Líbano: a oportunidade europeia
Much of the United States policy in the Middle East and Central Asia is guided by acquiring strategic depths before Russia, China and Iran acquire strength. Iran wants to build nuclear weapons before the US and Russia are able to dominate the region. China is quietly making inroads in much of Asia and Africa before the US firmly establishes its global dominance. It's not just the United States that is following a doctrine of pre-emption. China and Iran are playing the same game. Can some calculations go wrong when investors are most confident of global economic growth and political stability as they were in the years leading to the First World War? In Strategic Foresight Group; The Big Questions of Our Time, Part 8: Ferguson's Fears
O território da
Palestina, também conhecido ao longo da história como Filastïn ou Falastïn (da desaparecida etnia Filistina), ou ainda como Eretz Israel (Terra de Israel), foi secretamente negociado em 1916 como um Condomínio Aliado decorrente dos arranjos geo-estratégicos posteriores à Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Em 1917, Lorde Balfour enviou a célebre carta a Lorde Rothschild (líder da Comunidade Judia Inglesa e membro influente da Federação Sionista), na qual declarava a intenção da Inglaterra apoiar o desejo sionista de estabelecer uma pátria Judia (national home) na Palestina. Em 1920 o Supremo Comando Aliado (Reino Unido, EUA, França, Itália e Japão) conferiu ao Reino Unido um mandato sobre toda a Palestina, embora sem definir os limites deste terriório. O Reino Unido, confrontado com a pressão da sua opinião pública (farta de pagar os elevados encargos do mandato), a desconfiança dos seus próprios aliados, que temiam pelas ambições coloniais inglesas na zona, o coro de protestos internacionais pela obstrução levantada pelos britânicos à deslocação dos refugiados judeus da Segunda Guerra Mundial para os territórios da Palestina, e o desgaste e humilhação impostos às suas tropas pelas acções terroristas dos grupos sionistas armados
Irgun e
Lehi, acabaria por anunciar o seu desejo de terminar o mandato na Palestina. Em 29 de Novembro de 1947 a Assembleia Geral das Nações Unidas aprova a resolução 181, com base na qual o território da Palestina é dividido em dois estados (israelita e árabe), mantendo-se a zona de Jerusalém (incluindo a cidade de Belém) sob administração das Nações Unidas. Os sionistas agarram obviamente a oportunidade, enquanto os países árabes rejeitam o inacreditável
mapa traçado em Nova Iorque (basta olhar para o que sucedeu entretanto a
este mapa para perceber quais os desígnios últimos de Israel). O novo Estado de Israel é proclamado a 14 de Maio de 1948, um dia antes de o Reino Unidos terminar o seu mandato na Palestina. A guerra israelo-árabe seguir-se-ia de imediato, continuando até aos dias de hoje, sem solução à vista. Israel foi alargando agressivamente as suas fronteiras, tendo obviamente como objectivo estratégico expandir a jurisdição do Estado de Israel a todo o (difuso...) território da Palestina, incluindo as cidades santas de Jerusalém e Belém. É por isto mesmo, que o
Hamas, o
Hezbollah, a Síria e o Irão não vêem outra solução para zona que não passe pelo fim de um Estado artificial, só possível graças ao
grande jogo das principais potências militares do Ocidente: a França, o Reino Unido e os Estados Unidos. O prémio deste grande jogo de estratégia é, para além de todas as outras considerações imagináveis (passagem do Suez, direitos humanos, democracia) a imensa riqueza petrolífera de toda a região do Médio Oriente, a qual se estende pela Arábia Saudita e Emiratos Árabes, Irão, Iraque, Afeganistão e zona do Mar Cáspio. Todo o século 20 esteve dominado pelo controlo desta matéria prima e fonte energética de primeira grandeza.
A agenda de Israel é clara: destruir a possibilidade de existência de um Estado Palestino e expandir o seu território por forma a ocupar não apenas todo o mapa da Palestina desenhado pela ONU, mas também, logo que houver oportunidade, estender o seu
Lebensraum à Jordânia.
Perante estes desígnios, a agenda dos árabes da Palestina não pode deixar de contemplar a destruição do Estado de Israel como uma opção racional.
Este cenário de irredutibilidade recíproca é muito perigoso para o futuro da humanidade. Na realidade, a situação actual é muito diferente daquela que existia nos finais do século 19, no primeiro quartel do século 20, e mesmo durante todo o período compreendido entre a derrota nazi e a queda do muro de Berlim.
Por um lado, o fim da União Soviética lançou o Capitalismo na sua derradeira fase expansiva (
globalização), libertando a lógica do valor usurário dos constrangimentos estratégicos e políticos que os estados nacionais lhe impuseram ao longo dos tempos. Por outro, deixou os Estados Unidos numa posição estratégica cada vez mais insustentável à escala planetária, na medida em que o fim da bipolarização Democracia vs Totalitarismo abriu uma verdadeira caixa de Pandora no tabuleiro planetário dos jogos de estratégia. De repente, dezenas de países do Terceiro Mundo começaram a sair das suas prisões de sub-desenvolvimento, caminhando para incrementos nos respectivos PIB muitíssimo superiores aos dos países do 1º Mundo (estamos a falar de taxas de 9, 13, 21 e 26 por cento, por comparação com as variações de 0,1 a 3,5 por cento dos chamados países desenvolvidos!) Finalmente, tudo isto ocorre à medida que a principal fonte energética do milagre económico do século 20 entra na sua fase declinante. As grandes reservas petrolíferas mundiais têm vindo a aproximar-se do topo da sua capacidade produtiva desde 1970! O
peak of oil production que atingiu as reservas dos EUA, desencadeando a primeira grande crise petrolífera, em 1973, foi um aviso a que muitos não deram a importância devida. O problema agora é que o pico da produção mundial foi atingido no ano 2000!
Se tivermos presente, por exemplo, que em 2020 a produção petrolífera mundial andará pelos níveis da produção de 1980, que o petróleo barato acabou para sempre (sendo muito improvável que volte a descer abaixo dos 70 dólares...), e que, ao mesmo tempo, teremos que colocar nesta equação o crescimento da população mundial e os crescimentos económicos acelerados de países como a China e a India, mas também os dos 84 países que actualmente vêm os seus PIB crescerem a mais de 5% ao ano (ver
CIA-The World Fact Book), poderemos facilmente perceber o nervosismo estratégico que percorre os centros de decisão da maioria dos países do planeta. O controlo das reservas mundiais de petróleo, gás natural, ouro, cobre, urânio, etc., já para não falar das florestas, solos agrícolas disponíveis, bancos de pesca e reservas de água potável, deixou de ser apenas um problema de acesso e gestão das garantias do crescimento (ou pelo menos de manutenção de um determinado
status quo económico e cultural), mas também, e muito mais dramaticamente, um problema de sobrevivência dos próprios países. Se para crescermos, fizemos o que fizemos ao longo do século 20, imagine-se o que os países não poderão fazer para assegurar a sua própria sobrevivência.
Uma das soluções seria parar abruptamente, mas de forma assimétrica, o crescimento mundial! Quantos países poderão estar agora mesmo a pensar numa solução deste tipo? Eu diria que são muitos: o sr. Bush (e os chamados
endtimers, que pelos vistos abundam na Casa Branca), o sr. Putin, o sr. Blair, o sr. Chirac, o sr. Hu Jintao, o sr. Ahmadinejade, o sr. Mujaraf e o sr. Ehud Olmert, entre outros possuidores de armamento nuclear e bioquímico de ponta.
É neste contexto que a guerra desencadeada por Israel contra o Líbano tem que ser estudada. Os EUA e o Reino Unido já demonstraram à saciedade a sua incapacidade para avaliar e gerir o presente curso da História. Multiplicaram estupidamente os teatros de operações anti-islâmicos, sem conseguirem ganhar nenhuma das guerras em que se meteram. Decepcionaram os seus aliados ocidentais. Afastaram da sua óbitra de simpatia a esmagadora maioria dos países do mundo. À medida que o caudal de erros estratégicos e tácticos aumenta, cresce, em resposta, a solidariedade muçulmana mundial, e mais países de outras órbitras estratégicas se aproximam do influente Crescente Islâmico. Quer dizer, para quem gostar de falar no
choque de civilizações, é bom perceber que o poder de atracção do Islão tem vindo a aumentar rapidamente, ao passo que o bloco Cristão parece incapaz de demarcar-se do vanguardismo terrorista de Israel, deixando que o seu modo de estar no mundo e os seus objectivos estratégicos pareçam igualmente irreconciliáveis com a nova importância do Islão. Ora isto pode ser um erro trágico para a Europa!
|
Qana: mulher e criança mortas por mísseis israelitas. 30 Jul 2006 |
A invasão da Faixa de Gaza, e depois do Líbano, sob pretextos absolutamente ridículos (o rapto do soldado israelita pelo Hamas sucedeu-se ao rapto de um civil palestiniano pelas tropas israelitas; e a acção do Hezbollah deu-se em território libanês ocupado por Israel) obedece a um plano de
guerra preemptiva já conhecido e bem teorizado pelos
think tanks que servem a perigosa administração Bush. Não sabemos, e só a história o dirá mais tarde, se foram os israelitas que adivinharam a vontade do Pentágono, ou se foi mesmo Condolezza Rice que instigou o plano de acção israelita. O resultado está, porém, à vista de todos: uma guerra ilegal, desproporcionada e terrorista, dirigida contra um Estado soberano, com o objectivo claro de desestabilizar toda a região do Médio Oriente, forçando a própria Europa a cair naquela que poderá ser uma das mais bem preparadas ciladas de sempre dos serviços secretos israelitas e norte-americanos. É bom que a Europa dos 25 se reuna, sim senhor. Mas atenção aos resultados da cimeira! A Europa não deverá aceitar, em caso algum, envolver-se em forças de interposição no Sul do Líbano, e muito menos aceitar como termo negocial a derrota do Hezbollah. O que a Europa deverá fazer é exigir o fim da agressão israelita e o regresso de Israel às fronteiras fixadas pela resolução 181 da ONU, em 1948, permitindo deste modo a efectiva criação de dois estados na Palestina: o Estado de Israel e o Estado da Palestina. Jerusalém, neste contexto, deveria transformar-se numa cidade-Estado independente, à semelhança de outros pequenos estados existentes no planeta. Aqui a Europa poderia comprometer a sua vontade e a sua honra, suportando inclusivamente parte dos importantes custos que uma tal decisão acarretaria. A missão da Europa, neste delicado caso, não será nunca a de fazer o trabalho sujo dos EUA e do seu sobrinho inglês. Mas antes a de garantir uma solução equilibrada na região, afirmando-se ao mesmo tempo como um vizinho cooperante do mundo árabe e muçulmano.
LINK 1 Una historia de dos guerras, Loretta Napoleon, El País, 27 Jul 2006
LINK 2 A história de Qana repete-se...
LINK 3 Qana The Village of the Israeli Massacre
LINK 4 Israel-Lebanon conflict - Wikipedia
LINK 5 End-Timers & Neo-Cons; The End of Conservatives, Paul Craig Roberts, ZNet, 19 Jan 2005.
OAM #130 30 JUL 2006