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segunda-feira, novembro 04, 2013

Quem tem medo de quem?

Elisabeth Taylor e Richard Burton em “Quem tem medo de Virgínia Woolf?” (1966)

O alto preço da exposição mediática

O que é um crime público?

Segundo o Ministério Público, “é um crime para cujo procedimento basta a sua notícia pelas autoridades judiciárias ou policiais, bem como a denúncia facultativa de qualquer pessoa.

As entidades policiais e funcionários públicos são obrigados a denunciar os crimes de que tenham conhecimento no exercício de funções.

Nos crimes públicos o processo corre mesmo contra a vontade do titular dos interesses ofendidos.”

Esta é a quinta vez (1, 2, 3, 4) que escrevo sobre Manuel Maria Carrilho, pessoa que conheço como político polémico e a quem vi inúmeras vezes tomar posições corajosas, embora para muitos tais atitudes agressivas não fossem mais do que a prova reiterada do seu mau feitio e mau perder.

Conheci Manuel Maria Carrilho quando o 'soarismo' apodrecia e Sampaio e Guterres conspiravam para comandarem o próximo ciclo 'socialista'. Alguns jovens intelectuais e artistas andavam então preocupados com o provincianismo e a miséria cultural do país. Eu era um deles, Carrilho era um deles, o saudoso Pedro Miguel Frade era um deles, Ricardo Pais, outro, etc., etc.

Em 1995, Guterres chamou Manuel Maria Carrilho para ministro da cultura. Contam-se várias peripécias sobre este episódio, mas o certo é que se o inesperado ministro correspondeu às expectativas dos artistas e da generalidade dos agentes culturais, já na comunicação social as baterias foram sendo assestadas na sua direção. O segundo governo de António Guterres começou mal (sem maioria) e acabou pessimamente, dois anos depois, por demissão do próprio primeiro ministro. Carrilho já tinha batido com a porta, antevendo o famoso 'pântano' de que mais tarde se lamentaria Guterres e onde o regime invariavelmente cai quando não há maioria absoluta no parlamento.

Carrilho nunca foi, não é, nem será um homem de partido, como por exemplo foi e é José Sócrates e são muitos outros dirigentes e governantes do PS. Talvez por isso a sua vida depois de abandonar o governo, que menos de dois anos depois cairia, tivesse sofrido uma guinada imprevista em direção a Bárbara Guimarães, filha de um escultor obscuro, à época uma das mais celebradas Barbies da TV portuguesa, e aparentemente casada em 1997 com alguém de quem teve que se divorciar para poder voltar a casar, em 2002, desta vez com um ex-ministro.

Nunca me interessei por revistas cor-de-rosa, nem nunca li a Gente, ou a Caras. Só agora, perante esta hecatombe matrimonial, fui obrigado a chafurdar na literatura mais vendida no país.

Os divórcios são frequentemente coisas horríveis, onde chovem as acusações e os insultos mais despudorados. No caso, Manuel Maria Carrilho, ao ver-se subitamente impedido de entrar na sua própria casa, sem que para tal houvesse qualquer interdição judicial, e ao ver-se no mesmo dia, ou dia seguinte, acusado de espancar Bárbara Guimarães, sua esposa, estava realmente em muito maus lençóis. Talvez por isso a sua resposta fosse um contra-ataque violentíssimo ao suposto alcoolismo e à suposta decadência de Bárbara Guimarães, mãe de dois dos seus três, ou quatro filhos. É que a provarem-se os factos de que é acusado pela ainda sua esposa, se não houver fortes atenuantes, Manuel Maria Carrilho ficará numa situação pessoal gravíssima. O melhor mesmo é chegarem a uma separação negociada.

Não sei, e ninguém sabe, por enquanto, o que é verdade, o que é mentira, e o que são meias verdades e meias mentiras em toda esta história vulgar da imprensa cor-de-rosa. É que para além da tragédia que se abateu sobre os visados, e em especial sobre os filhos de ambos, tudo isto é banal e sórdido ao mesmo tempo. Prefiro mil vezes rever Who's Afraid of Virginia Woolf.

Perdeu-se um político, provavelmente há muito mais tempo do que ele próprio quis crer. Os próximos meses dirão se Bárbara Guimarães não terá também que buscar outra profissão. Para Barbie realmente já não serve!

ÚLTIMA HORA (7 nov 2013, 15:07)

Manuel Maria Carrilho e Bárbara Guimarães chegaram a acordo sobre o divórcio
, estão divorciados e o mais importante agora são os dois filhos que há que proteger de um tempo que jamais esquecerão. Fico feliz por ambos terem evitado prolongar um situação que, doutro modo, seria fatal para ambos. All's well that ends well!

quarta-feira, setembro 10, 2008

2008 Semana 37

Excitações da semana
8-14 setembro

Crise financeira e colapso da aviação comercial, dois efeitos previsíveis do pico petrolífero.

14-09-2009. Enquanto o furacão Ike deixa Houston, a quarta maior cidade dos Estados Unidos, sem água, sem electricidade e sob recolher obrigatório, para evitar pilhagens (City of Houston eGovernment Center), os maiores bancos e institutos financeiras americanos estão a tombar um a um, ou melhor, dois a dois! O sinal de alarme foi dado, há alguns meses atrás, pela falência do Bear Stearns. Em Setembro, começaram a cair aos pares: primeiro, Fanny Mae e Freddy Mac, hoje, domingo, Lehman Brothers e Merrill Lynch. A seguir quem virá? Goldman Sachs e J.P.Morgan?! Não, se tal acontecer será o colapso da América. E antes que isso aconteça, se o mercado de derivados implodir, alguém começará a III Guerra Mundial. Para a desencadear, as apostas dividem-se entre uma nova provocação na Geórgia e o bloqueio do Estreito de Ormuz seguido de um ataque israelita às instalações nucleares do Irão.

Mas não são só o casino das hipotecas suicidas e o monstro dos chamados mercados derivativos, que estão a rebentar à escala planetária, com epicentro em Wall Street. A Boeing está em greve, cinicamente provocada pela respectiva administração, para justificar a paragem da construção e das entregas do novo Boeing 787 Dreamliner, cujas encomendas vão abrandar face ao panorama catastrófico da aviação comercial internacional. Deixaram de voar, só no último ano, cerca de 30 companhias, mas prevê-se que outras tantas irão abrir falência antes do Natal! A Alitalia está a dar as últimas e a terceira maior companhia aérea especializada em pacotes de férias, a britânica XL, deixou hoje apeados 85 mil passageiros em vários pontos do planeta. Os acidentes da Spannair, onde parece ter sobrado negligência na área de manutenção, só vem reforçar a ideia que o transporte aéreo não pode estar sujeito a stress económico continuado. Pressões económicas prolongadas sobre um negócio tão sensível como este pode rapidamente redundar numa crise de confiança de proporções inimagináveis.

Já em 2006, a propósito dos delírios Otários do governo Sócrates, aqui se chamou abundantemente a atenção para as mudanças radicais que a combinação das crises energética, climática e alimentar, mais a rebentação inevitável do casino corrupto da economia global e das suas sucessivas e insaciáveis bolhas especulativas, iria trazer a este planeta limitado. A soberba dos políticos, porém, não permite ver nada, nem sequer um icebergue fatal, por maior que ele seja. Preferem, em toda a parte, os jogos florais, como se o dinheiro que não ganham, mas recebem, viesse de um bolso metafísico e sem fundo!

Venezuela: triângulações lusitanas

13-09-2008. Hugo Chávez, muito irritado com a actual administração norte-americana, por causa das novas conspirações que andará a promover na América Latina, num tumultuoso comício televisivo, resolveu fazer algumas variações retóricas do célebre sound bite do rei espanhol -- "Porqué no te callas!" O novo refrão, dirigido desta vez aos EUA, é este: «Vayanse al carajo yankees de mierda, que aquí hay un pueblo digno». Vejam e ouçam que vale a pena.

Entretanto...
Portugal assina nove acordos de cooperação na Venezuela

13-09-2008. Portugal e a Venezuela assinaram hoje nove novos acordos de cooperação bilateral que vão permitir a ambos países avançar com projectos nos sectores eléctrico, agro-alimentar e habitação. -- Expresso online.
Dois dias depois de Hugo Chávez dar ordem de expulsão ao embaixador americano na Venezuela, na sequência da expulsão do embaixador americano na Bolívia, responsabilizado por Evo Morales pela situação de pré-guerra civil existente naquele país andino, Manuel Pinho não mexeu um milímetro na sua agenda diplomática. Nove acordos comerciais, em troca de petróleo, já parecem cantar nas carteiras de encomendas de uma vintena de empresas portuguesas. A isto chama-se pragmatismo. Não posso estar mais de acordo com este tipo de triangulações. Por isso, a questão açoriana se tornou subitamente tão sensível!

Carlos César polemiza com Cavaco, enquanto Sócrates assobia para o ar
12-09-2008. “O PS apresentou na Assembleia da República uma série de propostas que entende que melhora esse instituto de audição no âmbito da revisão do estatuto político administrativo, se o Sr. Presidente da República entender vetar politicamente o diploma o PS sabe muito bem o que há-de fazer. Nós não entendemos muito bem que órgãos de soberania exerçam chantagem entre si, o PS não fará chantagem com o Sr. Presidente da República.” -- Carlos César, Presidente do Governo Regional dos Açores.
O termo "chantagem" serve, na realidade, para os dois lados. O problema de fundo é outro: pode ou não uma lei ordinária alterar o espírito e a letra da Constituição da República? Claro que não! Portanto, para além da questão política -- quais são afinal os limites da autonomia regional --, sobra uma questão formal que não deve, não pode, ser espezinhada, como se a democracia fosse uma mero adorno de conveniência.

Além do mais, Carlos César falou do que não devia no preciso momento em que a questão do estatuto autonómico dos Açores seguia a sua tramitação normal. Falou, sem consultar os ministros da república responsáveis pelos negócios estrangeiros e pela defesa do país, da sua vontade de satisfazer os desejos expansionistas dos Estados Unidos, como se a ampliação estratégica de um acordo de utilização de bases aéreas em território nacional por parte de um país estrangeiro fosse um mero problema de oportunidade económica.

O PS que se ponha a pau, e o resto do país também. Vêm aí tensões sobre a identidade e a dimensão territorial da soberania portuguesa. Quando forem melhor percebidas pela população, darão origem a um monumental coice nacionalista, para o qual, diga-se desde já, Cavaco Silva parece estar a preparar-se.

Associação de Cidadãos do Porto
12-09-2008. A Reunião para a Criação da Associação de Cidadãos do Porto irá realizar-se dia 12 de Setembro, às 21.30h, no Clube Literário do Porto.Sessão aberta a todos os interessados. Para mais informações contacte porto.agora@gmail.com

Nota: O Clube Literário do Porto situa-se na Rua Nova da Alfândega, n.22

Para referência, este é o post de proposta de criação:

Visto o estado de ruptura com o poder central, os exemplos diários de desprezo para com a cidade do Porto e a Região Norte, o servilismo e oportunismo das distritais dos partidos, proponho o primeiro passo para a constituição de uma associação de cidadãos, organizada, que tenha como propósito a defesa dos interesses colectivos da nossa área metropolitana, a discussão e apresentação de propostas e de acção concertada. Iniciativas como esta necessitam de encontros de carácter informal, onde os interessados se conhecerão e se ajustarão ideias, objectivos e projectos. - Alexandre Ferreira

Comentário: esta iniciativa era esperada! Não creio, porém, que o Norte (refiro-me sobretudo ao eixo litoral, que logo arrastará o resto do país entre o Mondego, o Minho e o Douro Internacional) possa defender os seus interesses convenientemente sem criar um partido claramente regionalista, minoritário talvez, mas forte e com ideias claras. Creio também que nada teremos a ganhar com a pulverização (de facto, possível) de Portugal. Os grandes países europeus e os EUA estariam certamente interessados, assim como Madrid! Mas seria mau para todos os portugueses, de Faro a Caminha, de Trancoso ao Corvo. O Norte está mais dentro de Lisboa do que se pensa! Eu costumo dizer que a Galiza, ou a influência galega, vai até onde chega a couve com o mesmo nome. E a dita emigrou, de facto, até ao Montijo, outrora Aldeia Galega! Temos pois que ler bem a história do país, e não cair em visões apressadas da realidade. Seja como for, haverá num futuro próximo novos partidos, uns populistas, outros de cariz regionalista. Se a vossa reunião vier a dar num novo partido (frente, liga, etc...) regionalista, mas não federalista, nem independentista, dará certamente um enorme contributo para a ultrapassagem do actual beco para onde todo o país, capitaneado por uma turma de imbecis corruptos, nos está a conduzir. Força Portugueses do Norte!

Cavaco Silva: posso dissolver?
"Posso vetar politicamente o Estatuto dos Açores depois de corrigido das inconstitucionalidades"

12-09-2008. e a Assembleia da República não alterar o Estatuto dos Açores de forma a acolher as dúvidas que Cavaco Silva comunicou ao país a 31 de Julho, este pode pedir a fiscalização sucessiva da constitucionalidade do diploma ou mesmo vetá-lo politicamente. Em entrevista ao PÚBLICO revela que falou várias vezes com meia dúzia de dirigentes partidários, da maioria e da oposição, e estes lhe "manifestaram uma grande compreensão", dando "a entender que alterariam o diploma". Exactamente o contrário do que sucedeu e do que pode voltar a suceder, pelo menos nalguns pontos, quando a lei regressar, este mês, à Assembleia da República para ser expurgada de várias inconstitucionalidades. (Público)

Segundo o diploma aprovado por unanimidade na Assembleia da República, o Presidente da República, para dissolver a Assembleia Regional dos Açores, teria que perguntar à mesma Assembleia Regional a sua opinião! Posso dissolver? Não levam a mal, pois não? E mais, teria também que ouvir o presidente do Governo Regional e os grupos e representações parlamentares regionais. Maior aberração política não conheço. Além do mais, trata-se de uma clara perversão constitucional. Ainda por cima, introduzida traiçoeiramente através de uma lei ordinária de São Bento! É por isso que venho insistindo: o actual sistema político-partidário está cansado e foi corroído pela tacanhez, pela estupidez e por uma corrupção endémica que ou sabemos estancar rapidamente ou este país desaparece. Não geográfica ou fisicamente, entenda-se, mas económica e politicamente.

Low Cost e os novos rituais Potlatch

11-09-2008. A TAP vai disponibilizar entre 15 de Setembro e 31 de Outubro, 300 mil bilhetes para a Europa, com tarifas one-way, de 64 euros, nas partidas de Faro, Lisboa e Porto e 71 euros à partida do Funchal, válidas para as viagens entre 1 de Outubro e 31 de Maio.

Ryanair lança 3 milhões de bilhetes a 1 euro (taxas incluídas!) para viajar em Setembro e Outubro.

E a easyJet, que irá oferecer? Erva a bordo?!

Isto está cada vez mais parecido com uma economia Potlatch
"We will dance when our laws command us to dance, and we will feast when our hearts desire to feast. Do we ask the white man, 'Do as the Indian does?' It is a strict law that bids us dance. It is a strict law that bids us distribute our property among our friends and neighbors. It is a good law. Let the white man observe his law; we shall observe ours. And now, if you come to forbid us dance, be gone. If not, you will be welcome to us." -- Chief O’wax_a_laga_lis (Kwakiutl nation.)

Paulo Pedroso (putativo pedófilo com processo judicial ainda em curso) defende aliança entre o PS e o PSD

O Partido Socialista e o Governo de José Sócrates não têm mais ninguém para realizar as suas manobras de distracção?

PSD quer ouvir ministro da Economia sobre investimento aeronáutico que trocou Évora por França

O governo tem feito abundante propaganda sobre a central foto-voltaica da Amareleja (a maior do mundo -- gritam); sobre o aeromoscas de Beja; e sobre o grande contrato aeronáutico para fabrico de aviões Skylander, em Évora. Porém, da central solar da Amareleja (Moura) convém dizer que foi entretanto adquirida a 100% pelos espanhóis da ACCIONA, com tudo o que tal alienação implica. Do aeromoscas de Beja, cujo cognome confirma o seu insucesso absoluto, convém saber que o actual governo enterrou, na aventura psicadélica do ex-ministro e militante PS, Augusto Mateus, 32 milhões de euros. Entretanto, o remodelado aeroporto de Badajoz prepara-se não só para afundar o dito aeromoscas de Beja (que, na melhor das hipóteses, será um aeródromo para jogadores de Golf e, eventualmente, um cemitério da TAP), como ainda para desviar passageiros, de Lisboa ao Algarve, para as suas previstas ofertas Low Cost. Finalmente, no que toca ao futuro radiante de Évora, ficámos a saber que o anunciado cluster aeronáutico abalou para os domínios do senhor Sarkozy. O mesmo génio do PS -- Augusto Mateus -- afirma que não se perdeu grande coisa. Eu diria que perdemos, no mínimo, os honorários desembolsados pelo erário público para sustentar burros a pão de ló.

Ryanair desiste de base no Aeroporto Sá Carneiro

A ANA é responsável por este desastre. E como se trata de uma empresa pública, deve explicações imediatas ao país! Além do mais, como venho clamando há anos, esta gentinha da ANA deve ir pura e simplesmente para o olho da rua. Por absoluta incompetência e subserviência político-partidária.

PS dá meia resposta ao Presidente sobre Estatuto dos Açores

Ou muito me engano ou os espertos do PS decidiram provocar Cavaco Silva, esperando que uma resposta mais radical do presidente da república (por exemplo, a demissão do governo, por manifesta incapacidade de manter o regular funcionamento das instituições), permita ao PS vitimizar-se no ano eleitoral que se aproxima. Ao parecer que Cavaco Silva estaria ajudando o PSD, haveria, por assim dizer, um voto piedoso no PS, que impediria, pelo menos, uma sempre possível maioria confortável de Manuela Ferreira Leite e a fuga volumosa de votos para o PCP e para o Bloco de Esquerda, sobretudo se a situação económica se agravar catastroficamente nos próximos meses, como é bem possível que aconteça.

Cavaco Silva esclarece em comunicado que o desempenho das suas obrigações constitucionais não pode servir de argumento para a ineficiência governamental

Mais um episódio da provocação "socialista" em curso. O senhor Pereira é o pião das nicas.

Santana e Passos Coelho não querem partido populista de Jardim e Menezes

Pois fazem mal. Bem poderiam formar um partido populista, como qualquer país da Europa avançada há mais de uma década dispõe: França, Itália, Suiça, Áustria, Holanda e Suécia. Na realidade, um partido pés-na-terra e que goste de couratos, água-pé e foguetório, especializado no alargamento conceptual das autonomias (insulares e urbanas), na regionalização e na descentralização, até faz falta ao país, para compensar a macrocefalia amorfa da Lapa, Quinta da Marinha e Sintra. Eu sei que Filipe Menezes odeia mais o Rui Rio do que odeia a Manuela Ferreira Leite, mas caramba, não é caso para desistir. Aposto que conseguiriam rapidamente ultrapassar o PCP, o Bloco de Esquerda e o PP juntos, tornando-se um enorme sapo vivo para qualquer dos partidos até agora maioritários (PS e PSD). Estes, ou o que deles sobrar depois da fragmentação partidária em marcha, terão que passar a engolir o sapo truculento que sem dúvida seria um novo partido protagonizado pelos senhores Alberto João Jardim, Santana Lopes e Menezes. Nada mau, não acham? Modernizem-se, pá!

Remédios, consultas e actos médicos (operações oftalmológicas, etc.) mais baratos em Espanha

Será por isto que alguns governos se apressaram a emitir os cartões europeus de saúde? Se foi, a isto chama-se dumping social. Não vai resultar!! Já repararam que está a surgir um Euro de primeira e um Euro de segunda, através de uma crescente e gravosa assimetria dos spreads bancários, que são cada vez mais elevados em Portugal e países atrasados da União, comparativamente com o preço do dinheiro nos países ricos. A boleia acabou!!

Numa coisa Luís Filipe Menezes, o instável dirigente populista do PPD-PSD, tem razão: é preciso caminhar rapidamente para uma harmonização ibérica dos preços e da fiscalidade. Temos que deixar de pagar a gasolina, a electricidade, água, os remédios, os materiais de construção, e muitos produtos de mercearia, mais caros em Lisboa, no Porto, na Guarda ou em Faro, do que em Badajoz, Vigo, Salamanca ou Huelva, sob pena de uma verdadeira hemorragia de valor e gastos de mobilidade desnecessários se agravar em Portugal para benefício da Espanha.

Helena Roseta e "Cidadãos Por Lisboa" no bolso de António Costa

Ainda não sei se o movimento Cidadãos por Lisboa já fez alguma coisa que se veja desde que obteve a confiança de uma parte promissora do eleitorado da capital. Com tanto por fazer e tanto para criticar na paralisia patente de António Costa -- que está obviamente à espera de outros voos, e portanto, disposto a fazer o mínimo de ondas --, o sinal dado por Helena Roseta tem laivos de suicídio político. Paz à sua consciência!

Fundação Respública: quem paga a tempestade mental socialista?

Quem paga? Uma fundação pressupõe, por definição, fundos próprios. De onde saíram, se é que já saíram de algum lado? Será subsidiada no futuro (imediato, claro)? Por quem? Três anomalias genéticas de mais este acto de propaganda inócua:
  1. não passa, à nascença, duma emanação do PS, e pior ainda, da nomenclatura do PS, não dos jovens socialistas que recentemente escreveram um manifesto contra a perversão burguesa do PS!
  2. surge como reacção óbvia ao facto de o PS ter sido finalmente identificado, tanto à sua esquerda, como à sua direita, como uma organização capturada por uma turma de neoliberais de onde emana um governo aparvalhado com a velha aristocracia financeira nacional, desnorteado face ao esgotamento evidente dos cofres do Estado, e exposto perante a opinião pública como uma tragédia lusitana;
  3. o truque de magia, que mereceu honras de primeira página por parte da nossa imprensa falida, é a expressão "esquerda democrática"! A putativa "Respública" está aberta a toda a "esquerda democrática". Quem são? O PCP, não é? O Bloco de Esquerda, não é? A CGTP, não é? Quem são, afinal? Ah!, é a malta do PS e os que precisarem da sua ajuda. Por exemplo, Cidadãos Por Lisboa... e os estudantes universitários que necessitarem dum escadote até ao emprego, assim que obtenham o desejado canudo. A "Respública" tem umas bolsinhas para quem se portar bem nas controladas tempestades mentais que finalmente terão o seu tanque cognitivo no umbigo do aparelho PS. Ouviram todos?!

(continua...)

OAM 430 10-09-2008 13:36 (última actualização: 18:57)

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domingo, novembro 18, 2007

Subprime black hole

Liberty Dollar
Liberty Dollar: a resposta popular anti-inflaccionista à implosão da moeda americana pôs o FBI em estado de choque.


US Dollar: Gone With The Wind

Welcome the Liberty Dollar!

"Foreign tourists to many of India's most famous landmarks will no longer be able to pay the entrance fee in dollars, the government says.

"The ruling is aimed at safeguarding tourism revenues following the recent falls in the dollar." -- Dollars no good for Taj Mahal, 16-11-2007, BBC.

O buraco negro para o qual a economia norte-americana está a ser atraída, podendo arrastar consigo, ao longo de 2008, a Europa e o Japão, causará um enorme tsunami financeiro mundial. O epicentro desta crise foi a implosão dos créditos de alto risco no sector imobiliário norte-americano -- os chamados subprime mortgages --, mas temos vindo a descobrir, com o passar das semanas, que a economia mundial está toda ela infectada por uma monumental bolha de liquidez virtual puramente especulativa, cujo estouro já ninguém parece conseguir deixar de prever (1). A Europa, atingida no sector bancário, nomeadamente suiço (Crédit Suisse), alemão (IKB, SachsenLB), inglês (Nothern Rock, HSBC), holandês (NIBC) e francês (BNP Paribas), ainda não sofreu todo o impacto potencial da crise em curso. Os rumores mais insistentes continuam a apontar a Espanha como a próxima vítima da loucura imobiliária que tem vindo a desfigurar a sua paisagem e tornou economicamente inacessíveis cidades como Barcelona e Madrid.

O que está a acontecer diante dos nossos olhos, e nos nosso bolsos (!), é o princípio do fim da hegemonia económico-política do Ocidente, representada ao longo dos últimos 192 anos pelo domínio anglo-saxónico (Inglaterra e Estados Unidos), mas que vem do século 15, quando os Portugueses começaram a circum-navegar a África e depois o planeta inteiro. Os Americanos ricos do Norte e os Europeus do Ocidente habituaram-se a níveis de riqueza e de distribuição social nunca antes experimentados pela humanidade, cujo financiamento teria sido inviável sem a extensão dos seus impérios coloniais, que exploraram intensamente enquanto puderam.

Durante o período colonial e neo-colonial, que se estende do século 15 até ao final da década de 90 do século 20, o Ocidente cristão dedicou-se, em África e nas Américas, ao genocídio parcial das populações indígenas, à expoliação do ouro e riquezas acumuladas pelos civilizações locais, à extracção das matérias primas e à escravatura. Na Ásia, devido à densidade demográfica e maior estruturação social e militar dos respectivos povos, a alternativa passou sobretudo pela imposição militar de regimes de troca desigual entre as potências ocidentais dominantes e os países do Extremo Oriente. O controlo do Médio Oriente, para o que foi necessário destruir o Império Otomano, figura como derradeiro capítulo do longo ciclo imperial europeu, e dele dependeu a transição da era industrial a vapor para a explosiva era contemporânea, movida a petróleo, em nome da qual a Europa e o resto do mundo se envolveram nas duas maiores carnificinas humanas de sempre: a I e a II guerras mundiais. Para balizar com dois marcos histórico-simbólicos precisos este longo ciclo civilizacional, o da Europa Moderna e Contemporânea, podemos curiosamente tomar a própria duração do império português (o mais longo de sempre na Europa Ocidental) como referência: da conquista de Ceuta, em 1415, à devolução de Macau à China, em 1999.

Confunde-se frequentemente a ideia de internacionalização dos mercados resultante da existência e afirmação mundial dos impérios coloniais europeus e norte-americano com a ideia de globalização, como se o problema fosse o da circulação das pessoas e mercadorias à volta da Terra. Não é.

O período imperial, que simbolicamente termina com a troca de bandeiras entre a República Popular da China e Portugal, na cidade onde nasci, caracterizou-se pela existência de centros civilizacionais (Europa, e depois EUA) com uma extraordinária capacidade de projecção militar, cuja rápida evolução ideológica, tecnológica e científica se ficou em grande parte a dever aos recursos materiais subtraídos aos vastíssimos territórios, civilizações e povos que foi capaz de explorar. Na fase colonial dos impérios houve quase sempre dominação militar, política e religiosa das regiões colonizadas. Na fase neo-colonial que se lhe seguiu, primeiro nas Américas, depois no Extremo Oriente e em África, e que se encontra agora muito perto do fim, a dominação exerce-se sobretudo pela via indirecta do controlo financeiro e manipulação mais ou menos subtil dos velhos e novos países independentes. O objectivo em ambos os cenários é sempre o mesmo: acesso e controlo das matérias primas e recursos energéticos baratos e abundantes onde estejam, sem o que será inviável alimentar uma civilização (a Ocidental) cada vez mais energética, voraz, intelectual, egoísta, mas careca de recursos naturais a que se habituou, envelhecida e a caminho da extinção demográfica!

O que a globalização trouxe de novo, e que viria a revelar-se como um fatal boomerang económico para o ciclo imperial europeu e estado-unidense, são duas coisas: a liberalização radical dos mercados económicos e financeiros à escala mundial e a instantaneidade electrónica das transacções num novo espaço virtual interactivo global chamado Internet. É a coincidência temporal e articulação operacional destes dois acontecimentos, desencadeados pela constituição da Organização Mundial de Comércio, em 1995, e pelo lançamento público, dois anos antes, do primeiro navegador internáutico com capacidades gráficas (o Mosaic, de onde nasceria, em 1994, o célebre browser Netscape), que irá propiciar a maior transferência de tecnologia jamais efectivada entre distintas regiões planetárias. Em apenas uma década a Europa e os Estados Unidos fizeram voar literalmente milhares de fábricas e sucursais de empresas suas, e transferiram electronicamente dezenas de biliões de dólares, para a China, India e Coreia do Sul, não se apercebendo que estavam, na realidade, a enervar literalmente as suas próprias sociedades.

A Reserva Federal Americana, uma sociedade de bancos centrais e banqueiros privados que ninguém conhece, a não ser pelo seu presidente em exercício, deixou de publicar em 2006 o agregado financeiro conhecido pela sigla M3, o qual costumava computar a quantidade de dólares em circulação no planeta. Foi o sinal definitivo de que os Estados Unidos tinham começado a falsificar o seu próprio dinheiro como forma de compensar a inflação crescente resultante da perda inexorável de competitividade da sua economia quando comparada com os novos regime de sobre-exploração capitalista em curso nos países emergentes, para os quais o acesso aos financiamentos deixara de ser um problema, assim como a exportação dos seus produtos para todo o mundo (excepto o Japão...) Daqui ao buraco negro que há meses atrai o dólar em direcção à sua completa nulidade fiduciária, foi um passo, rápido e catastrófico! Ainda que criasse outro Dólar, como os brasileiros fizeram com o falido Cruzeiro, os EUA não conseguiriam inverter a actual situação, pois, ao contrário do Brasil, os EUA deixaram que o seu dinheiro, as suas empresas e as suas universidades (!) emigrassem simultaneamente para onde o trabalho barato se encontra, sem poderem sequer, sob pena de realizarem um verdadeiro hara-kiri, interromper o fluxo de mercadorias que aflui até ao cada vez mais aflito e impotente consumidor americano. Ao permitir-se que norte-americanos e europeus se transformassem em consumidores líquidos compulsivos, hedonistas e a caminho da extinção genética, exportando ao mesmo tempo a economia real para países com inesgotáveis bases produtivas, abriu-se uma Caixa de Pandora. Não será um ataque nuclear contra o Irão que a fechará, podendo mesmo agravar os seus imprevisíveis efeitos.

O equilíbrio conseguido, na sequência e consciência do terrível holocausto Nazi e nuclear da Segunda Guerra Mundial, entre a lógica única e alienante do capital e a vontade de construir democracias humanas dignas e livres, consubstanciada em contratos sociais baseados na ideia de bem-estar, foi literalmente destruído pela propaganda da produtividade. Os partidos democráticos do Ocidente, com especial incidência nos diversos blocos centrais formados pelos partidos moderados, da direita tradicional à esquerda socialista, promoveram a libertinagem dos promotores económicos e financeiros, privatizaram e continuam a privatizar os activos essenciais dos Estados (constituídos, por vezes, ao longo de gerações sucessivas), pulverizaram sistematicamente os benefícios sociais das suas democracias e caminham para uma completa subserviência face aos poderes fáticos globais, que desconhecem em absoluto, mas em direcção aos quais caminham como insectos encadeados por uma estranha luz virtual.

Num certo sentido, pode dizer-se que o capital acumulado pelos impérios do Ocidente já não precisa, nem das suas bases territoriais, nem das suas raízes humanas, sociais e espirituais, ambas, de certa maneira, esgotadas e envelhecidas. Basta-lhes, por isso, e como sempre, recursos e mão de obra jovem e barata. Onde estes estiverem estará o capital! Mas a que preço? Uma hipótese, plausível, é a do fim abrupto da hegemonia americana, seguida de um declínio prolongado, na doce companhia da Europa, ambos clamando no deserto contra o aquecimento global. Outra hipótese, de uma gravidade extrema, é ocorrer um ataque nuclear contra o Irão, do qual resulte a III Guerra Mundial. Gostaria de acreditar que existe ainda uma terceira hipótese: a da cooperação internacional para o desenho de uma humanidade solidária e mais consciente dos tremendos desafios energéticos e ecológicos que ameaçam, por culpa própria, a própria continuidade, se não da espécie humana, seguramente, das civilizações que conseguiu erigir nos últimos dez mil anos.

Na América, onde o espírito democrático e de iniciativa cidadã continuam felizmente muito vivos e criativos, há quem contraponha à falida nota verde o retorno a moedas de confiança. Uma dessas moedas fiáveis chama-se Liberty Dollar, e outra, cuja fama cresce rapidamente, chama-se Ron Paul Dollar, em homenagem a um dos mais controversos senadores republicanos actuais. Ron Paul é contra a guerra movida pelos EUA contra o Iraque e defende o fim da Reserva Federal americana, em nome do regresso à moeda dura e do fim da moeda mole ("fiat currency"). Estas iniciativas têm um valor pedagógico evidente. A ira que desencadearam junto das autoridades monetárias locais é uma prova de que estão a fazer efeito. Um sinal de que nem tudo está perdido.

FBI Raid on the Liberty Dollar

"Friday, November 16, 2007: Make no mistake, the FBI and Secret Service raid on the Liberty Dollar at 8:00 AM on Wednesday, was a direct assault against the US Constitution and your right to own and use gold and silver in any way you chose.

"I personally spoke to FBI agent Andrew Romagnuolo shortly after he and his gang invaded the peaceful home of the Liberty Dollar. He told me that the raid was related to the US Mint's warning and the beginning of a criminal investigation. This is the first battle of a long war that I intend to win!" -- Bernard von NotHaus, Monetary Architect.



NOTAS
  1. Sobre a história do dinheiro vale a pena ler esta síntese maravilhosa escrita por Elaine Meine Supkis no seu blog Culture of Life News:

    "When the Forex markets were first engineered, no one involved imagined it would lead to utter chaos. Of course, throughout history, when an empire is strong and powerful and patrols the Seven Seas with impunity, all currencies are judged relative to the currency issued by the Emperor or Empress. Of course, these empires had to issue currency in a form that had 'intrinsic value.' In other words, for the last 3000 years, this was of several metals. Gold, silver and copper for the most part.

    "All empires use their fleets and troops to seize and loot and one of the top items they seek restlessly is gold, silver and copper. Using this, they can issue coins which are used to buy luxury items, for the most part. This is because most of the economy until the 1600s was mainly barter. One thing all kings and emperors figured out was, if they controlled the mint, they could debase the coin by mixing the metals with baser metals. Often, it is either zinc or copper. To hide this, they had many laws. These laws still stand.

    "For example, a merchant could melt the gold coins which separates the minerals and then resell the pure gold with a guild certificate of purity. Holding gold has an overhead cost, of course. Everyone wants to steal it. Including the Emperors and kings hovering nearby. During the Middle Ages, the Church and Islam both forbade charging interest so holding gold brought no wealth. It cost the holder dearly. One had to hire guards and install expensive iron security systems and this is when many forms of locks we see in modern form today, were invented. Before this, people simply buried the gold in hidden places.

    "Literally, in the ground. Even in the 1600s, pirates continued this tradition. There are many fairy tales of young men or princes going forth with a purse filled with gold ducats only to be robbed on the road or in an inn. Ducats, by the way, were first issued by the Venetians during the Crusades. For money had vanished during the longest depression to hit Europe, the Dark Ages. Ducats were mostly the result of these wars. Gold was looted first from Jerusalem and the surrounding countryside. Then, from the great Empire of Byzantia. This was minted and used as trade tokens.

    "And what trade was this? Easy: trade with CHINA. One could not buy the fabulous manufactured wares of China unless one paid in gold. For 1,000 years, China slowly accumulated much of the gold in circulation this way. And it was a one-way street which meant, Europe was always having currency problems. The only cure for this was to find gold.

    "Over the centuries, bankers have discovered many ways of dealing with the contradictory nature of currency versus trade. If someone finds a lot of gold or conquers a kingdom with lots of gold to loot, the currency crisis is eased but this also causes the relative value of gold to drop. In a nutshell, everyone wants more gold but if more gold appears in circulation, the value of the gold in relation to everything else, drops.

    "Many an Emperor has torn out his hair after expending huge sums of money on armadas and troops only to find the looting expedition is causing the currency to collapse due to too much gold flooding markets. As expenses on the military eats up the budget, he is forced to go to banker/merchants for loans. And to pay for this, the Emperor issues IOUs to these merchants. Who, in turn, use these as...MONEY. For they love to trade things and a writ of promise for future tax revenues has value! Unlike gold, tax money is paid in yearly installments. So if the banker/merchants forward to the Emperor the equivalent of 3 years of taxes and the Emperor then promises to pay them with 4 years of taxes, everyone is happy except for the tax paying public.

    "But early on, the Emperor of Spain discovered he could keep doing this and he did until he ran up debts based on over 100 years of future taxes! And the foolish Emperor wasted all of this on trying to invade a land that has virtually no gold at all: England. And on top of this, the Armada sank. Within 100 years of this, due to the forward sale of future tax revenues, Spain collapsed as a world power and France replaced them only to fall in to the exact same trap of selling future tax revenues. This led to the King losing his head.

    "England, the next up at bat as World Ruler tried to avoid these fates. But after defeating Napoleon, England went on a classic looting expedition and the top two holders of world gold that hadn't already been looted by the Spanish was India and China.

    "Both were looted ruthlessly. But instead of using this loot to build a huge army, the Brits used it to build the first Industrialist capitalist society. And then the eternal problem of how to conduct business while not having to deal with the insecurities and restrictions of using metal coins reared its ugly head. The solution was always to issue gold certificates rather then bonds of joint purpose like the South Sea Bubble bonds. I have a collection of 19th century gold and silver certificates. These were issued by banks that supposedly had the coins stashed in safes that were called 'safes' because they were supposedly secure. Only the banks never bothered to issue these certificates on a one-to-one basis. They always issued as many certificates as they dared.

    "Periodically, people would suddenly think, a bank was lying about this and would rush the banks to demand their gold or silver certificates be honored. Banks never run out of paper IOUs. Germany showed how their great printing skills could keep up with near-infinite demand. The problem was if people wanted gold or silver.

    "Today, all the world's currencies operate on the dangerous fiat value method. This works ONLY if the top imperial currency is still connected with gold and silver. But ever since the US, imitating all previous Empires, decided to pay for a lousy war via issuing irresponsible paper IOUs, there is NO CURRENCY ON EARTH that is connected to any tangibles. There are stocks and bonds which are attached to either future tax revenues or people paying back loans. These are very unstable due to the possibility of bankruptcy.

    "The news that Bündchen, the great-great granddaughter of German immigrants to Brazil back when the rubber plantation boom attracted many Germans, won't accept US dollars anymore due to it losing too much value when it is part of a contract which stipulates payment in the future, so it is with many operations now. The Indian government can't issue daily currency value changes at museums and public monuments! This is very much a reminder of Germany in 1923. The complications of the premier currency dying rapidly is, it destabilizes RELATIONSHIPS. And this is where POWER lies: not in declarations of friendship but in honoring and writing CONTRACTS that spell out financial and business dealings IN THE FUTURE.

    "We are losing very significant powers here. I would venture to say, our USS Even Keel is keeling over. And I want to keelhaul the idiots causing this." (Link)

OAM 278, 19-11-2007, 02:58

quarta-feira, novembro 07, 2007

OG2008-2

Nevoeiro orçamental
... 95 por cento das despesas do Estado são salários, pensões e juros."

"O primeiro-ministro veio dizer garbosamente que a dívida pública diminuía pela primeira vez nos últimos anos. E sabe porquê? Porque há um verba muito elevada, cerca de um por cento do PIB, à volta de mil e seiscentos milhões de euros, relativos a compromissos de 2007, cuja dívida pública vai ser emitida em Janeiro de 2008." -- 2007-11-04, Bagão Félix, ex-ministro das Finanças, in Correio da Manhã.

"The world is in chaos as everyone tries to deal with the obvious: the banking system of the free-spending, debt-accumulating G7 nations is now collapsing and this is due to the direction money is now flowing: to China and the oil nations. The lies about inflation are now biting very hard." -- November 5, 2007, "More Wizards Of Finance Fall Off Cliff", Elaine Meinel Supkis, in Culture of Life News.

José Eduardo dos Santos corta com BPI e ameaça fusão com BCP

"As relações entre o Governo angolano e os bancos portugueses estão cada vez mais azedas. O episódio mais recente da tensão, que parece crescer de dia para dia, passou-se, há menos de uma semana, com o maior banco privado do país, o Banco de Fomento de Angola (BFA), controlado pelo BPI. Esta instituição, que contribui com 30% para o lucro do BPI, desistiu, à última da hora, segundo disse ao Diário Económico uma fonte do Executivo de Fernando Piedade Dias dos Santos, de ser 'co-leader' de uma emissão de dívida para o Estado angolano, o que causou um enorme mal estar e motivou "uma recomendação serena" para que as empresas de capitais públicos cortassem as suas relações bancárias com o BFA." -- 2007-11-07 00:05, in Diário Económico.


Visitei no Sábado passado o Mosteiro São João de Tarouca, no decurso de uma das minhas idas e vindas ao Douro, onde procuro reavivar as quintas deixadas pelo avô paterno, que os caseiros foram paulatinamente trocando por vidas melhores e os donos quase esqueceram entre os seus muitos afazeres urbanos e distracções cosmopolitas. Passei por Fátima para uma visita rápida à nova igreja da Santíssima Trindade. A arquitectura, a escultura e as imagens colheram-me de surpresa, pela qualidade e consistência do realizado e pelas discussões teológicas e estéticas que reavivam em quem, como eu, não crendo em Deus desde a minha adolescência filosófica, não deixa por isso de ser uma criatura de fé.

Por muito que custe a alguns, o novo conjunto monumental da Cova da Iria ultrapassa em significado e forma tudo o que de simbólico foi sendo erigido pelos poderes públicos nos trinta e três anos que se seguiram à queda da ditadura. Assim sendo, temos uma dificuldade séria na esfera da legitimação estética do actual regime democrático! Uma dificuldade, por outro lado, tristemente escancarada na ruína física, política e ética em que vi transformado um dos mais importantes e monumentais testemunhos da nossa identidade nacional: o Mosteiro S. João de Tarouca.

Sob a responsabilidade patrimonial e cultural do Ministério da Cultura, aquele lugar, outrora de saber, estratégia e tecnologia, visitado ainda assim por milhares de pessoas anualmente, encontra-se literalmente ao abandono. Não fora a igreja continuar aberta ao culto, e a paixão dum voluntário que ama o lugar e nada cobra pelo seu serviço, sobre cujos ombros repousa exclusivamente a possibilidade de visitar o local e a respectiva segurança, e não teria tido a oportunidade de me indignar com mais este exemplo de boçalidade estatal, sempre invisível na paisagem árida das estatísticas e dos imbecis jogos florais com que há décadas se entretêm os nossos bem pagos, ociosos e quase sempre inúteis parlamentares.

António Guterres e Manuel Maria Carrilho, talvez por serem beirões (o Sócrates também é, mas é ignorante), ainda tentaram fazer alguma coisa pelo mosteiro, só que depois deles, e sobretudo depois da rapaziada de Macau ter tomado conta do PS e do poder, lá colocando recentemente um falso engenheiro extraído ao PSD, a cratera cultural que hoje exibe a ruína do mosteiro de S. João de Tarouca é uma das mais gritantes metáforas da imprestabilidade de quem nos governa. No interior da igreja, podemos admirar, entre outras obras de arte, o altar de São Pedro, cuja pintura a óleo, atribuída a Gaspar Vaz, um dia viajou até à Europália (Bruxelas), tendo regressado ao seu lugar sob forte escolta policial. Só não foi roubada entretanto porque nenhum gang especializado se deu conta da situação indefesa deste e doutros insubstituíveis tesouros que decoram os vários altares barrocos da igreja.

Estas realidades contrastam tanto com o reality show da discussão parlamentar em volta do documento ficcional a que chamam pomposamente Orçamento de Estado que é difícil estabelecermos uma ponte de causa-efeito entre o extremo cada vez mais descaradamente irresponsável da decisão política e as respectivas vítimas.

Portugal tem uma dívida pública (isto é, uma Dívida Bruta Consolidada das Administrações Públicas) que come mais de 64% do que o país produz anualmente, e tem uma dívida externa acumulada que corresponde a quase 130% do que produz anualmente (a 22ª mais elevada entre 200 países avaliados). Ao mesmo tempo, o Estado gasta 95% dos recursos que lhe são postos anualmente à disposição, em vencimentos a funcionários, prestações de serviços, pensões e juros à banca.

A combinação é explosiva e insustentável, sobretudo se conjugarmos estas debilidades extremas com o facto de o país estar praticamente sem ouro, sem fundos de divisas e títulos seguros que se vejam (FOREX e SWF), sem estratégia nem estrutura industrial adequadas ao nosso efectivo potencial produtivo, sem rede nem política de transportes (apenas temos um ministro, que deveria estar preso, para não fazer mais asneiras!), e sem outros recursos naturais disponíveis para além da água dos rios e lençóis freáticos, do Sol e do mar. Os recursos humanos, por outro lado, são cada vez mais escassos e continuam mal preparados por comparação com os demais países que integram a União Europeia. Por fim, temos uma grave crise demográfica pela frente e o regresso da emigração em massa (ainda que camuflada nas estatísticas.) O envelhecimento das populações e a desertificação dos povoados, aldeias, vilas e pequenas cidades, a par da imparável e perigosa sub-urbanização das principais cidades do país, confluem para uma crise sistémica de proporções incontroláveis. É uma questão de tempo. Mas não de muito tempo.

Numa tão dramática situação (não estou a exagerar, creiam-me), o mínimo que se exige dos eleitos sentados no parlamento é que estudem seriamente os problemas e discutam publicamente, de forma clara e transparente, as efectivas soluções alternativas de que ainda dispomos. Se os deputados são burros e previsíveis ao ponto de se comportarem como ratos num labirinto de migalhas, e se os respectivos líderes ainda acham que podem continuar a brincar com quem os elegeu, então temos o caldo entornado! A crise instalada levará as indústrias, os bancos, o emprego e o consumo, a zeros, para gáudio temporário de alguns espanhóis e de todos aqueles que apostam na fragmentação política e social da Europa. Bateremos inexoravelmente no fundo. E quando tal vier a acontecer, não nos restará outra alternativa que não a reforma radical do actual regime político.

Precisamos urgentemente de uma democracia económica transparente, de um Estado fiável e de uma governança eficaz e responsável, incompatíveis com os níveis absurdos de desorganização, incompetência, irresponsabilidade, cabotinismo e corrupção actuais.

Numa democracia económica transparente será possível desenhar e discutir verdadeiros orçamentos públicos, que atendam a estratégias de Estado claras e estáveis e permitam a competição justa entre propostas legislativas e equipas de governação criativas, ágeis e eficientes. A fórmula actual das organizações partidárias está esgotada. Precisamos de encontrar novas soluções à altura das democracias tecnológicas em formação e da solidariedade global. Não é o fim da Política. É o renascimento da Política!

A extinção das Ordens Religiosas masculinas em 1834, traduzida na sua expoliação económica e patrimonial por parte do vencedores da Guerra Civil Portuguesa que se seguiu ao processo de independência do Brasil, serviu não só o propósito de reorganizar a administração pública em novos moldes, mais laicos e mais dependentes do poder político constitucional, mas sobretudo para equilibrar as debilitadas finanças públicas de um país falido duplamente, pela perda do Brasil (cujas compensações monetárias foram utilizadas no financiamento da campanha liberal) e pelo esforço de guerra.
"Em São João de Tarouca, todo o espólio deixado pelos Monges de Cister foi nacionalizado e vendido em hasta pública a particulares, à excepção da Igreja que se manteve aberta ao culto. O resultado desta situação foi a destruição quase total de um vasto e rico património. Como o principal meio de subsistência das populações locais que adquiriram todo o espólio era a agricultura, deu-se o desmantelamento de quase todas as edificações do Convento, para assim, se proceder ao alargamento dos terrenos de cultivo. A pedra retirada dos seus locais de origem, foi depois utilizada na construção de todo o tipo de habitações. A pilhagem foi também indiscriminada, levando ao desaparecimento de um grande espólio, que por ser de menores dimensões, proporcionava o seu transporte, após o furto. Da Igreja foi levado o conteúdo dos relicários de santos, pequenas peças, paramentária e mesmo ourivesaria. Todas as dependências do Mosteiro foram desmanteladas, pedra a pedra, até restar aquilo que hoje é possível observar. O que hoje está à vista, são ruínas, que apenas nos proporcionam uma ténue visão do que teria sido a riqueza deste monumento."
Ao ler este trecho do roteiro do Mosteiro de São João de Tarouca, veio-me à memória a actual situação das finanças públicas portuguesas e as ideias assassinas do actual governo para as estradas, as águas, os rios e o Sol que em cada dia nos ilumina e aquece. Querem pôr tudo a patacos, primeiro nas mãos dos nossos corruptos e anémicos banqueiros e construtores civis, depois, ao colo agradecido e finalmente triunfante de Madrid. Que pensará Cavaco desta cobardia promovida pela indecorosa e decadente maçonaria lusitana? Quer ser o Pilatos de tal traição, ou agirá a tempo, em defesa de Portugal?


OAM 273, 07-11-2007, 19:40

sexta-feira, outubro 26, 2007

Aeroportos 39

Mochila Mandarina Duck
Do conforto, fiabilidade, preço e rapidez do comboio,
às imbatíveis Low Cost, com uma mochila às costas...
Foto: Mochila da Mandarina Duck.
Burro a pão de Ló

Uma TAP inviável num NAL improvável é como um burro alimentado a pão de Ló.
Escusam de nos atirar mais areia p'rós olhos no que toca ao panorama ferroviário, às novas PPP assassinas no horizonte e aos muitos salamaleques que o actual Bloco Central continua a fazer ao Sr. Betão e ao Sr. Paraíso Fiscal (eufemisticamente chamado off-shore). O que vemos sair do emaranhado de neurónios fundidos do Sr. Lino assusta, como sempre, pelo descarado cabotinismo
.

Entretanto...
Companhia aérea mexicana quer começar a operar com os Boeing 737-700 ER Next Generation entre Vigo e o México. O que faz dos sonhos húmidos sobre grandes Hubs aeroportuários, isso mesmo: sonhos húmidos, e nada mais.

easyGroup, proprietária da easyJet abre quatro hoteis Low Cost, a 40 euros por pessoa, em Portugal, nos próximos 4 anos. O primeiro deles inaugura ao fundo da Av. dos Aliados, no Porto, já no próximo ano. Jornal de Negócios, 26-10-2007.

A guerra de taxas aeroportuárias entre Madrid-cidade, um aeroporto público, e Madrid-Sur (Ciudad Real), um aeroporto privado, que já começou a prestar provas de pista, vai aquecer e provocar novos e inesperados estragos na Portela e sobretudo na TAP, a braços com a sucata da PGA e uns... milhares de trabalhadores a mais!
Resumindo, são estes os dados da equação que o burro do MOPTC não consegue resolver:
  1. o petróleo, o gás e os recursos naturais entraram numa empinada e duradoura espiral inflaccionista;
  2. o paradigma Low Cost, iniciado com as ligações aéreas ponto-a-ponto de médio curso, mas que vai estender-se às distâncias de longo curso, a outros meios de transporte (comboios, barcos e rent-a-car), e ainda aos vários sectores económicos integrados na fileira das Short Break Holidays (hoteis, restaurantes, casinos, feiras e congressos, etc.), veio para ficar, e assim sendo, tenderá a fazer implodir as chamadas companhias de bandeira, sobretudo estatais, devido aos respectivos maus hábitos administrativos, mordomias políticas, lastro despesista e um sem número de ineficiências operacionais;
  3. a compra da PGA foi uma burla de Estado, pois na aparência dum acto de gestão corrente de uma empresa pública, obrigada a seguir as regras do mercado, o Estado, sob os auspícios do governo e do burro do MOPTC, libertou um banco privado das suas responsabilidades empresariais, atirando com o ónus das más previsões deste (prejuízos de exploração, capital fixo moribundo e força laboral excedentária) para as contas de uma empresa pública em vésperas de privatização, comprometendo irremediavelmente o êxito de tal operação. Ou seja, o Estado comprou um fruto que sabia estar podre, desembolsando para o efeito 144 milhões de euros (29 milhões de contos!) dos bolsos de todos os contribuintes. Onde estão os advogados do povo?! E os jornalistas?
  4. a TAP está num estado crítico, por falta de visão estratégica atempada, por má gestão e por efeito da concorrência crescente das Low Cost. Isto significa que dificilmente resistirá até 2016. No imediato, não lhe resta outra alternativa que não passe pela alienação de empresas do grupo e por despedimentos colectivos. Salvo se for resgatada por um milagre angolano, russo, chinês ou árabe, será forçada a abrir falência mais cedo do que todos desejaríamos;
  5. o "Estado exíguo" (Adriano Moreira dixit) a que chegámos, politicamente hiper-instável, impede a subsistência prolongada de situações de impasse económico-financeiro como o que actualmente vive a transportadora aérea nacional;
  6. a captura, directa ou indirecta, do Estado e partidos do arco parlamentar pelos carteis da construção civil, do imobiliário e da banca, tem vindo a atrofiar gravemente as possibilidades de definição de uma estratégia de transportes coerente e sobretudo útil ao estádio actual das nossas reais necessidades no contexto da acrescida competitividade ibérica, europeia e mundial;
  7. O Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), nas presentes circunstâncias nacionais, europeias e mundiais, fazendo sentido pelo lado da estratégia e da política, não tem provavelmente nenhumas condições de viabilidade e será um desastre económico se for adiante, pelo que o Estado português deveria condicionar um tal projecto à avaliação rigorosa da sua sustentabilidade económica e impor sem margem para dúvidas toda a responsabilidade do negócio nas mãos do sector privado. Isto é, SCPC - SEM CUSTOS PARA O CONTRIBUINTE!

Prioridades absolutas
  1. adequação efectiva (e não aldrabada!) dos aeroportos existentes às necessidades reais do mercado, com incidência especial nas seguintes infra-estruturas: Portela-Figo Maduro, Montijo, Sá Carneiro e Faro-Algarve;
  2. modernização dos aeródromos de Fátima, Évora e Beja em regime SCPC;
  3. ligação ferroviária de Alta Velocidade/Velocidade Elevada entre Lisboa e Madrid (1);
  4. ligação ferroviária de Velocidade Elevada entre Porto e Vigo;
  5. ligação ferroviária de Velocidade Elevada entre Porto, Aveiro e Salamanca;
  6. ligação ferroviária de Velocidade Elevada entre Lisboa-Sines-Faro-Huelva;
  7. finalização das escandalosas obras da Linha do Norte por forma a permitir os Alfa Pendulares (2) circularem em maior número e a velocidades médias superiores (baixando o tempo de viagem para valores entre as 2h30mn e as 2h10mn), ao mesmo tempo que se introduzem radicais melhorias na manutenção do material circulante e no serviço de atendimento especial, nomeadamente o prestado a bordo: garantia de rede móvel em todo o percurso, acesso Internet de banda larga, tomadas para ligação de computadores em todos os lugares, estacionamento gratuito e refeições ligeiras para viajantes em classe conforto, marketing agressivo sobre as vantagens económicas, psicológicas e de segurança para quem viaja de comboio, e muita, muita simpatia :-)


Notas
  1. Segundo Rui Rodrigues, as linhas transversais são prioritárias, e explica porquê:
    -- com a rede existente, qualquer comboio de passageiros e mercadorias de bitola ibérica (distância entre carris = 1.668 mm ) e de tracção eléctrica pode circular livremente desde Braga até Faro ou dos portos de Sines e Setúbal para o Norte do País.
    -- uma nova linha, em bitola europeia (distância entre carris = 1.435 mm ), só faz sentido se for construída de uma só vez desde o ponto inicial até ao ponto final. De contrário, se fosse construída uma linha deste tipo apenas entre Lisboa e Porto, os comboios da actual rede de bitola ibérica, vindos de Braga, de Setúbal ou do Algarve não poderiam utilizá-la, sendo necessário proceder ao transbordo de passageiros e mercadorias!
  2. Rui Rodrigues, "Alfa Pendular, a oportunidade perdida da CP" (PDF)

OAM 269, 26-10-2007, 18:16

quarta-feira, outubro 24, 2007

Vladimir Putin

Vladimir Putin, judoca e novo czar da Rússia


Um novo príncipe

É difícil deixar de comparar a figurinha mesquinha e algo psicopata de George W. Bush com a estampa olímpica de Vladimir Putin. É difícil deixar de ver no homem que recuperou a dignidade da Rússia após os anos ébrios da delapidação que se seguiu à implosão da União Soviética, um dos muitos personagens da longa e convulsiva dramaturgia russa.

De oficial dos serviços secretos da ex-União Soviética a líder de um império desmembrado e pilhado por uma horda de hienas apoiada por ávidos gentios norte-americanos de todas as profissões e matizes, aquele homem tímido foi-se impondo paulatinamente ao respeito, primeiro dos seus concidadãos, e agora do resto do mundo.

Dele depende, neste preciso momento, a integridade física do planeta! Vladimir Putin é de facto o único travão capaz de sustar a alucinação dos End-Timers que tomaram de assalto a América e ameaçam transformá-la numa perigosa estirpe neo-fascista do imperialismo. Bush e a canalha que o rodeia quer mesmo desencadear a III Guerra Mundial, acabar com a Europa (seria essa a consequência imediata), e boa parte da China e da Rússia, em nome da sobrevivência de uma supremacia anglo-saxónica, branca, álgica, doentia e protestante, devota de um Cristo redentor loiro e de olhos azuis. Os judeus, que podem até ser o gatilho do grande holocausto nuclear, estariam infelizmente entre os sacrificados do Apocalipse por que ardentemente clamam estas bizarras minhocas das zonas mais profundamente ignaras e desgraçadas da América.

Zbigniew Brzezinski, autor dum célebre livro chamado The Grand Chessboard (1997), escrito quando ainda acreditava na possibilidade de uma longa e estável supremacia norte-americana no mundo, escreveu recentemente um desesperado lamento à má sorte da super-potência, no qual se esforça por remediar o que aparentemente já não tem cura: o modelo imperial capitalista saído do American Way of Life. Esse livro chama-se sintomaticamente Second Chance (2006). Não resisto a transcrever o parágrafo inicial, e outro da sua conclusão:

"The self-coronation of the U.S. president as the Global Leader was a moment in historical time if not a specific date on the calendar. It followed the collapse of the Soviet Union and the end of the Cold War. The American president simply began to act as the global leader without any official international blessing. The American media proclaimed him as such, foreigners deferred to him, and a visit to the White House (not to mention Camp David) became the high point in any foreign leader's political life. Presidential travels abroad assumed the trappings of imperial expeditions, overshadowing in scale and security demands the circumstances of any other statesman."

(...)

"Though in some dimensions, such as the military, American power may be greater in 2006 than in 1991, the country's capacity to mobilize, inspire, point in a shared direction and thus shape global realities has significantly declined. Fifteen years after its coronation as global leader, America is becoming a fearful and lonely democracy in a politically antagonistic world."

A América exportou em nome da ganância e de uma desejada supremacia imperial o fundamental da sua capacidade produtiva para a Ásia. Na última década e meia, intensificou mesmo, de um modo sem precedentes, essa alienação de conhecimentos e de práticas para um único país, a China. Contava, a partir da célebre "globalização" anunciada por Bill Clinton, forçar todo o mundo a trabalhar para si, alimentando eternamente uma cultura doméstica hedonista, prisioneira psicológica de um consumismo insane e de uma contínua alucinação mediática. O truque era simples: exportar a actividade produtiva e a extracção de mais-valias para zonas onde predominassem regimes de semi-escravatura e em geral factores produtivos extremamente favoráveis; imprimir sem qualquer supervisão internacional o papel-dinheiro que fosse necessário (dólares e títulos de dívida pública) para poder adquirir as mercadorias produzidas fora do seu território; garantir o acesso sem limites às principais fontes energéticas mundiais; proteger politicamente os regimes favoráveis aos seus jogos económicos e controlar o planeta por todas as formas e feitios, disseminando bases militares nas suas juntas nevrálgicas, montando uma rede espacial de satélites militares, instalando sistemas de devassa sistemática das comunicações mundiais (Carnivore), etc. Para o sucesso deste empreendimento imperial precisaria, no entanto, de três coisas: aniquilar a Rússia, espezinhar o Médio Oriente e amedrontar a China, explicando a esta última que uma tão esmagadora super-potência jamais lhe permitiria sair do seu papel de fornecedor de coisas baratas e mais-valias. O sonho transformou-se entretanto num pesadelo!

A Europa andou, durante toda a década e meia que durou esta crise de liderança, entretida com o seu projecto aduaneiro, exportando igualmente boa parte da sua capacidade produtiva para a China e demais países emergentes. Sem cabeça política, dividiu-se demasiadas vezes em volta das suas prioridades estratégicas, esquecendo, por exemplo, que o seu lugar no século 21 passa menos por andar ao colo do mano atlântico, do que por estender a sua solidariedade construtiva ao Norte de África, ao Médio Oriente e sobretudo à Rússia, tornando claro que os jogos de poder do tio Sam contra estas regiões são prejudiciais, em primeiro lugar, à própria estabilidade da Europa.

A Rússia percebeu, como perceberam as repúblicas do Mar Cáspio, a Índia, o Irão e sobretudo a China, que só uma aliança militar alternativa (a SCO) ao expansionismo desregrado e agressivo da NATO, propugnado pelo equivocado Brzezinski, seria capaz de travar o cerco americano e acordar os sonâmbulos europeus. Foi isso que aconteceu, em grande medida, graças à energia e lucidez de Vladimir Putin, após, obviamente, recompor o potencial nuclear estratégico de Moscovo, só possível depois de recuperar a propriedade e o controlo económicos do país. As duas guerras invasivas contra o Iraque e a invasão do Afeganistão traduziram-se, talvez inesperadamente para quem as desencadeou, no principal factor, a par do crescimento da China, da Índia, do Brasil e dos Emiratos Árabes, da valorização acelerada do petróleo e do gás natural, recursos cuja disponibilidade e acessibilidade entraram numa curva irremediavelmente descendente. Enquanto a América e boa parte da Europa anseiam pelo petróleo para poderem brincar com os vários dildos das sua cultura hedonista, a China e demais países produtores de mercadorias precisam desse mesmo petróleo para fabricar os dildos que tanta falta nos fazem. É toda uma diferença!

A cimeira Europa-Rússia que hoje tem lugar em Portugal, no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia, na conjuntura explosiva que o mundo está a atravessar, tem uma importância crucial para o futuro imediato do próprio projecto europeu. Ou a Europa descola diplomaticamente da América e defende os seus interesses regionais de forma inteligente e clara, ou permanece atrelada às manobras inglesas (e agora também do garnisé francês), deixando os proto-fascistas da Casa Branca conduzirem o planeta para uma III Guerra Mundial. Mesmo que limitada, mesmo que não alastre imediatamente a todo o planeta, uma guerra de mini-nukes (contra o Irão, por exemplo) levará necessariamente a um novo Tratado de Tordesilhas, desta vez entre os EUA e a Rússia-China, por cima dos escombros materiais e ideológicos de uma Europa decapitada de qualquer protagonismo nos próximos duzentos anos. O contrário desta possibilidade passa pela existência de uma terceira posição estratégica independente, protagonizada pela Europa, em nome da racionalidade, da distensão e da cooperação mundial. Não é assim tão difícil.

O facto de Vladimir Putin ser recebido no Convento de Mafra, um lugar de meninice que conheço bem e admiro (pois foi aí que adquiri boa parte da minha sensibilidade estética e curiosidade intelectual), revela a importância histórica conferida pela diplomacia portuguesa à visita no novo Czar da Rússia. Oxalá seja um bom prenúncio!



Post scriptum -- a inauguração da exposição com obras do Hermitage e a possível criação de uma extensão deste famoso museu em Lisboa são dois acontecimentos de uma relevância simbólica bem maior do que à primeira vista possa parecer. Significam um ramo de oliveira estendido entre as duas capitais mais distantes da Eurásia que urge criar e consolidar como principal factor da estabilidade mundial. Portugal é hoje um pequeno país europeu empobrecido e com umas desfalcadas elites em processo de reconstituição. Mas foi, não esqueçamos, o primeiro império planetário da história. Durou tanto quanto o império romano, mais tempo do que os impérios espanhol, francês, holandês ou inglês, não se comparando sequer em duração, experiência e cultura à efémera e agressiva dominação americana. A exposição do Hermitage e a visita ao palácio de Mafra é pois toda uma alegoria que convem reter. De parabéns estão naturalmente a actual direcção do Ministério da Cultura... e os comunistas (ou ex-comunistas) portugueses que souberam fazer a sua própria Perestroika interior, sem cair nos braços sedutores do McDonalds.

Referências

Mafra, a terra que cura.
"Senhor, fico-vos infinitamente obrigado pelos esforços que faz para me enviar terra de Mafra. Qualquer que seja o sucesso, suplico-lhe instantemente que não negligencie esse objecto e que me envie o mais rapidamente possível. É para Sua Majestade Imperial que lhe peço e, se for preciso, dirija-se ao Conde de Oeiras para obter a permissão do Sr. Barros" . Dmitri Golitsin, príncipe, diplomata e cientista russo (1734-1803) -- LUSA/Dn, 24-10-2007.

Democracia soberana.
Em Setembro, o partido de Putin, Rússia Unida, adoptou como programa a doutrina da "democracia soberana", proposta por Vladislav Surkov. Este explicou: "Ela está nos antípodas da "democracia dirigida", um termo que certos centros de influência mundiais tentam impor e que designa um modelo caricatural de regimes económicos e políticos tão ineficazes que têm de ser dirigidos do exterior." -- Público, 25-10-2007.

Putin inaugura exposição do Hermitage em Lisboa
Do imponente busto de Pedro, o Grande, ao ursinho de peluche do czarevitch Alexei, filho de Nicolau II (o último czar russo, assassinado pelos bolcheviques), são perto de dois séculos da história da Rússia - da grandeza ao fim de uma época - e da sua relação com a Europa que Vladimir Putin vai (re)encontrar hoje na Galeria D. Luís I do Palácio da Ajuda, em Lisboa. É aí que o Presidente russo será recebido às 19h30 pelo Presidente Cavaco Silva para a inauguração oficial da exposição Arte e Cultura do Império Russo nas Colecções do Hermitage - De Pedro, o Grande a Nicolau II. -- 25.10.2007, Alexandra Prado Coelho, Público.



OAM 268, 25-10-2007, 01:11

sexta-feira, outubro 19, 2007

Tratado Europeu 2

Alcochete, praia, 2007
Alcochete, praia, olhando para Lisboa.

Chin Chin!

Eu não sou bota-abaixista e tenho orgulho no meu país, apesar das suas evidentes misérias. Gosto de bater no toutiço daqueles que nos governam, sempre que descubro algo de muito errado nos seus actos e omissões. Estarei por vezes equivocado e serei às vezes injusto, mas esse é o preço do diálogo democrático e dos jogos políticos quando a informação disponível é parcial e se desconhecem as motivações reais das decisões. Assim sendo, pelos resultados obtidos por José Sócrates e José Manuel Durão Barroso, na sequência do enorme esforço de persuasão da chanceler alemã Angela Merkel, no que respeita à aprovação do Tratado Reformador que corrige e substitui o acto falhado que acabou por ser o Tratado Constitucional redigido pela comissão presidida por Valéry Giscard d'Estaing, parabéns pá!

Não é indiferente para um pequeno e aflito país como Portugal, que tenhamos co-produzido, mediado activamente e finalmente celebrado dois documentos tão importantes para o futuro da Europa quanto a Agenda de Lisboa e, agora, o Tratado de Lisboa, cuja ratificação recolherá muito provavelmente a unanimidade democrática dos 27 membros da União. A predisposição existente para a aprovação do documento-base da nova Europa não significa, porém, que todos os estados deixem de fazer um verdadeiro esforço para divulgar e sobretudo discutir em bases claras e pedagógicas os prós e contras do Tratado Constitucional Europeu. Se tal se fizer, não desaprovo a ideia de a ratificação do documento ficar a cargo dos parlamentos democráticos dos diversos estados europeus (1).

A Europa está numa complicada encruzilhada. Precisa de consolidar urgentemente o seu projecto territorial, que é de facto um problema de espaço vital -- económico, político e cultural--, mediando ao mesmo tempo de forma pacífica a deslocação tectónica em curso do centro do mundo, do continente americano para a Ásia... ou para a Eurásia.

A crise que afecta actualmente os Estados Unidos não é um episódio conjuntural, mas sim uma verdadeira crise sistémica, a qual revela sinais inequívocos do declínio efectivo de uma super-potência mundial, 20 anos depois da Queda do Muro de Berlim. Há quem preveja que esta perda inexorável de protagonismo e de poder vá consumir e agitar a América nos próximos 35 anos.

A tentativa em curso de fazer regressar o maniqueísmo bipolar e o terror atómico entre Washington e Moscovo volta a ser, infelizmente, a mais perigosa ameaça ao futuro da humanidade. Os Estados Unidos e a Europa exportaram boa parte da sua capacidade produtiva para a Ásia, numa lógica capitalista de pura exploração de recursos, nomeadamente humanos. Por outro lado, não acautelaram a tempo e horas as questões energéticas e as questões da própria sustentabilidade ecológica do modelo de desenvolvimento material e cultural da espécie que desenvolveram e exportaram para todo o planeta. Os problemas convergem agora no sentido da sua crescente e combinada gravidade. Que fazer?

Talvez concentrarmo-nos todos na metamorfose criativa e pacífica do actual modo de vida!



Notas
  1. Numa conversa entre José Rodrigues dos Santos, António Vitorino e João de Deus Pinheiro, esta noite, na RTP1, ouvi aquele que me parece ser o mais demolidor argumento contra os fundamentalistas do Referendo para a ratificação do tratado constitucional europeu. Deus Pinheiro, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros, lembrou que a nossa própria Constituição (e as suas sucessivas revisões) nunca foram referendadas pelos eleitores, a não ser pela via parlamentar reforçada (maioria de 2/3).

    De facto, nenhuma pergunta clara poderia alguma vez ser submetida ao eleitorado sobre esta matéria extensa e complexa. Por outro lado, é verdade que mais de 99,9% dos portugueses, incluindo 99% dos simpatizantes do Bloco de Esquerda e 99% dos militantes do PCP, não fazem a mais pequena ideia do conteúdo do Tratado de Lisboa. Nunca o leram e não não vê-lo nunca! Nestas circunstâncias, as imbecilidades aveludadas proferidas por Joana Amaral Dias na SIC Notícias sobre o tema, tal como as vociferações neolíticas do Secretário-Geral do PCP não passam da mais pura e irrelevante demagogia. De resto, as posições já assumidas por Luís Filipe Menezes e Cavaco Silva sobre esta matéria vieram facilitar grandemente a tarefa ao actual Primeiro Ministro.

    Resta obviamente o problema do compromisso eleitoral do PS. Mas aqui, o povo dirá: -- "Tomara que o Socratintas só tivesse mudado de ideias neste assunto! ! (19-10-2007, 22:15)


Referências


Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa
Projecto do Tratado Reformador
Presidência da União Europeia, Portugal 2007



OAM 265, 19-10-2007, 13:19

Europa Cognitiva

Erasmus por Hans Holbein
Erasmo de Roterdão (1466-1536) por Hans Holbein (1497-1543).
A etapa do conhecimento

In the mid-80s, nearly 90% of European students studying abroad went to the US; ten years later, in the mid 90s, this proportion had completely reversed with only 10% going to a US university and 90% going to another European country's university. -- Europe2020, Oct.2007

Desiderius Erasmus Roterodamus, ou Erasmo de Roterdão, foi um dos filósofos da modernização do Cristianismo, movimento esse que viria a sofrer uma particular radicalização com Martinho Lutero, de cujas teorias nasceria a pouco e pouco uma Ética nova (do determinismo, do conhecimento, da razão, do trabalho e da sociedade) a que Max Weber chamaria, já no século 20, o "Espírito do Capitalismo".

Ambos puseram em causa os formalismos mais ortodoxos e hipocritamente piedosos do decadente Império Apostólico Romano, que impediam o livre pensamento e a livre circulação de ideias, de pessoas e de mercadorias na sociedade burguesa que se expandia então rapidamente. Mas se a metodologia de Martinho Lutero funda, de algum modo, uma tradição reformista revolucionária na Europa, a de Erasmo de Roterdão, pelo contrário, prossegue um caminho mais intelectual, centrado na proposta de uma libertação puramente cognitiva do pensamento, supondo convictamente que a verdade não pode se não resultar da liberdade. Talvez por isso o nome deste filósofo humanista flamengo viesse a ser escolhido, alguns séculos depois, para nome de um dos programas educativos com maior sucesso alguma vez lançado na Europa depois da própria criação das universidade -- o programa Erasmus.

Este programa de circulação de estudantes universitários pelas instituições de ensino superior europeias começou em 1987. Em 1990, movimentou 20 mil estudantes. Em 2004-05 o número subiu para 120 mil.

The development of a global European academic system centred on the strong inter-academic networks born from Erasmus resulted in a proliferation of partnerships between EU establishments and universities from other continents (in the UNESCO's 2004 top-ten academic destinations, there were 5 EU countries: UK, France, Germany, Spain and Belgium). Meanwhile Asia is becoming a prominent academic destination due to the growing importance of this continent on a global scale. In 2006, EU member states welcomed twice more foreign students than the US (over 1,200,000 versus 560,00048), an evolution parallel with the growing loss of educational market shares suffered by US universities. -- Europe2020, Oct.2007

A perda de influência dos Estados Unidos no mercado mundial do conhecimento e da formação é igualmente atestada pela crescente importância dos masters, doutoramentos e demais programas de pós-graduação europeus, e ainda pela importância crescente das universidades asiáticas, nomeadamente na China, Japão e India. No entanto, o poder de atracção das universidades europeias é, segundo o Europe2020, o facto mais destacável na evolução recente a nível mundial do fenómeno da formação e investigação. Na Europa, esta tendência condicionará cada vez mais a criação de redes, ou ligas de universidades e centros de formação avançada, ordenadas por rankings da qualidade e prestígio, com efeitos evidentes na competitividade educacional intra-europeia. Nos próximos vinte anos, segundo o Europe2020, uma tal perspectiva deverá estimular e condicionar fortemente as decisões dos estudantes, professores, investigadores, gestores e investidores envolvidos na economia do conhecimento.

Não sei se o contrato realizado entre o governo português e o MIT foi a decisão mais oportuna, sobretudo atendendo ao atribulado processo seguido e ao silêncio que se lhe seguiu. O que sei é que temos uma janela de oportunidade que não devemos desperdiçar, sobretudo agora que os bifes do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) acabam de ser lançados às feras da subsidio-dependência e do subsídio-oportunismo lusitanos.

Os milhões que até hoje se delapidaram na educação e na formação profissional pagas pelos fundos comunitários, de nada ou para pouco serviram. Houve muita roubalheira e descaramento e ninguém foi preso. Esperemos que desta vez sirva para preparar convenientemente a integração das nossas melhores instituições de ensino e formação técnico-profissional nas competitivas redes cognitivas em gestação por essa Europa fora.

Para tal, será necessário apostar forte num conjunto limitado de escolas, institutos e programas de excelência, sobretudo nas áreas que podem fazer a diferença do nosso desenvolvimento no contexto europeu: investigação e tecnologias avançadas aplicadas aos têxteis, calçado e acessórios; ciências e tecnologias do mar; energias alternativas; ciências genéticas e biotecnologias; ciências médicas; ciências e tecnologias da alimentação; informática e sistemas computacionais; ambiente; sustentabilidade; agricultura biológica e turismo.

É preciso, por outro lado, usar de um grande profissionalismo e criatividade na gestão desta importante virtualidade do QREN. A constituição de um colégio de comissários supervisores dos processos de aprovação de projectos, com a responsabilidade e a independência que a simples vinculação a direcções-gerais politicamente condicionadas e governos a prazo nunca poderão assegurar, faria toda a diferença.

OAM 264, 19-10-2007, 02:22

terça-feira, outubro 16, 2007

OE2008

Basta de ilusionismo!
Portugal: sobre o Orçamento de Estado de 2008 (OE2008)
16-10-2007. Look at Japan: that depression is entirely driven by the people at the top wanting to make money no matter what, while running a 0% system. It literally crushes people to death under such a regime. Japan's domestic economy isn't growing, only their export economy and the wealth of the elites running these Japanese export corporations. -- Elaine Meinel Supkis, Goldman Sachs: Traitors And Con Artists.
Portugal, um país em recessão grave e endividado até ao tutano, tem que dizer "Basta!" à retórica governamental e partidária, exigindo dos políticos uma linguagem clara e transparente sobre a situação real do país e as alternativas que teoricamente se nos oferecem.

Por exemplo:

O BNP Paribas Energy Commodities Export Project, no seu relatório de Novembro de 2006 --WTI & Brent Quaterly Price Outlook 2007-2008-- previa que o Brent estaria próximo dos US$65 no final de 2007. Em Setembro deste ano, a mesma entidade limita-se a constatar que o barril ultrapassou os US$80, não fazendo previsões para os tempos mais próximos!

O governo português elaborou um Orçamento de Estado para o ano 2008 tendo por referência um preço médio do Brent de US$74,9...

No entanto, o crude (US light, sweet crude rose) chegou hoje (16-10-2007) aos US$88, e o Brent, aos US$83,99, i.e. mais 9 dólares do que a referência usada nos cálculos optimistas da equipa de Sócrates! É só fazer as contas para vermos qual o impacto da previsível conjuntura energética mundial em 2008 nos exercícios trapezistas da actual maioria, para se perceber a gravidade da situação.

Como diz Medina Carreira, é preciso, de uma vez por todas, falar verdade aos portugueses e explicar de uma forma simples, e não dissimulada (como ocorre na ditirâmbica ilusionista do OE2008), o que pode e não ser dito, o que deve e não ser feito, e sobretudo, o que tem que ser poupado nas mordomias, fretes, derrapagens propositadas e escandalosos desvios da riqueza nacional para os bolsos privados de especuladores financeiros, empresas portuguesas sob protecção negociada --de que a roubalheira das chamadas Parcerias Público Privadas é o mais recente estratagema (1)-- e boys do Bloco Central (2).

Apontar os holofotes da conivente comunicação social para o feito adamastórico de a actual maioria prometer reduzir o défice para os 3% é uma pura mistificação das dificuldades do país.

O que parece importante sublinhar é que a nossa Dívida Pública, ou Dívida Bruta Consolidada das Administrações Públicas, é, segundo a própria previsão optimista da actual maioria, de 104.607 milhões de euros -- isto é ~64,4% do PIB, o que equivale a uma dívida média por cada português activo de cerca de 18.747 euros.

Por sua vez a Dívida Externa portuguesa, um dado que não aparece referido em nenhuma parte do relatório do OE2008, era em Setembro de 2006 (CIA World Factbook) de 272.200 milhões de dólares, ou seja, a valores actuais, cerca de 206.756 milhões de Euros. Em 2006 esta dívida externa, a 22ª mais alta dos 200 países considerados nas estatísticas da CIA, representava entre 129,5% e 153,9% do PIB, consoante consideremos valores GDP (OER), ou GDP (PPP). A pergunta óbvia é esta: quanto representa nas actuais projecções do OE2008? Não sabemos!

Também não sabemos que quantidade efectiva de ouro existe nas reservas do Banco de Portugal, com capacidade de garantir os empréstimos externos: 462 toneladas, 417 toneladas, 166 toneladas, ou nem isso?!

Sabemos, no entanto, que os encargos líquidos com parcerias público-privadas (PPP) no sector das concessões rodoviárias vão somar no próximo ano 860,1 milhões de euros (704 milhões dos quais, para as célebres SCUT do Cravinho!) E que o governo tenciona prosseguir com este tipo de negócios ruinosos com a meia dúzia de consórcios económico-financeiros --construtoras e bancos (3)-- com quem o actual regime político parece viver na mais encantada e ruinosa simbiose.

E sabemos também que a liquidez está a desaparecer rapidamente debaixo dos colchões especulativos da bolsa. O valor do PSI20 cai paulatinamente. O BCP está a transformar-se numa espécie de "Casa Pia" do sector bancário lusitano. O Montepio treme que nem varas verdes diante do maremoto hipotecário que ainda está para chegar sob a influência dos ventos tempestuosos do iminente crash imobiliário espanhol. Ou seja, toda a gente quer jogar no casino do petróleo e das commodities, mas quando decide levantar a massa para jogar, descobre que o cofre, afinal, está vazio! Não é Joe?

Vai ser bonito observar, nas próximas semanas, como conduzirá a actual oposição parlamentar a discussão deste orçamento cartola, recessivo por todos os poros, e que promete mais sacrifícios para todos, excepto, claro está, para os boys do Bloco Central, alguns dos quais têm ainda o desplante de continuarem a explicar-nos semanalmente na TV como vai o mundo!


NOTAS
17-10-2007. 20:20
  1. Sobre a Parceria Público-Privadas entre o Estado português e a Fertagus (empresa que explora o combóio da ponte 25 de Abril, entre Roma-Areeirio e Setúbal) vale a pena ler estas conclusões da auditoria do Tribunal de Contas de Junho de 2002 (N.º 24/2002 - 2ª SECÇÃO)

    Quanto ao modelo da Concessão (VER PÁG. 17)

    O actual modelo de concessão é o resultado de nova orientação governamental, tomada a partir de Março de 1997 e que conduziu à transformação de um projecto inicialmente idealizado como auto-sustentável financeiramente, isto é, a pagar pelos utentes, num projecto a cargo do Estado, ou seja, só viável com os pagamentos a efectuar pelos contribuintes, situação esta bem patente na decisão de alargamento do objecto da concessão às Estações do Fogueteiro e Setúbal (Praias do Sado).

    5.2. Quanto ao processo de concurso (VER PÁG. 18)

    O facto do Consultor Financeiro da Comissão do Concurso, como representante do Estado concedente, ter sido o autor da metodologia de avaliação dos concorrentes, e,posteriormente, após a adjudicação, passar a fazer parte integrante do sindicato de bancos/consultores do concorrente Fertagus suscita reservas quanto à transparência do processo, tanto mais que haviam sido solicitados compromissos de exclusividade a todos os consultores do Estado que colaboram no lançamento do concurso. Nos termos das Bases da concessão, o Estado assegura a adequada compensação à REFER, sempre que ocorram, para o concessionário, reduções – ou até isenção – da taxa devida pela utilização da infra -estrutura, por força de variações no volume de tráfego abaixo do limite inferior da banda de referência. Isto significa que o concessionário não assume qualquer encargo relativo ao pagamento da taxa de utilização da infra-estrutura desde que o volume de tráfego se situe abaixo do limite mínimo da banda de tráfego inferior. O Estado acaba, assim, por substituir-se ao concessionário, nas obrigações decorrentes do pagamento à REFER da utilização das infra-estruturas ferroviárias. Acresce que o Estado, ao assumir este encargo por conta do concessionário, está não só a reduzir os benefícios económicos do contrato para os contribuintes, como a condicionar a maximização da racionalidade económica da gestão privada.

    Acresce que o regime de pagamento da taxa de utilização pelo Estado concedente acaba por consubstanciar uma forma indirecta de subsidiar os custos de exploração da Fertagus relativos ao pagamento da taxa de utilização da infra-estrutura, o que não deixa de suscitar reservas quanto ao respeito pelos princípios comunitários da concorrência.

    COMENTÁRIO (RR): Com contratos destes todos nós podiamos criar empresas!

  2. Além do consultor financeiro seleccionado (a KPMG), a Rave anunciou ter contratado também o assessor jurídico para a Alta Velocidade, que será a Jardim Sampaio Caldas, liderada pelo ex-ministro e actual deputado socialista Vera Jardim. Jornal de Negócios, 17-10-2007.

  3. Construtoras e PSD alinhados num pacto para o investimento...
    As construtoras consideram que "é benéfico para o país que os dois partidos do arco do poder façam um pacto" para definir o investimento em grandes obras públicas para o médio prazo. O novo líder do PSD, Filipe Menezes, propôs em Torres Vedras um pacto alargado a todos os partidos parlamentares e o PS admite falar do assunto, se o que estiver em causa forem os grandes investimentos. Jornal de Notícias, 17-10-2007.

OAM 263, 16-10-2007, 19:06