quarta-feira, março 14, 2007

Socrates 7

Jose Socrates na capa do semanario Sol
A biografia de José Sócrates montada pelo Sol apresenta todos os contornos de uma
cortina de fumo e revela o estado andrajoso da imprensa portuguesa actual.

As misteriosas Fábricas de Canudos

Há alguns anos atrás a estatal Tabaqueira foi privatizada e adquirida pela Philip Morris. Uma das primeiras decisões da nova administração foi emitir uma ordem de serviço proibindo o tratamento por Dr., Eng. Arq., etc., dos licenciados assalariados da nova empresa. Uma boa decisão que, se já adoptada entre nós, evitaria muitas das cenas tristes a que frequentemente assistimos na pastelarias, nas empresas, nas repartições públicas e na cada vez mais insuportável televisão. O Senhor Durão Barroso é o actual presidente da Comissão Europeia. O Senhor Dr. Durão Barroso não existe, a não ser no aparvalhado sítio lusitano.

Na realidade, nos países anglo-saxónicos, doutores são tradicionalmente os médicos e também se admite tal tratamento quando dirigido aos licenciados nalgum curso universitário depois de cumprido um doutoramento, sobretudo entre pares. Já nos países latinos, mais atrasados na chegada à moralidade laica da ética capitalista, do que os povos protagonistas das cisões protestantes e puritanas, as habilitações académicas tenderam quase sempre (não é o caso da Espanha, por exemplo) a ser consideradas como um sucedâneo dos títulos da antiga nobreza. No século XIX, os endinheirados compravam títulos nobiliárquicos, tal como mais tarde, no queiroziano século XX português (e italiano, por exemplo) se cobiçaram, forjaram e compraram (com cunhas e com dinheiro) os novos prefixos da pequena burguesia ascendente e da crescente massa de funcionários públicos que foram acudindo às necessidades crescentes de um Estado cada vez mais complexo e oneroso. Ao licenciado queiroziano (o célebre Conde de Abranhos) sucederam os doutores, arquitectos e engenheiros de hoje. Estes prefixos, sem os quais muitos dos nossos conterrâneos se sentem nus, não passam, afinal, de penduricalhos ridículos, espécie de nódoa indelével da nossa alarve ignorância, arreigado conservadorismo e teimosa hipocrisia. Em vez de senhores da sua própria liberdade, os doutores da mula russa preferem exibir a pluma do seu pequeno privilégio pós-rural e, se possível, ascender ao conforto de uma carreira no funcionarismo público. Tal pluma serve, entre outros fins, para sonhar com conselhos de administração de empresas públicas, ou com a pequena carreira política.... Mas aqui a porca, por vezes, torce o rabo!

O escândalo que envolve a Universidade Independente, onde, está dito, José Sócrates obteve uma licenciatura, prende-se com suspeitas sobre a prática de actos ilícitos como sejam o branqueamento de capitais, o tráfico de diamantes (de sangue?), a falsificação de documentos e a forja de canudos universitários. As três primeiras suspeitas fizeram os cabeçalhos dos OCS lusitanos durante algum tempo (ver por ex.: notícia na TVI). A suspeita de irregularidades na atribuição de títulos académicos tem vindo a ser abordada sobretudo nalguns blogues portugueses (ver nomeadamente Do Portugal Profundo).

John Major não completou sequer o ensino secundário. No entanto, tal não o impediu de seguir uma promissora carreira bancária e de se tornar primeiro ministro do Reino Unido. Nada na legislação portuguesa obriga o presidente da república, ou qualquer membro de um governo a possuir uma licenciatura académica. Basta, creio eu, que saiba ler, escrever e contar. E assim deve ser. Ou melhor, deveria obrigar a que, já agora, tivesse alguma experiência de vida e de administração.

As suspeitas que têm vindo a ser levantadas relativamente ao CV do primeiro ministro José Sócrates não incidem pois, pois não poderiam incidir, na questão dos atributos académicos do político, mas na legítima curiosidade de saber se o atributo que ostenta é apropriado ou inapropriado. Se é apropriado, não deve ser confusamente descrito nas biografias oficiais e jornalísticas do protagonista, lançando razoáveis dúvidas entre os mais obsessivos. Se não é apropriado, então a coisa é grave, pois somos levados a perguntar: é ou não verdadeira a biografia oficial do primeiro ministro, distribuida pelo governo, no que se refere ao grau académico de José Sócrates? É ou não correcta a atribuição académica de José Sócrates inscrita na entrada (protegida) da Wikipedia ? Se não é, estamos perante um lapso ou diante de uma mentira?

Antes de escrever este postal, depois de receber insistentes mensagens na minha caixa de correio, pensei que o assunto é demasiado melindroso para ser levianamente abordado. Estive por isso em silêncio durante meses. Mas depois cheguei a esta conclusão: se de facto houver alguma dúvida nesta matéria, alguma incorrecção que não seja prontamente esclarecida pelo próprio José Sócrates, a dúvida vai começar a inchar como uma bolha imparável, até que rebentará. Por outro lado, se forem realmente falsas as atribuições da sua carreira académica, o mais certo é que alguém se aproveite subrepticiamente do facto, fazendo chantagem. Ora isto é o pior que nos poderia acontecer como país civilizado!

Que sucederia se os portugueses viessem a saber (por um diário madrileno) que a biografia académica do primeiro ministro é falsa? Depende de como a coisa fosse deslindada e explicada. O Bill Clinton pediu desculpa por andar a fazer coisas inapropriadas com uma jovem colaboradora e safou-se. No caso de José Sócrates, a ser verdade que houve falsificação das habilitações académicas, não sei se o país seria capaz de perdoar o homem. Só mesmo uma confissão pública sincera e bem feita poderia impedir a sua previsível demissão do cargo.

Entretanto, pode ser que tudo isto passe, mas seria mau que passasse sem esclarecimento. Pois ficaria para sempre a dúvida sobre a independência de acção do principal governante do país.

OAM #178 14 MAR 07

Actualizações:

PSD pede "cabal esclarecimento" sobre licenciatura de Sócrates
22.03.2007 - 17h03 PÚBLICO

O PSD pediu hoje na, Assembleia da República, o "cabal esclarecimento" sobre a investigação, "legítima e baseada em factos", avançada pelo PÚBLICO sobre as falhas no processo de licenciatura do primeiro-ministro, José Sócrates.

Em declarações aos jornalistas, o deputado Pedro Duarte classificou ainda como "inaceitável" a nota do gabinete do primeiro-ministro que acompanha a investigação.

Na nota, Sócrates considera "lamentável que se utilize a situação actual da Universidade Independente para se atingirem os seus antigos alunos" e "lastimável que o jornal PÚBLICO se disponha a dar expressão e publicidade a este tipo de insinuações".

Porém, o deputado adiantou que o PSD vai "serenamente aguardar" pelo "esclarecimento devido".

"Não queremos acreditar que o gabinete do primeiro-ministro não vá emendar a mão", afirmou Pedro Duarte.

Os restantes partidos recusaram fazer quaisquer comentários.

Segundo a investigação do PÚBLICO, o dossier relativo à licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente tem várias falhas. Há alguns documentos por assinar, ou sem data, timbre ou carimbo, tal como há elementos contraditórios, nomeadamente os relativos às notas atribuídas a José Sócrates. (fim de citação)

Comentário: o caso chegou, como previa e é bom que tenha acontecido, aos OCS tradicionais. Entretanto, o sítio oficial do governo Sócrates apressou-se a emendar os atributos académicos do primeiro ministro, deixando de lhe chamar "Engenheiro" para atribuir-lhe, agora, uma "licenciatura em engenharia civil", que tendo sido putativamente conferida pela Universidade Independente (sim, essa!) não o autoriza o dito licenciado a dizer-se e dizer aos outros que é engenheiro, pois a respectiva Ordem não confere automaticamente carteira profissional e licença de actividade ao que quer que saia da tal Universidade Independente. O caso, aprofundado pelo Público, na sequência das investigações, nomeadamente Do Portugal Profundo, vem confirmar haver fortes suspeitas de que o actual primeiro ministro mentiu sobre o seu CV universitário. Se for verdade, não sei como poderá continuar no cargo. -- OAM #178 23 MAR 2007

8 comentários:

Diogo disse...

Se Sócrates frequentou a Universidade Independente, a universidade dos branqueamentos de capitais, do tráfico de diamantes e da falsificação de documentos, então o Primeiro-Ministro deve ter tirado, no mínimo, um doutoramento. Se dúvidas houvesse, A Ota e os TGVs estão aí para o demonstrar.

Anónimo disse...

O autor da entrada na wikipedia portuguesa relativa à formação académica de José Sócrates é da minha autoria, mas não fiz nada de mais, apenas traduzi o que estava escrito na wikipedia inglesa, alterando a entrada relativa à universidade e à data (obviamente erradas, em 1981 não havia univ. privadas que não a católica).
Para tal tomei em consideração os posts da blogosfera que lhe davam a licenciatura em 1996 pela Univ. Indpendente.

Aliás a licenciatura do nosso PM é o facto mais esquisito de todos, uma vez que no DN (link na wikipedia inglesa) diz que em 1981 já tinha tirado a licenciatura.
O facto do PM não dizer onde tirou o bacharelato e a licenciatura ao contrário dos colegas de governo apenas adensa as dúvidas. Será que é de propósito?????

PS: O site da wikipedia inglesa não se enconta bloqueado.

Anónimo disse...

Quem tiver acompanhado, como eu, este blogue, conhece a moderação com que este assunto tem sido aqui tratado.
Por isso, é fácil ver-se que a conclusão sobre a necessidade da demissão de Sócrates é uma inevitabilidade a que até aqueles que tinham sido mais cautelosos se rendem.
De facto, Sócrates arrogou-se no Portal do Governo o título de Engenheiro, o que significaria que teria frequentado um curso reconhecido pela respectiva Ordem ou teria prestado determinadas provas. Tal não sucedeu, como a Ordem já esclareceu publicamente, por isso conclui-se que Sócrates invocou abusivamente para si títulos e qualificações que não tinha. Usou o Portal do governo para isso e só corrigiu o embuste quando já se apontava a situação por todo o lado.
E isto para não falar da Licenciatura - que, segundo a notícia do PÚBLICO, está eivada de ilegalidades - e de uma invocada (mais uma vez falsamente) Pós-Graduação.
Tanto escândalo, se ainda houver um mínimo de dignidade, só pode conduzir à referida demissão.

Anónimo disse...

Pela verdade acima de tudo

Acredito que seja consentâneo, para muitas pessoas, admitir que a posse de um qualquer título académico não confere ao seu detentor características especiais de competência, idoneidade, respeitabilidade ou qualquer outra virtude.

No entanto, também acredito que só pessoas com vicissitudes de carácter (vulgo, sem carácter) possam aceitar ou cometer a ilicitude do uso indevido de um qualquer prefixo com o intuito de se obter alguma espécie de contrapartida pelo facto. Acresce que, tal “artimanha” só pode constituir-se como uma assunção de insegurança e/ou incapacidade própria de indivíduos que para singrarem, seja em que meio for, não se cingem à simples manifestação de atributos ou méritos legitimamente comprovados, pelo menos, na área em que pretendam vingar e não numa outra qualquer, se é que me faço entender sem baixar demasiadamente o nível…

Por outro lado, não me custa admitir que já poucos acreditem que, na maioria dos casos, as ascensões de carreira tenham dependido apenas da constatação do mérito dos “bem sucedidos”. Mas afinal o que é o sucesso? Provavelmente, muitos de nós somos bem sucedidos em algum determinado aspecto. Por exemplo, considero que algumas das pessoas que conheço são bem sucedidas na manutenção de valores como a lealdade e a honestidade, isto apesar de todos os maus exemplos pelos quais se poderiam deixar influenciar. Será que afinal isto já não importa?

Para exemplificar o supracitado, passo a contar uma história que espero não se torne demasiadamente fastidiosa, apesar de constituir um mero desabafo e, porventura, assumir contornos idênticos aos de tantas outras histórias. A única diferença, para mim e, infelizmente, também para quem prezo, é que fomos directamente envolvidos.

Uma autarquia do sul do país abriu um concurso público, cujo caderno de encargos definia a necessidade de nomeação de um responsável licenciado em engenharia com experiência comprovada, pela empresa adjudicatária. A nomeação foi feita por quem de direito e o licenciado em engenharia lá apareceu. Era eu. Embora, um pouco mais jovem e muito mais ingénuo!

Com o início dos trabalhos a aproximar-se, realizou-se uma reunião de apresentação entre representantes das entidades adjudicante e adjudicatária. Nessa reunião, e para início de “hostilidades”, um técnico e um responsável autárquicos interpelaram para exigir a comprovação das minhas habilitações académicas, relembrando na ocasião a obrigatoriedade prevista em caderno de encargos. Acedi a fazer prova das minhas habilitações pois, obviamente, cumpriam integralmente com o exigido.

Os trabalhos preparativos previstos iniciaram-se e seguiram-se dias, noites, semanas e meses de esforço com o qual, aliás, já contava. Completei demasiados dias consecutivos de trabalho sem as normais interrupções para o devido descanso.

No entanto, os representantes autárquicos referidos, insistiram em desprezar todo o empenho evidenciado, tanto por mim, como por várias pessoas que integraram a mesma incansável equipa de trabalho. A insatisfação aparente dessas personagens, verdadeiros caciques autárquicos, revelou-se como uma condição e nunca um estado, tal foi a absurda quantidade e qualidade de obstáculos por eles obstinadamente levantada. Dadas todas as dificuldades criadas, para as quais não encontrava qualquer explicação minimamente razoável, e apesar de continuar confiante na minha inquestionável competência, acabei por ceder e desistir do projecto.

Na sequência da minha desistência do projecto, os supra mencionados representantes autárquicos, com surpreendente prontidão e “amabilidade”, sugeriram um substituto para a sucessão que, imagine-se tamanha “coincidência”, havia manifestado interesse “recente” no desempenho do cargo então colocado em aberto. A personagem sugerida foi nomeada e a sucessão deu-se assim “tranquilamente”. Também foi com “tranquilidade” que se abafou o facto “agora já insignificante” de o novo responsável pelo projecto não possuir as habilitações académicas exigíveis para o exercício da função em causa, isto apesar de o mesmo não prescindir de se apresentar como licenciado, responsável pelo projecto, e assinar documentação vária com o indispensável “ENG.” a prefixar o seu nome.

Ingenuamente, procurou-se a denúncia dos factos supracitados às entidades “competentes” (mas pouco). No entanto, os processos de averiguação que decorreram pouco concluíram. Quase todas as irrefutáveis provas documentais e testemunhais, que não foram poucas, caíram em saco roto, e acabou por se dar o muito conveniente arquivamento. O único resultado prático consistiu nas lamentáveis e cobardes ameaças, inclusivamente, à integridade física e à dignidade inatacável dos denunciantes e das testemunhas. Como “cereja no topo do bolo”, fica o registo “humorístico” do suposto licenciado em engenharia que alega o facto de, por mero lapso, ter assinado inadvertidamente largas dezenas ou mesmo centenas de documentos durante meses, todos eles redigidos por terceiros (imagine-se como será possível…), sem dar conta do facto de nestes constar referência errónea à sua pretensa formação académica, bem como às funções de responsabilidade que também passou a alegar nunca ter exercido. Afinal, a personagem em causa que, só possuía frequência universitária, supostamente apenas exerceu funções de “porta-voz”.

Reportando agora ao tema da alegada apresentação de habilitações literárias falsas, ou apenas “desvirtuadas”, no currículo do Sr. José Sócrates, Primeiro-ministro de Portugal, e ressalvando a possibilidade de se verificar a sua presumível inocência na matéria em apreço, a não ser que se produza prova irrefutável em contrário, oferece-me comentar que, aconteça o que acontecer na realidade, o desfecho só poderá ser um… O do inevitável e conveniente esquecimento pois valores mais altos se levantam.

DÉJÀ-VU…

P. S. - Espero que se possa compreender a omissão da identificação de personagens e entidades como um acto de auto-preservação e nunca cobardia.

SILVA, um português.

Anónimo disse...

Mas que se passa c/ a imprensa portuguesa?! sempre à espreita de uma notícia sensacional e agora que se descobre que o PM de um país europeu forjou habilitações não se diz nada?!bem dizia o Carlos Candal que o lobby gay tem muita força!

Anónimo disse...

olha, olha, olha se fosse o competente digi competente do sor Jardim da Madeira! os imconpetentes da dita imprensa n se calaval! e viva a democracia deles. Depois digam cu salazar ganhou por acaso, O ze jan vaia emcantigas.

Anónimo disse...

José Sócrates sabe o que diz quando afirma que Portugal precisa de profissionais bem qualificados ... na verdade temos um primeiro ministro sem qualificações ... como é que Portugal pode avançar ???
José Sócrates só tem um caminho se se comprovar a mentira ... demitir-se ... chega de mentiras !!! Já nos custou a do não aumento dos impostos !!!
Demita-se e sujeite-se aos exames nas cadeiras em que diz ter obtido aproveitamento na Independente ... mas vá fazê-los no Técnico ... para ver se dói ou não dói ... faça-se um homenzinho!!!!

Anónimo disse...

A minha Openião
desde o 25 de Abril de 1974 até agora,seria que todos digo bem todos os politicos quer na assembleia da républica quer na presidência merecem uma grande recompenssa.
Ou seja juntálos todos os que estiveram e os que estão agora. Contratar um cruseiro de luxo levá-los até ao alto mar e com o sistema de sonar onde houver mais tubarões asionar um botão no navio para abrir o fundo e serem todos largados ao Mar!não se perderia nada e a nação só ganhava com isso...