. E outra metade, euroasiática, pivotada pela China, cujos contornos são ainda confusos e elásticos.

Para aumentar as tensões deste processo está, como tem estado desde a era Napoleónica, a Rússia—um país transcontinental que, pela sua extensão, tem o coração e a cabeça divididos entre o Ocidente e o Oriente.

Ora é precisamente na gestão deste dossiê que tanto a França, como a Alemanha, se têm saído bastante mal ao longo da História, remetando invariavelmente as pesadas faturas das suas asneiras ao resto dos europeus.

Veremos o que sucede desta vez.

POST SCRIPTUM

Eu tb cheguei a pensar que a culpa principal era dos PIIGS, e muita culpa têm certamente pela situação de bancarrota a que chegaram. Mas é preciso ver tb o que quer a Alemanha, e o que querem os americanos —coisas opostas, claro.

A situação é mais complexa do que parece. Os PIIGS terão que redesenhar os seus sistemas políticas e adaptar as suas democracias ao que produzem e exportam. Mas o que produzem e exportam não pode ser objeto de uma clara manipulação financeira e cambial (na realidade continuam a existir euros fortes e euros fracos) por parte da Alemanha. Sobretudo da Alemanha! Basta ver como evoluiram as balanças comerciais na Europa antes e depois da criação do euro.


NOTAS
  1. L'impact du TTIP dans les pays en développement oppose gouvernement et ONG en Allemagne
    EurActiv. Published: 10/02/2015 - 10:18 | Updated: 10/02/2015 - 10:36

    Une étude menée sur le TTIP par le ministère allemand du Développement affirme que l'accord commercial profitera aux pays pauvres. Une hypothèse jugée « irréaliste » par l'ONG Foodwatch. Un article d'EurActiv Allemagne. 

    Le partenariat transatlantique pour le commerce et l'investissement (TTIP) présente des opportunités de croissance inattendues pour les pays en développement, affirme une étude menée par l'Institut IFO pour le ministère allemand du Développement. 

    Des conclusions avec lesquelles l'ONG de défense des droits des consommateurs Foodwatch est en désaccord. « L'étude est basée sur des hypothèses utopiques et irréalistes. Sous sa forme actuelle, le TTIP est et reste un programme de paupérisation pour les pays en développement. Quiconque affirme le contraire fait circuler des informations biaisées », assure Martin Rücker, porte-parole de Foodwatch à EurActiv Allemagne.
  2. Stop TTIP! 
Atualização: 10/2/2015 22:02 WET

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Grexit?

Clique para ampliar

BCE tirou o tapete à Grécia, mas não é a primeira vez...


Grexit? Aparentemente o BCE fez xeque-mate ao Syriza, i.e. a um governo democraticamente eleito, retirando-lhe o tapete de acesso às garantias até hoje dadas pelo BCE aos tomadores de dívida pública grega, i.e. os bancos e fundos privados gregos e de outros países. Será que o Syriza continuará em frente, ou vai desviar-se da colisão? Se não se desviar, quem sofrerá mais com a colisão? A Grécia, que já pouco tem a perder, ou a desnorteada e subserviente Europa, que se arrisca a ver uma desintegração do euro em menos de um ano?

BCE deixa de aceitar dívida pública grega como garantia nos empréstimos aos bancos
Observador

O Banco Central Europeu suspendeu hoje a dispensa das regras de rating mínimo no uso da dívida pública grega como garantia nos empréstimos do BCE à banca comercial, dizendo que “não é possivel esperar-se nesta altura que a revisão do programa seja concluída com sucesso”. A decisão faz com que os bancos que têm dívida grega deixem de a poder dar como garantia ao BCE quando lhe pedem dinheiro emprestado. Falta de financiamento dos bancos gregos terá agora de ser compensada pelo Banco Central da Grécia.

Será que Matthieu Pigasse (Lazard Bank), contratado por Yanis Varoufakis para desenhar soluções digeríveis para a bancarrota grega, falou, ou deixou falar, antes de tempo? Calculou mal a jogada? Ou será que a reação de Draghi e dos demais bancos centrais europeus constava dos seus cenários—aliás tornados públicos, nomeadamente, pela Bloomberg, no dia 1 de fevereiro? Amanhã saberemos.

What’s Going On with Greece and the ECB?
Bull Markethttps://medium.com/bull-market/whats-going-on-with-the-ecb-and-greece-3821de717625

Rules Require Cutting Off Greek Government Bonds?

[...]

“There will be no surprises if we find out that a country is below that rating and there’s no longer a program that that waiver disappears,” ECB Vice President Vitor Constancio said at an event in Cambridge, England, on Saturday.

If Vice President Constancio is referring to cutting off eligibility of specific bonds as collateral, that argues against the ECB’s’s current “official” approach being one of threatening a full cut-off of funds. Still, the idea of “junk-rated bonds are only eligible if a country is in a program” being part of “the ECB’s rules” is an over-statement. In truth, the ECB makes up these rules as it goes along and the “in again, out again” routine with Greek government bond eligibility is a long-standing one at this point.

Se repararmos bem no mapa dos gasodutos existentes, parcialmente construídos, ou em projeto, destinados a levar gás natural à Europa, perceberemos claramente que a Ucrânia e a Grécia são dois dos peões da estratégia de tensão em curso. A Alemanha, tal como a generalidade dos países do centro e norte da Europa, precisam de gás para não morrerem de frio no inverno.

Acontece que os Estados Unidos, seguindo a teoria estratégica de Halford Backinder, e do seu seguidor fiel, Zbigniew Brzeziński —consultor estratégico de Barak Obama—, consideram o controlo da Rússia essencial para impedir a supremacia da China, e de caminho também acham que quem controlar as reservas de petróleo e de gás natural, controla o mundo. Foi assim ao longo de todo o século 20. Será assim durante o século 21.

Depois da queda da União Soviética, os Estados Unidos montaram um apertado cerco militar à Rússia, através de alianças e da promoção de guerras regionais. A gota de água para a Rússia foi a tentativa de absorver a Ucrânia, berço da Rússia, na NATO. Perante a passividade dos europeus, e o oportunismo alemão, a Rússia respondeu à provocação, mostrando o que sucederia se o gás fornecido à Europa através da Ucrânia fosse interrompido. Daqui à escalada económico-financeira e militar foi um passo.

À medida que a Europa assustada procurava uma alternativa ao gás russo, lançando o fracassado projeto do gasoduto conhecido por Nabucco pipeline, que ficou no papel depois da desistência da Áustria, outros potenciais fornecedores de gás natural (Qatar-Irão, Iraque, Arábia Saudita, Israel, Turquemenistão) posicionaram-se no que passaria a ser uma corrida com implicações tremendas na região. O terrorismo, como exemplo típico de conflito assimétrico, a par de uma série de guerras vicariantes (proxy wars) em teatros localizados nas zonas de passagem dos vários potenciais gasodutos que querem concorrer com a Rússia no fornecimento de gás à Europa, passaram a entupir a paisagem mediática global com propaganda e imagens terríveis de ação psicológica.

Basta olhar para a importância que países como a Ucrânia e a Grécia têm nos acessos principais de gás natural à Europa para perceber que as discussões sobre as economias e os regimes políticos destes países não passam de pretextos que escondem jogos estratégicos fundamentais.

A recente descida abrupta do preço do petróleo esteve, afinal, relacionada com uma ofensiva dos Estados Unidos e da Arábia Saudita destinada a pressionar a Rússia a deixar cair Bashar al-Assad. Se Putin não ceder, arrisca-se a ver o seu país mergulhar numa crise financeira, económica e social que lhe pode ser fatal. Mas se ceder ao garrote dos preços baixos do petróleo, a quase exclusividade da Rússia no fornecimento de gás à Europa central, do norte e de leste, ficará comprometida.

A decisão do BCE, certamente determinada pela Alemanha, mas também pelos Estados Unidos, apesar das palavras carinhosas de Obama para com o novo poder grego, de aumentar a tensão na Grécia, tem mais que ver com a hipótese de uma aproximação entre a Grécia, a Turquia e a Rússia, do que com o problema da renegociação da dívida.


POST SCRITUM

É de notar que o mensageiro da decisão de o BCE tirar o tapete à Grécia foi o nosso querido e mui socialista Victor Constâncio. Que diz o sargento Costa e a nossa indigente Esquerda a isto?


RESPOSTA À PERGUNTA “TEM A CERTEZA QUE O EURO DESAPARECE?”

Não. Na realidade, o dólar quer apenas capturar o euro e fazer dele uma moeda subsidiária.

Ou seja, os Estados Unidos querem, compreensivelmente, manter a supremacia atlântica sobre a Eurásia, e para tal precisam de uma estratégia de pau e cenoura para com os alemães (euro sim, mas menos germanófilo).

Por exemplo, retirar à Rússia o monopólio de fornecimento de gás ao centro-norte-leste da União Europeia é um objetivo estratégico, que serve a Alemanha, a UE no seu conjunto, e os aliados da América no Médio Oriente: Arábia Saudita, Qatar, Israel...

No entanto, creio que os EUA querem mesmo enfraquecer a Rússia, para assim atingirem a China.

O perigo da situação vem daqui. E é neste sentido que a atuação do BCE e da senhora Merkel poderão, se o senhor Draghi não for pondo água na fervura, precipitar um choque frontal na Grécia (Grexit), de consequências imprevisíveis.

O colapso do euro, precedido de uma saída da Grécia, lançaria toda a Europa, a começar por Portugal, Espanha, Itália, França... numa situação particularmente complicada no que toca à reestruturação dissimulada (e em curso) das suas impagáveis dívidas (pública e privada).

Se em cima disto a Rússia, a Turquia e a China vierem em auxílio da Grécia, e em geral dos países europeus do Mediterâneo, teremos o caldo entornado.

Num cenário destes, a Rússia poderia mesmo fechar as torneiras à Ucrânia, i.e. à Alemanha; e poderia reforçar o apoio à Síria, bloqueando os gasodutos islâmico e árabe a favor dos gasodutos que vêm de Baku, do Turquemenistão e da Rússia, com passagem apenas pela Turquia, até chegar à Grécia.

A Europa precisará sempre de muito gás para se aquecer, não é verdade?

Resumindo, a questão financeira, e o problema grego, são muito mais do que o que aparentam.

As duas últimas guerras mundiais estiveram intimamente ligadas ao controlo das rotas do petróleo. A próxima grande guerra poderá acontecer por causa do controlo das rotas do gás.

A Alemanha já provou duas vezes que é incapaz de perceber os ventos da História, e que é suficientemente quadrada para se meter em armadilhas de onde depois não consegue sair.

É por isto que uma saída da Grécia do euro (Grexit), precipitada por comportamentos radicais do BCE e da Alemanaha, pode vir a rebentar com o euro, uma moeda demasiado atrelada ao invisível marco alemão!

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Atualização: 5/2/2015, 12:28 WET

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Obama apoia Syriza

President Barack Obama, shown in December, said there are limits to how far European creditors can press Greece as the country tries to restructure its economy.

E Angela Merkel? Pedirá aos alemães para regresssarem ao marco?


Obama diz, sobre a Grécia, que não se pode continuar a espremer um país quando está no meio duma depressão. O jogo geoestratégico entre os EUA, Rússia e China soma e segue. Merkel e o resto dos lémures europeus limitam-se a guinchar, de vez em quando.
President Barack Obama expressed sympathy for the new Greek government as it seeks to rollback its strict bailout regime, saying there are limits to how far its European creditors can press Athens to repay its debts while restructuring the economy.

“You cannot keep on squeezing countries that are in the midst of depression. At some point there has to be a growth strategy in order for them to pay off their debts to eliminate some of their deficits,” Mr. Obama said in an interview with CNN’s Fareed Zakaria aired Sunday.

He said Athens needs to restructure its economy to boost its competitiveness, “but it’s very hard to initiate those changes if people’s standards of livings are dropping by 25%. Over time, eventually the political system, the society can’t sustain it.”

Mr. Obama expressed hope that an agreement would be reached so Greece can stay in the eurozone, saying, “I think that will require compromise on all sides.”

Mas há mais...


Hollande também apoia a Grécia, e Matthieu Pigasse —antigo administrador do ministério da economia francês e diretor-geral delegado do banco Lazard, entretanto contratado por Yanis Varoufakis— sugere a possibilidade de um corte de cabelo na dívida pública grega na casa dos 50%!  O dominó do euro parece cada vez mais inevitável. Convém começar a poupar feijões, pois talvez venham a servir como moeda pós-euro!

France Open to Easing Greek Debt Burden: Finance Minister

Bloomberg
by Helene Fouquet
1:44 PM WET
February 1, 2015

[...]

Varoufakis appointed Lazard Ltd. as adviser on issues related to public debt and fiscal management on Saturday.

“There is a range of possible solutions: extending the maturities, lowering interests rates, and the much more radical solution, the haircut,” Matthieu Pigasse, the head of Lazard’s Paris office who has advised Greece in the past, said in a Jan. 30 interview on BFM Business television. “If we could cut the debt by 50 percent” he said, “it would allow Greece to return to a reasonable debt to GDP ratio.”

He said Greece’s debt to public creditors was about 200 billion euros.

Sapin and Varoufakis plan to make a joint statement in Paris on Sunday evening.

Artigos relacionados:
  • O nó grego. Alemanha isolada? — O António Maria
  • The Tide Is Turning: Obama "Expresses Sympathy" For Greece; Lazard Says 50% Greek Haircut "Reasonable"— Zero Hedge.

domingo, fevereiro 01, 2015

Grécia manda Troika bugiar

Presidente do Eurogrupo e o novo ministro das finanças grego

Dijsselbloem para Varoufakis: “You Just Killed The Troika”


E agora, Tia Merkel? E agora, Grécia? Será que a Rússia, os chineses e o resto dos BRICS propuseram a Tsipras um Plano B? Obama e Cameron abriram, aposto um G'Vine, várias garrafas de Champagne por esta inesperada, ou talvez não, derrota alemã. Mas o calvário continua... e as ondas de choque, em breve, varrerão a pacatez lusitana que tem aturado uma democracia capturada por gente imprópria.

O novo ministro grego das finanças, professor universitário e um blogger dos quatro costados, esclareceu mais tarde a BBC sobre o grande burburinho que se levantou depois da pedrada no charco que foi a conferência de imprensa que reuniu o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e o novo ministro das finanças grego, Yanis Varoufakis, e onde o primeiro teria confessado, entre dentes, ao segundo, quando ambos abandonavam a conferência de imprensa: “You Just Killed The Troika!” Ao que Varoufakis teria replicado: “Wow!”

Neste esclarecimento (YouTube) o ministro teve a preocupação de explicar que a Troika, na sua qualidade de mandatária da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional, deixou de ser uma interlocutora útil para a Grécia, como para qualquer outro país da União Europeia, na medida em que as receitas prescritas e em boa parte seguidas pelos países sob programa de resgate não deram os resultados prometidos. Os países da União têm assim que dialogar diretamente com os credores, e sobretudo com as instituições europeias de que são membros de parte inteira, sobre a crise sistémica em curso e novas estratégias para lhe fazer frente.

O que começou por ser um problema da periferia disfuncional, burocrática e corrupta da UE, progrediu entretanto em direção a norte: França, Bélgica, Reino Unido, Áustria, Holanda e Alemanha. A Alemanha, por exemplo, infrige há algum tempo o limite de 60% do PIB imposto pela UE em matéria de dívida pública. Em 2013, segundo The World Factbook, a sua dívida pública era de 79,9% do respetivo PIB.

Mas regressando à entrevista dada à BBC por Yanis Varoufakis, convém ressalvar que o mesmo reconheceu relativamente à Grécia que o país precisa de uma verdadeira reforma estrutural e de uma repressão fiscal a sério. O que houve, por obra da direita e dos especuladores agora derrotados nas urnas, foram 1) deformas estruturais e 2) transferências fiscais maciças, dos mais pobres e da classe média, para os mais ricos e para os fariseus da Troika. Ou seja, há que ir ao fundo dos problemas, e rejeitar liminarmente a ideologia austeritária do banksterismo dominante e suas subservientes burocracias. Não por estas palavras, mas foi o que disse.

Aparentemente, mesmo antes de ser eleito, o Syriza levou a Carta a Garcia, neste caso a Mario Draghi, para que o hegemonismo quadrado dos alemães fosse decisivamente contrariado.

É pos isto mesmo que a frase de Jeroen Dijsselbloem para Yanis Varoufakis (Keep Talking Greece) — Acabastate de matar a Troika—é mais consequente do que parece.

quinta-feira, janeiro 22, 2015

Draghi anuncia diarreia monetária


Um poema radical de José Afonso que não deixa de falar verdade

O desespero da medida é proporcional ao tamanho do buraco negro! 


Draghi anuncia a criação mensal de 60 mil milhões de euros para ensopar o buraco negro do endividamento europeu. Esta diarreia não chegará à economia, mas apenas aos bancos, aos governos e aos fundos de investimentos insolventes, bem como à burocracia inútil da União.

O Dragão da Goldman Sachs diz que os bancos terão um incentivo para financiar a economia... bla, bla, bla, bla....

Zero Hedge:
  • DRAGHI ANNOUNCES EXPANDED ASSET PURCHASES 
  • DRAGHI SAYS ECB WILL BUY EU60BLN/MONTH, not the €50BN "leaked" yesterday
  • DRAGHI SAYS ECB WILL START AGENCY DEBT PURCHASES IN MARCH 
  • DRAGHI SAYS ECB ASSET BUYING TO CONTINUE UNTIL SEPT. 2016: so 16 months at €60 billion = €1.08 trillion 
  • DRAGHI SAYS PURCHASES WILL BE CONDUCTED BASED ON CAPITAL KEY
  • DRAGHI SAYS AGENCY DEBT WILL BE SUBJECT TO LOSS SHARING 
  • DRAGHI SAYS ECB WILL HOLD 8% OF ADDITIONAL ASSET PURCHASES 
  • DRAGHI SAYS AGENCY DEBT WILL BE 12% OF ADDITIONAL PURCHASES
  • DRAGHI SAYS 20% OF PURCHASES TO BE SUBJECT TO RISK SHARING 
  • DRAGHI SAYS ECB REMOVES 10BP SPREAD ON TLTRO FOR FUTURE

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Esqueçam o crescimento em 2015!

Foto: Reuters

Petróleo barato e dólares caros: uma combinação explosiva para 2015


Segundo o BoA, a suspensão do QE em dólares será compensada apenas em 30% pela soma dos estímulos previstos no Japão e UE. Consequência: um maremoto financeiro global com epicentro nos países emergentes: Rússia, Turquia, Brasil, Indonésia, Angola, Letónia, Peru, etc...

A subida sustentada do dólar arrastará perdas de rendimento gigantescas nas moedas locais em que muita da dívida dos países emergentes foi negociada. Exemplo: investimentos de fundos de pensões americanos e europeus nos países emergentes, em busca de taxas acima dos 1%! Exemplo: empréstimos bancários em dólares a empresas angolanas de construção que vendem os imóveis e os serviços associados em kwanzas.

A fuga dos atoleiros financeiros em que os países emergentes, que representam já 50% da economia mundial, se poderão transformar a curto prazo já começou, mas o impacto só será sentido, e de que maneira, a partir de 2015.

O regresso dos euros vai encontrar um continente a nadar em EQE, a próxima moeda virtual da UE. Taxas de juro: menos de zero!

Haverá, por causa deste cenário mais do que provável, uma procura em massa da moeda americana que, depois de ter suspendido o QE, se afastará progressivamente do ZIRP (Zero Interest Rate Policy)?

Irá o dólar valorizar e ultrapassar em breve o euro?

Crescimento? Quem falou de crescimento? Só se foi o Costa das Caravelas.

UM SANTO NATAL, mas com os cintos de segurança bem apertados!


fx-rate

Fed calls time on $5.7 trillion of emerging market dollar debt

World finance is rotating on its axis. The stronger the US boom, the worse it will be for those countries on the wrong side of the dollar

The US Federal Reserve has pulled the trigger. Emerging markets must now brace for their ordeal by fire.

They have collectively borrowed $5.7 trillion in US dollars, a currency they cannot print and do not control. This hard-currency debt has tripled in a decade, split between $3.1 trillion in bank loans and $2.6 trillion in bonds. It is comparable in scale and ratio-terms to any of the biggest cross-border lending sprees of the past two centuries.

Much of the debt was taken out at real interest rates of 1pc on the implicit assumption that the Fed would continue to flood the world with liquidity for years to come. The borrowers are "short dollars", in trading parlance. They now face the margin call from Hell as the global monetary hegemon pivots.

By Ambrose Evans-Pritchard
The Telegraph, 9:27PM GMT 17 Dec 2014

sábado, outubro 11, 2014

Uma nova China chamada Europa

Deutsche Bank / Market Research. October 2014.

Europa: a maior balança corrente do planeta. Que fazer? 


O BCE, depois de ter reduzido a menos que zero os rendimentos das poupanças (o PCP e o Bloco não saberiam fazer melhor), de ter começado a pagar para emprestar aos bancos que, por sua vez, cobram uma margem pelo serviço que o BCE deles espera que seja prestado aos governos europeus, quer agora radicalizar as suas medidas de estímulo financeiro perante o espectro de uma deflação e recessão/estagnação duradouras na Europa (1), apostando nas chamados ABS (Asset-backed Securities) — outrora consideradas como um dos agentes tóxicos da crise financeira (2).

Na realidade, as ABS funcionam como um estratagema de liquefação dos chamados ativos ilíquidos —hipotecas de casas, empréstimos para compra de automóveis, empréstimos para estudar,  saldos dos cartões de crédito, rendas garantidas das PPP (porque não?!)— e têm por objetivo gerar liquidez onde não existe, estimulando novos apetites pelo risco, mas sem envolver diretamente operações de crédito patrocinadas pelos bancos. Ou seja, o BCE não empresta aos governos, não senhor, e trava os empréstimos bancários à economia pela via de uma supervisão e rácios de capital mais rígidos, sim senhor, recorrendo em ambos os casos ao argumento (aliás apropriado) de que tal significaria perpetuar o ciclo infernal do endividamento suicida, da especulação desenfreada e do colapso económico-financeiro, sim senhor. Mas como está desesperado, à semelhança da desesperada América de Obama, Mario Draghi propôs-se no passado dia 2 de outubro, enveredar por uma versão light do QE (Quantitative Easing), prometendo comprar ABS bem desenhados e com boa graduação, aumentando para isso a massa monetária da Eurolândia em um bilião de euros. A compra das ABS seria, porém, intermediada por brokers alheios aos bancos centrais que compõem o Eurosistema, supõe-se que para garantir maior independência na avaliação da qualidade das operações a realizar. Sim senhor.

Acontece que tudo isto poderá acabar por não ter impactos significativos na economia europeia, permitindo tão só (que digo eu?) continuar a satisfazer alguns grupos financeiros e as elites corporativas e politocratas privilegiadas.

Estamos ainda longe de perceber o alcance da crise económica e financeira em curso na Europa e no resto do mundo. Há uma era energética que chegou ao fim. Há uma era inflacionista que chegou ao fim. E há muito dinheiro, mas ninguém parece querer vê-lo desaparecer na sobreprodução, sobrecapacidade e acumulação sem destino de stocks industriais, no consumo conspícuo que só mais endividamento pode financiar (assim se importaram  e venderam em 2013, no nosso sobre endividado país, mais de quatro milhões de smartphones), ou na aceleração do endividamento público que tudo arrasta e devora.

A Nota de Research de George Saravelos, que a seguir transcrevemos parcialmente, é surpreendente.

Revela-nos uma Europa com semelhanças cada vez mais preocupantes com o Japão das últimas duas décadas: excedentes comerciais e financeiros, níveis crescentes de poupança privada, endividamento público imparável, ameaça de deflação, uma moeda a caminho da desvalorização, desemprego estrutural, envelhecimento demográfico, estados cada vez mais omnipresentes e sofisticadamente autoritários, divisionismo social, uma sociedade profundamente deprimida, e concentrações de riqueza cada vez mais pornográficas.

A passagem de um paradigma de crescimento do produto na ordem dos 3-4% para uma era longa de crescimentos entre 0-1% está a ocorrer neste preciso momento, marcada por sucessivos períodos de estagnação, recessão e crescimento tímido. O desemprego estrutural acompanhado de empobrecimento individual e coletivo é, pois, inevitável, se não soubermos entretanto redefinir a função económica e social do emprego e do trabalho, e não criarmos espaço e compensações para as atividades individuais e sociais de cooperação, solidariedae e criatividade.

A Europa tem neste momento excesso de capital, capacidade produtiva e conhecimentos. É por aqui que temos que começar a olhar para os problemas que nos afligem e ver como poderemos resolvê-los, sem nos excedermos em maniqueísmo.

As contradições sistémicas existem e têm vindo a agravar-se. Ideias novas precisam-se!


Euroglut: a new phase of global imbalances
Deutsche Bank / Market Research
George Saravelos
6 October 2014

Euroglut means that as the world's biggest savers, Europeans will drive international capital flow trends for the rest of this decade. Europe will become the 21st century's largest capital exporter.

This report argues that both “secular stagnation” and “normalization” are incomplete frameworks for understanding the post-crisis world. Instead, “Euroglut” – the global imbalance created by Europe’s massive current account surplus will be the defining variable for the rest of this decade. Euroglut implies three things: a significantly weaker euro (we forecast 0.95 in EUR/USD by end-2017), low long-end yields and exceptionally flat global yield curves, and ongoing inflows into “good” EM [Emergent Markets] assets. In other words, we expect Europe’s huge excess savings combined with aggressive ECB easing to lead to some of the largest capital outflows in the history of financial markets.

Introducing Euroglut
The dust is settling on the Global Financial Crisis, and markets are now focusing on the future. One prominent line of thinking is that the new normal is “secular stagnation” - weak trend growth and very low neutral rates. Another view is that “normalization” is around the corner - growth will soon return, and policy will inevitably normalize faster, particularly in the US. In this piece, we argue that both the “normalization” and “secular stagnation” frameworks are incomplete. Instead, it is Europe’s huge savings glut - what we call euroglut - that will drive global trends for the foreseeable future. While euroglut seems similar to “secular stagnation”, the asset price conclusions are very different and far more powerful.

What is Euroglut?
Euroglut is a global imbalances problem. It refers to the lack of European domestic demand caused by the Eurozone crisis. The clearest evidence of Euroglut is Europe’s high unemployment rate combined with a record current account surplus. Both are a reflection of the same problem: an excess of savings over investment opportunities. Euroglut is special for one and only reason: it is very, very big. At around 400bn USD each year, Europe’s current account surplus is bigger than China’s in the 2000s. If sustained, it would be the largest surplus ever generated in the history of global financial markets. This matters.

Global impact
Euroglut means that as the world’s biggest savers, Europeans will drive international capital flow trends for the rest of this decade. Europe will become the 21st century’s largest capital exporter. This statement is close to an accounting identity - a surplus on the current account implies capital outflows elsewhere. Our premise is that the next few years will mark the beginning of very large European purchases of foreign assets. The ECB plays a fundamental role here: by pushing down real yields and creating a domestic “asset shortage”, it is incentivizing European reach for yield abroad. Think about policy over the next few years: at least 500bn-1trio of excess cash will be sitting in European bank accounts “earning” a negative rate of 20bps. In the meantime, asset-purchases will drive yields down across the board – there will be nothing with yield left to buy. The asset implications are huge: [...]

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NOTAS
  1. Five charts that show Germany is heading into recession
    The Guardian, Thursday 9 October 2014 13.58 BST   
  2. Asset-backed securities: The key to unlocking Europe's credit markets?
    Carlo Altomonte and Patrizia Bussoli on 24th July 2014. Bruegel.

quarta-feira, agosto 06, 2014

Futura primeira ministra de Portugal?

Maria Luís Albuquerque.
Foto: Reuters


Quem irá liderar o próximo governo do PSD, com ou sem acordo de regime com o PS?


Estava linda, segura das palavras e serena como sempre. O governo, o Banco de Portugal e a UE, depois de uma corrida de meses contra o tempo, acabavam de realizar com êxito uma operação de alto risco: desmembrar o BES, lançando ao lixo o lixo e salvando o terceiro maior banco do país, impedindo que o seu colapso desordenado levasse atrás de si o frágil sistema financeiro indígena, com ondas de choque imprevisíveis no euro, no SME e, por esta via, na integridade da União Europeia.

Basta reparar no processo legislativo europeu em volta do SRM, acelerado a partir do pedido de urgência feito por Mario Draghi ao parlamento europeu em 23 de setembro de 2013.

Draghi Says EU Bank Resolution Fund Needed With Power to Borrow
By Rebecca Christie and Ian Wishart Sep 23, 2013 4:59 PM GMT+0100 - Bloomberg.

In the short run, national authorities will need to stand ready to finance the cost of stabilizing a failing bank, Draghi said. The ECB will be conducting balance sheet reviews of lenders across the euro zone as it prepares to become the currency bloc’s single supervisor next year, and the results of those reviews will require some sort of backstop.

“We’ll have to have national backstops in place,” Draghi told a European Parliament panel in Brussels today. “The role for the national backstops is there and it’s realistic.”

Current plans call for the Single Resolution Mechanism to start on Jan. 1, 2015, and build up its fund over 10 years. Draghi said it would be better if the fund could ramp up more quickly. Otherwise it will be up to national authorities to act when needed, which is “suboptimal,” he said.

Este Mecanismo Único de Resolução de crises bancárias agudas (SRM) tem dois momentos legislativos cruciais: o da DIRETIVA 2014/59/UE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO, de 15 de maio de 2014, e o do REGULAMENTO (UE) N.o 806/2014 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO, de 15 de julho de 2014. Sem isto, a falência descontrolada do BES teria sido um desastre completo para Portugal. Um desastre financeiro, um desastre económico e um desastre político cujas repercussões são difíceis de imaginar.

So far so good, apesar do sentimento negativo ou misto que percorre as bolsas americana, europeia e asiática.

Um dia e meio depois da operação já os bancos portugueses queriam maior participação no empréstimo necessário à constituição do capital do Novo Banco. Por sua vez, três bancos espanhóis revelaram interesse na aquisição do Novo Banco, esclarecendo que pode estar na mira, por exemplo, do Santander, a criação do maior banco português, maior mesmo do que a Caixa Geral de Depósitos. Só mesmo os neurónios ressequidos da oportunista e populista esquerda à esquerda do PS é que continua em estado de negação.

O Bloco de Esquerda, num acesso de zelo institucional caricato (ver RTP), exige que seja o primeiro ministro, Pedro Passos Coelho, e não a ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque, a comparecer no parlamento para explicar a resolução do BES. É evidente que as pessoas que acompanharam mais de perto este processo são, precisamente, a ministra das finanças e o governador do Banco de Portugal. Então porque insiste João Semedo que seja o PM a dar a cara, como diz? Pode ser apenas insulação. Mas, à partida, parece mais um acesso de machismo politocrata inadmissível.

A presença da Maria Luís Albuquerque na resolução do caso BES tende a ganhar importância a cada dia que passa.

O processo BES, nomeadamente contra Ricardo Salgado, está no início e promete ir revelando, até às próximas eleições, matéria podre suficiente para enterrar de vez muitos políticos ainda no ativo. Até às próximas eleições legislativas, se o Novo Banco se revelar um sucesso, é bem provável que o PSD recupere eleitoralmente ao ponto de chegar a uma nova maioria, ainda que insuficiente, ou ao ponto de retirar ao PS uma maioria suficiente. A dinâmica mãos limpas aberta pelo varrimento do BES tem ainda o potencial de esvaziar substancialmente as novas plataformas eleitorais unicamente sustentadas pelo discurso anti-corrupção (uma oportunidade para o Nós, cidadãos surgir com um papel pertinente na atual conjuntura de renovação do sistema partidário), repondo a questão de saber se o próximo governo terá mesmo que ser, ou não, um governo de coligação. E neste caso, quem nos diz que Pedro Passos Coelho não estaria já a preparar uma sucessora, com o objetivo de garantir uma vitória mais folgada do PSD nas próximas eleições, sem Paulo Portas, sem PP, e sem o próprio Passos Coelho, todos demasiado queimados pela austeridade imposta aos portugueses?

Incapaz de imaginar António Guterres na próxima corrida presidencial, dou por adquirida a ida de Durão Barroso para Belém. Mas até para esta estratégia conviria que o próximo governo voltasse a ter uma abertura clara à inovação institucional e gente com créditos firmados dentro e fora do país, sejam eles militantes e simpatizantes dos partidos existentes, quase todos em decomposição, ou independentes determinados a contribuir para a metamorfose em curso no país.

De uma coisa estou certo: Pedro Passos Coelho, António José Seguro e os seus apoiantes pelo país fora, do PS e do PSD, irão varrer da cena político-partidária boa parte dos senadores e crápulas que conduziram o país ao desastre, incluindo os do BPN e do BES. Se António Costa não desisitir da sua inglória cruzada proxi contra a direção legítima do PS, em nome da corja socratina, soarista e maçónica decadente que o empurrou para este beco sem saída, o PS sairá exangue desta guerra civil intrapartidária, e por isto mesmo com grandes dificuldades de se apresentar como alternativa credível ao PSD e sobretudo ao governo em funções.

Uma coligação PS-PSD parece-me improvável e indesejável, salvo se o país entrar numa qualquer e por ora imprevisível crise de regime, económica e/ou financeira extremamente grave. Ainda assim, o PSD poderá precisar de uma solução governativa na qual o PP de Paulo Portas já não faz sentido, nomeadamente pela sua extrema debilidade eleitoral e promiscuidade excessiva com a malta do BES. Passos Coelho poderá ter que patrocinar uma solução original, com ou sem acordo programático com o PS.

Por tudo isto o atual PM não irá ao parlamento, confiando em Maria Luís Albuquerque a tarefa de explicar aos deputados do Bloco e do PCP, porque razão a destruição do BES foi realizada, não por um governo do PS, não pelos cadáveres adiados do estalinismo, do maoísmo e do trotsquismo que ainda vegetam pelo parlamento, mas pasme-se, por um governo reiteradamente apresentado como neoliberal pela 'esquerda' desmiolada, oportunista e populsita que temos.

Por tudo isto Pedro Passos Coeho não permitiu a Jean-Claude Juncker roubar Maria Luís Albuquerque de Portugal. É!

sábado, junho 14, 2014

A moeda e os impérios

Origem: DoubleLine

O tempo histórico tem um passo mais largo que o tempo da nossa ansiedade


O gráfico que acompanha este artigo elucida bem como os impérios nascem, impõem a sua moeda, e depois morrem.

É o caso agora dos EUA, cuja moeda de reserva acaba de perder a hegemonia e está obrigada a partilhar tal estatuto com o euro e com o renminbi, depois de os especuladores ingleses e americanos terem perdido a guerra inglória que lançaram contra a moeda única europeia.

Mas tal como o gráfico também mostra, os impérios morrem devagar. Por exempo, Portugal só 600 anos depois (1415-2015) de ter sido um império, dono de uma moeda de reserva mundial ao longo de oitenta anos, se viu envolvido em sucessivos episódios de insolvência. Só em 1999 Portugal arriou a sua bandeira em Macau e deixou de ter moeda própria — a favor do euro. E, com sorte, só em 2015 iniciaremos um novo período histórico, ainda pleno de incógnitas.

Devemos, pois, olhar para o declínio dos Estados Unidos com prudência, tendo sempre em conta que os aliados estratégicos são em larga medida determinados pela geografia, e não pela ideologia.

O Atlântico volta a ser o centro estratégico do planeta, por motivos que explicaremos noutro texto, mas que no essencial se prende com a impossibilidade objetiva de a Ásia se aproximar tanto da Euroamérica, quanto a Euroamérica se tem aproximdado ultimamente da Ásia. A paragem do movimento tectónico em curso vai ocorrer ao longo da próxima década (2020-2030), e a linha da redistribuição global da riqueza material, tecnológica e cultural vai acabar por manter uma grande assimetria entre o Ocidente e o Oriente, e entre o Norte e o Sul. Não há, pura e simplesmente, energia barata para que seja doutro modo.




How Much Longer Will the Dollar Remain the Reserve Currency of the World?
By Cullen Roche, June 11th, 2014. Pragmatic Capitalism.

...will the USA lose its reserve currency status at some point?  Yes.  In fact, it’s already starting to lose its reserve status to Europe and China.  Will it be the end of the world and will it cause everyone to suddenly ditch the dollar?  Probably not.  It just means the USA will produce a lower proportion of global output and therefore, as a matter of accounting, the rest of the world will hold a lower percentage of US dollar denominated financial assets as a percentage of global output.  It’s not the end of the world.  It’s just a sign that market shares change and when you’re #1, well, there’s only one direction to go.

Segundo Paul Kennedy escreve em The Rise an Fall of the Great Powers, a China, se não tivesse destruído a sua grande Armada, para acudir à pressão que os Mongóis exerciam a norte do seu território, talvez tivesse chegado à Europa por via marítima. O contemporâneo, embora mais velho, do Infante Dom Henrique (1394 - 1460), que na China poderia ter promovido um movimento simétrico ao dos Descobrimentos Portugueses, era um general eunuco, de origem muçulmana, chamado Zheng He (1371 - 1433). Este personagem assume hoje na China um protagonismo mítico só comparável ao do famoso filho da princesa inglesa Filipa de Lencastre e de D. João I, que foram reis de Portugal. Mas na História, ao contrário do que se diz, as repetições são raras. E o sonho que a China hoje alimenta de abrir-se ao mundo e devir um império moderno e mundial, como Portugal, Castela, a Holanda, França, Inglaterra e o Estados Unidos foram, pode estar irremediavelmente comprometido por uma realidade chamada pico do petróleo, e pela consequente implosão do período de crescimento inflacionista extraordinariamente rápido e intenso que uma parte do mundo conheceu nos últimos duzentos anos.

Portugal verá porventura aumentar o seu território por efeito da extensão da sua Plataforma Continental (Facebook). Mas será por aqui e pelo papel que soubermos jogar na União Europeia que o novo ciclo começará, depois do arriar definitivo da bandeira colonial? Ou teremos que descer previamente ao inferno de nós mesmos, para podermos renascer genuinamente em uma nova era?


terça-feira, junho 10, 2014

O socratino Pinho

Manuel Pinho mosta os chifres na Assembleia da República

O corno de pinho apressa-se antes que a Dona Branca Espírito Santo seja atingida por um raio!


Manuel Pinho negoceia reforma com o grupo Espírito Santo
Ecofinanças - extraído de: publico.pt.economia

Manuel Pinho regressou ao grupo liderado por Salgado em 2009

Vinte anos depois de ter entrado no grupo BES, o ex-ministro da Economia de José Sócrates, Manuel Pinho, de 60 anos, está a negociar com Ricardo Salgado a sua reforma antecipada. Em paralelo com a actividade de docente, Manuel Pinho exerce actualmente as funções de vice-presidente da holding BES África, auferindo mensalmente cerca de 50 mil euros, o que abriu espaço a que possa reclamar cerca de 3,5 milhões de euros de compensações até à idade da reforma (65 anos).

Manuel Pinho é o vice-presidente da holding BES África. Como?!
Não foi em África que o BES perdeu 5 pontes Vasco da Gama e 7 Casas da Música?

São prendas destas que devemos recordar —nomeadamente na pugna resultante da tentativa dos soaristas, socratinos e criaturas de avental tomarem de assalto a direção legítima do PS— quando vemos o socratino António Costa na televisão....

Se a malta fina do Partido Socialista continuar a legitimar o golpismo descarado de Mário Soares e das suas tropas —derruba-se o governo, despede-se o presidente, arruma-se o Tozé— terá que se ir preparando para o coice que certamente vai levar da sociedade, e depois da Direita!

O país está na falência, mas como Mário Draghi anunciou que fará whatever is necessary para proteger o euro e a União Europeia, e Merkel tem todos ou quase todos os trunfos na manga, a 'esquerda' corrupa acordou em sobressalto, pois já anteviu a espécie de Plano Marshall que aí vem, e não quer perder pitada. Corrigo: quer voltar a abotoar-se com tudo o que puder, calando o Bloco, o Livre e o PCP com côdeas, e atirando cenouras e broa à populaça.

O golpismo patético de Mário Soares é de tal ordem que só pode mesmo legitimar uma réplica à altura.

POST SCRIPTUM

No essencial, o que Mário Soares e a sua corte querem é o regresso em pleno do Bloco Central da Corrupção. Quem lidera a parte laranja desta conspiração?

segunda-feira, junho 02, 2014

Bretton Woods II



Enquanto os cães indígenas ladram, a caravana passa e Paul Volcker recomenda um novo Bretton Woods


By now I think we can agree that the absence of an official, rules-based cooperatively managed, monetary system has not been a great success. In fact, international financial crises seem at least as frequent and more destructive in impeding economic stability and growth.

The United States, in particular, had in the 1970’s an unhappy decade of inflation ending in stagflation. The major Latin American debt crisis followed in the 1980’s. There was a serious banking crisis late in that decade, followed by a new Mexican crisis, and then the really big and damaging Asian crisis. Less than a decade later, it was capped by the financial crisis of the 2007-2009 period and the great Recession. Not a pretty picture. At the least, we have been reminded that while free and open capital markets may be needed to support vigorous growth, they are also prone to crisis. The more complex, interrelated and free from official restraints, the greater the collective risk.

For years, the benefits were reflected in the enormous growth and the reduction in poverty of emerging economies. The contrasting concerns are reflected in the slowing of growth and productivity in the industrialized world.

We can all recite a rather long list of culprits contributing to the financial crisis: excessive leverage, outlandish compensation, failures in regulatory oversight, simple greed, and on and on. What I want to raise is what seems to be a neglected question. Amid all the market and institutional excesses, all the regulatory omissions, most of all, the legitimate questions about the underlying failures of national economic policies, has the absence of a well-functioning international monetary system been an enabling (or instigating) condition? Specifically, did the absence of international oversight, of discipline in financing, of exchange rate management permit – even encourage – unsustainable imbalances in international payments and in domestic economies to persist too long?

Many have pointed, for instance, to the huge imbalances at the beginning of this century in international payments between the United States on one side and China and Japan on the other – the largest economies in the world. Those imbalances were easily financed. The result was that a high degree of liquidity at low interest rates could be maintained in the United States, despite the virtual disappearance of domestic savings. The sub-prime mortgage phenomenon was an outgrowth. At the same time, exceptionally high levels of savings and investment in China supported exports without working toward a more balanced economy, including the domestic consumption that would be necessary to sustain Chinese growth in the years ahead.

Where was an effective adjustment mechanism? Was the “exorbitant privilege” of the dollar as a reserve currency also a “dangerous temptation” to procrastinate - an impediment to timely policy adjustments, risking eventual breakdown?

The current travails of the Eurozone (the equivalent of an absolute fixed exchange rate regime) carry interesting lessons. A single currency with the free flows of funds among the member states simply could not substitute for the absence of a unified banking system and incentives for disciplined and complementary national economic policies.

That is all a long introduction to a plea – a plea for attention to the need for developing an international monetary and financial system worthy of our time.

in REMARKS BY PAUL A. VOLCKER AT THE ANNUAL MEETING OF THE BRETTON WOODS COMMITTEE WASHINGTON, DC – MAY 21, 2014 (pdf)

sexta-feira, maio 16, 2014

Balelas do senhor Brian da Allianz

O BCE prepara-se para uma diarreia monetarista. É o fundamentalismo keynesiano no seu pior.


Brian Tomlinson: "Quanto mais tarde o BCE usar a 'bazuca', pior"
16 Maio 2014, 00:01 por Edgar Caetano | Jornal de Negócios

O programa de expansão monetária é uma inevitabilidade, diz Brian Tomlinson, especialista em obrigações da Allianz Global Investors. É a única forma de baixar o euro, animar a economia e "escapar ao abismo da deflação".

O BCE prometeu fazer tudo o que for necessário para evitar o colapso do euro, agora precisa de fazer o que for necessário para impedir que a Zona Euro caia na deflação.

Depois de roubarem o pessoal através da destruição das taxas de juro (uma política do BCE destinada a baixar o serviço das dívidas soberanas e dos encalacrados banksters), a que se seguiu uma destruição em massa do emprego, nomeadamente através do estrangulamento do crédito à economia, os especuladores profissionais querem agora reflação para assim continuarem a ir ao nosso bolso, alviando também por esta via as dívidas dos governos, especuladores afundados no buraco negro dos derivados financeiros especulativos e banksters. A destruição da remuneração das poupanças, i.e. taxas de juro estupidamente baixas (negativas, até!), favoreceu durante uma década o investimento, o gasto público e o consumo aventureiros, aliviando ao mesmo tempo os serviços das dívidas públicas que começavam então a ficar fora de controlo; por outro lado, hoje, mais inflação, baixaria o peso real do endividamento explosivo dos governos, dos bancos e dos oligopólios encostados às rendas públicas garantidas, ao aumentar o valor dos ativos que servem de colaterais das dívidas (o imobiliário parqueados nos balanços dos bancos, os aviões encomendados da TAP, o home equity e as ações da Brisa, Mota Engil e Cª.) Tudo isto, porém, seria uma vez mais realizado à custa da expropriação salarial, bancária e fiscal dos contribuintes e da destruição sistémica de empresas e empregos!