terça-feira, setembro 30, 2003

Adrian Lamo

O FBI prende ‘pirata’ informático



Papel electrónico

Até agora a imagem electrónica precisou de tubos catódicos, de écrãs de cristais líquidos ou mais recentemente de paineis planos de TFT. Pois bem, uma notícia interessante para as artes visuais: vem aí o papel electrónico! Em Eindhoven, na pequena mas activa Holanda, a Philips trabalha a grande velocidade no desenvolvimento de um papel capaz de mostrar imagens digitais, fixas ou movimento! [in Scientific American] -- ACP

¶ 2:21 AM

Adrian Lamo: super hacker perseguido pela Justiça americana.

A paranóia securitária da pandilha Bush, sob a qual corre um imenso rio de corrupção e mentira, ameça de forma cada vez mais reaccionária a liberdade de imprensa nos EUA. Desta feita, sob o chapéu do Patriotic Act, o FBI ameaçou os média norte-americanos de sanções, caso se atrevam a noticiar documentadamente a ordem de busca e prisão emitida contra o super hacker Adrian Lamo, responsável por algumas das mais notáveis (e cooperantes) intrusões nos sistemas informáticos (basicamente sites e intranets) de empresas tão notórias quanto o Yahoo!, Excite@Home e Blogger. O gigante de telecomunicações WorldCom agradeceu mesmo a Adrian Lamo o facto de este lhes ter revelado (e depois ajudado a tapar) alguns buracos de segurança no seu sistema, os quais poderiam permitir, por exemplo, aceder às intranets de instituições financeiras tão importantes quanto o Bank of America, o Citycorp, ou o JP Morgan! Vale a pena seguir a notícia e a discussão. E pôr as barbas de molho quando acedemos às nossas contas bancárias via web. Eu faço-o, mas tomando várias precauções. [in The Register] -- ACP

¶ 4:02 AM

O-A-M
blog #13
Terça-feira, Setembro 30, 2003

domingo, setembro 14, 2003

Pedro Cabrita Reis 2

Estatuária e cinismo: da pseudo autoria aos artistas fantasmas.


O-A-M
blog #12
Domingo, Setembro 14, 2003
IMG: AC-P

A mal explicada história do monumento ao alcaide da Maia.

Ao contrário do que ocorre nas mais importantes actividades artísticas contemporâneas, todas elas integradas no "modus operandi" económico-financeiro, comercial e tecnológico do capitalismo (arquitectura, cinema, televisão, música, jogos electrónicos, ...literatura), as artes plásticas, as chamadas "artes visuais", parecem ignorar sistematicamente o importante dossiê da autoria e respectivos direitos. Enquanto uma cabeleireira tem o direito a ver o seu nome na ficha técnica de um filme de Joaquim Leitão, o tradutor inglês de uma novela da Clara Pinto Correia tem que aparecer devidamente assinalado em cada exemplar impresso, o arquitecto que desenvolva criativamente um dado projecto assinado por Manuel Gaça Dias deverá surgir como co-autor do mesmo, um disco dos Madredeus pressupõe a explicitação dos nomes dos vários componentes da banda, dos nomes dos autores das músicas, dos nomes dos autores das letras, dos nomes do produtor e da etiqueta do editor, já no caso dos artistas oriundos das Belas-Artes, a coisa parece continuar a funcionar de um modo menos que medieval e muito corporativo. Não me refiro obviamente a meros assistentes, que limpam pinceis, atendem telefones, amassam o barro, preparam telas, ou duplicam DVDs. Estamos a falar de especialistas e de intérpretes que, por um motivo ou outro, são chamados ao desenvolvimento de um dado projecto criativo, com determinadas exigências técnicas, formais e criativas, que o autor da obra não domina ou não pode executar sem o apoio de outros saberes. Tirar um molde e produzir uma escultura de fibra de vidro para uma instalação do Julião Sarmento, ou executar uma pintura mural de acordo com uma maqueta do mesmo autor, seria ou não muito diferente de tocar uma partitura de Mozart para piano? Já imaginaram a Maria João Pires prescindir do seu nome e autoria na interpretação de uma peça do dito compositor? O "Thriller", de Michael Jackson, teria sido o mesmo "thriller" sem Quincy Jones? Poderia alguma vez ter chegado às prateleiras das lojas sem a explicitação autoral do seu mítico produtor?

A questão é mesmo capaz de vir a tornar-se juridicamente interessante, nomeadamente à luz da legislação mundial e europeia vigente, por exemplo, relativa à "co-autoria", à "obra derivada" e ainda ao chamado "droit de suite". Não tendo havido renúncia expressa aos direitos de autor, eles podem muito bem ser reclamados mais cedo ou mais tarde, bastando para tal invocar a legislação que assiste a este ou aquele co-autor "fantasma", a este ou aquele autor de uma "obra derivada".

Recentemente, Pedro Cabrita Reis (PCR) foi convidado para celebrar em forma de estátua a memória do falecido Presidente da Câmara Municipal da Maia. Da completa incongruência do resultado, quando visto à luz do perfil propagadamente vanguardista do autor, do conservadorismo intrínseco do empreendimento (aliás com antecendentes conhecidos na sua obra, embora nunca discutidos, e sequelas que porventura estarão por vir), já escrevi em tempo o suficiente (ver blog respectivo). Agora gostaria de entrar numa outra ordem de problemas, menos ideológica, mas igualmente grave - desta vez no plano ético. Refiro-me ao problema da autoria, ou melhor dito, ao problema da autoria partilhada, mas publicamente censurada.

O monumento da Maia, encomendado inicialmente ao arquitecto Eduardo Souto de Moura, que aliás lhe desenhou a base, foi parar, na parte que diz respeito à famigerada estátua, ao escultor Pedro Cabrita Reis, o qual aceitou livremente o convite e a encomenda. O desafio era pesado: homenagear um político local que dominou os destinos da autarquia desde a época em que fora deputado à Assembleia Nacional (1973), no preciso momento em que muito justamente a cidadania reclama a limitação dos mandatos dos Presidentes de Câmara e o fim do caciquismo que esta lacuna constitucional acaba por estimular, obrigaria o mais apolítico dos artistas a um extraordinário exercício de imaginação e sabedoria.

Invocar ingenuamente a legitimidade democrática efectiva do personagem e a sua função, invocar criticamente a ocasião para, por exemplo, reintroduzir polemicamente o debate da "arte pela arte", ou o debate sobre a eventual necessidade de um regresso "à ordem" em matéria de representação, tudo isto na humildade de um acto criativo puro e desinteressado, poderia ter tido pernas para andar. As barbaridades "modernas" e "abstractas" da escultura que vem poluindo o imaginário deste País democrático, desde 1974, em tudo que são praças, rotundas e viadutos pagos com os nossos queridos impostos, desde o hediondo monumento a Sá Carneiro, do escultor Soares Branco, ao indescritível pirilau de Abril saído das mãos empoeiradas do escultor José Cutileiro, passando pelo inacreditável Parque dos Poetas do Sr Isaltino, têm que ser definitivamente denunciadas como enormidades estéticas, que são. O ensino artístico precisa de uma reforma profunda (e não de verborreia cabotina e mais nepotismo); os senhores vereadores dos pelouros culturais precisam de passar exames de história de arte e antropologia estética antes de poderem candidatar-se aos cargos públicos que ocupam, ou então entregarem a responsabilidade institucional das encomendas a concursos públicos devidamente organizados; e a chamada "liberdade artística" implícita no lugar comum "gostos não se discutem" tem que sofrer uma revisão drástica, sob pena de continuarmos a ver crescer como cogumelos todo o tipo de aberrações e idiotias sob o nome indefeso da arte.

Se tivesse havido mais inteligência, e sobretudo criatividade genuína, este poderia ter sido o palco oportuno para uma necessária revisão histórica dos paradigmas mais que corrompidos da chamada "arte moderna". Não foi PCR quem elegeu sucessivamente o carismático edil, mas a população e as forças económicas da Maia. Portanto, a sua obra deveria reflectir simultaneamente aquele homem recentemente falecido e as suas circunstâncias. Deveria ser capaz de ultrapassar o artificialismo oficioso da homenagem (não houve, que eu saiba, nenhuma petição popular, e sobretudo nenhuma discussão cívica sobre o tema) e fazer da futura presença iconológica um verdadeiro memorandum sobre a nossa democracia. Deveria, no plano estritamente formal e estético, recolocar no domínio próprio das artes plásticas, essa imensa região do realismo espectacularmente sequestrada pelos média do século 20. Refiro-me, claro, ao território da imagem que é a imagem de algo, à verosimilhança, às sombras e aos reflexos da complexidade recorrentemente atraída pelos microcosmos da percepção e da inteligência. Há muito que a BD, e mais recentemente esse fenómeno global chamado Manga, segura as pontas do sudário essencial da Estética a que chamamos "figuração". Falta, todavia, enterrar os sucedâneos descafeinados e académicos do Conceptualismo (actualmente reinante na burocracia mundial das artes), e deixar que os velhos pintores e escultores, agora necessariamente pós-conceptuais, info esclarecidos, tecno competentes e generativos, restabeleçam o nexo figurativo da imaginação estética. Que grande oportunidade perdida, meu caro PCR!

O boneco não está mal feito. Mas o que ali efectivamente existe, e é da responsabilidade exclusiva de PCR, não passa de um mono académico, sem graça nem conceito. Pior ainda: tendo sido os estudos preparatórios do retrato de Vieira de Carvalho desenhados, ao que sei, por Rosa Carvalho, e a escultura propriamente dita, criada por António Carvalho e dois assistentes, tudo pousado numa plataforma arquitectada por Eduardo de Souto Moura, sobraria apenas de quem assina (sem mencionar os preciosos ajudantes e co-autores) a expectativa de uma ideia, de uma visão, de uma provocação subtil, ou pelo menos, de uma direcção consistente e inovadora da forma. Mas nada. Nada a não ser um volume de barro sem graça, passado a bronze em Barcelona. Temo infelizmente que esse nada não seja um mal apenas circunstancial, mas o vazio resultante do mais puro cabotinismo intelectual e da mais lamentável falta de inspiração. -- ACP

¶ 11:53 PM

sábado, setembro 13, 2003

Vontade e Terror

O 11S e a questão do terrorismo


Robespierre
O-A-M
blog #11
Sábado, Setembro 13, 2003

Apesar de me considerar uma pessoa de esquerda, sempre fui radicalmente contra o Terrorismo, venha ele donde vier. Defendo a prevalência do princípio da cooperação sobre o princípio da guerra na resolução dos conflitos de vontades. No entanto, creio que a Guerra, apesar do terror que infunde, apesar da devastação que produz, talvez por obedecer 'ab initio' a um princípio de racionalidade jurídica (conflito de interesses, preparação militar, provocação, escalada, declaração de guerra, operações militares, definição do inimigo, suspensão temporária do conflito, negociação, eventual resolução do mesmo e tratado de paz), acaba por ser controlável se acatar as convenções internacionais que estipulam a sua disciplina, interditando, entre outras coisas, transformar a população civil e as suas infra-estruturas vitais em alvos militares. Todas as guerras são repugnantes e intoleráveis, mas se quando ocorrerem, respeitarem, apesar da sua bestialidade intrínseca, certas regras limitadoras, então poderemos alimentar e pressionar a esperança no sentido do fim rápido das hostilidades, bem como julgar todos os que, na dita guerra, cometeram ou patrocinaram actos considerados criminosos à luz das Convenções aplicáveis.

Ora é precisamente isto que não acontece no Terrorismo - também conhecido na gíria dos estrategas militares como Conflito Assimétrico (no qual se inclui ainda a Guerrilha). Basta ler Sade para ficarmos a saber que o Terror tem sido usado pelos homens desde sempre.

O que caracteriza o Terror, o verdadeiro Terror, ultrapassa em muito o chamado Terror Jacobino, que foi sobretudo uma forma de assassinato político juridicamente disfarçado, muito copiado ao longo do século 20 pelo Estalinismo e pelo Maoismo. O Terror do Terrorismo caracteriza-se pela sua clandestinidade e pelo seu secretismo, pela eleição de alvos civis, pela sua absoluta arbitrariedade, pela sua crueldade inaudita e pela sua espectacularidade. É, em suma, o paradigma da chamada Matança dos Inocentes. Dois exemplos Portugueses: o chamado Processo dos Távoras, no aparentemente longínquo século 18, e as primeiras chacinas perpetradas em Angola pela UPA/FNLA, contra os colonos brancos, seguidas dos massacres inflingidos pelas Forças Armadas Portuguesas a populações negras indefesas, em 1961.

Os bombardeamentos aéreos indiscriminados, realizados pelos Alemães sobre a cidade de Londres; a terrível resposta inglesa (Carpet-Bombing) sobre Colónia, Hamburgo e Berlin; o Processo da Exterminação dos Judeus pelo regime Nazi; os fuzilamentos sumários perpetrados pelas tropas falangistas de Franco; o apocalipse americano no Vietnam (com o emprego do Napalm e de armamento químico variado); os genocídios no Ruanda e as "limpezas étnicas" promovidas pelo Governo Sérvio do Sr. Milosevitch, são exemplos de como o Terrorismo pode e tem muitas vezes sido empregue como sub-sistema táctico num Sistema de Forças Convencional. Até hoje ninguém se atreveu a julgar formalmente a destruição atómica de Hiroshima e Nagasaki à luz de uma teoria do Terrorismo, e no entanto, aqueles actos apocalípticos não teriam podido ilustrar melhor a definição de Terrorismo acima proposta: clandestinidade e secretismo, eleição de alvos civis, arbitrariedade absoluta, violência inaudita e espectacularidade.

O Terrorismo tem-se manifestado ainda, ao longo dos tempos, como Terrorismo de Estado. Exemplos: o assassinato ritual dos Cristãos em Roma; a liquidação, em 1941-42, de 11.176 crianças da região do Monte Kozara pela milícia católica do Governo Croata; o extermínio estalinista dos Tártaros da Crimeia; a liquidação do Partido Comunista da Indonésia durante a triste era do "assassino sorridente", Suharto; a "Operação Condor" e o envolvimento norte-americano (Kissinger) no derrube violento do regime democraticamente eleito do Chile; o genocídio praticado na população de Timor Leste pelo mesmo Estado Indonésio; o genocídio dos Curdos Iraquianos por Saddam Hussein; os ataques suicidas do Hamas, etc. Todos estes casos podem ser vistos como exemplos paradigmáticos desta variante do Terror.

Embora possamos afirmar, parafraseando Carl von Clausewitz, que o Terrorismo é uma variante da Guerra, e como tal uma modalidade peculiar da continuação da Diplomacia por outros meios, a verdade é que existe entre a Guerra e o Terrorismo um abismo inultrapassável. Na Guerra, os motivos e os fins estão à vista, assim como o conjunto de regras que deve nortear as características do conflito bélico. Há, em suma, um princípio básico de economia e racionalidade, que em grande medida se confunde com o "modus operandi" do instinto territorial que norteia a generalidade das disputas violentas nas outras espécies animais. Pelo contrário, no Terrorismo continuado, o excesso de violência, o psicologismo das acções, a sua imprevisibilidade e os sistemáticos danos colaterais que promove, impedem qualquer racionalidade na disputa. Sem base de legitimação à vista, o Terrorismo continuado tende pois a transformar-se num fim em si mesmo, resvalando invariavelmente para o sectarismo e o mero banditismo sanguinário.

Num certo sentido, poderíamos resumir a grande diferença entre a Guerra e o Terrorismo continuado a um problema de produtividade e de competição. Enquanto na Guerra estamos diante de uma agonística em que a vitória de um não pode significar a destruição completa do outro (porque isso afectaria a produtividade da disputa), no Terrorismo, o atacante promove verdadeiramente a destruição prolongada das bases de entendimento mínimo do chamado pós-guerra. Daí que sempre que o Terror deixa de ocorrer como uma táctica momentânea do Jogo da Guerra, e se transforma numa estratégia ideológica, o mesmo, rebaixado agora à categoria de Terrorismo continuado, torna-se absolutamente intolerável, ao contrário da Guerra, cuja intolerabilidade é relativa, i.e. negociável. Talvez por isto, Stockhausen tenha falado de Bin Laden e da sua "obra prima", como se da obra genial de um Anjo do Mal se tratasse.

O Terrorismo islâmico é de facto a grande ameaça aos equilíbrios geo-estratégicos actuais. Devemos, porém, circunscrevê-lo às suas reais proporções, evitando cair na tentação (por ele mesmo promovida) de confundi-lo com qualquer País, e muito menos com a generalidade dos Muçulmanos (coisa que a Administração Bush parece incapaz de entender). Assim como os franceses do século 18 descobriram que a ilegalização dos Jacobinos não era assim tão complicada, pois estes eram na realidade muito menos do que se julgava, também nós, todos os potenciais alvos institucionais e humanos da Al-Qaida e suas congéneres deveremos esperar o esvaizamento progressivo das suas redes assassinas, desmontando paulatina mas sistematicamente as fontes de alimentação das suas redes.

Alguma coisa terá entretanto que ser feita quanto às gritantes assimetrias sociais existentes no Mundo. O modelo da globalização capitalista exacerbada, autofágica e fora de controlo terá que ser rapidamente reparado, se não mesmo substituído por outro mais equilibrado e justo. A sustentabilidade do Planeta dos Homens depende dramaticamente de algumas travagens a fundo (por exemplo, no modelo do consumo estupidificado, que arrasta atrás de si fenómenos tão gigantescos como o aquecimento global e a exaustão das principais fontes de energia não renovável). Os homens, por fim, têm que chegar a acordo sobre a necessidade de implementar juridicamente a proibição universal da Guerra e do Terrorismo. Em seu lugar, porque as disputas continuarão certamente a ocorrer, teremos que colocar novos modelos de agonística, muito mais produtivos, justos e pacíficos. Creio que este, e não qualquer outra fantasia tecno-futurista, deverá ocupar as melhores energias do século 21. Não é assim tão difícil. -- ACP

¶ 2:24 AM

sexta-feira, setembro 05, 2003

Documenta

"The Next Documenta Should Be Curated by an Artist"


In this blog :

01. Antonio C Pinto
02. Olu Oguibe*
03. High Art*
04. AA Bronson*
05. John Baldessari*
06. Jens Hoffmann*


01. ANTONIO C. PINTO
antonio.c.pinto@risco.pt
Date: Thursday September 04th, 2003 03:06 PM

Should the next Documenta be curated by an artist? Why not?

Though the problem may be elsewhere...
+ The the big issue is: why should an artwork cost more than a video game, or a movie ticket?
+ Or, why should "fine art" keep going running away from democracy?
+ Or, the 20th Century is over. Did anyone notice it?
+ Or, the only relevant art today should go cooperative, networked, instead of a dramatic choice between the Van Gogh hysterical paradigm and corporate culture.
+ The Next Documenta Should be Curated by a Network.
+ And The Next Documenta Should be about Re-Construction.


02. OLU OGUIBE
oguibe64@hotmail.com
Date: Tuesday July 15th, 2003 12:03 PM

For those of us who come from a constituency that consistently produces excellent, practising artists who are also excellent critics and curators (Fernando Alvim, Odili Donald Odita, Kendell Geers, Sue Williamson, this writer, etc) the idea of an artist-curated major exhibition is no longer radical. The upcoming first biennial of Luanda in Angola is to be directed by the conceptual artist Fernando Alvim. Of the four other individuals on his curatorial team, three are practising artists: Oladele Bamgboye (Documenta X artist and author of a book of art theory), Kendell Geers (Documenta XI artist and editor of a critical anthology on South African art), and this writer. We've been there and done that and proved that 1. it can be done competently and 2. it is not a panacea in and of itself.

The suggestion that artists should curate major exhibitions--or rather become "the" curators of major exhibitions, and that this would solve current curatorial problems is in fact quite juvenile; it proposes a solution without identifying the problem. Before proposing any group as alternatives to curators, it is essential to identify in what ways curators have come short of the demands and expectations of their calling. I do not intend to go into that here because I have already dealt with the question in widely available essays. Making light of the curatorial task has become a prevalent disease not only among disenchanted artists and spectators, but even more devastatingly, among so-called curators, and this accounts in no small measure for why they fail. It isn't exactly easy to curate a successful, decent exhibition on any scale, let alone on a major scale. As I pointed out in the ICI publication, "Words of Wisdom: A Curator's Vade Mecum", one requisite of curating is that the curator should have what Clement Greenberg would call a "good eye". A curator must not only have a good eye for the best work that fits the theme, he or she must also have a good eye for how the work plays in space, how it all comes together both conceptually and spatially, how it all makes both thematic and visual or spatial sense, like an orchestral composition.

Obviously, not everyone has a good eye, be they curator or artist. In fact, most artists working today do not even possess the eye to tell when their own work is successful, let alone determine successful works made by others. Also, having moved on from the age when curating was a mere historicist exercise and exhibitions were mere illustrations of art history, curating has become a highly intellectual and philosophical enterprise. It is not enough to put out some work or throw things together in a gallery space (the flaw, I am told, of the current Venice Biennale). A successful curatorial venture must exhibit intelligence in order for it to be remarkable. If many exhibitions fail today, it is in part because they are not informed by the subtle but sophisticated intellect able to pull works together in a memorable orchestration that speaks to the viewer. One is afraid to say that such intellect is not exactly to be found in abundance among any group. For lack of this ability many curators are no better than display assistants at Banana Republic and Payless Shoes Store, and probably ought to seek jobs in those chainstores if they are lucky enough to get hired, but I don't know many artists who would do much better. In other to make a successful exhibition the curator must show sensitivity to the work, and by sensitivity one means a careful, humble disposition to not only study and understand the work, but to respect it, also.

Many would agree that this is one area where our major curators today seem to come short. However, how many artists do we know who are disposed to show deep sensitivity to the work of other artists, enough to truly understand it and provide the ambience for it to fully realise its power? Beyond the fundamental elements of a good exhibition: the most appropriate and hopefully most powerful work within the perimeters of the theme, orchestrated in a manner that exhibits coherence or at least visual or thematic integrity, as well as sensitivity to and deep understanding of the work, there are of course other issues that have come to the fore in our globalized moment of practice, also. One of these is awareness of the inescapably polyglottal nature of our contemporanaeity. The good curator today, especially of major shows but also of minor ones, must exhibit awareness of this inherent diversity and depart the exclusionary myopia that privileged certain constituencies in art in the past and destroyed others through condescension and negligence. If curators--especially young curators--continue to fail in this area, one must point out that artists fare no better. Take for a good example this forum, "The Next Documenta should be Curated by an Artist", which on its list of invited commentators very blatantly excludes anyone of African descent. It is curated by an artist. The year is 2003. If this curatorial exercise is premonitory of the nature of the next Documenta, you can see right away why some may have difficulty with the notion of an artist curating the exhibition. As an artist-curator one understands artist's frustrations with current curatorial practice. However, a more viable approach to a solution is to advocate improvements in curatorial strategies and practice, irrespective of who curates, rather than suggest that artists would automatically curate better than practising curators. It is important now more than ever that a critical practice emerge around curatorship, one that vigorously brings it under scrutiny and helps it evolve positively.

Curating and dedicated curators have their place, at least at this moment in history. Eventually they will become redundant, and fade like the critic faded into the dustbin of history. However, they are here now and must be contended with, and our best bet is to challenge them to deliver. There are a number of others steps that can be taken, also. Some of these I addressed in my paper before the International Symposium on Contemporary Art Theory in Mexico City in 2002 ("The Curatorial Burden ). They include changes that artists must make in order to retake the initiative in their dealings with the culture industry; in order to re-empower themselves. However, taking over Documenta or Venice as curators is not among them because it is not important. On the very contrary, artists' obsession with spaces like Documenta and Venice, and their inability to think and work outside the little box of puny, sanctified moments is a crucial part of the problem. If curators today disregard artists and instead foreground themselves, it is because they've come to lose respect for artists, because they are aware of artists' subordinate position in the hierarchy of the culture industry. Artists will not change the situation or "subvert" it by asking to curate Documenta; that's beside the point. The late British rocker Ian Dury (of Ian Dury and the Blockheads) once said of Lou Reed: "Big deal! He is as subversive as a pack of chips." That's exactly what the idea on the table is; as subversive as a pack of potato chips. As long as artists grovel before curators, never saying no to exhibition offers even when they have reservations, never exhibiting any sense of integrity or principle, never aserting themselves outside the little prison of dealer-curator-biennial-New York Times listing, never taking the initiative to re-estabish direct contact with the spectator and community without being baby-nursed, insensitive, ignorant, careerist, opportunistic, even well-meaning but simply clueless curators will continue to subsume them.

Can an artist do a good Documenta? Yes, if she or he has the curatorial experience, intellect, mettle, organisational acumen, vision, sensitivity toward art and artists, and integrity to do a good, major exhibition, but not simply because they are an artist. Olu Oguibe has curated for the Tate Modern and the latere in Venice among many other spaces. He is also an exhibiting artist with works in shows currently running at the Migros Museum, Zurich, the Whitney Museum of American Art in New York, and New Museum, New York. He is a co-curator of the forthcoming 2nd Biennale of Ceramics in Contemporary Art, and the Luanda Biennale in 2005. His most recent book is The Culture Game.


03. HIGH ART
FEAR OF RETRIBUTION
highart@nyc.rr.com
Date: Saturday July 12th, 2003 08:48 AM

When I first received the e-mail from e-flux with Jens Hoffmann's name and a description of the proposal I thought to myself "oh man, another self congratulatory insider circle jerk." After all, from the outside having never met the person, I view Mr. Hoffmann's life's work as the kind of insider over-analytical under-intellectual examination and propagation of "high" art. An intellectual(ism) best left for the artists. (After all the idea of curator let alone art critic is a relatively new one in the history of art.

THE DEALERS USED TO BE THE CURATORS FOR SINGLE COLLECTORS MUSEUMS. Why do you think art was popular? Because the dealers were in charge. Then I read some of the artists statements on the site from the artists. I almost fell off my chair laughing. Democracy? Freedom in thinking? Diversity? Relevance??? Is this all some kind of sick joke? Please someone wake me up from my nightmare. Are these artworlders so blind as to see that today's global artworld is a totally elitist 95% white activity? Who do they think goes to Documenta in the first place? Them and their four friends. How can anyone of these self-congratulatory masturbators think they are having any kind of influence of any kind if they are always talking to themselves. In order to realistically assess who should curate "anything" let alone "Documenta" we should first ask the purpose of the exhibition and secondly ask who the audience is. After all obviously at this point the type of art practiced in the "first world" is a highly refined, "language" type experience. Those few people who actually go to see this exhibition (less people than who go to my local deli in any given week,) pretty much know what they are going to see. A little politics, a little aesthetics, a little socializing, and very little art (there is more art in the graffiti on my building.) I vote for AA Bronson's idea, at least then someone besides the curators parents will want to go see the show.


04. AA BRONSON
aamark@rcn.com
Date: Tuesday July 08th, 2003 06:13 AM

It is strange, when Jens approached me about this project, I assumed that he was asking me for a concept for Documenta, if I were the "curator". And that is how I proceeded. However, many (not all) of the artists approached have chosen to provide a commentary on the notion of artist as curator, most with at least hesitation, if not outright opposition. As a Canadian, this seems to me quite strange. I come from a country where a network of over 100 galleries, performance spaces and other venues are all run by (and curated by) artists. I can't think of one artist in Canada who would think of questioning this tendency. Many would be thrilled to undertake curating Documenta. Of course, the Canadian artist-run scene is not connected to the art market, and to a large extent it is not connected to the international art world. So the implications (for a Canadian) are not that one is "selling out", or misusing power. Rather, the possibility of an artist or artists curating Documenta would give the opportunity for a vast opening of doors, some fresh air, and unexpected events and collisions. However, since the 'real' purpose of Documenta is to give value to art, and to make visible the power structures of the art world (originally it demonstrated to the Communist east the wealth and 'freedom' of the west), it is unlikely that the marketplace (the galleries, collectors and their attendant sycophants) would take an interest in this notion, unless a suitably complicit artist/curator could be identified.


05. JOHN BALDESSARI
"Documenta, ...?"

Curators seemingly want to be artists. Architects want to be artists. I don?t know if this is an unhealthy trend or not. What disturbs me is a growing tendency for artists to be used as art materials, like paint, canvas, etc. I am uneasy about being used as an ingredient for an exhibition recipe, i.e., to illustrate a curator?s thesis. A logical extreme of this point of view would be for me to be included in an exhibition entitled ?Artists Over 6 Feet 6 Inches?, since I am 6?7?. Does this have anything to do with the work I do? It?s sandpapering the edges off of art to make it fit a recipe.

So I suppose quid pro quo ? yes! Let?s do a Documenta led by a team of artists. Here?s an idea ? let Documenta be an exhibition using curators as raw materials.


06. JENS HOFFMANN
The Next Documenta Should be Curated by an Artist
An E-Flux Project curated by Jens Hoffmann

During a conversation between artist Carsten Höller and me in Stockholm in 2002, right after the opening of Documenta 11, an idea emerged that was based on a discussion around concepts of some of the previous Documenta exhibitions. Towards the end of the meeting one of Höller?s remarks was: ?I think that it would be challenging development if an artist would be invited to curate Documenta.? Based on Höller?s idea and formed by the thoughts expressed during the discussion in Sweden grew The Next Documenta Should Be Curated By an Artist.
Today it is nothing exceptional that curators occupy a more noticeable role in the process of producing an exhibition then some decades ago. While their task was historically related to the conservation of art works and the maintenance of a museum collection, curators began more and more to be creatively and conceptually involved in the making of exhibitions. Exhibitions became the creative principle of so-called exhibition makers who were described as exhibition directors and who became catalysts between the creative individual and society. Yet in recent years the focus has shifted and exhibitions in which art works are employed to illustrate the fixations of curators have been widely criticized. The creative and intellectual exchange between artists and curators has, however, been irreversibly changed and created a new condition in this relationship. It is on this backdrop that The Next Documenta Should Be Curated By an Artist is coming together.

The title of this project is less a demand than a question. A question that does not articulate a critique of previous Documenta exhibitions but rather investigates, in a provocative way, the relationship, which artists have to the profession of curating. Curators are showing more and more interest in setting up art exhibitions with greater creativity while artists are becoming more seriously involved in curating?note for example the participation of artists Gabriel Orozco and Rirkrit Tiravanija as co-curators of the 2003 Venice Biennial. For this project, following a continuous string of criticism from artists in regard to exhibition concepts that simply illustrate the curator?s ideas, a group of artists has been invited to reflect upon the conditions of the relationship between artists and curators. More importantly, the artists were asked to propose a brief concept of how they could imagine putting together an exhibition such as Documenta. An exhibition that would, from their particular point of view, represents an adequate form of exhibiting and presenting art within the model of a large-scale group exhibition. - Jens Hoffmann

_________

The Next Documenta Should Be Curated By an Artist.
Copyrights Jens Hoffmann and Electronic Flux Corporation, 2003 / design and architecture by FDTdesign. A paper back version of this project will be published by Revolver (Archiv für aktuelle Kunst) in the Fall of 2003.]

* - Thanks to E-Flux and Jens Hoffmann.
Image on top: Friedrich Appel: Das Museum Fridericianum in Kassel
(hier arbeiteten die Brüder Grimm als kurfürstliche Bibliothekare von 1814 bis 1829). Lithographie, um 1840.]

¶ 12:00 AM

quarta-feira, agosto 27, 2003

Dodgy Dossier

Microsoft Word atraiçoa Tony Blair


Depois do último relatório de Hans Blitz, que era inconclusivo sobre a existência de Armas de Destruição Maciça (ADM) no Iraque, e depois de Saddam Hussein ter ordenado a destruição supervisionada dos misseis cujo raio de acção ultrapassava os limites impostos pelas sanções da ONU, os falcões de Washington estavam sem um único motivo plausível para uma acção de guerra ao abrigo da Lei Internacional. Não havia agressão Iraquiana, nem havia sinais de uma ameaça credível iminente. Foi então que Tony Blair e os seus incompetentes Serviços de propaganda resolveram deixar escapar para a opinião pública dois relatórios supostamente comprometedores para o Iraque. Num deles (Setembro 2002), mencionava-se a aquisição de combustível nuclear ao Niger e a possibilidade de o Iraque desencadear um ataque com AMD, 45 mn após dada a respectiva ordem; no outro (Fevereiro 2003), explanava-se longamente sobre a complexa máquina de informação e guerra Iraquiana. Ambos os relatórios, soube-se pouco tempo depois, foram substancialmente forjados, e no segundo deles, pior do que isso: procedeu-se a um extenso e descarado plágio dum artigo do analista e doutorando Ibrahim al-Marashi, publicado na Internet pela revista MERIA. As famosas informações a que Tony Blair teria tido acesso devido ao trabalho dos seus brilhantes Serviços Secretos não passavam, afinal, de contra-informação grosseira e de crime de abuso dos direitos de autor.

A bronca tornou-se ainda mais grave quando alguém - Glen Rangwala - resolveu analisar a "meta data" do documento Microsoft Word publicado na Internet pelo próprio Gabinete de Tony Blair. Soube-se então que o texto fora não só largamente copiado, mas que pessoal da mais estrita confiança de Tony Blair havia retocado e apimentado o documento para fins propagandísticos! Tudo isto não passaria dum "fait divers" se não estivessem em causa muitas coisas importantes, tais como a credibilidade das democracias ocidentais, a morte misteriosa do Dr. David Kelly e a morte de muita gente inocente no Iraque, e sobretudo o agravamento de uma fractura civilizacional (entre o Ocidente anafado e ávido de bens, cada vez mais laico, e um Oriente Islâmico, cada vez mais pobre e religiosamente radicalizado).

Embora a meta-informação dos documentos Microsoft Word possa ser apagada, nomeadamente quando salvamos os documentos no formato HTML, RTF ou PDF, a verdade é que há milhões de documentos Word publicados na Web no interior dos quais repousa uma infinidade de dados escondidos, cuja importância pode ser tão decisiva como a que levou à descoberta da marosca cozinhada no célebre N10 de Downing Street. O Governo de sua Magestade decidiu, depois deste escândalo, abandonar o processador de texto do Sr Bill Gates, optando decididamente pelo formato PDF do Acrobat Publisher da Adobe. E por cá, como vão as coisas? Quantas confidencialidades permanecerão semi-escondidas nos milhares de Microsoft Word "docs" publicados por empresas e organismos oficiais na Net? -- ACP


Referências:

BBC News. The hiden dangers of documents, by Mark Ward.
Microsoft Word bytes Tony Blair in the butt, by Richard M. Smith.
[casi] Intelligence? the British dossier on Iraq's secutity infrastructure, by Glen Rangwala.
Dodgy Dossier - Wikipedia.
Scalable Exploitation of, and Responses to Information Leakage Through Hidden Data in Published Documents, by Simon Byers. (PDF)
Cure Zone [the misterious deaths of too many microbiologists].
U K Parliament. Oral evidence by Dr. David Kelly.
Ibrahim al-Marashi. Bios.

¶ 5:15 PM

domingo, agosto 17, 2003

O Estado do Museu

Bastava-nos um Museu Nacional do Homem, das Artes e das Tecnologias


Casa da Musica.©Bert de MuynckO-A-M
blog #8
Domingo, Agosto 17, 2003
IMG - Foto: Bert de Muynck 

Num País como o nosso, onde não chegou a existir um museu de arte "moderna" e "contemporânea", internacional, digno desse nome, em todo o século 20, assistimos, neste arrancar problemático do século 21, à degradação funcional da generalidade dos museus nacionais e municipais, com exemplos tão escandalosos quanto a asfixia orçamental do Museu Nacional de Arte Antiga, a sub-optimização do precioso Museu Nacional de Etnologia, a paragem da Rede Portuguesa de Museus, ou o total abandono a que foi votada a Via Sacra setecentista do Parque Nacional do Buçaco. As lojas do Instituto Português dos Museus, as recuperações de património realizadas ao longo dos últimos 20 anos e ainda a construção do Museu de Serralves, alimentaram a esperança de vermos o Estado Português assumir alguma dignidade e algum profissionalismo nestas matérias. Enganámo-nos. Sem dinheiro para pagar aos desempregados, com as receitas fiscais a descer, com níveis de corrupção endémica insuspeitados e um Governo atolado nas suas próprias incapacidades e alianças político-sociais, o futuro que nos espera não promete nada de bom. Com a Bolsa Portuguesa à beira do fim e o esvaizamento da almofada financeira proporcionada pelos Fundos Estruturais e de Coesão, pergunto: quem irá alimentar financeiramente a Casa da Música, o CCB e o Museu de Serralves depois de 2006? Duvido que venha a ser o Estado, venha quem vier depois de Durão Barroso.

A formidável pressão que hoje se abate sobre o chamado Estado Providência, e que não cessará de aumentar nas décadas mais próximas, tenderá a induzir profundas e por vezes dramáticas reformas estruturais em todas as Administrações Públicas europeias, com consequências mais do que previsíveis nos domínios do património cultural, da actividade artística e da educação. Embora sob regimes de regulamentação governamental mais ou menos rígidos, todos estes domínios serão paulatinamente entregues à lógica da produtividade e da rentabilidade do hiper-Capitalismo. Enquanto se completa o ciclo das privatizações dos sectores da banca (falta ainda a Caixa Geral de Depósitos), dos transportes (faltam ainda a TAP, a CP e o Metro), da energia (existem ainda participações públicas nas estruturas accionistas da EDP e da Galp Energia) e das comunicações (falta privatizar os Correios de Portugal, cujo Fundo de Pensões acaba de salvar a face a um Governo sem dinheiro para pagar os subsídios de desemprego!), outros sectores de menor escala e importância vão sucumbindo à mesma lógica liberalizadora: Pousadas de Portugal, administrações hospitalares, e um dia destes, quem sabe, a rede museológica nacional e as principais universidades.
O dilema já nos bateu à porta. Não vale a pena virarmos o nariz para a Lua. Que fazer?

Poderíamos resistir, como o último dos Moicanos, em defesa da actual estrutura museológica. Mas a verdade é que a dita não presta, não cumpre, nem tem os recursos financeiros, organizativos e técnicos para se salvar da vaga privatizadora. Por outro lado, os partidos políticos que pertencem ao chamado arco do poder, há muito que deixaram de decidir sobre as transformações estruturais que atravessam o planeta. O seu poder resume-se apenas à faculdade de travar, ou acelerar, a cadência e os prazos imbuídos nas próprias dinâmicas em curso. Ou seja, o PS que vier depois do actual (se porventura for ele e não outra força partidária a perfilar-se como alternativa ao PSD) não fará nada que impeça a actual lógica das coisas chegar onde quer. E onde esta lógica implacável quer chegar chama-se Estado mínimo.

Ponhamos o problema neste pé: ou nos adiantamos à referida lógica, ou decidimos resistir. Se optarmos pela segunda hipótese, não ganharemos senão pequenas batalhas, e seremos condenados a uma lenta asfixia de todo o sistema museológico e das actividades artísticas mais dependentes da ajuda governamental. Se escolhermos a primeira estratégia, então o melhor seria elaborar desde já uma agenda de discussões sobre o futuro das relações entre, o Estado e os Museus, por um lado, e os Museus e o público, por outro.

A minha hipótese de partida é a seguinte:

A. Assegurar o princípio da não alienação do Património Cultural e Artístico do Estado. Em nenhuma circunstância, e sob nenhum pretexto ou excepção, poderá o Estado proceder à alienação de património cultural e artístico, material ou imaterial, salvo se um Referendo nacional expressamente convocado para o efeito decidir doutro modo.

B. Definir um período transitório de 10 anos com vista a uma privatização da gestão da rede nacional de museus de arte e tecnologia, através da emissão de uma licença de exploração decidida por concurso público internacional. Esta privatização deverá respeitar imperativamente os critérios técnicos e científicos internacionalmente consignados em matéria de conservação, estudo, difusão e circulação dos respectivos acervos.

C. Durante este período deveríamos fazer 4 coisas:

1 - Desenhar uma nova Lei do Mecenato efectivamente favorável ao investimento privado e cooperativo nas artes e actividades culturais;

2 - Concentrar todos os museus nacionais numa única estrutura centralizada, cujo conceito programático deveria transparecer na sua própria designação. Por exemplo: Museu Nacional do Homem, das Artes e das Tecnologias. Não é tão difícil de imaginar quanto isso: lembrem-se das redes de balcões de um banco, ou das redes de estações de serviço de uma multinacional petrolífera...

3 - Abertura dum concurso internacional para a concepção e constituição do Museu Ubíquo de Portugal (MUP), o qual viria a ser a imensa e dinâmica base de dados da nossa cultura material e imaterial acessível por intermédio de múltiplas tecnologias audiovisuais e computacionais (televisão, dvd, web, telemóvel, dispositivos ubíquos, etc.). Depois de implementado, e salvaguardado pelo menos um meio de acesso público gratuito a todos os seus conteúdos, a gestão do MUP deveria ser licenciada através de concurso público internacional devidamente organizado e acautelado.

4 - Criar uma Agência Independente das Artes (onde estejam representados de forma permanente e ajustada os criadores, os produtores, os avaliadores especializados, o mercado e o público), encarregue de apoiar estrategicamente a actividade artística e a sua difusão.
Em vez de assistirmos ao desgaste incessante do actual sistema museológico, falido, improdutivo e ineficiente, poderíamos assim desafiar o actual Governo, e sobretudo as mentalidades bem-pensantes, para um exercício de coragem intelectual e capacidade de acção. Talvez ganhassemos algum do imenso tempo perdido ao longo do século 20. -- ACP

¶ 1:43 AM

sábado, agosto 16, 2003

Nova Iorque apagada

Os piratas da luz: testemunho de Greg Palast .


Roby Bailey © New York TimesO-A-M
blog #7
Sábado, Agosto 16, 2003
img: Roby Bailey © New York Times

O apagão ocorrido ontem nos Estados Unidos e no Canadá, para além de pôr a nu a extrema fragilidade dos sistemas complexos baseados em modelos de interdependência em cascata, e ainda a surpreendente precaridade de uma infra-estrutura tão basilar e ubíqua, como é a energia eléctrica, na grande super-potência, talvez venha a contribuir para um melhor conhecimento da pandilha de fanáticos que actualmente governa a problemática nação americana. Este apagão, como ficamos a saber depois de ler o excelente testemunho de Greg Palast, é uma consequência directa do assalto canino desencadeado pelos apóstolos mais obsessivos da "des-regulamentação" contra o sistema de bens e serviços que qualquer nação deve comandar em nome do interesse público e não do apetite insaciável dos piratas do ultra-liberalismo actualmente instalados com armas e bagagens na Casa Branca. -- ACP

PS - o texto de Greg Palast foi-me remetido por Michael Albert da ZNet.

POWER OUTAGE TRACED TO DIM BULB IN WHITE HOUSE
THE TALE OF THE BRITS WHO SWIPED 800 JOBS FROM NEW YORK, CARTED OFF $90 MILLION, THEN TONIGHT, TURNED OFF OUR LIGHTS

by Greg Palast

I can tell you all about the ne're-do-wells [azelhas] that put out our lights tonight. I came up against these characters -- the Niagara Mohawk Power Company -- some years back. You see, before I was a journalist, I worked for a living, as an investigator of corporate racketeers. In the 1980s, "NiMo" built a nuclear plant, Nine Mile Point, a brutally costly piece of hot junk for which NiMo and its partner companies charged billions to New York State's electricity ratepayers.

To pull off this grand theft by kilowatt, the NiMo-led consortium fabricated cost and schedule reports, then performed a Harry Potter job on the account books. In 1988, I showed a jury a memo from an executive from one partner, Long Island Lighting, giving a lesson to a NiMo honcho on how to lie to government regulators. The jury ordered LILCO to pay $4.3 billion and, ultimately, put them out of business.

And that's why, if you're in the Northeast, you're reading this by candlelight tonight. Here's what happened. After LILCO was hammered by the law, after government regulators slammed Niagara Mohawk and dozens of other book-cooking, document-doctoring utility companies all over America with fines and penalties totaling in the tens of billions of dollars, the industry leaders got together to swear never to break the regulations again. Their plan was not to follow the rules, but to ELIMINATE the rules. They called it "deregulation."
It was like a committee of bank robbers figuring out how to make safecracking legal. But they dare not launch the scheme in the USA. Rather, in 1990, one devious little bunch of operators out of Texas, Houston Natural Gas, operating under the alias "Enron," talked an over-the-edge free-market fanatic, Britain's Prime Minister Margaret Thatcher, into licensing the first completely deregulated power plant in the hemisphere.

And so began an economic disease called "regulatory reform" that spread faster than SARS. Notably, Enron rewarded Thatcher's Energy Minister, one Lord Wakeham, with a bushel of dollar bills for 'consulting' services and a seat on Enron's board of directors. The English experiment proved the viability of Enron's new industrial formula: that the enthusiasm of politicians for deregulation was in direct proportion to the payola provided by power companies.
The power elite first moved on England because they knew Americans wouldn't swallow the deregulation snake oil easily. The USA had gotten used to cheap power available at the flick of switch. This was the legacy of Franklin Roosevelt who, in 1933, caged the man he thought to be the last of the power pirates, Samuel Insull. Wall Street wheeler-dealer Insull creator of the Power Trust, and six decades before Ken Lay, faked account books and ripped off consumers. To frustrate Insull and his ilk, FDR gave us the Federal Power Commission and the Public Utilities Holding Company Act which told electricity companies where to stand and salute. Detailed regulations limited charges to real expenditures plus a government-set profit. The laws banned "power markets" and required companies to keep the lights on under threat of arrest -- no blackout blackmail to hike rates.

Of particular significance as I write here in the dark, regulators told utilities exactly how much they had to spend to insure the system stayed in repair and the lights stayed on. Bureaucrats crawled along the wire and, like me, crawled through the account books, to make sure the power execs spent customers' money on parts and labor. If they didn't, we'd whack'm over the head with our thick rule books. Did we get in the way of these businessmen's entrepreneurial spirit? Damn right we did.

Most important, FDR banned political contributions from utility companies -- no 'soft' money, no 'hard' money, no money PERIOD.

But then came George the First. In 1992, just prior to his departure from the White House, President Bush Senior gave the power industry one long deep-through-the-teeth kiss good-bye: federal deregulation of electricity. It was a legacy he wanted to leave for his son, the gratitude of power companies which ponied up $16 million for the Republican campaign of 2000, seven times the sum they gave Democrats.

But Poppy Bush's gift of deregulating of wholesale prices set by the feds only got the power pirates halfway to the plunder of Joe Ratepayer. For the big payday they needed deregulation at the state level. There were only two states, California and Texas, big enough and Republican enough to put the electricity market con into operation.

California fell first. The power companies spent $39 million to defeat a 1998 referendum pushed by Ralph Nadar which would have blocked the de-reg scam. Another $37 million was spent on lobbying and lubricating the campaign coffers of legislators to write a lie into law: in the deregulation act's preamble, the Legislature promised that deregulation would reduce electricity bills by 20%. In fact, when San Diegans in the first California city to go "lawless" looked at their bills, the 20% savings became a 300% jump in surcharges.

Enron circled California and licked its lips. As the number one life-time contributor to the George W. Bush campaign, it was confident about the future. With just a half dozen other companies it controlled at times 100% of the available power capacity needed to keep the Golden State lit. Their motto, "your money or your lights." Enron and its comrades played the system like a broken ATM machine, yanking out the bills. For example, in the shamelessly fixed "auctions" for electricity held by the state, Enron bid, in one instance, to supply 500 megawatts of electricity over a 15 megawatt line. That's like pouring a gallon of gasoline into a thimble -- the lines would burn up if they attempted it. Faced with blackout because of Enron's destructive bid, the state was willing to pay anything to keep the lights on.

And the state did. According to Dr. Anjali Sheffrin, economist with the California state Independent System Operator which directed power movements, between May and November 2000, three power giants physically or "economically" withheld power from the state and concocted enough false bids to cost the California customers over $6.2 billion in excess charges.
It took until December 20, 2000, with the lights going out on the Golden Gate, for President Bill Clinton, once a deregulation booster, to find his lost Democratic soul and impose price caps in California and ban Enron from the market.

But the light-bulb buccaneers didn't have to wait long to put their hooks back into the treasure chest. Within seventy-two hours of moving into the White House, while he was still sweeping out the inaugural champagne bottles, George Bush the Second reversed Clinton's executive order and put the power pirates back in business in California. Enron, Reliant (aka Houston Industries), TXU (aka Texas Utilities) and the others who had economically snipped California's wires knew they could count on Dubya, who as governor of the Lone Star state cut them the richest deregulation deal in America.

Meanwhile, the deregulation bug made it to New York where Republican Governor George Pataki and his industry-picked utility commissioners ripped the lid off electric bills and relieved my old friends at Niagara Mohawk of the expensive obligation to properly fund the maintenance of the grid system.
And the Pataki-Bush Axis of Weasels permitted something that must have former New York governor Roosevelt spinning in his wheelchair in Heaven: They allowed a foreign company, the notoriously incompetent National Grid of England, to buy up NiMo, get rid of 800 workers and pocket most of their wages - producing a bonus for NiMo stockholders approaching $90 million.

Is tonight's black-out a surprise? Heck, no, not to us in the field who've watched Bush's buddies flick the switches across the globe. In Brazil, Houston Industries seized ownership of Rio de Janeiro's electric company. The Texans (aided by their French partners) fired workers, raised prices, cut maintenance expenditures and, CLICK! the juice went out so often the locals now call it, "Rio Dark."

So too the free-market cowboys of Niagara Mohawk raised prices, slashed staff, cut maintenance and CLICK! -- New York joins Brazil in the Dark Ages.
Californians have found the solution to the deregulation disaster: re-call the only governor in the nation with the cojones to stand up to the electricity price fixers. And unlike Arnold Schwarzenegger, Gov. Gray Davis stood alone against the bad guys without using a body double. Davis called Reliant Corp of Houston a pack of "pirates" --and now he'll walk the plank for daring to stand up to the Texas marauders.

So where's the President? Just before he landed on the deck of the Abe Lincoln, the White House was so concerned about our brave troops facing the foe that they used the cover of war for a new push in Congress for yet more electricity deregulation. This has a certain logic: there's no sense defeating Iraq if a hostile regime remains in California.

Sitting in the dark, as my laptop battery runs low, I don't know if the truth about deregulation will ever see the light --until we change the dim bulb in the White House.


Palast is the author of the New York Times bestseller, "The Best Democracy Money Can Buy" (Penguin USA 2003) and the worstseller, "Democracy and Regulation," a guide to electricity deregulation published by the United Nations (2003, written with T. MacGregor and J. Oppenheim). See Greg Palast's award-winning reports for BBC Television and the Guardian papers of Britain at www.GregPalast.com. Contact Palast at his New York office: media@gregpalast.com.


Another interesting view:
Village Voice
Pataki Policies Put Us at the Blackout Brink
August 20 - 26, 2003
New York's Prince of Darkness by Wayne Barrett

¶ 12:54 AM