Em 1999 convenci o vereador da cultura da cidade da Maia a incluir numa bienal de arte que então comissariei uma vintena de autores oriundos de Xangai. Era o princípio de uma ideia que não chegou a consolidar-se: levar a área metropolitana do Porto, de dois em dois anos, ao contacto cultural com uma grande metrópole mundial. A primeira cidade escolhida foi a capital comercial da China. Seguir-se-iam México D.F., São Paulo, Bombaim... Mas o país é pequenino, e pequeninas são as nossas mentalidades. Pelo que não fomos além de Xangai.
Lembro-me de à época pensar que nenhum autarca deveria entrar em funções sem passar uma primeira semana de turismo profissional em Londres, Paris ou Nova Iorque, e uma segunda semana em Xangai, São Paulo ou Tóquio, com quatro a seis reuniões por dia, para perceber o que dá vida àqueles formidáveis organismos sociais. Passeios destes valem uma eternidade de retórica política e podem poupar muito dinheiro.
Se algo me impressionou no desastre que colheu o povo chinês nas vésperas da sua tão desejada abertura ao mundo pela via especialmente simbólica dos Jogos Olímpicos, foi a dignidade com que assumiram a tragédia e a prontidão e eficácia com que acudiram às populações afectadas pelos sismos. Todos descobrimos, ainda que pelos piores motivos, uma China diferente, que teremos de aprender a respeitar.
É de novo a arte que me leva à China. Desta vez, para colaborar na apresentação de um autor polaco naquele que será o principal projecto cultural do programa olímpico de Pequim. Chama-se Synthetic Times e terá lugar no National Art Museum of China. A minha curiosidade sobre a China, oito anos depois de lá ter estado (em 1999 e 2000) é muito grande. Oito anos num país que é o mais populoso do planeta e cresce a mais de 9% ao ano é uma eternidade de mudança! Estou em pulgas!!
Aguardem o meu próximo postal ilustrado, em directo, de Pequim!
Post Sriptum: Entretanto, a China afirma que a Reserva Federal americana, com a sua política de juros muito baixos, e o apoio ilimitado a bancos falidos, está a ser a principal responsável pela inflação global.
Mais do que o Subprime, desculpa invocada repetidamente pela generalidade dos governadores de bancos americanos e europeus para justificar a destruição em curso da poupança mundial das famílias e das empresas, a causa principal da actual crise financeira é a combinação explosiva entre a desvalorização do dólar e a consequente valorização da moeda japonesa face ao dólar. O colapso do chamado carry trade transformou o rebentar de uma bolha especulativa regional numa crise financeira global. O G7 finge que não sabe e a generalidade dos nossos editores económicos olha como sempre para o lado, não vá algum demónio interromper o fluxo nervoso da publicidade que os sustenta.
Leia-se, a propósito, a notícia do China View e o comentário de Elaine Supkis Meinel.
OAM 375 01-06-2008, 20:52 (última actualização: 23:55)
2 comentários:
Parece que você vai apanhar com o boomerang da MFL na testa.
Como poder ler no link, MFL será apenas uma testa de ferro para a manutenção dos interesses do bloco central e centralista.
Nós, a norte já aprendemos que o centralismo só é desalojado recorrendo a muita força, diria como o outro, à bomba.
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=96043
Cump.
JSilva
Eu n sou procurador da MFL! Vejo-a, porém, como uma provável primeira-ministra pós-socratintas. E vejo-a assim por uma simples razão: não existe nenhuma outra alternativa de governo ao PS que não seja, em 2009, o PSD. As alternativas António Costa e Rui Rio fazem sentido, sobretudo a primeira, enquanto sucessores a prazo de Sócrates (pode acontecer de repente!) e MFL (muito mais tarde), mas não para o próximo governo. Quanto ao Clube Bielderberg, não lhe atribuo grande importância. No fundo, perdeu os dentes há já algum tempo. O futuro está a ser desenhado a Oriente, pelos chineses, japoneses e coreanos, para cujos regaços tenderão a cair a Rússia, o Irão e os próprios países árabes, se a estupidez inacreditável dos Bush, Sarkozy, Berlusconi e Cª continuarem a dominar o comportamento atlântico depois da eleição de Barak Obama.
Se virmos bem, não há chineses, nem japoneses, nem coreanos entre os convidados para as ensaboadelas do grupo Bielderberg. Os espanhóis quase lá não põem os pés e, por conseguinte, a sobre-representação lusitana revela apenas a indigência dos nossos políticos.
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