Ramalho, Mário Soares e Otelo cantam no Largo do Carmo no dia 25 de abril de 2014 Tiago Miranda/ Expresso, 25/04/2014 |
Andam todos muito agitados, mas não trazem nada de novo...
Aníbal Cavaco Silva disse no seu discurso de 25 de abril, pela primeira vez, que o regime partidocrata está em causa, pedindo uma reflexão urgente aos partidos.
Como é evidente os partidos do sistema não ouviram.
Mas a discussão sobre a necessidade de uma reforma profunda do regime tem agora uma nova arena de debate e movimentos brownianos mais ou menos estridentes. Uma mão cheia de almas inocentes parecem ter acordado ao mesmo tempo, afiando facas. No CDS-PP, Paulo Portas; no PSD, Rui Rio; e no PS, a reincarnação cubana de Mário Soares.
Para derrubar o atual governo, temos os bonzos da 'esquerda'. Para uma revolução democrática institucional, vimos esta semana Rui Rio substituir Durão Barroso na linha de partida para as presidenciais.
A balbúrdia é, como se vê, enorme e vem desaguar no que há muito vimos descrevendo como o fim de um regime partidocrata populista e corrupto que conduziu Portugal a uma vergonhosa bancarrota.
Os partidos estão a desfazer-se por dentro. PSD, PS e Bloco de Esquerda vão ser duramente abanados pela abstenção crescente do eleitorado e pela politização cada vez mais articulada desta abstenção. A carnagem começou. Os latifundiários de Abril pensam que têm a História no papo. Mas não têm!
Há em Portugal um limite objetivo aos devaneios oportunistas da 'esquerda', que esta nunca entendeu, por ser em regra dirigida por cabeçudos anestesiados com ideologias requentadas, quando não completamente obsoletas.
Em Portugal há, sensivelmente:
- 10,6 milhões de portugueses
- 11,7 milhões de prédios rústicos (1)
- 305 mil explorações agrícolas (36.681,45 Km2; 40% da superfície agrícola útil)
- 7,9 milhões de prédios urbanos
- 4,4 milhões de alojamentos (num total de mais de 5,8 milhões) ocupados pelos seus proprietários
Não é preciso saber mais nada sobre a sociologia do país.
Uma parte dos mais de 120 mil portugueses que emigraram desde 2000 para cá fizeram-no para poder honrar os compromissos que assumiram junto da banca na compra das suas casas. Ou seja, nada há de mais importante para a esmagadora maioria dos portugueses do que as suas famílias e as suas propriedades, grandes ou pequenas, urbanas ou rústicas, tanto faz. Quem não entender estas cifras simples não entenderá nunca porque está eleitoralmente acantonado, ou porque o rotativismo no interior do Bloco Central depende exclusivamente do número de lugares que o PS e o PSD são capazes de distribuir e sobretudo manter na administração pública e em geral na órbita do estado.
Como a insolvência do país vai obrigar, esteja quem estiver no governo, a encolher o estado e os partidos, a sorte da presente nomenclatura partidária está mais ou menos traçada.
Podemos imaginar, com muito esforço, que surgiam luminárias novas dos partidos sentados em São Bento, e que da sua luz surgiria, por exemplo, uma frente alargada e pragmática de esquerda integrada pelo PCP, Verdes, BE e uma cisão do PS (2), disponível para formar governos futuros; e que uma parte do PSD se juntaria ao PS depois de este ver partir os fraturantes; nascendo desta recomposição um novo espetro partidário capaz de se apresentar ao eleitorado com algumas ideias arejadas e ajustados à sociologia do país.
Podemos imaginar até que haveria uma revisão constitucional constituinte, através da qual se reduziria o número de deputados centrais, regionais e municipais e se mudariam as respetivas regras de representação; e uma regionalização decente, com a criação das cidades-região de Lisboa e Porto, e o fortalecimento político das juntas de freguesia, enquanto pilares micrológicos reforçados da democracia; e que haveria até uma nova câmara dedicada à representação dos principais interesses corporativos do país, aumentando desta forma a transparência do sistema.
Os receios de que esta utopia não passe disto mesmo, ou seja, de um não lugar, leva-me diretamente ao próximo cenário: preparar Portugal para uma democracia sem partidos!
Nesta democracia por vir predominariam as instâncias de democracia direta, predominariam de forma transparente as instituições cognitivas, profissionais e espirituais do país. Os partidos, talvez muito diferentes dos atuais, continuariam a existir e a contribuir para a definição política da comunidade, mas já sem o poder de dominar (e arruinar) as sociedades.
NOTAS
- Census 2011 (web), RCM n.º 56/2012 (DRE), Pordata e O Cadastro e a Propriedade Rústica em Portugal (pdf)
© Fundação Francisco Manuel dos Santos e Rodrigo Sarmento de Beires, 2013. - Esta frente é improvável, para não dizer impossível, dada o perfil genético jacobino e sectário comum a todas as formações da dita 'esquerda'. Já ontem vimos, como voltaremos a ver no dia 1 de maio, o PCP, a Intersindical e os pseudo Verdes, numa rua, e o PS, arrastando pela mão alguns testamenteiros oportunistas do MFA, num largo aconchegado qualquer. Convém a este propósito reter um dado importante: na minha opinião, Mário Soares comprou (ou melhor dito, vendeu) a saída do euro aos grandes rendeiros do país, do latifúndio à banca, passando pelos monopólios naturais. Doutro modo seria inimaginável ver um ex-presidente da república apelar à subversão violenta do regime. O que ele está a dizer, uma vez mais, é que, com os 'socialistas' dele, a cleptocracia, os devoristas e as corporações do regime serão, uma vez mais, defendidos. Adivinho ainda, nesta manobra em preparação, a mão da diplomacia americana, a quem interessa ver Portugal regressar ao redil atlantista, e a quem não interessa nada permitir uma extensão e reforço súbito da presença militar da União Europeia (i.e. da Alemanha), do Dniepre até ao Corvo.