quinta-feira, abril 07, 2011

Xeque-mate

José Sócrates, o homem “lixo”



A hipótese foi colocada e nunca saberemos a resposta: teria ou não sido preferível abrir oficialmente falência e reestruturar a nossa dívida —negociando com os credores um perdão parcial da mesma—, em vez de precipitarmos o país num abismo de austeridade durante os próximos dez, vinte ou mais anos? Poderia José Sócrates ter mantido este braço-de-ferro com o BCE por muito mais tempo?

Portugal, uma vez na Eurolândia, e ao contrário da Islândia, que não faz parte da zona euro, deixou muito provavelmente de poder declarar a bancarrota e de negociar a reestruturação das suas dívidas com os seus principais credores (Espanha, França, Alemanha e Reino Unido). Dito doutro modo, a Alemanha e a França não estão dispostas a perdoar dívidas a nenhum estado-membro da União.

O mitómano que deixámos à solta esticou a corda, mas o BCE acabou por instruir o Banco de Portugal e a banca privada para desencadearem a operação xeque-mate contra José Sócrates. Dois dias depois de este ter jurado, como um condenado inocente, que jamais entregaria Portugal ao FMI, ei-lo cabisbaixo confessando que, afinal, sempre teria que pedir socorro às instâncias comunitárias e ao FMI.

As empresas públicas, os bancos, as principais cidades e este governo têm, a partir de hoje, uma mesma notação financeira nos mercados internacionais: lixo! A partir de ontem, para todos os efeitos, Portugal tornou-se no terceiro estado pária da União Europeia. Seguir-se-à a Espanha? E depois quem? A França? E o euro —se formos por aqui, aguentar-se-à? Duvido.

quarta-feira, abril 06, 2011

A um passo do lixo

Os bancos, incluindo aquele que Sócrates ajudou a tomar de assalto (BCP), resolveram hoje retirar o tapete ao vendedor de cobertores da Beira. A ordem veio certamente do BCE, via Banco de Portugal.

Ou seja, o actual primeiro ministro acaba de ser declarado um empecilho indecoroso que é preciso evacuar urgentemente. Se não for a bem, irá a mal. Ouvem-se já as vozes graves do coro da tragédia lusitana. Com juros da dívida pública a 10%, e amanhã porventura a mais, o país e os bancos precipitam-se rapidamente para o lixo. Mas atenção: o homem deste lixo chama-se José Sócrates Pinto de Sousa. Será ele, em última instância, que teremos que sentar no banco dos réus depois de declarada oficialmente a segunda bancarrota do país dos últimos 120 anos. O PS não sairá, de maneira nenhuma, ileso!

É preciso confrontar os socialistas com as suas responsabilidades. Os seus dirigentes não terão atenuantes quando forem julgados pela cobardia, oportunismo rasteiro e falta de visão que exibiram desde 2007.

Portugal está na bancarrota. Negar esta evidência, agravar a situação, como têm feito Sócrates e a turma de ambiciosos irresponsáveis que o rodeia, é um comportamento anti-patriótico. Entregar Portugal à Alemanha, a Espanha e aos demais credores é um acto de traição! Das últimas vezes que tal aconteceu (invasões francesas, perda do Brasil, Ultimato inglês) Portugal ou entrou em guerra civil, ou viu desaparecer o regime monárquico, ou apanhou com uma ditadura em cima durante quarenta e oito anos...

Se o euro colapsar, e a União Europeia for à vida, ou seja, se a aliança EUA-Reino Unido vencer de novo a Alemanha —desta vez na guerra financeira fratricida que está em curso—, Portugal ficará, se não correr com José Sócrates agora, à beira de uma gravíssima crise que poderá levar-nos, outra vez, à guerra civil. Quem produz e paga impostos não tolerará continuar a ser vampirizado pelas burocracias, partidos e máfias do regime. Uma revolução liberal, no sentido de uma revolução das classes médias e das profissões liberais, poderá já estar, neste preciso momento, em pleno período de encubação. Como sempre, bastará uma faísca para incendiar a pradaria.

Para já, PSD e PS parecem ter partido o país ao meio. Os primeiros, prometem fazer melhor o seu próprio programa do que o clone cor-de-rosa que tem andado por aí a secar o país. Os segundos, querem agora fazer esquecer tudo o que de mal fizeram, invocando a fantasia de um Cavaleiro Andantes contra o FMI, protagonizado por um mitómano que presa mais os seus sapatos do que o país que tudo lhe deu.

A imprevisibilidade do país cresceu desmesuradamente ao longo das últimas semanas. A tríade de piratas protagonizada pelo mitómano que nos entra a toda a hora pela casa dentro (como num filme de horror de George Orwell) optou por uma estratégia de terra-queimada. Será oportunamente julgada por isso!

quinta-feira, março 31, 2011

Amigos, amigos...

Brasil prefere EDP às obrigações virtuais
Era a este tipo de garantias que Dilma Rousseff se referia ao falar em "ajudar" Portugal... Mas esperem pela pancada espanhola!

Com activos conjuntos no Brasil, o interesse do grupo estatal brasileiro poderá passar pela compra de até 10% (da EDP)

O Estado português detém 25% do capital da eléctrica liderada por António Mexia.

A empresa terá contratado o Citibank para avaliar e analisar os números da companhia portuguesa e a estimativa é que o negócio fique perto de 600 milhões de euros (1.300 milhões de reais). Económico.

As carcaças ainda frescas da nossa economia devastada pela inépcia, irresponsabilidade e corrupção da nomenclatura partidária, financeira e corporativa instalada, são proteína irresistível para quem tem reservas, recursos e interesses estratégicos no nosso país: Brasil, Angola, Reino Unido, Canadá... Estados Unidos.

O nosso problema é que o número de carcaças frescas com alguma carne agarrada aos ossos é insuficiente para o buraco do nosso colectivo endividamento. Os 600 milhões de euros que a Eletrobras, empresa energética estatal brasileira, poderá vir a meter na EDP, comprando 10% da participação estatal portuguesa na empresa (e assim financiando indirectamente a nossa dívida pública), nem sequer chegam para duas barragens … quanto mais para as 11 que querem construir; e já nem falo do passivo acumulado da empresa portuguesa: mais de 18 mil milhões de euros!

Não deixa de ser curioso que, para sair da bancarrota em que estamos, algumas empresas portuguesas estratégicas, essenciais do ponto de vista do serviço público, se arrisquem a ser comidas por empresa estatais de outros países. É, a bem dizer, uma nova forma de colonização a que estaremos sujeitos se não houver quem se oponha a tamanha capitulação.

A nossa melhor saída do colapso para onde nos levaram não será certamente vender o sangue, os rins e os pulmões da nossa economia!

A única solução inteligente e decente passará inevitavelmente por uma lipoaspiração ao Estado, por baixar os impostos que afectam a produção de bens transaccionáveis e as exportações, e pela redefinição do Estado Social. Este terá que transformar-se, a muito curto prazo, num estado transparente e eficiente, onde o perímetro da sua presença na saúde, na educação, na burocracia e na economia seja radicalmente circunscrito. Precisamos de uma visão estratégica sobre as universidades, e sobre os serviços de saúde, delimitando drasticamente o que devem ser obrigações estratégicas da comunidade, e deixando à iniciativa privada, cooperativa e comunitária tudo o resto.

Mas para isto, claro, será preciso mudar de regime e fazer uma revolução!

Guerra contra o euro

Agências de rating atacam ferozmente o sistema monetário europeu, em nome do dólar e da libra
No entanto as economias americana, canadiana e britânica estão tão ou mais falidas do que a da Eurolândia!




Fitch avisa que cortará rating de Portugal se FMI não intervier

A agência Fitch deixa mais um aviso, peremptório, a Portugal: se o Estado não for socorrido pela União Europeia e pelo FMI, o rating da dívida soberana nacional pode baixar ainda mais em breve. Público.

Juros a subir. Mantém-se a pressão sobre Portugal

Ontem, a Fitch ameaçou baixar o rating de Portugal se o país não recorresse à ajuda externa e cortou a avaliação da Caixa Geral de Depósitos. Hoje, a Moody’s admite cortar a qualidade da dívida dos países da Zona Euro. RR.

Reestruturar a dívida em vez de pedir resgate “protege os contribuintes”

Raoul Ruparel, analista britânico do Open Europe, acredita que esta é a melhor opção, porque, desta forma, a factura era repartida também pelos investidores e não só pelos contribuintes europeus. RR.

Há dois problemas separados: o endividamento privado e soberano dos EUA/Canada e da Europa, e a guerra financeira $/£ vs. €. O primeiro é um buraco negro = +10x PIB mundial; o segundo, diz respeito a saber quem cai primeiro: se o euro, se o par dólar/libra.

Como as agências de notação financeira são anglo-americanas, percebe-se como esta artilharia pesada está a ser usada contra o euro. Foi percebendo este facto, aqui abordado várias vezes, que o nosso governo resolveu apostar no efeito dominó como estratégia de protecção, invocando a responsabilidade da Alemanha. Se nós cairmos, cai a Espanha, e caindo a Espanha, cai a Itália, a Bélgica e a própria França... Ou seja, seria a morte do euro!

Na realidade, se Portugal resistisse até Agosto, creio que seriam os americanos, ingleses, e as economias atreladas ao dólar a bater com os dentes na calçada. Daí que, apesar de tudo, a estratégia de resistência de Sócrates acabe por fazer sentido!

Sócrates poderá, pois, fazer depender um pedido formal de resgate da dívida portuguesa dum acordo prévio expresso de todos os partidos com assento parlamentar, bem como do próprio presidente da república. Ou então, deixar entrar o pais em bancarrota, propor depois uma reestruturação da dívida, e negociar directamente com os credores, ainda que com a mediação do BCE e do FMI. Seria, por assim dizer, a versão portuguesa do modelo revolucionário de reestruturação da dívida soberana seguido pela Islândia!

Cavaco e Passos de Coelho têm que ter mais cuidado no modo como pretendem defender o interesse nacional. Começando, desde logo, por esclarecer a sua posição sobre o pedido de resgate.

Eu já não posso ver o Pinóquio à frente, mas neste ponto particular, a sua estratégia é capaz de estar certa!


ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 31-03-2011 14:02

quarta-feira, março 30, 2011

Governo escondeu buraco do BPN

A pergunta é: porquê?



Eu tenho uma teoria: a tríade de Macau negociou o BCP pelo BPN. E que roube o melhor! A Caixa, essa, financiou o assalto de um e o buraco de outro. Uma cleptocracia no seu melhor.

Como avisámos a tempo e horas, a Caixa, por causa destas e doutras, há muito que caminhava para imparidades inexplicáveis. Os "mercados", entretanto, acordaram, e o resultado é mais do que previsível: mais um banco a caminho do lixo.

Quando o PSD quiser privatizar alguma coisa (a TAP, a Caixa Geral de Depósitos, as Águas de Portugal, a CP, o Metro, ou as PPPs) descobrirá, horrorizado, que ninguém compra empresas falidas com passivos monumentais —frutos apodrecidos de má estratégia, má gestão, excesso de trabalhadores e obrigações sociais financiadas por um estado igualmente na bancarrota.

Foi isto que a nova presidente do Brasil explicou, em palavras cristalinas como água, à prole aflita que a rodeava hoje em Coimbra — e de que as palavras do mitómano casmurro que ainda ocupa o cargo de presidente do governo são a melhor ilustração.

A queda de um pinóquio

Sócrates: “Calma, pá! Temos muitas oportunidades de falar.”



Enquanto os socialistas mais indigentes prestam homenagem ao vigarista que conduziu alegremente Portugal à bancarrota, o ainda mitómano primeiro ministro anda literalmente de cabeça perdida.

Como um qualquer adolescente apavorado com a perspectiva de perder o telemóvel, na verdade, José Sócrates não passa de uma caricatura deprimente do estado a que chegou a nossa democracia. E quem a ele se agarra de forma tão miserável, mais dó ainda me dá.

terça-feira, março 29, 2011

E o BPN, pá?

O BPN é a face cristalina desta democracia degenerada



Marketing de guerrilha pode inspirar novas formas de acção política. E nós, pá? E o nosso trabalho, pá? E o nosso dinheiro, pá? E a nossa vida, pá?

Apesar do ponto fraco desta iniciativa e do blogue que a promove ser o anonimato, reproduzimos o respectivo manifesto. Há sempre a possibilidade de esta acção não passar de uma manobra de contra-informação, no caso, visando limitar a acção de Cavaco Silva e do PSD. Esperemos que não, i.e. que seja genuína.

É o povo, pá! — Publicado em Março 28, 2011 por eopovopa

Quem somos
Não importa quem somos, mas aquilo que nos junta. Somos gente farta da falta de oportunidades e cansada do discurso mentiroso que afirma «não há outro caminho». Somos gente cujo investimento e sacrifícios dos pais na nossa educação resultou em desemprego e precariedade e ofende-nos ouvir dizer que a culpa da nossa precariedade é dos direitos que a geração deles conquistou. Somos gente que defende o trabalho digno e com direitos, independentemente da idade e habilitações literárias. Somos gente que está farta de ter a vida congelada e o futuro, nosso e dos nossos filhos, adiado. Porque não nos resignamos, protestamos. Exigimos respeito e reclamamos o direito à dignidade e ao futuro.

Ao que vimos
Vimos dizer que não nos comem por parvos. Não aceitamos o discurso que nos impõe a precariedade como forma de organização do trabalho. Desconfiamos de quem nos diz que «tem que ser assim» e «este é o único caminho» acenando com a chantagem da falta de patriotismo. Este país também é nosso e temos direito a cá viver e trabalhar. Exigimos pluralidade de opiniões porque sabemos que é nesse confronto que se encontram caminhos. Não aceitamos o pensamento único e sabemos que chegámos até aqui porque foram feitas escolhas: decidiram converter as pessoas em clientes e contribuintes. Nós dizemos que essas escolhas são erradas.

Porquê o BPN
Quando falamos do buraco nas contas públicas deixado pelo BPN referimo-nos a cerca de 6500 milhões de euros, ou seja, a mais de 13 milhões de salários mínimos, mais de um salário mínimo por cada habitante deste país.

A Caixa Geral de Depósitos enterrou directamente no BPN cerca de 4600 milhões de euros, a somar aos 2000 milhões de euros em imparidades (activos tóxicos), o que perfaz cerca de 4% do PIB. Explicitando: este valor assemelha-se ao encaixe total que o Estado português prevê fazer com o plano de privatizações. Dito de outra forma, assemelha-se ao valor previsto pelo plano de austeridade de 2010, em que para o cumprir foram necessários os PEC, mas também o fundo de pensões da PT, no valor de 1600 milhões de euros. Este é o valor da factura que todo nós estamos a pagar.

Quase três anos após a falência do BPN, podemos dizer que aquilo que estamos a pagar é a fraude,a promiscuidade entre a política e a finança, a cumplicidade e a troca de favores, os offshores, a evasão fiscal. Enfim, estamos a pagar o preço de um crime que não cometemos.

O caso BPN configura o processo de desagregação do Estado democrático, onde se salvam os accionistas e as entidades reguladoras, onde se escolhe salvar os activos nacionalizando os prejuízos à conta dos impostos que pagamos. O caso BPN diz-nos que em Portugal a fraude compensa e, quando esta vence, a democracia perde. Portugal está transformado num país onde há Estado máximo para alguns e Estado mínimo para quase todas as outras pessoas.

Quando nos dizem que o tempo é de sacrifícios , sabemos que a sua distribuição não é justa nem democrática. Quem escolhe salvar Bancos para salvar amigos legitima a corrupção. Para o fazer, corta onde é mais necessário: nos serviços públicos e nas prestações sociais.

Não nos falem de austeridade, falem-nos de  justiça.

Blogue de acção política E o povo, pá?