Ota inviável
O ministro Mário Lino, pelos vistos, teve que meter a viola no saco e ceder às pressões do aparelho partidário (sobretudo dos boys & girls do PS) no que se refere à inexplicada urgência de avançar para o grande aeroporto internacional da Ota. O pessoal mais ávido exigiu e Sócrates, inteligente, anuíu, cogitando certamente sobre a improbabilidade do evento e sobre a trabalheira que iria dar aos seus mais interesseiros defensores. Aproveitou pois a pressão e a poeira, transformando-as numa boa manobra de diversão, ao mesmo tempo que jogava um osso aos perdigueiros ansiosos. Alguém terá, entretanto, perguntado ao Sr Lino sobre quem estaria disponível para investir nesta aventura, onde alguns insiders vêm especulando há anos, comprando na zona da Ota terrenos agrícolas a baixo custo, para mais tarde revender com ganhos extraordinários. Por sua vez, os putativos investidores (que terão que suportar 2/3 da jogada) também questionaram o Governo, desta vez, sobre se já haveria ou não algum estudo de viabilidade económica para tamanha ousadia. O ministro engasgou-se e depois irritou-se. Recomposto, disse enfim que havia 70 estudos sobre a matéria*, embora, nenhum sobre a sua viabilidade económica! Ora, como bem se sabe, sem tal papelinho, a Comunidade Europeia não vai adiantar um euro. Lino, percebendo finalmente o fiasco, cuspiu: em Outubro tereis o vosso estudo! Outubro. Três dias para a apresentação do Orçamento do Estado. Estamos em pulgas... E agora, umas perguntinhas ao Partido Socialista (que muito estimo):1) Que forças ocultas levam o actual partido do Governo de Portugal a apostar, sem um único estudo decente e público, na aventura completamente insustentável da Ota?
2) Ouvi dizer que a rede de lobbying em volta deste petisco vai desde o chamado grupo de Macau até à Maçonaria, passando por uma grande construtora nacional (a Teixeira Duarte), supostamente próxima do PS, e ainda por uma tal Société Aéroports de Paris. Será possível? O boato corre. E se corre, cumprirá aos visados desmentirem-no, se for o caso. Não é verdade?
Sabemos que António Vitorino se distanciou há algum tempo do objectivo Ota. Mas o que pensa Jorge Coelho, agora que o fiasco das autárquicas lhe deixou tempo de sobra para assuntos mais elevados?
3) Quem é o mastermind desta aparente cegueira governamental? Será o Eng Cravinho, como se diz por aí? E se for, então porque teme discutir o assunto detalhada e publicamente? Há seguramente outros argumentos na sua cabeça para além do temor de um acidente aéreo sobre a cidade de Lisboa.
4) Chegou-me hoje à caixa de ce um spam acusando Mário Soares de ser um dos proprietários dos terrenos da Ota afectos ao suposto futuro aeroporto. O boato chegou aliás a alguns importantes ocs do País (Expresso, Correio da Manhã, pelo menos). Tanto quanto pude apurar, boa parte dos investimentos especulativos na compra de terrenos na zona da Ota vem sendo realizada por sociedades anónimas e por algumas empresas identificadas num dossier do Diário Económico, citado num postal de Jorge Palinho ao BdE: Tiner/Renit, Turiprojecto e Espírto Santo Activos Financeiros (ESAF). Ou seja, a acusação tal como está a ser difundida cheira a contra-informação mal intencionada. De qualquer modo, seria bom escutarmos um desmentido formal por parte do candidato presidencial Mário Soares. [24.10.05]
A questão estratégica essencial deste País nas próximas duas décadas é saber se vamos ou não ser capazes de construir uma visão alternativa de desenvolvimento e de futuro. Sobre aeroportos, continuamos a pensar que é possível e rentável esticar a Portela (pois tem terreno expropriável que chegue para melhorar as suas estruturas de acolhimento e vias de taxiway); usar o Montijo, Tires e Alenquer, antes de avançar para um super-aeroporto. Mas se este viesse a ser, dentro de uma década, uma opção inevitável (o que não cremos, pois de aqui a dez anos a escassez relativa de petróleo e gás natural já terá provocado uma reviravolta de 360º no actual modelo capitalista), então a sua localização lógica nunca será a Ota, mas Rio Frio, ou por perto. Os grandes investimentos em infraestururas aeroportuárias, portuárias, ferroviárias de alta velocidade e rodoviárias deverão, em nosso entender, privilegiar o mais importante eixo de crescimento populacional e desenvolvimento acelerado actualmente em curso entre Portugal, Espanha e o resto da Europa. Refiro-me ao eixo Lisboa-Madrid-Barcelona. A quimera do arco atlântico (luso-galaico-cantábrico-basco), defendido pelo lobby do Norte e sonhado pelo Sr Cravinho, com alguns laivos anti-castelhanos, parece-me uma estratégia suicida, com atávicas afloraçãos sebastianistas, que deveremos contrariar a todo o custo. Se fizermos a nossa parte, i.e. ultrapassar este impasse estratégico, que prejudica Portugal há mais de uma década, apenas teremos que rezar para que o petróleo não incendeie o planeta entretanto.
* Sabe-se agora que apenas existem dois estudos preliminares sobre o impacte ambiental do projecto. Nada mais! Ainda sobre este mesmo tema: Ota, é preciso coragem para reconhecer o erro Novo aeroporto O Grande Estuário Última hora! O-A-M #90 13 Out 2005 (actualizado em 24.10.2005)
A questão estratégica essencial deste País nas próximas duas décadas é saber se vamos ou não ser capazes de construir uma visão alternativa de desenvolvimento e de futuro. Sobre aeroportos, continuamos a pensar que é possível e rentável esticar a Portela (pois tem terreno expropriável que chegue para melhorar as suas estruturas de acolhimento e vias de taxiway); usar o Montijo, Tires e Alenquer, antes de avançar para um super-aeroporto. Mas se este viesse a ser, dentro de uma década, uma opção inevitável (o que não cremos, pois de aqui a dez anos a escassez relativa de petróleo e gás natural já terá provocado uma reviravolta de 360º no actual modelo capitalista), então a sua localização lógica nunca será a Ota, mas Rio Frio, ou por perto. Os grandes investimentos em infraestururas aeroportuárias, portuárias, ferroviárias de alta velocidade e rodoviárias deverão, em nosso entender, privilegiar o mais importante eixo de crescimento populacional e desenvolvimento acelerado actualmente em curso entre Portugal, Espanha e o resto da Europa. Refiro-me ao eixo Lisboa-Madrid-Barcelona. A quimera do arco atlântico (luso-galaico-cantábrico-basco), defendido pelo lobby do Norte e sonhado pelo Sr Cravinho, com alguns laivos anti-castelhanos, parece-me uma estratégia suicida, com atávicas afloraçãos sebastianistas, que deveremos contrariar a todo o custo. Se fizermos a nossa parte, i.e. ultrapassar este impasse estratégico, que prejudica Portugal há mais de uma década, apenas teremos que rezar para que o petróleo não incendeie o planeta entretanto.
* Sabe-se agora que apenas existem dois estudos preliminares sobre o impacte ambiental do projecto. Nada mais! Ainda sobre este mesmo tema: Ota, é preciso coragem para reconhecer o erro Novo aeroporto O Grande Estuário Última hora! O-A-M #90 13 Out 2005 (actualizado em 24.10.2005)
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