sábado, fevereiro 28, 2009

Chinatown Angola

Chinatown Portugal
O projecto secreto da tríade de Macau e do Pinóquio Sócrates

Chinatown, Africa é um excelente documentário sobre as ambições da China em África, nomeadamente em Angola, de Mariana Van Zeller, produzido para a Vanguard Journalism, e que dificilmente verá nos canais televisivos portugueses. Acabo de revê-lo e decidi tecer um comentário geral sobre o seu significado menos aparente, nomeadamente no que toca a Portugal.

A captura do PS pela tríade de Macau tem um objectivo secreto: permitir que a China, nomeadamente através dos bancos e empresas públicas angolanas, ponha paulatinamente uma grande pata em cima de Portugal e por esta via salve a indolente e frágil burguesia portuguesa do colapso que se avizinha. A nossa burguesia é manifestamente incapaz de se adaptar às regras comunitárias da concorrência, da transparência e da responsabilização. Só consegue vegetar em regime de monopólio ou cartel, e para tal nada melhor do que a promiscuidade entre as suas decadentes famílias e os arrivistas do Bloco Central da Corrupção. Esta velha burguesia em vias de extinção, há séculos que não sabe fazer mais do que aninhar-se junto à mesa do orçamento público dos portugueses. Hoje, encontra-se à beira de uma mais do que provável extinção. Daí agarrar-se a tudo o que flutua e o despudor com que se prepara para vender o país às fatias!

O Bloco Central da Corrupção, por sua vez, tem vindo a cumprir um plano de privatização assassina dos principais recursos estratégicos do país — produção e distribuição de energia, sistemas de captação, armazenamento, tratamento e distribuição da água doce e potável, tratamento e reciclagem dos lixos e águas residuais, redes de mobilidade de pessoas e bens, etc.

Os rios e albufeiras, estradas, pontes, barragens, portos, aeroportos e aterros sanitários estão a caminho de monopólios privados ou de escandalosos cartéis. A percentagem do capital nacional nestes consórcios tende porém a declinar muito rapidamente, como se tem visto nos casos do BCP, do BPI e da GALP.

Os países ricos em matérias primas e divisas, como a China e Angola, aproveitam naturalmente a oportunidade. E se amanhã uma América ansiosa entrar no leilão, mais contente ficará a velha-nova burguesia burocrática lusitana com a sua famosa "economia aberta". Há porém um ponto negro neste cenário: o Atlântico tem uma importância estratégica incompatível com as obsoletas ambições imperiais chinesas. O mais provável é que em breve se coloque o problema de traçar uma linha de separação entre o sonho chinês e a realidade do Ocidente. Em que embrulhada estaremos então, se deixarmos o Estado português entregue a piratas?

OAM 542 28-02-2009 13:04

4 comentários:

CCz disse...

Caro António Maria,
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Este seu postal faz-me recordar o título de um artigo de hoje no Expresso sobre as dívidas da EDP e sobretudo esta entrevista de Niall Ferguson:
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"a sign of things to come, with financial power quickly being transferred over to the world's creditors – namely sovereign wealth funds – and away from the world's debtors."
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http://www.theglobeandmail.com/servlet/story/RTGAM.20090223.wferguson0223/BNStory/crashandrecovery/home/

António Maria disse...

A renegociação ultra generosa da dívida de Joe Berardo à Caixa Geral de Depósitos (CGD) abriu uma verdadeira Caixa de Pandora. E assim, depois de Joe Berardo seguiu-se a capitulação da mesma CGD perante a proposta leonina de Manuel Fino. Quantos mais negócios ruinosos e favores intoleráveis irão corroer a situação cada vez mais preocupante do banco público? Os bancos privados, pela boca de Fernando Ulrich e João Salgueiro avisaram ontem que não estão dispostos a confusões e cunhas.

A sugestão de leitura da entrevista a Niall Ferguson não poderia ser mais oportuna...

in 'There will be blood' By Nial Ferguson.

Nial Ferguson: The world divides in two, the debtors and the creditors. The debtors … (U.S., Europe) ... are going to have to sell of their assets. Call it the global foreclosure. They're going to be selling their assets cheaply to those who have the surpluses. This is not going to be like the Chinese buying Blackstone at the top of the market.

“It's revenge of the sovereign wealth funds. They got burned. And this time, no more Mr. Nice Guy.”

Niall Ferguson: If I were in the market to buy distressed assets, I would wait, I would wait a bit longer until they're really desperate. And it might even be better to wait until they're bankrupt.”

Niall Ferguson: “European banks are far more leveraged than American banks. I don't see Europe as offering up any particularly good model in any respect. In fact, I think Europe's prospects could get a whole lot worse this year, to the extent that it could be very, very hard indeed to keep the Euro zone together. I think it will be possible because the costs of leaving will be so high.

“There will be howling anguish, all kinds of pain, conflict between Germans and the others. It's going to get very uncomfortable indeed. No, I wouldn't look to Europe for inspiration. You could, I guess, look at Spain...

CCz disse...

Nesse caso tomo a liberdade de lhe recomendar outro texto de Niall Ferguson:
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http://www.theaustralian.news.com.au/business/story/0,28124,25115869-643,00.html

António Maria disse...

Obrigado CCz.

O consenso alegre que se tem vindo a gerar sobre as delícias do programa anti-depressivo de inspiração Keynesiana —basicamente mais dívida pública e défices orçamentais de Estado empinados— é uma ilusão perigosa! Na realidade, o célebre New Deal produziu resultados algo pífios e lentos entre 1933 e 1940. O desemprego desceu lentamente neste intervalo, de 24,9% para 15%, tendo sido sobretudo a entrada da América na Segunda Guerra Mundial, que permitiu vencer a depressão! Entre 1940 e 1942 o desemprego caiu de 1% para 7,5%, e num ano apenas, 1943, voltou a cair de 7,5% para 3,75% (in Jeremy Rifkin, The End of Work).

Em Portugal, como no resto do mundo, precisamos de mudar radicalmente de hábitos, precisamos de limpar os balanços da porcaria que lá foi parar e precisamos de novas ideias e novos protagonistas para o enorme desafio que temos pela frente: superar os impactos tremendos da mais recente revolução tecnológica da humanidade: robótica, micro computação, redes globais de comunicação electrónica, biotecnologia...

Os populismos são uma perigosa armadilha.

Do texto que me recomendou, retive estas passagens particularmente pertinentes:

Beyond the Age of Leverage: Alternative Cures for the Global Financial Crisis. By Niall Ferguson


12-02-2009. — (...) The harsh reality that is being repressed is this: the Western world is suffering a crisis of excessive indebtedness. Many governments are too highly leveraged, as are many corporations. More importantly, households are groaning under unprecedented debt burdens. Average household sector debt has reached 141 per cent of disposable income in the United States and 177 per cent in the United Kingdom. Worst of all are the banks. Some of the best-known names in American and European finance have balance sheets forty, sixty or even a hundred times the size of their capital. Average U.S. investment bank leverage was above 25 to 1 at the end of 2008. Eurozone bank leverage was more than 30 to 1. British bank balance sheets are equal to a staggering 440 per cent of gross domestic product

(...) The solution to the debt crisis is not more debt but less debt. Two things must happen. First, banks that are de facto insolvent need to be restructured, a word that is preferable to the old-fashioned nationalisation. Existing shareholders will have to face that they have lost their money. Too bad; they should have kept a more vigilant eye on the people running their banks. Government will take control in return for a substantial recapitalisation after losses have meaningfully been written down. Bondholders may have to accept either a debt-for-equity swap or a 20 per cent "haircut" - a disappointment, no doubt, but nothing compared with the losses suffered when Lehman Brothers went under.

There are precedents for such drastic action, notably the response to the Swedish banking crisis of the early 1990s. The critical point is to avoid the nightmare of a state-dominated financial sector. The last thing the US needs is to have all its banks run like the Amtrak national passenger train network or, worse, the US Internal Revenue Service. State life-support for moribund dinosaur banks is an expedient designed to avert the disaster of a generalised banking extinction, not a belated victory for socialism in North America. It should not and must not impede the formation of new banks by the private sector. Financial history is, after all, an evolutionary process. When old banks die, new banks swiftly take their place. It is therefore vital that state control does not give the old banks an unfair advantage. So recapitalisation must be a once-only event, with no enduring government guarantees or subsidies. And there should be a clear timetable for re-privatisation within, say, 10 years.

The second step we need to take is a generalised conversion of American mortgages to lower interest rates and longer maturities. About 2.3 million US households face foreclosure and that number is certain to rise. For example, $US97 billion of $US200 billion of option adjustable-rate mortgages will reset in the next two years. The average monthly payment will increase by more than 60 per cent. As a result, up to eight million households could be driven into foreclosure, driving down home prices even further. Few of those affected have any realistic prospect of refinancing at more affordable rates. So, once again, what is needed is state intervention.

The idea of modifying mortgages appalls legal purists as a violation of the sanctity of contract. But, as with the principle of eminent domain, there are times when the public interest requires us to honour the rule of law in the breach. Repeatedly in the course of the 19th century, governments changed the terms of bonds that they issued through a process known as conversion. A bond with a 5 per cent coupon would simply be exchanged for one with a 3 per cent coupon, to take account of falling market rates and prices. Such procedures were seldom stigmatised as default. Today, in the same way, we need an orderly conversion of adjustable rate mortgages to take account of the fundamentally altered financial environment.