A tragédia dos comuns é dupla se libertarmos o uso insustentável do que é de todos, da inércia e do egoísmo colectivos, para o entregarmos à ganância dos especuladores financeiros
Tâmega - Eutrofização - Tujidos - Amarante ©Foto: Anabela Matias de Magalhães |
Alargar a luta pelo direito à água
Mais de cem representantes de diversas organizações representativas da sociedade portuguesa deram corpo ao primeiro Encontro Nacional da Água e aprovaram um manifesto que reafirma o firme empenhamento em prosseguir os princípios e objectivos da campanha «Água é de todos, não o negócio de alguns», nomeadamente «o desenvolvimento de acções em defesa da água pública e a sua disponibilidade para trabalhar com outros movimentos que lutam contra a privatização da água e serviços públicos essenciais, convictos de que este é o caminho para a construção de uma sociedade mais justa, progressista e solidária» — in A Água é de todos.
Não podemos permitir que a voragem especulativa dos piratas que levaram Portugal à bancarrota prossiga agora sob o patrocínio do liberalismo retardatário, da distracção, ou da hipocrisia dissimulada dos novos governantes. Álvaro Santos Pereira e Assunção Cristas (o que começou bem pode acabar depressa e mal!) têm que se entender sobre o que é vital para o país, e não deixarem-se influenciar pelo poder da corrupção, que não desiste.
A água potável é um bem comum, cuja gestão deve ser publicamente controlada, límpida e cristalina, equilibrada, acautelando assim a gestão sustentável de um bem que é cada vez mais escasso e pertence à vida, não a uma turma de imbecis ávida de automóveis de alta cilindrada!
As albufeiras geridas pela EDP, por exemplo, estão em processo acelerado de eutrofização, por manifesta incúria e incumprimento contratual. A única coisa que preocupa o senhor Mexia são os lucros e as cotações do PSI20. Pois bem, por aí também já não chegará a parte alguma!
Sócrates, o capturado INAG e as Águas de Portugal levaram aliás a cabo um processo de privatização irresponsável da exploração do domínio público hídrico nacional, juntando à lógica do capitalismo burocrático, endogâmico e rendeiro, que nos conduziu à bancarrota, a adesão indígena e provinciana à lógica especuladora das bolhas financeiras que fazem do bem comum mais um casino para as suas orgias.
Uma das causas da eutrofização das albufeiras, nomeadamente no rio Douro, é o excesso de nutrientes azotados que escorrem das explorações vinícolas e olivícolas intensivas. Se queremos manter viva a bacia hídrica do rio Douro teremos que dar prioridade ao vinho e ao azeite biológicos!
Aliás, Portugal deveria seguir o exemplo da Áustria: avançar rapidamente para uma agricultura e uma silvicultura biodinâmicas, sem químicos prejudiciais, nem OGMs. A vantagem competitiva seria óbvia e poder-se-ia finalmente aumentar a segurança alimentar do país — com uma sustentada diminuição da nossa dependência das importações.
Este governo tem muito por onde começar, se quiser preparar as bases para um novo paradigma de sustentabilidade económica do país. Mas para isso, deve agir já, começando por colher e deitar no balde da compostagem todos os frutos podres da árvore da administração pública, incluindo todo o seu perímetro empresarial. E em paralelo, tem que puxar pela imaginação e pela criatividade, tem que chamar os melhores, e tem que desafiar o país a libertar-se do torpor que o mantém em estado praticamente vegetativo.
POST SCRIPTUM
Depois de publicado este artigo li a opinião de Luís Todo Bom sobre a polémica em volta da anunciada privatização da Águas de Portugal, explicitando a sua oposição à privatização da AdP, uma empresa de direito comercial privado, mas com capitais 100% públicos e um passivo de mais de 6 mil milhões de euros! Cabe perguntar qual foi afinal a vantagem de se ter constituído um tal modelo de empresa. Só se foi para permitir endividar o país sem dar cavaco ao Orçamento de Estado, permitindo, claro está, remunerar escandalosamente os boys&girls lá colocados e comprar frotas automóveis de luxo.
act. 29-10-2011 15:20
4 comentários:
http://www.portugal.gov.pt/pt/GC19/Governo/Perfis/Pages/DiogoSantiagoAlbuquerque.aspx
E uma pergunta: Como é que este cromo chegou a estagiário da Comissão Europeia em 1997 quando só terminou a licenciatura em 1999? (Sendo que é necessário, no mínimo, ter a licenciatura para ser admitido no programa de estágios da Comissão Europeia?)
Olá António!
Obrigada pela ampliação da catástrofe do Tâmega. Não sei se conhece outras fotografias que fiz sobre o fenómeno horripilante da eutrofização no Tâmega. Deixo-lhe o link, no caso de as querer espreitar.
Abraço!
http://anabelapmatias.blogspot.com/search/label/Ambiente
Já espreitei :(
A Assunção Cristas deve provavelmente pensar que o verde é muito giro!
Fui ler o CV do actual secretário de estado do ambiente e ordenamento do território, da advogada Cristas. Fiquei aterrado! Do ambiente?!!!!
http://www.portugal.gov.pt/pt/GC19/Governo/Perfis/Pages/PedroAfonsodoPaulo.aspx
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