quarta-feira, janeiro 19, 2011

Bolha fatal

Comissão Europeia aposta no gás de xisto
Shale gas is the subprime mortgage of the energy sector” — Jeff Rubin.



Protests spread over first European shale gas well

While the EU is looking at ways to diversify its energy supply, a new report has called for a moratorium on shale gas operations in the UK, just a month before mining company Cuadrilla hopes to launch its first “flare”.

(…) “With shale gas exploration you need to crack the rock underground using special chemicals and drill horizontally and continuously. Parts of the chemicals could get into underground drinking water sources,” he said.

(…) A European Commission representative gave a broadly positive reaction to the news.

“We believe that shale gas is an opportunity,” Marlene Holzner, spokesperson for EU Energy Commissioner Günther Oettinger, told EurActiv. “We need gas and gas demand will increase over the years so if we’re able to extract this gas, it will help us to rely less on imports.” — in EurActiv, 2011-01-18.

Compreende-se o desespero do Reino Unido e da Noruega depois de se ter tornado público e notório o declínio rápido das suas reservas de petróleo. Compreende-se o desespero dos países frios da União Europeia à medida que vão percebendo a sua dramática dependência do gás natural russo para se aquecerem em Invernos cada vez mais gélidos e intempestivos. O petróleo de Brent chegou hoje aos 97,09 USD.

Os países e as pessoas estão cada vez mais endividados, numa conjuntura de crise sistémica do Capitalismo, numa conjuntura de verdadeiro saque fiscal das populações europeias, e numa conjuntura de destruição de emprego e empobrecimento como não se via na Europa há décadas. Como se isto não bastasse, os grandes piratas da economia ocidental, que atraíram milhões de pessoas, centenas de milhar de empresas, centenas de cidades e dezenas de estados para falência, tentam agora desesperadamente colocar em marcha mais uma bolha especulativa.

A primeira tentativa falhada, depois do colapso imobiliário, foi a do nado-morto mercado mundial de créditos de carbono, que se havia pendurado habilmente nos movimentos anti aquecimento global. A segunda, foi e continua a ser a especulação em volta das dívidas soberanas, colocadas “no mercado” (para citar as palavras do nosso Pinóquio das arábias), como mais um produto de especulação financeira. Esta bolha vai esvaziar em breve, seja pela acção preventiva e ajuizada de Angela Merkel, seja pelo abandono progressivo do dólar, por parte dos principais países produtores de matérias primas e produtos manufacturados. Perante horizonte tão negro, o especulador dos especuladores, e criador do veneno chamado Credit Default Swap, J. P. Morgan & Co., acaba de fazer ressuscitar uma história com barbas, de que já se ouvira falar por cá em 2009: a suposta riqueza da Europa em gás de xisto (ou shale gas). Este milagre da especulação que algum corrupto lobby de Bruxelas acaba de lançar para o ar, além de consumir quantidades criminosas de água, de ameaçar com infiltrações potencialmente fatais terrenos, aquíferos e as próprias instalações urbanas existentes, sabe-se de ciência feita que é uma não solução, economicamente ruinosa, e com uma taxa de declínio duas vezes mais rápida do que a do gás natural convencional. Tal como o petróleo betuminoso, e o petróleo de profundidade, das ditas camadas pré-sal (com que a GALP e a Petrobras gostam de empolar as suas cotações em bolsa), o gás de xisto não dá para o que custa produzi-lo. Logo, é mais uma lebre para nos distrair, enquanto o Titanic da prosperidade económica, social e cultural do Ocidente caminha para uma irremediável decadência.
Unconventional Gas in Europe - Opportunities and Risks
By Alexandros Petersen, 6th January 2011

Bullish predictions are being made about a revolution in unconventional gas in Europe; yet, Europe’s threshold for larger-scale shale gas development still remains uncertain, with a range of obstacles – from environmental concerns to economic viability - balancing out the various incentives to move forward.  Unconventional gas, such as shale and tight gas, has had a dramatic impact on the US gas market, increasing energy security and steering prices downward as production and resources have headed in the opposite direction.  By 2008, shale alone accounted for 9.5% of all US gas production and by 2009, according to some estimates, 20% of US gas supply came from this source. Following these successes, Europe is now being aggressively explored for its suitability in terms of unconventional gas production as it hopes to follow in the footsteps of its transatlantic partner.  There has been a significant uptick in activity and dealmaking focusing on European shale in just the last six months. However, the picture in Europe is very different from the United States and, from an economic perspective, the play may not bear fruit.

É o gás de xisto a tal bala de prata que levará os Estados Unidos e a Europa a superar a profunda e longa crise em que se encontra? “If shale gas is a game changer, then why are all the major producers looking for oil??” — pergunta e responde Jeff Rubin. Vale a pena ouvi-lo na entrevista que deu no passado dia 13 de Janeiro ao canal BNN video.


POST SCRIPTUM
Para quem estiver interessado em colocar este tema na agenda da cidadania pró-activa, recomendo o portal web Gasland, de Josh Fox. E ainda a consulta deste insidioso PDF da Statoil (companhia norueguesa estatal de petróleos) sobre o futuro radiante do shale gas.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Tunísia, Argélia... Irlanda?

A Europa que abra os olhos!



Tunísia: O desempregado que derrubou um ditador

Na Tunísia, como em outros tantos países, não são as qualificações ou o mérito que determinam o sucesso. É antes o nome, o casamento ou a filiação partidária.

No desemprego, Bouazizi viu-se forçado a vender frutas e legumes nas ruas da sua cidade natal do centro-oeste, Sidi Bouzid, para alimentar a família. Mas não tinha a necessária licença de comércio, difícil de obter no labirinto da burocracia e corrupção tunisina. A 17 de Dezembro de 2010, a polícia confiscou-lhe a banca e a balança. Segundo testemunhos locais, terá sido agredido e humilhado pelas autoridades.

Nessa mesma sexta-feira, Bouazizi deslocou-se à autarquia de Sidi Bouzid para tentar regularizar a situação. Não conseguiu. Com o dinheiro que restava, comprou um litro de gasolina. Despejou o combustível sobre a cabeça e imolou-se pelo fogo.  — pedro.guerreiro{arroba}sol{ponto}pt . Sol, 2011-01-15.

Feliz ou infelizmente, a Europa envelheceu muito nas últimas décadas, e por esta única razão é altamente improvável que as suas crises venham a ser resolvidas por meio de revoluções sociais violentas. Com a possível excepção da Irlanda, onde a juventude poderia assumir ainda algum protagonismo (se não emigrasse tanto...), o resto da Europa, e mais ainda a Rússia, mas também a China, o Canadá e os Estados Unidos, ou a Austrália e a África do Sul, a Namíbia, o Botswana e o Zimbabué, exibem demografias praticamente estagnadas ou a caminho da estagnação. Pelo contrário, países como a Índia, Paquistão, Afeganistão e repúblicas do Mar Cáspio, à excepção do Casaquistão, o Sudeste Asiático e quase todo o continente africano, e ainda o México e toda a América Central e do Sul, à excepção de Cuba, da Guiana Francesa e do Uruguai, apresentam demografias pujantes, apesar da miséria material da esmagadora maioria das suas populações. Sem olharmos bem para este mapa demográfico da humanidade, dificilmente perceberemos as tendências de longo prazo, e até as modalidades prováveis de evolução histórica dos acontecimentos.

O que está neste momento a desenrolar-se na solarenga Tunísia, e que alastrou já à Argélia, Marrocos, Jordânia, Líbano e Egipto, e em breve poderá chegar à Arábia Saudita, é uma resposta social à crise energética mundial e suas consequências nefastas em toda a cadeia económica. Mas é também um despertar de energias revolucionárias que poderá deixar para trás o programa ideológico limitado e as tácticas terroristas de Bin Laden. A Al Jazeera escreve: “Tunisians have sent a message to the Arab world, warning leaders they are no longer immune to popular anger” — inTo the tyrants of the Arab world...” E no boletim deste mês do GEAB lê-se:
The downfall of pro-Western Arab regimes

Tunisia and Algeria were rocked by riots and Jordan, Egypt and Lebanon are experiencing serious problems. Beyond the reactions to higher prices for basic necessities, it is the first political shock of the "fall of the Dollar Wall". The regimes in question are typically powers supported at arm's length by Western money, that’s to say basically the US Dollar. The rapid erosion of Western credibility and financial resources especially US is already beginning to make itself felt, just like European impotence outside its borders. These countries’ elite are accustomed to feel "untouchable" thanks to their US and European protectors: their fall will be brutal as they realize only now that the "West" can’t really protect them. At least Mikhail Gorbachev warned Eastern European leaders that the Red Army would no longer intervene to support them! 2011 will, therefore, be the year when the "Western-Arab dominoes" start to fall. — in GEAB nr 51 - January 16, 2011.

De cada vez que é mais caro extrair um barril de petróleo, e de cada vez que a procura mundial de petróleo aumenta, por efeito do crescimento demográfico exponencial da humanidade, da expansão económica mundial, ainda que abaixo dos 4% (como se prevê para 2011), ou de um mero ciclo expansivo da produção industrial (como o que actualmente regista a Alemanha), acontece uma coisa inevitável: o preço real da alimentação sobe! E porquê?

Porque só é possível alimentar os actuais 6.900 milhões de seres humanos recorrendo ao auxílio de fertilizantes, pesticidas e sistemas de transporte dependentes do petróleo e do gás natural. Sem estes dois hidrocarbonetos, mesmo juntando ao carvão e ao nuclear todas as outras formas de energia em uso, incluindo todas as renováveis existentes e por existir, não há pão, nem água para todos. O pão que houver, e a água potável que houver, à medida que formos tendo consciência do fim do petróleo barato, serão cada vez mais caros e racionados.

O que está a suceder na Tunísia é o resultado de uma crise de recursos global. Subida insustentável dos preços do pão, água e energia, falta de dinheiro, falência das actividades empresariais, das cidades e dos governos, desemprego em larga escala, e uma corrupção cada vez mais descarada e insultuosa, são os mesmíssimos fenómenos que actualmente afligem as sociedades portuguesa, espanhola, grega, ou norte-americana. Há, porém, duas diferenças importantes: por um lado, as moedas fortes europeia e americana disfarçam, por enquanto, a especial gravidade da situação nos respectivos territórios económicos; por outro, a probabilidade revolucionária é mais elevada em países com demografias expansivas, onde corre o sangue jovem da rebelião, do que nos países envelhecidos (onde o tempo dos golpes palacianos, como na antiga Roma decadente, voltará a estar na moda.)

A guerra contra o Afeganistão, levada a cabo pela decadente civilização ocidental, é uma guerra de velhos, tecnologicamente assistidos por próteses sofisticadas e traiçoeiras, contra populações jovens que aspiram, como todos nós, ao bem-estar e à felicidade. O desfecho parece inexorável. Acabaremos por perder!

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO : 2011-01-18 0:56

BP: Bolshoi Petroleum

Sem especulação, o capitalismo actual afunda-se como um Titanic
The Kremlin is about to become the biggest shareholder in BP

BP is set to do a $16bn share swap with Rosneft, Russia’s biggest oil producer. Rosneft – which is state-owned, hence the Kremlin connection – will own 5% of BP. BP’s stake in Rosneft will rise to near 11%.
So what’s behind the deal? It’s all about access to new reserves. BP is going to explore the Russian Arctic with Rosneft. This is a complicated, risky region. That’s why Rosneft needs BP’s expertise. The payoff could be huge – the region has been described as a new North Sea, in terms of its potential. — Money Week, 2011-01-17.
Para lá de toda a esperança em novas jazidas de petróleo escondidas pelo gelo do Árctico, o que está em causa nestes movimentos são três coisas distintas:
  1. negociar parcerias estratégicas onde o poder das armas deixou de funcionar — este cruzamento de participações poderá significar, em breve, impensáveis aproximações da BP ao Irão.
  2. aumentar os activos estratégicos das empresas, por forma a apreciar as respectivas cotações em bolsa, sem o que as gigantescas necessidades de capital fresco para investir, e sobretudo para pagar dívidas, não afluirá facilmente (por cá, insisto na observação atenta dos casos EDP e GALP, ambas presas apetecíveis e cada vez mais indefesas!)
  3. reparar o motor de arranque da economia capitalista mundial, i.e. as bolsas, para o que se procuram desesperadamente novas bolhas especulativas, que possam reparar o colapso da bolha imobiliária que antecedeu o colapso à vista da bolha soberana; e substituir as tentativas falhadas de criar duas bolhas verdes, uma a partir do mercado de emissões de carbono, e outra em volta das energias eólicas e solar. Há presentemente duas bolhas em formação, que poderão rebentar antes do tempo, mas ainda assim estão aí: a bolha do gás de xisto (shale gas), e a bolha do que poderíamos chamar a GLOBALIZAÇÃO IMPROVÁVEL —i.e. o cruzamento de participações entre gigantes económico-financeiros politicamente inimigos!

REFERÊNCIAS

domingo, janeiro 16, 2011

O Aviso

Tragédia dos Comuns
mais importante do que uma tempestade solar




Ver todo o documentário no sítio da Frontline.

O custo estimado da prevista grande tempestade solar de 2013 — 1 a 2 biliões de USD (o Furaccão Katrina terá custado entre 80 a 125 mil milhões) — é ainda assim insignificante quando comparado com o buraco negro dos derivados financeiros OTC, cujo valor nocional era, em Junho de 2010, segundo o BIS, de US$582.655.000.000.000 (10x o PIB mundial), e a que corresponderá, segundo o mesmo "banco dos bancos centrais", um valor bruto de mercado na ordem dos 24,673 biliões de USD.

Estamos pois a caminho de uma inimaginável tragédia com uma origem estrutural única: a exaustão dos recursos energéticos e naturais do planeta, que é, por sua vez, consequência paradoxal da insustentável demografia humana tornada possível pela qualidade do nosso desenvolvimento. É isto a Tragédia dos Comuns.

A crise mundial do endividamento, a que deram livre curso a desregulação da era Greenspan (de Clinton a Bush) e os instrumentos de especulação financeira, engendrados em 1987 por Drexel Burnham Lambert (os catastróficos CDO — Credit Default Obligation), ou em 1994, pelo J.P. Morgan & Co. (os catastróficos CDS — Credit Default Swaps), significa não só uma clara fuga em frente perante as dificuldades estruturais do Capitalismo, mas sobretudo a ocultação criminosa do que a crise petrolífera de 1972 significara: o fim próximo de um concentrado de energia e de materiais químicos acumulados ao longo de centenas de milhões de anos, cuja descoberta tornou possível as sociedades industriais afluentes dos últimos duzentos anos e a insustentável explosão demográfica da humanidade. Não vale a pena perdermos demasiado tempo com o jogo da culpa. Estamos perante uma emergência sem precedentes. É preciso pensar nas suas consequências, bem como nas respostas e custos das acções radicais que em breve seremos todos forçados a tomar.

A segurança e eficiência energéticas, e a autonomia e segurança alimentares, são as duas prioridades absolutas para qualquer país, ou grupo de países, que queira e possa agir desde já. Tudo o mais pode esperar.

É importante perceber as causas da actual crise sistémica do Capitalismo, contornando ao mesmo tempo a irresponsabilidade dormente dos bangsters e do seus spin doctors, e as orações cada vez mais ininteligíveis dos herdeiros oportunistas e burocráticos da esquerda marxista.

J20

Caça furtivo chinês chega uma década antes do previsto

China Flexes Its Muscles with Stealth Fighter Test

For a stealth fighter, it was a remarkably obvious flight, but perhaps that was the point. On a day when U.S. Defense Secretary Robert Gates was in Beijing meeting with Chinese President Hu Jintao, China's new stealth fighter took what is believed to be its maiden test flight, according to a defense analyst.

(…) While en route to Beijing, Gates told reporters that the U.S. had been tracking the development of China's stealth fighter but that the earlier tests had come as something of a surprise. "They may be somewhat further ahead in the development of that aircraft than our intelligence had earlier predicted," he said. — Read more in TIME.




As imagens captadas pelos planespotters chineses, que as autoridades de Pequim deixaram passar, revelam um facto muito importante: a China está adiantada no plano que traçou para a expansão da sua influência no mundo. A explicação deste adiantamento pode residir na própria crise sistémica do Capitalismo. O colapso precipitado e aparentemente incontrolável do Ocidente, sobretudo depois de rebentar a bolha incomensurável do mercado de derivados financeiros, não pára de fazer vítimas —mercado imobiliário, bancos, e agora as dívidas soberanas. O nervosismo, a impaciência e as explosões súbitas de violência, nomeadamente contra os poderes instituídos, começaram já a fazer as suas vítimas. Como se isto não bastasse, temos pela frente a confluência de duas crises anunciadas: a crise das alterações climáticas, e a crise energética global induzida pelo fim do petróleo barato. A inflação dos preços alimentares e o colapso, em breve, do sistema de transportes de pessoas e bens que há décadas usamos e consideramos uma trivialidade insubstituível, ameaçam já de forma grave —para lá de toda a retórica e impotência dos últimos dez anos— a segurança mundial.



Não é possível uma acumulação de riqueza e poupança, rápida e em grande escala, sem pelo menos uma de duas condições prévias: a sobre-exploração do trabalho humano, ou o acesso não limitado a abundantes recursos materiais, energéticos e alimentares. Pior ainda, nas actuais condições demográficas e de esgotamento das fontes de energia barata, de escassez de água potável, e de exaustão dos solos, ainda que regressássemos à escravatura, seria impossível alimentar a actual população mundial para lá de 2030, ou 2050. Desde 1972 que se prevê um colapso demográfico sem precedentes como desenlace possível da insustentabilidade do actual crescimento exponencial da humanidade e consequente decréscimo, igualmente exponencial, dos recursos disponíveis. Sem percebermos isto, não saberemos como, nem porquê, os poderes do mundo iniciaram a contagem decrescente de uma nova guerra mundial.

sábado, janeiro 15, 2011

Bangsters!

A China entra no próximo dia 3 de Fevereiro no ano do coelho.
E nós também. Saltam por todos os lados!



Pois é, o senhor Cavaco saiu-me um bom figurão. De acima de toda a suspeita, nada! Com mais umas  semanas de revelações ainda se punha em marcha um processo de Impeachment. Só não percebo o motivo porque a Tríade de Macau agiu tão tarde. Erro de cálculo, ou cálculo certeiro?

A minha teoria é há muito esta: a Tríade de Macau prefere ter o amigo da sociedade de bangsters SLN/BPN prisioneiro das suas inconfessáveis distracções, inconveniências, prováveis ilegalidades e escandalosas solidariedades.

Mas como o desajeitado Silva resolveu atacar a actual monitorização do BPN, os alarmes tocaram em São Bento, e a resposta não se fez esperar, contundente. Será possível arrefecer depois das eleições a actual dinâmica de embate fatal? Não sei...

Tenho, no entanto, um palpite: a Tríade de Macau não vai deixar cair no regaço dos bangsters do BPN toda a sementeira que fizeram no Brasil, Líbia, Argélia, Venezuela e China!

Fernando Fantasia, administrador da SLN e membro da Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva, comprou 4000 hectares de terrenos em Alcochete (por 250 milhões de euros?) 15 dias antes de Sócrates ter anunciado o fim do embuste da Ota. Se compaginarmos isto com a tentativa insistente e já desesperada de boicotar a nova ligação ferroviária rápida, para passageiros e mercadorias, entre Lisboa (Sines-Setúbal) e Madrid (resto de Espanha), em nome da construção duma cidade aeroportuária (Augusto Mateus dixit) e de um novo aeroporto em Alcochete, com a consequente privatização da ANA, percebemos melhor os altos serviços que o traste Cavaco Silva poderá prestar à Nação. Votem nele, votem. Mas depois não se queixem!

O novo aeroporto de Alcochete é uma impossibilidade económica e financeira comprovada. A sua construção seria mais um prego no caixão de Portugal. Não nos esqueçamos que foram as Olimpíadas e o novo aeroporto de Atenas os principais responsáveis pela precipitação do colapso económico, financeiro e social da Grécia!

Jorge Coelho, Passos de Coelho, Aldeia da Coelha — vamos mesmo entrar no ano do coelho! Mas aquele de quem gosto mais é mesmo o candidato madeirense às presidenciais, José Manuel Coelho. Sinal dos tempos...

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Pequim, meu amor!

TOYOTA: “Where there is a road, there is a Toyota.”
VW: “I’m not afraid of going anywhere in a Santana.”

Em 1992 a China produzia 1M de automóveis; em 2001, 2M, e em 2010: 18 Milhões!

Xangai: a China comprou 999 Ferrari desde 2004.
"China and Germany have never come face-to-face with conflict or dispute in history. Besides, Chinese think highly of German's sincere apology after World War II. That's why I say Germany has a natural advantage over Japan." — Yan Guangming in "European automakers cash in on China car boom" China Daily, 2011-01-14".
A China tornou-se em 2010 no maior construtor de automóveis do planeta, ultrapassando os EUA. E nesta corrida, convém dizer que o grande símbolo de identidade entre a nova China e o automóvel vem da Alemanha, mais precisamente da Volkswagen, e chama-se Santana.

Recordo a primeira vez que estive em Xangai, no ano de 1999, a impressão que então me causou o facto de nove em cada dez carros que me passavam pela frente, com especial destaque para os táxis, serem Santanas às cores, metalizados, com frisos e para-choques cromados, vidros negros atrás, estofos claros, e quando se tratava de um táxi, ao lado do motorista, a presença quase misteriosa, mas invariável, de um frasco de chá verde, entre os bancos da frente ou fixo em qualquer parte do tablier.

Mais recentemente, em 2008, estive em Pequim, poucas semanas antes do Jogos Olímpicos. O panorama automóvel já era outro, mas nem por isso menos alemão. Em vez da predominância dos velhos Santanas, abundavam, entre os táxis, os Volkswagen Jetta, em concorrência evidente com os sul-coreanos Hyundai Elantra ou mesmo Sonata. Mas o mais impressionante foi a abundância de Audis 6 e 8, e de Mercedes topo de gama, que desfilavam à porta do hotel e pelas ruas. Na zona onde estive durante uma semana, relativamente perto da Cidade Proibida e da Praça de Tianamen, não vi nenhum Ferrari, mas sim um esplêndido Porche 911 amarelo, descapotável, com o qual me cruzei, eu a pé, e ela ao volante, pelo menos meia dúzia de vezes.
Luxury carmakers are gearing up for rich pickings in the Chinese market

“By the end of 2009, the Chinese mainland had 875,000 millionaires, up 6.1 percent year-on-year, according to the 2010 Hurun Wealth Report - and top-end cars are on top of shopping lists of wealthy Chinese.”

“…By the end of 2009, the Chinese mainland had 875,000 millionaires, up 6.1 percent year-on-year, according to the 2010 Hurun Wealth Report - and top-end cars are on top of shopping lists of wealthy Chinese.”

“…In the first 11 months of last year, Audi’s China’s sales topped 200,000 units, maintaining its two-decade reign in the country’s luxury car market. But rivals BMW and Mercedes-Benz are not far behind.

From January to November 2010, BMW sold 152,866 vehicles - a massive rise of more than 90 percent from a year earlier - and Mercedes-Benz moved 129,500 vehicles in the same period, swelling 119 percent.” — in Posh parade, China Daily, 2011-01-14.

Imagino que dois anos e meio depois, com a economia alemã a crescer 3,6% em 2010, as ruas de Pequim comecem a polvilhar-se com outras marcas, mais liberais e menos institucionais: os BMWs, os Porches, e um número crescente de exemplares vermelhos do sempre irresistível Ferrari. Os chineses adoram o vermelho, o desenho europeu, e sobretudo a qualidade, fiabilidade e honestidade alemãs. Não são muito diferentes dos portugueses. Na realidade, somos dois países do mesmo signo: Peixes!

O rendimento disponível médio dos habitantes de Pequim (ler este  elucidativo artigo do China Daily) rondava, em 1983, os 5,7 euros mensais. Em 2010, chegou aos 2228 Yuan, ou seja, 256 euros. A moral da história é clara: enquanto a China enriquece a olhos vistos, americanos e europeus, sobretudo os europeus menos organizados e menos competitivos, como é o nosso triste caso, estão a empobrecer.

Em Portugal, apesar de ser quase impossível saber qual é o rendimento disponível per capita em Lisboa e no Porto, tal é a pobreza da informação económica disponível online, podemos fazer uma conta simples: se ao salário médio, de 894 euros, retirarmos 30% para impostos, obtemos um rendimento disponível mensal na ordem dos 626 euros. Como o desemprego continua a aumentar, nomeadamente em consequência do colapso financeiro do país e dos seus insustentáveis níveis de endividamento, é de prever que este valor continue a degradar-se. Resumindo: entre Lisboa e Pequim, o custo do trabalho já é irrelevante para o sucesso dum negócio. As rendas comerciais e de habitação são mais elevadas na capital chinesa do que em Lisboa, os serviços andam ela por ela, os impostos são mais baixos na China do que em Portugal (obviamente!) e, por fim, oportunidade e mercado são coisas que não faltam a oriente, e parecem ter-se evaporado no Ocidente. A conclusão do raciocínio é irrecusável: há que aprender Mandarim, e depressa.

A marca de roupa barata sueca H&M vai encerrar em breve a sua produção em Portugal. O motivo é simples de entender: só conseguem produzir trapos a custo zero se o trabalho for de borla. Ora o trabalho no nosso país já não é de borla, felizmente. Mas também na China deixou de ser! De facto, as fábricas que da Europa e da América se deslocaram para a China nas décadas de 80 e 90 do século passado, estão já a deslocalizar-se para novas paragens: Vietname, Cambodja e... México!

Em Portugal, se não nos libertarmos a tempo da democracia burocrática, palaciana, partidocrata e corrupta que nos conduziu até ao actual atoleiro, ainda acabaremos por importar, com fanfarras sindicais atrás e tudo, as maquiladoras de Tijuana e Ciudad Juarez para repovoar o Vale do Ave.

É preciso corrigir drasticamente o comportamento político das nossas elites burocráticas, ou a sua acção irresponsável e egoísta acabará por destruir o país. O maná acabou. Ajustar toda uma tradição colonial a novas regras de racionalidade, honestidade e inteligência colectiva, vai ser o nosso maior desafio, nesta e na próxima década.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 2011-01-14 17:39