Hórus versus Jesus, um conto astrológico muito antigo, que se repete ao longo da história das religiões. Zeitgeist (versão legendada em português) Duas horas alucinantes sobre mitos e especulações Um vídeo produzido por Peter Joseph (2007/2008) Antes de voltar aos temas actuais do país (Portugal) e do mundo (crise sistémica do capitalismo e implosão da economia americana em particular) recomendo vivamente este excepcional documento de agit-prop sobre alguns mitos antigos e recentes da boa consciência ocidental. O primeiro mito desmontado no vídeo de Peter Joseph, é o da narrativa bíblica que estrutura a ideologia cristã, mostrando como uma ficção insistentemente repetida ao longo dos séculos acabou por ser imbuída nos níveis mais profundos da pseudo-consciência ocidental cristianizada. Esta primeira parte da desmontagem ideológica organizada por Zeitgeist (versão legendada em português) deixa-nos uma impressão duradoura sobre como e até que ponto se pode fabricar e inocular socialmente uma fantasia narrativa -- a adaptação do mito de Hórus à pseudo-história de Jesus -- ao longo de séculos, e sobre tal manifesta mistificação erguer sociedades, impor submissões humilhantes, infligir os maiores sofrimentos humanos e eleger o recurso à guerra como ultima ratio da perpetuação e expansão do poder e da exploração do homem pelo homem. Na segunda parte do vídeo é uma vez mais passada em revista a grande conspiração que conduziu a América e o mundo ao embuste do 11 de Setembro, mostrando-se como, sobre uma mentira matraqueada até à exaustão, se tem vindo a limitar as liberdades democráticas em todo o planeta, sob o pretexto de uma guerra global contra o terrorismo. O único terrorismo que efectivamente tem existido é o terrorismo de Estado, de que o terrorismo islâmico mais não é do que uma manifestação orquestrada. Nas Operações Especiais e na Guerra Assimétrica em curso, de que o terrorismo é a aparência psicológica instrumental, é cada vez mais aparente o papel sórdido desempenhado por países como os EUA, Israel e o Reino Unido. Basta contar as vítimas causadas pelos serviços secretos e forças militares destes países no Afeganistão, no Iraque, no Líbamo e na Palestina, nos últimos dez anos, para percebermos até onde vai o embuste do perigo terrorista oriundo da fantasmática Al Qaeda, e como esta criminosa cortina de fumo tem servido sobretudo para preparar psicologicamente o Ocidente para a probabilidade elevada de uma III Guerra Mundial antes do final da primeira década do século 21, no fundamental dirigida contra a China e a Rússia, e tendo por objectivo prioritário o controlo hegemónico dos recursos energéticos e biológicos mundiais. Na terceira parte de Zeitgeist (versão legendada em português), Peter Joseph mostra como um grupo reduzido de grupos financeiros controlam e manipulam completamente as economias nacionais e acabam por impôr a guerra como o mais lucrativo dos negócios até hoje inventado. Cada um é livre de verificar os dados invocados na denúncia das conspirações deste documentário activista. Mas de uma coisa estou certo: a percepção que temos de alguns mitos e do que os corrompidos meios de comunicação social dominantes nos impingem diariamente irá mudar de uma vez por todas. Seja para aceitar como boas, ou para criticar, as teorias da conspiração apresentadas em Zeitgeist (versão legendada em português), vale bem a pena ver este vídeo durante duas horas de alucinantes alegações. Em defesa de 'Zeitgeist, the Movie', nomeadamente respondendo às críticas de que tem sido alvo (ver artigo na Wikipedia), aqui vai a defesa de Peter Joseph: Welcome to the Official Site for 'Zeitgeist, the Movie.' Since the emergence of the work in late June, 2007, many other websites, organizations and posts have fallaciously claimed connections to the work. Please note that 'Zeitgeist', along with this site, has no direct affiliation with anything else online. OAM 341 31-03-2008, 02:49 |
segunda-feira, março 31, 2008
Zeitgeist
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domingo, março 23, 2008
China 2
Bjork canta Declare Independence, em Xangai. |
Tibete! Tibete! pode comprometer estreia chinesa nas Olimpíadas deste verão
Björk: "I have been asked by many for a statement after dedicating my song 'Declare Independence' to both Kosovo and Tibet on different occasions. I would like to put importance on that I am not a politician, I am first and last a musician and as such I feel my duty to try to express the whole range of human emotions. The urge for declaring independence is just one of them but an important one we all feel at some times in our lives. This song was written more with the personal in mind but the fact that it has translated to its broadest meaning, the struggle of a suppressed nation, gives me much pleasure. I would like to wish all individuals and nations good luck in their battle for independence. Justice!" -- in Pitchfork.
Uma semana antes dos acontecimentos violentos que voltaram a colocar na ordem do dia e das preocupações chinesas a questão da independência do Tibete, a cantora islandesa Björk encerrou o seu espectáculo em Xangai com a canção Declare Independence, originalmente dedicada à Gronelândia e às Ilhas Faroé, mas que em espectáculos subsequentes Björk viria a dedicar ao Kosovo e, agora, ao Tibete.
Apesar de o sentido declarado da canção corresponder ao sentimento independentista em sentido lato, a verdade é que as circunstâncias políticas actuais têm permitido localizar esta particular performance artística em terrenos imediatamente explosivos da política mundial. Björk não tem obviamente consciência das implicações geo-estratégicas das suas declarações. Mas a verdade é que toca num ponto sensível do problema ideológico e político das independências nacionais.
Certos povos, regiões e nações adquirem por vezes sentimentos de pertença territorial e comunidade ao longo de séculos de maturação psíquica e sociológica cujo horizonte de realização tende inevitavelmente para o desejo de independência. Se a oportunidade surge, geralmente aproveitam-na para se libertarem de tutelas e domínios que aprenderam historicamente a repudiar. As derrotas de tais ambições no campo da batalha política, por mais trágicas que sejam, não são geralmente suficientes para matar os sonhos longamente amadurecidos. Mas, por outro lado, questões territoriais objectivas acabam frequentemente por reconduzir tais sentimentos profundos a uniões políticas, de jure e de facto, fora das quais a sobrevivência dos povos se vê constantemente ameaçada -- seja pela pequenez do território, seja pela frágil demografia, seja pela escassez de recursos, seja ainda pelas ameaças externas de outros povos cuja vitalidade e necessidades de expansão frequentemente põem em causa aquilo que no dia a dia dos povos frequentemente parece ser uma imutabilidade histórica e cultural.
Num certo sentido podemos dizer que a União Europeia, ao procurar ser uma Europa das regiões, pretende atingir esse difícil ponto de equilíbrio entre o sentimento de pertença nacional e a necessidade absoluta de integrar tais sentimentos em unidades cosmopolitas com uma amplitude territorial, económica e cultural duradouras e sustentáveis. A experiência terrível das guerras europeias nacionalistas é um aviso que não devemos subestimar, mesmo ouvindo com atenção e entusiasmo a voz dos poetas cantando as insondáveis contradições da alma humana.
Post scriptum -- 23-03-2008. Escutei ontem na CNN um argumento bastante cínico sobre a improbabilidade de um boicote ocidental, ou mesmo de actos simbólicos inesperados por parte dos atletas. As cláusulas minuciosas dos contratos celebrados entre os patrocinadores das várias delegações e atletas incluem invariavelmente interdições explícitas relativamente a actos extra-desportivos que possam ofender o anfitrião, ou simplesmente desviar o "ideal olímpico" para temas estranhos e inoportunos como, por exemplo, as várias querelas políticas mundiais actualmente em curso. Assim se vê a força de quem realmente manda!
REFERÊNCIAS
Declare Independence! (video clip original)
Olympics Boycott Chatter Grows as Tibet Unravels: William Pesek
March 21 (Bloomberg) -- It has been a rough year so far for conventional wisdom on China.
One supposedly irrefutable truth was that China wouldn't allow stocks to plunge. Tell that to investors watching shares slump to eight-month lows. The CSI 300 index is down 25 percent this year, and it's only March.
Another is that China won't overheat. Tell that to economists analyzing what the biggest inflation increases in 11 years mean for stability in a nation of 1.3 billion people.
The latest bit of conventional wisdom to be challenged is that the Aug. 8-24 Olympics would proceed with the precision of a referee's stopwatch. Tell that to a world getting antsy about events in Tibet, which are compounding China's already festering wound from its support of the regime in Sudan, where the government is accused of aiding genocide in the Darfur region.
Björk's "Tibet, Tibet" caught on Youtube
We've been looking around all day for a video of Björk's final song Declare Independence at her Shanghai concert and here it is! [Click here for another alternative video] Björk chanted "Tibet, Tibet" not once, but thrice, before yelling out "Raise your flag" again and again in a crescendo that made the crowd completely ecstatic (presumably because half of them didn't understand what she was saying?) -- Shanghaiist.
The fallout from Björk's "Tibet" call
It looks like the news embargo on Bjork's "Tibet" incident has finally been lifted and the fallout has begun. We have not found many traces of it, however, in the Chinese mainstream media. -- Shanghaiist.
Bjork's Shanghai surprise: a cry of 'Tibet!'
Singer under fire after shouting 'Tibet! Tibet!' after performing her song Declare Independence at Shanghai concert.
The Icelandic singer initially dedicated Declare independence to Greenland
and the Faroe Islands, which still have formal links to Denmark. The video for the song shows her in clothing bearing their flags. Its lyrics include: "Don't let them do that to you. Raise your flag!"
While performing in Japan last month, she dedicated the song to Kosovo. Bjork also played at several fundraising concerts supporting Tibetan independence in the US in the 1990s. -- Guardian.
China posts wanted list for Tibet
Chinese authorities have issued a list of 21 people wanted for their alleged role in anti-China riots in the Tibetan city of Lhasa last week. -- BBC News.
OAM 340 23-03-2008, 02:59
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sábado, março 22, 2008
Portugal 26
A ruína de um paradigma escolar
21-03-2008. O bullying, a violência na escola que atingia crianças e jovens, está agora a aterrorizar os professores, afirmou hoje Maria Beatriz Pereira, investigadora e autora de várias obras sobre a violência escolar.
"Os professores são as novas vítimas do bullying", sustentou, em declarações à Lusa, a investigadora que é docente da Universidade do Minho (UM) e presidente da Comissão Directiva e Cientifica de Doutoramento em Estudos da Crianças. Embora sem números oficiais, Maria Beatriz mostra-se "muito preocupada" com a forma como o bullying, a agressão continuada e sem motivo, está a atingir os professores. -- Expresso.
Uma professora de francês da Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto, foi brutalizada, em plena aula, quando tentava tirar o telemóvel a uma aluna.
... Enquanto a professora a tentava tirar o telemóvel à estudante, os restantes alunos assistiam e riam-se da situação. Nos comentários ao vídeo no YouTube a atitude é criticada por outros alunos da escola. -- Expresso.
O vídeo da escola secundária Carolina Michaelis difundido pelo YouTube, e depois retransmitido pelas cadeias televisivas e jornais em linha, como o Expresso e o Público electrónicos entre outros, tem despertado uma enorme atenção pública, nomeadamente na blogosfera, tendo-se registado milhares de comentários em linha sobre o escandalosa reportagem do acontecimento. No rescaldo do protesto massivo dos professores portugueses contra a política educativa do actual governo "socialista", este incidente entre uma professora e uma aluna, em volta de um telemóvel, veio subitamente revelar, em formato voyeuriste, a profunda crise do sistema escolar actual.
Não é normal nem recomendável que uma professora se envolva numa disputa física com uma estudante, quando poderia e deveria dispor de recursos imateriais mais apropriados, expeditos e eficazes para atingir o desejado fim -- no caso, impedir o uso indevido do telemóvel no decorrer de uma aula. Numa palavra, não compete ao corpo docente de uma instituição de ensino policiar os seus alunos na forma que compete às polícias, mas antes aplicar e fazer cumprir comportamentos cívicos instituídos e regras disciplinares aplicáveis na instituição em concreto, segundo os procedimentos de informação, persuasão, ordenação e punição constantes dos regulamentos. Em caso de recusa, por parte da estudante, de cumprimento do pacto escolar, os professores devem recorrer aos apropriados instrumentos de denúncia, endereçando às instâncias competentes a responsabilidade de fazer cumprir as normas estabelecidas e conhecidas, ou, na sua impossibilidade, penalizar o infractor de acordo com o que esteja previsto nos regulamentos. Em suma, um professor não pode nem deve fazer justiça pelas suas próprias mãos, nem sobretudo pode confundir a sua acção pedagógica com a sua acção disciplinar. Cada uma tem as suas regras, a sua própria democracia e procedimentos regulamentares específicos. Confundir estes dois planos pode originar facilmente o desastre. Como se viu neste caso.
A sala de aula é um laboratório de democracia, e nisto é hoje diferente do que foi noutros tempos, nomeadamente quando a regra era a da ditadura, a do paternalismo discricionário e a do obscurantismo. Significa isto, por exemplo, que os professores têm que adquirir conhecimentos especializados, não apenas das disciplinas que ensinam, não apenas de cultura política democrática, não apenas das dinâmicas frenéticas urbanas pós-contemporâneas (âmbitos onde o défice é infelizmente elevadíssimo), mas também e com carácter de urgência, nos domínios cada vez mais prementes e exigentes da pedagogia comportamental, da produção sócio-cultural e da mediação de conflitos. É certamente algo mais do que se tem oferecido aos professores nos diversos estádios de preparação para as duras tarefas que enfrentam. E para deles podermos exigir uma tão grande metamorfose pedagógica, cultural e profissional, preciso será forçosamente, não apenas introduzir mecanismos de avaliação e escalonamento das competências e desempenhos, mas também proporcionar-lhes muito melhores condições económicas, sociais e institucionais de vida e trabalho.
Os modelos de aprendizagem e os conteúdos da aprendizagem terão que passar por uma mudança radical de paradigma face às emergências explosivas e simultâneas das tecnologias de informação e sobretudo das realidades aumentadas e virtuais. Sem uma conjugação de tudo isto, que é muito e não pode resolver-se com mezinhas burocráticas, nem com a perpetuação da geografia e regime dos poderes educativos dominantes, é o próprio conceito de sistema educativo que tenderá a caminhar rapidamente para o caos e a implosão. Os quase campos de concentração em que as escolas e universidades americanas se têm vindo a transformar são a este propósito um eloquente e ao mesmo tempo dramático aviso!
Post scriptum -- 22-03-2008 12:14. O VALOR DE UM TELEMÓVEL -- Quando revejo uma e outra vez o drama capturado pelo telemóvel de um dos alunos da turma, pergunto-me: que terá levado a professora a ter perdido a paciência e o auto-controlo? Que sentido de propriedade e sobretudo de identidade une uma adolescente ao seu telemóvel, a tal ponto de a mesma perder completamente as estribeiras e entrar num transe de manifesta histeria?
É preciso conhecer três fenómenos que correm actualmente em paralelo para começar a entender o fenómeno: 1) a pulverização social incrementada pelo estado desregulado, especulativo e obsessivo do Capitalismo pós-contemporâneo; 2) a difracção da realidade vivencial causada pela explosão das famílias; 3) o aumento da realidade vivencial potenciada pela evolução muito rápida das tecnologias de comunicação hiperrealista.
O Capitalismo na sua fase declinante torna-se cada vez mais egoísta, desumano e provocador da desintegração social. Nada na sua agenda prevê a existência do humano, quanto mais a felicidade do homem! O Capitalismo declinante quer apenas uma coisa: escravos. O resto da humanidade, no que aos paraísos da riqueza diz respeito, que se dane! Ou seja, as disfunções da família, da escola, das cidades, dos governos e dos Estados, pouco lhe importa. A sua única preocupação é reunir as condições ideais para um dia destes ver-se livre, de forma expedita e relativamente indolor, de uma parte substancial da humanidade.
As famílias urbanas de hoje são cada vez mais ocorrências instáveis e anacrónicas, sendo frequentemente fruto de oportunismos de vária ordem, sem qualquer compromisso efectivo com o futuro, nem responsabilidades seriamente assumidas. Nenhum constrangimento ideológico as protege, e tudo parece conspirar contra a sua duração. Em tais circunstâncias é praticamente impossível impedir a explosão em curso dos núcleos familiares. Das famílias mono-nucleares passámos às famílias polinucleares e destas à sua imparável pulverização funcional e desligamento afectivo. A tendência imparável para chutar os filhos para a órbita da sociedade e das suas instituições educativas, extra-familiares, públicas ou privadas, revela uma dramática desresponsabilização maternal e paternal, em nome do direito ao trabalho, em nome do direito à felicidade pessoal e em nome da produtividade, i.e. da exploração capitalista! Com o empobrecimento acelerado do Estado social, induzido pela exportação de boa parte das actividades económicas produtivas do Ocidente para os novos paraísos da escravatura laboral, verifica-se uma tendência cada vez mais nítida no Capitalismo declinante para a rejeição dos custos inerentes à reprodução demográfica saudável das sociedades "desenvolvidas". Estas tornaram-se aglomerados humanos des-familiarizados, entregues a uma economia de serviços, ao consumo, e a caminho de uma precoce e fatal senilidade sociológica. As crias que pela força do imperativo biológico apesar tudo nascem e se desenvolvem encontram pela frente um mundo fragmentado de realidades e aparências, materiais e imateriais, onde muito dificilmente conseguem aprender a distinguir o bem do mal, ou simplesmente até, os graus de realidade e de liberdade da bolha antropotecnológica onde estão imersos.
Um telemóvel, para uma criança, para uma adolescente, ou para um jovem com menos de 30 anos, não é um mero telefone. Muito mais do que isso, é uma interface tecno-social agarrada ao corpo. Não se pode arrancar das suas mãos uma tal interface pela mesma razão que se lhes não pode arrancar um braço! O telemóvel é um feitiço total. Que faculta a quem o possui e criou, ao longo dos dias e das noites, o dom da ubiquidade e da telepresença, a autoconfiança, a liberdade, a amizade e a própria estruturação de uma identidade reflectida e instanciada. O telelé organiza a comunidade social do indivíduo como já não o faz a família, nem a escola, nem essa entidade longínqua e ideológica a que chamamos sociedade. No interior de um telemóvel guardam-se os segredos mais íntimos de cada um, e nele habitam pessoas virtuais e avatares, cuja sobrevivência frágil depende em primeiro lugar de uma instintiva dedicação tecnológica ao novo midia. O telemóvel é uma extensão social do corpo e como tal deve ser protegida pela mesma ordem jurídica que defende o resto do corpo biológico natural. Esta realidade emergente não pode deixar de gerar confusão e conflito. Precisamos de um tempo de aprendizagem e adaptação, tanto no plano comportamental, como no das leis e regras dos edifícios jurídicos pré-tecnológicos. No Japão, a conversação telefónica no espaço público, via telemóvel, está socialmente interdita, por ser considerada um prática intrusiva. O acordo quanto a isto foi conseguido, sobretudo por razões culturais antigas, e é hoje respeitado por todos. Mas como o telelé é muito mais do que um telefone, rapazes e sobretudo raparigas decoram os seus aparelhos das maneiras mais inusitadas e divertidas, tratam-nos como brinquedos de estimação, e usam-nos durante as suas longas viagens de metro, não para aumentar a cacafonia das conversas triviais, mas antes para imergirem no labirinto interminável, lúdico, agonistico ou puramente instrumental, das suas vidas virtuais. É esta fronteira sensível da hiperrealidade que a nervosa e incauta professora profanou sem se dar conta do verdadeiro terramoto emocional que iria provocar, na sua sala de aula e na comunidade mediática que hoje discute o incidente.
OAM 339 22-03-2008, 02:30
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quinta-feira, março 20, 2008
China
A lição do Tibete
cinco anos depois da invasão e ocupação ilegais do Iraque
pelo falido império americano
Os cowboys americanos e a Europa nunca mais aprendem! Invadem e destroem o Iraque em nome de uma mentira descarada, sugando-lhes o sangue e o petróleo, sem ponta de vergonha. Transformam o Afeganistão num mar de corrupção e papoilas. Toleram o assassínio sistemático do povo palestino em nome de uma suposta culpa passada, quando na realidade continuam a destinar a Israel a mesmíssima tarefa que em 1917 lhe destinou Balfour: assegurar, pela via da protecção ao antigo protectorado inglês, o controlo ocidental das maiores reservas petrolíferas do planeta. Quase pulverizaram a ex-URSS e circundaram depois a Rússia de coloridos regimes fantoche pró-ocidentais, onde querem agora instalar pretensos radares defensivos. Cercam o Irão de bases militares e ameaçam-no com ataques nucleares preventivos por causa da sua hipotética perigosidade atómica, que nem em 20 anos poderá constituir, de acordo com os relatórios fornecidos pelos próprios serviços de espionagem americanos. Voltam a pulverizar os Balcãs e fabricam a vergonhosa independência do Kosovo, onde os EUA instalaram a sua maior base militar construída depois da Guerra do Vietname. Enfim, tentam agora, nas vésperas dos Jogos Olímpicos, provocar a nova China, por causa das contraditórias ambições independentistas do Tibete. Grave exibição de miopia estratégica! Esta gente ainda não percebeu que a riqueza soberana mudou de mãos e de coordenadas geográficas. E que assim como os Estados Unidos compraram, numa dada altura da sua história, meia Europa, hoje são eles que começam a estar em saldo para o resto do mundo e em particular para o império adormecido da China. Parece que Gordon Brown já vislumbrou o melindre da questão.
A América de Bush está falida, e se Barak Obama não conseguir chegar à Casa Branca, as consequências desta falência poderão durar décadas, ou mesmo um século, a sanar. Ao contrário do que alguns ainda pensam, a globalização acabou. E em seu lugar temos o início de um novo mundo multipolar, sem nenhum centro de gravidade hegemónico. Esta é a verdade. Só não sabemos se vai ou não ser preciso assistirmos a uma III Guerra Mundial para que todos a entendam. Os mais avisados estrategas norte-americanos, como a velha raposa Henry Kissinger, ou Zbigniew Brzrezinski, já perceberam que o melhor será mesmo seguir uma via pacífica, sob pena de o afundamento económico, militar e social dos Estados Unidos se tornar ainda mais catastrófico.
A questão da independência do Tibete é uma falsa questão, sobretudo por razões históricas. O recuo do Dalai Lama não fez mais do que confirmá-lo. Para quem quiser obter uma visão informada sobre o tema vale a pena ler este estudo académico de Elliot Sperling sobre as origens confusas da actual polémica entre a República Popular da China e o Dalai Lama: The Tibet-China Conflict: History and Polemics, 2004.
Sobre o estado económico do país deixado por Bush, leia-se The Collapse of American Power, do antigo colaborador de Ronald Reagan, Paul Craig Roberts.
E sobre a diminuição da probabilidade de um ataque dos EUA ao Irão, ainda que protagonizado por Israel, recomendo a leitura da última crónica do sempre brilhante Immanuel Wallerstein: When Henry Kissinger Opines.
ÚLTIMA HORA
20-03-2008 12:08. Protesto separatista alastra no Tibete, uma região 4x o tamanho da França. Entretanto o governo chinês rejeitou as afirmações de Gordon Brown sobre a disponibilidade das autoridades da RPC para o estabelecimento de conversações com o Dalai Lama, líder espiritual do Tibete. O primeiro-ministro britânico foi ainda instado a não dar cobertura ao que afirmam ser manobras separatistas com o óbvio intuito de prejudicar a celebração das Olimpíadas de Pequim este Verão.
Post scriptum -- O meu comentário tem suscitado algumas leituras apressadas sobre a minha putativa simpatia pelo actual regime político chinês. Não, não tenho nenhuma simpatia pelo despotismo oriental, apesar de lhe reconhecer o direito de se defender das manobras de isolamento actualmente em curso por parte da aliança anglo-americana. Deixo, à laia de correcção, uma resposta que enviei a um bom amigo sobre esta dúvida acerca da minha posição relativamente à repressão de Pequim sobre os separatistas do Tibete.
OAM 338 20-03-2008, 02:30
cinco anos depois da invasão e ocupação ilegais do Iraque
pelo falido império americano
Os cowboys americanos e a Europa nunca mais aprendem! Invadem e destroem o Iraque em nome de uma mentira descarada, sugando-lhes o sangue e o petróleo, sem ponta de vergonha. Transformam o Afeganistão num mar de corrupção e papoilas. Toleram o assassínio sistemático do povo palestino em nome de uma suposta culpa passada, quando na realidade continuam a destinar a Israel a mesmíssima tarefa que em 1917 lhe destinou Balfour: assegurar, pela via da protecção ao antigo protectorado inglês, o controlo ocidental das maiores reservas petrolíferas do planeta. Quase pulverizaram a ex-URSS e circundaram depois a Rússia de coloridos regimes fantoche pró-ocidentais, onde querem agora instalar pretensos radares defensivos. Cercam o Irão de bases militares e ameaçam-no com ataques nucleares preventivos por causa da sua hipotética perigosidade atómica, que nem em 20 anos poderá constituir, de acordo com os relatórios fornecidos pelos próprios serviços de espionagem americanos. Voltam a pulverizar os Balcãs e fabricam a vergonhosa independência do Kosovo, onde os EUA instalaram a sua maior base militar construída depois da Guerra do Vietname. Enfim, tentam agora, nas vésperas dos Jogos Olímpicos, provocar a nova China, por causa das contraditórias ambições independentistas do Tibete. Grave exibição de miopia estratégica! Esta gente ainda não percebeu que a riqueza soberana mudou de mãos e de coordenadas geográficas. E que assim como os Estados Unidos compraram, numa dada altura da sua história, meia Europa, hoje são eles que começam a estar em saldo para o resto do mundo e em particular para o império adormecido da China. Parece que Gordon Brown já vislumbrou o melindre da questão.
A América de Bush está falida, e se Barak Obama não conseguir chegar à Casa Branca, as consequências desta falência poderão durar décadas, ou mesmo um século, a sanar. Ao contrário do que alguns ainda pensam, a globalização acabou. E em seu lugar temos o início de um novo mundo multipolar, sem nenhum centro de gravidade hegemónico. Esta é a verdade. Só não sabemos se vai ou não ser preciso assistirmos a uma III Guerra Mundial para que todos a entendam. Os mais avisados estrategas norte-americanos, como a velha raposa Henry Kissinger, ou Zbigniew Brzrezinski, já perceberam que o melhor será mesmo seguir uma via pacífica, sob pena de o afundamento económico, militar e social dos Estados Unidos se tornar ainda mais catastrófico.
A questão da independência do Tibete é uma falsa questão, sobretudo por razões históricas. O recuo do Dalai Lama não fez mais do que confirmá-lo. Para quem quiser obter uma visão informada sobre o tema vale a pena ler este estudo académico de Elliot Sperling sobre as origens confusas da actual polémica entre a República Popular da China e o Dalai Lama: The Tibet-China Conflict: History and Polemics, 2004.
Sobre o estado económico do país deixado por Bush, leia-se The Collapse of American Power, do antigo colaborador de Ronald Reagan, Paul Craig Roberts.
E sobre a diminuição da probabilidade de um ataque dos EUA ao Irão, ainda que protagonizado por Israel, recomendo a leitura da última crónica do sempre brilhante Immanuel Wallerstein: When Henry Kissinger Opines.
ÚLTIMA HORA
20-03-2008 12:08. Protesto separatista alastra no Tibete, uma região 4x o tamanho da França. Entretanto o governo chinês rejeitou as afirmações de Gordon Brown sobre a disponibilidade das autoridades da RPC para o estabelecimento de conversações com o Dalai Lama, líder espiritual do Tibete. O primeiro-ministro britânico foi ainda instado a não dar cobertura ao que afirmam ser manobras separatistas com o óbvio intuito de prejudicar a celebração das Olimpíadas de Pequim este Verão.
"China has admitted for the first time that anti-Beijing protests have spread outside the Tibetan Autonomous Region, as security is ratcheted up." BBC News.
Post scriptum -- O meu comentário tem suscitado algumas leituras apressadas sobre a minha putativa simpatia pelo actual regime político chinês. Não, não tenho nenhuma simpatia pelo despotismo oriental, apesar de lhe reconhecer o direito de se defender das manobras de isolamento actualmente em curso por parte da aliança anglo-americana. Deixo, à laia de correcção, uma resposta que enviei a um bom amigo sobre esta dúvida acerca da minha posição relativamente à repressão de Pequim sobre os separatistas do Tibete.
Emanuel,
O Tibete está ideologicamente mais perto da India do que da China. É um facto. Mas ao longo dos tempos dependeu mais da protecção da China do que de outros impérios. Isto não significa que o Tibete não possa aspirar à autonomia e mesmo à independência. E por aí, tens razão: não podemos apoiar a repressão chinesa. Eu não apoio a repressão chinesa! Mas não devemos promover visões ingénuas sobre o que realmente se passa naquelas paragens desde que os ingleses, e depois os americanos, passaram a ter uma geo-estratégia global, que passa obviamente pela contenção dos potenciais "challengers": Rússia, China e India.
Para os EUA (e para a Europa... incluindo a Rússia!) é vital enfraquecer o emergente império chinês, ou pelo menos, impedir que o seu rápido crescimento económico, financeiro e militar, se transforme numa ameaça à ainda hegemonia ocidental.
Os EUA e a Europa deixaram praticamente de produzir. Pensam, inventam e criam riquezas sobretudo imateriais; relegaram uma parte crescente das suas populações para o limbo do trabalho improdutivo (burocracia, etc.), da comunicação, e do consumo; produzem cada vez menos bens, sobretudo industriais. Este desequilíbrio e a procura ampliada dos recursos limitados existentes vem causando as maiores dores de cabeça a quem se preocupa com o futuro da humanidade.
A III Guerra Mundial, a ocorrer, terá neste preciso problema a sua origem profunda. Daí que eu seja contra as tácticas provocatórias de Washington e de Londres na questão do Tibete. O que estão a cozinhar naquelas paragens é semelhante ao que estão a fazer no Iraque-Afeganistão-Irão, na Palestina e no Kosovo: controlar pela via armada recursos altamente sensíveis no nosso muito ocidental "modus operandi", e travar o passo à expansão da China. Só que esta forma de o fazer me parece muito perigosa. Eu prefiro dizer aos EUA e à Europa que teremos que nos adaptar ao crescimento inesperado da família global!
OAM 338 20-03-2008, 02:30
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domingo, março 16, 2008
Por Lisboa 13
Torre VTS, Algés, Lisboa. Centro de Coordenação e Controlo Marítimo do Porto de Lisboa, projectado pelo arquitecto Gonçalo Byrne. Inaugurou em 2001 e demonstra cabalmente como os assuntos portuários ultrapassam as competências municipais. |
O apetite especulador da Câmara Municipal de Lisboa
O Presidente da República devolveu ao Governo o diploma que previa a transferência para a Câmara da zona ribeirinha que hoje pertence ao Porto de Lisboa. Se o processo avançasse, poderia ter amplas repercussões urbanísticas em todo o país.
... Com a não-promulgação, Cavaco acaba por dar razão aos pareceres negativos dados a esta legislação pelos Ministérios da Defesa Nacional (MDN) e do Ambiente. Nunes Correia, aliás, teve mesmo de assinar o diploma, apesar de o seu Ministério se ter oposto à solução encontrada. No Ambiente, e segundo soube o SOL, foi o Instituto Nacional da Água (INAG) que estudou o assunto e que elaborou o parecer negativo.
Formalmente, porém, tanto o Ambiente como a Defesa não produziram pareceres autónomos. As suas posições sobre a nova legislação foram incluídas no documento elaborado, a este propósito, pela Comissão do Direito Público Marítimo - um organismo consultivo do MDN que reúne representantes de áreas como a Protecção Civil, as Alfândegas e os Governos Regionais, além de organismos da Defesa e do Ambiente, como o INAG. -- SOL, 16-03-2008.
Começo por testemunhar a minha profunda desconfiança relativamente à administração do porto de Lisboa. O motivo é simples: Lisboa podia ter um dos mais importantes portos de mercadorias e passageiros da Europa, mas não tem! Se pensarmos no crescimento exponencial do transporte marítimo (e fluvial!) que se avizinha à medida que as penalizações do transporte rodoviário e aéreo -- demasiado sequiosos de petróleo e demasiado poluidores -- começam a triturar as respectivas margens de lucro, podemos sem grande desgaste mental imaginar a importância dos generosos estuários portugueses (sobretudo Mondego, Tejo e Sado) na futura economia do mar, num país que viu restringir dramaticamente o seu espaço vital após a perda do império colonial e se encontra hoje confrontado (de novo...) com a desmedida ambição ibérica (e atlântica!) de Madrid. Os portos portugueses e o de Lisboa em particular (tal como os nossos aeroportos) são caros, ineficientes, sem estratégia nem ambição, opacos e antros de uma corrupção antiga que urge corrigir, instaurando uma radical mudança de atribuições, responsabilidades e hábitos administrativos.
No entanto, só um idiota deixaria que os assuntos estratégicos do território nacional, de que a raia com Espanha, o mar, e desde logo toda a orla marítima e os rios, fossem parar às mãos ligeiras de vereações municipais ávidas de dinheiro fácil, sem qualquer visão de futuro e cada vez mais instáveis politicamente.
A improdutividade e subsidio-dependência das nossas arruinadas cidades é o fruto apodrecido de trinta e tal anos de uma espécie de perversão clientelar da democracia, a qual transformou o que parece ser uma democracia representativa numa burocracia parlamentar. O Bloco Central e os pequenos partidos com assento parlamentar são os principais responsáveis da decadência económica e sobretudo ideológica do Estado central, regional e municipal. Alfobre do clientelismo partidocrata dos últimos 30 anos e expediente simplório para o desemprego sistémico decorrente da incapacidade de definir uma visão de futuro, exigente, solidária e responsável, para o país, este Estado tentacular, despesista, improdutivo, ineficiente, corrupto, insustentável e insuportável tem que ser confrontado de uma vez por todas pela cidadania, sob pena de perdermos a independência e transformarmos Portugal numa colónia espanhola da Europa, administrada por patos-bravos disfarçados de administradores-delegados da Moncloa!
Felizmente, o nosso Presidente da República não é idiota. Cresce a sensação de que este homem, de quem muitos desconfiaram sempre, resta como a única válvula de segurança de um regime corrompido pela cupidez partidocrata dominante. Ainda bem, pois não vejo, face à cobardia ou simples desleixo mental de muitos de nós, como derrubar a muralha de oportunismo e criminosa irresponsabilidade que tomou há muito de assalto os partidos políticos com assento parlamentar. Não percebo o que leva a tanta hesitação no interior do PSD, do PS e mesmo do Bloco de Esquerda. Será que a gente honesta destes partidos não entendeu ainda que é inviável prosseguir qualquer ideal verdadeiro se não abandonarem o conforto medíocre da inércia partidária actual, partindo para novas aventuras?
Lisboa só pode ser pensada à escala da sua própria região, o mesmo sucedendo ao Porto. Isto é simples de entender, mas difícil de mudar. E sabem porquê? Porque as actuais administrações locais vivem no conforto do Orçamento de Estado, financiado por uma carga fiscal crescente que atrofia a economia e gera o desemprego estrutural de que hipocritamente se queixam os partidos de "esquerda". António Costa e o seu inefável vereador-arquitecto querem mais-valias, dê lá por onde der. Querem os terrenos da Portela, sem pesar por um segundo o valor do Aeroporto de Lisboa, localizado onde está, para a economia da cidade. Querem uma ponte rodo-ferroviária entre o Barreiro e Chelas sem se preocuparem com a bestialidade da decisão (se viesse a ser tomada). Querem tomar de assalto o lombo imobiliário de Lisboa, sem perceberem que há coisas que estão para além da sua aflita condição de autarcas. Que tem o trotskysta Francisco Louçã a dizer sobre o súbito apetite especulador do independente do Bloco de Esquerda que ajudou a eleger para sacristão de António Costa?
Os portos deste país não podem cair nas mãos despesistas e incompetentes dos autarcas. Em primeiro lugar, porque as autarquias têm uma visão curta dos problemas; em segundo, porque estão sobre-endividadas; e em terceiro, porque a orla marítima e fluvial, tal como a raia com Espanha, são zonas estratégicas do país, ou seja, domínios da competência partilhada entre o governo central e a presidência da república. Isto não significa que as autarquias não possam colaborar nas tarefas de ordenação e gestão das zonas portuárias, e até obter o justo rendimento que tais infraestruturas podem e devem pagar às comunidades onde estão sediadas. Mas isto é um cenário completamente diferente do assalto preparado por António Costa. O Miguel Sousa Tavares tem que rever o seu pensamento sobre esta questão -- eminentemente prática!
Post scriptum -- 18-03-2008. João Soares manifestou no Frente-a-Frente do Jornal das Nove (SIC) desta noite a sua discordância frontal com o cozinhado preparado por António Costa (o actual presidente do município lisboeta), José Miguel Júdice (advogado gourmet e cliente habitual dos corredores governamentais) e José Sá Fernandes (vereador eleito nas listas do Bloco de Esquerda), para estender o poder autárquico às zonas portuárias e orlas costeiras do país, começando, claro está, por Lisboa. Tal como na questão da Ota, o antigo edil da capital demonstrou ter opiniões próprias e sobretudo lúcidas.
OAM 337 16-03-2008, 18:12
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sábado, março 15, 2008
Cães perigosos
American Pit Bull |
Um governo de piratas!
Em vez de impedir a invasão do país pelas sementes transgénicas (OGM *), através das quais se pretende instalar entre nós o oligopólio alimentar (e da água!) da Rockefeller, da CGIAR - Consultative Group on International Agriculture Research, da Global Crop Diversity Trust, da Monsanto, da Syngenta, da DuPont/Pioneer Hi-Bred, e da Microsoft (por intermédio da Bill&Melinda Gates Foundation), arrasando o que resta da autonomia agrícola portuguesa, o governo socratintas e o respectivo dandy encarregue de velar pela nossa segurança e produtividade alimentares, preferem criar bodes expiatórios a cada transe da sua manifesta incompetência e capitulação canina diante dos poderes económico-financeiros que os alimentam e à sua vasta clientela.
Desta vez, a manobra de diversão passa por proibir e esterilizar sete raças de canídeos no nosso país! Como se as medidas propostas não devessem antes e apenas aplicar-se à minoria de criminosos que se dedica à exploração comercial e ao uso de algumas raças de cães para fins intoleráveis.
"O Governo está a preparar a proibição de sete raças de cães consideradas perigosas e de todos os animais que resultem do seu cruzamento com exemplares de outras raças."
Comentário 15.03.2008 - 13h50 - Anónimo, Lisboa
Quando ouvi esta noticia fiquei deveras satisfeito, porque afinal já não era sem tempo mandar castrar pedófilos e outros predadores sexuais. Só mais tarde me apercebi que a noticia era outra, afinal eram animais de raça canídea, e aí fiquei triste, porque afinal continuamos a ser um país da treta com políticos a condizer. Quanto á isenção por parte das ditas forças da lei e da ordem (PSP, GNR e companhia) a essas sim deveria ser proibido o seu uso e detenção, porque afinal de contas o treino que lhes é ministrado de certeza não é para nos dar beijinhos, sabendo de antemão que aqueles que, de acordo com a orientação dos ventos politicos, hoje nos protegem são os mesmos que amanhã nos reprimem. Tenham vergonha!
Comentário 15.03.2008 - 12h37 - Rui, Por este andar, futuro emigrante/ex-residente - com muito gosto.
Sou dono de um Rottweiler com 11 anos, tenho 1 filha com 10 anos e nunca deixei de ter familiares, amigos (incluindo crianças) em casas nas festas de anos, natal, etc. O cão serviu para tudo: desde almofada a saco de pancada, e nunca mordeu a ninguém. Por isso, saber que um país que se diz civilizado e europeu, pondera a possibilidade de proibir determinadas raças é para mim uma anedota. Mais uma neste país de ignorantes (sem querer generalizar). Por esta lógica, se se descobrir que o assassino de Lisboa nas últimas semanas fui um cigano (sem qualquer menosprezo pelos mesmos), então devemos proibir/extraditar todos os ciganos, já agora também os árabes - podem explodir em Lisboa. Eventualmente, até foi um branco... nesse caso, fazemos um favor a nós próprios e ao Mundo e acabamos connosco. Os apoiantes desta lei podem ser os primeiros se faz favor... Resumindo, preocupemo-nos em exigir que a Justiça funcione neste país (casa Pia, Apito, Felgueiras e semelhantes são uma vergonha - daqui a anos ainda não sabem quem foi o culpado ou se foi culpado) e deixemo-nos de tretas e discussões sem nexo. Os cães não têm culpa nenhuma. PS: Já fui mordido 2x - por um caniche e um pastor alemão.... -- in - Público, 14-03-2008.
Eu tive um Cocker adorável. Chamava-se Farrusco. Como o dono que o amava, era um bom animal, generoso, terno, mas dado à variabilidade de humores. Às vezes irritava-se, rosnava e chegou a morder a minha filha, uma sobrinha dona de uma temível cadela Dobbermann, o Sr. João, que dele cuidava sempre que nos ausentávamos, e eu próprio, quando um dia resolvi interromper o seu sono com uma patada gentil a dedo descoberto! Sempre que mordeu teve, na sua perspectiva, motivo e ocasião. Na realidade, fomos nós, animais humanos, que o provocámos, com ou sem intenção de agredir. Soube mais tarde que a raça Cocker é uma das mais "agressivas" e que detem maior historial de pequenas agressões contra os humanos, incluindo os donos. Devemos então esterilizar todos os Cockers existentes em Portugal? Penso que o ridículo da situação está bem patente para quem saiba o que são cães e os direitos que lhes assistem.
A legislação sobre a posse de animais domésticos deve ser criteriosa, nomeadamente quanto à avaliação prévia das condições exigíveis à sua posse, registo obrigatório numa base de dados dos animais donos e respectivos animais domésticos, marcação electrónica dos animais domésticos, direitos dos animais e aplicação efectiva das leis existentes relativamente aos ilícitos cometidos pelos humanos contra os animais domésticos de estimação, guarda, caça ou pastoreio. Por exemplo, a condenação do abate cruel de cães de caça pelos respectivos donos, isso sim é uma medida urgente que o actual dandy da agricultura deveria implementar sem concessões. Mas como o dandy não quer deixar de ser recebido por todos os Sintra que habitam na aldeia lusitana, e provar dos seus presuntos e perdizes, prefere voltar a sua ira ridícula contra os American Pitt Bull, os Bull Terrier e demais "cães de guerra" que alimentam as audiências dos MCS ("meios de comunicação social".)
Perseguir e punir seriamente os criadores de "cães de guerra"? Não poderia estar mais de acordo. Perseguir e punir seriamente as lutas de cães? Não poderia estar mais de acordo. Registar todos os canídeos do país e respectivos proprietários? Não poderia estar mais de acordo. Marcar electronicamente todos os canídeos? Não poderia estar mais de acordo. Criar leis estritas para a posse e passeio de cães na via pública? Não poderia estar mais de acordo. Proibir a posse de cães em apartamentos sem condições de alojamento apropriadas? Não poderia estar mais de acordo. Proibir certas raças de cães, porque há quem as utilize para fins ilegítimos? Nem pensar! O Estado "socialista" tem que se habituar à ideia da liberdade e responsabilidade que a cada cidadão é devida e exigível. O paternalismo burocrático revelado nas decisões destemperadas da actual nomenclatura "democrática" é um sendeiro perigoso que nos levará à sociedade concentracionária de Orwell, muito mais depressa do que poderíamos imaginar. O fascismo doce prometido pelos piratas que tomaram de assalto o Partido Socialista tem que ser intransigentemente combatido. Não temos que eliminar os Rottweiler deste país. Mas, pelo caminhar da carruagem, parece cada vez mais evidente que temos que impedir a transformação do actual regime democrático numa democracia suburbana a soldo de máfias e tríades de piratas!
* -- Sobre este tema escaldante, de que nada dizem os nossos acomodados parlamentares, leia-se o elucidativo Seeds of Destruction; The Hidden Agenda of Genetic Manipulation, de F. William Engdahl. Como introdução ao mesmo, vale a pena ler o seu artigo
OAM 336 15-03-2008, 17:09
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Piercing
E se for nos mamilos? Ou no clítoris?
"O PS entregou hoje no Parlamento um projecto de lei que regula o funcionamento dos estabelecimentos que fazem tatuagens e aplicam 'piercings', passando a ser proibida a sua aplicação na língua." - 15-03-2008, Lusa/Sol.
A fúria legislativa de um país que nem cheques sem cobertura consegue penalizar, que nem os carros consegue tirar das esquinas e de cima dos passeios, que pavimenta e atulha de prédios leitos de rios e ribeiras, que tem um pato-bravo a fazer de primeiro ministro, resolveu agora atacar o direito privado dos cidadãos muito para lá do que seria uma normal preocupação com a saúde pública. Esta última protege-se apenas com a aplicação de leis responsabilizadoras dos actos praticados que a prejudiquem. Danos causados a terceiros devem ser castigados. Ou seja, se um automobilista atropela um peão numa passadeira deveria sofrer uma pesada pena de prisão, para além das indemnizações cíveis; se um cão (nomeadamente da polícia) morde alguém, salvo em situações especiais claramente tipificados na lei (defesa da propriedade privada, ou de um deficiente, por exemplo), o respectivo dono deve pagar e sofrer pena de prisão proporcional ao dano causado. Agora, interferir na liberdade individual de uma pessoa a propósito do seu próprio corpo, proibindo actos feitos em consciência e sem qualquer laivo de coação familiar, social, cultural ou religiosa, apenas demonstra o desnorte cultural da actual burocracia parlamentar. Esta iniciativa do néscio deputado do PS (que poderia ter nascido da mente encolhida de um qualquer outro aparatchik da nossa desnaturada democracia) deve ser combatida firmemente como aquilo que é e revela do desvio em curso no actual regime político: uma medida prepotente, visando regulamentar o território íntimo da liberdade individual, e como tal, sintoma revelador de uma lógica tipicamente fascista.
Que eu saiba sempre se furaram as orelhas das meninas em Portugal. É uma tradição que remonta, pelo menos, à época céltica, muito antes de Portugal existir, e muitíssimo antes de termos um parlamento atulhado de funcionários e manhosos suburbanos. O pascácio proponente deveria ser informado de que no nosso país não há "piercing", porque "piercing" é uma palavra inglesa. A minha filha, como as filhas de milhões de portugueses furaram as orelhas para lá colocarem os brincos de ouro oferecidos pelas madrinhas. Se agora a filha de um deputado pretender colocar um brinco na língua, no mamilo, ou no clítoris, que lhe havemos de fazer? É caso para recomendar ao deputado em causa, paciência e juízo. Que se preocupe com o regime de roubalheira instalado e com o futuro do país, e terá certamente muito que fazer.
OAM 335 15-03-2008, 12:53
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