Quando a classe média — e já não apenas o indecoroso comunista — barafusta e vaia um primeiro ministro, das duas uma: ou o regime se emenda ou cai. A menos que enveredemos pelo tipo de populismo autoritário propugnado entre dentes por Augusto Santos Silva e pelo gajo da ERC (uma comissão de censores castrados invariavelmente chefiada por um boy do governo de turno)...
José Sócrates vaiado na ópera
29 Março 2009 - 00h30 — A lotação do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) – cerca de 1500 espectadores – esgotou na noite de anteontem. Quando o primeiro-ministro José Sócrates entrou na sala, para a estreia da ópera ‘Crioulo’, foi vaiado. O relógio marcava 21h25 – passavam, portanto, 25 minutos da hora marcada do início do espectáculo.
Não foi apenas Sócrates o apupado. Segundo uma fonte do CCB, o facto ficou a dever-se "ao atraso de comitivas oficiais". A mesma fonte adiantou ao CM que o chefe do Governo chegou ao CCB cerca das 21h10. Acompanhado pela namorada, Fernanda Câncio, aguardou ainda pelo congénere cabo-verdiano, José Maria das Neves. A ópera ‘Crioulo’ é da autoria de dois naturais daquele país africano, António Tavares e Vasco Martins.
Antes de se dirigir ao CCB, Sócrates tomara conhecimento da acusação de corrupção que lhe fora dirigida, no âmbito do caso Freeport, por Charles Smith, em gravação vídeo exibida no ‘Jornal Nacional’, da TVI. O seu Gabinete emitiu um comunicado, desmentindo as acusações. — José Luís Feronha in Correio da Manhã.
Em Portugal, para além de sermos todos doutores e engenheiros, fica-nos bem chegar tarde. É uma prova de poder. E como todos somos de algum modo patrões, directores, chefes e padrastos de alguém ou de alguma coisa, chegar tarde e estacionar em cima dos passeios e esquinas são duas das inexcedíveis aquisições do actual regime democrático. O que porventura começou por ser uma rebeldia contra o antigo regime ditatorial (depois de derrubado, claro!) coalhou na mioleira indolente de todos nós ao ponto de haver observadores atentos convencidos de que se trata de uma característica genética lusitana irremediável. Que nos abstemos de praticar fora do país — bem entendido.
Chegar a horas é uma tradição inglesa, germânica, francesa, japonesa, chinesa e até já espanhola. Portugal, pelo contrário, prefere a sua originalidade pindérica, e por isso continua a seguir alegremente o modelo argentino. Os médicos gostam de fazer esperar, os advogados gostam de fazer esperar, o burocrata da repartição pública nem se apercebe o quanto faz desesperar quem lhe paga o vencimento, e o político, esse então é acometido de verdadeiras explosões de prazer onanista sempre que castiga um subordinado ou cidadão com uma boa hora de seca, desfazendo-se depois em mil desculpas pelos seus imensos afazeres. Fazer a multidão esperar pelo menos três quartos de hora por um qualquer analfabeto elevado à condição de ministro, antes de uma inauguração, de um concerto ou de uma ópera é o máximo de distinção civilizacional a que a democracia a que chegámos conseguiu chegar. Que cretinos somos!
No caso em apreço, como se não bastasse a parvoíce de chegar atrasado à Ópera, os serviços de propaganda governamental tiveram ainda a distinta lata de atirar as culpas para o desgraçado primeiro ministro de Cabo Verde. Tudo para salvar o náufrago a quem uma escuteira do regime chamou literariamente "menino de ouro". Pois não tem salvação possível! Perdida a maioria absoluta, o destino do pseudo Sócrates é juntar-se ao primo de Cascais — no Nepal. Bem podiam montar por lá um restaurante de bacalhau e batatas a murro.
OAM 565 30-03-2009 23:26
2 comentários:
Gostaria de viver num país onde, passados 15 minutos de atraso, o CCB em peso se levantasse e abandonasse a sala. Mas isso é só para portugueses com tomates. Os "tugas" (os portugueses sem tomates) gostam é que lhes cuspam na cara... Sócrates é um saloio. Por falar nisso, tenho aqui uma partitura em branco... Acho que vou escrever uma ópera chamada "Sócrates, o corrupto". O Charles Smith é baixo-barítono, não é??
António, António.
Como te escrevi hoje "about esTAP", se a ópera tivesse sido a RÁBUla de "Pinóquio e Gepetto", certamente que antes das pancadinhas de Moliere (pancadinhas dadas pelo malhadinhas SILVA rosa), a assistência procedia como no Circo Mariano: Toda a gente ovacionava em pé, pois não tinha cadeira para se sentar, tal não vai o estado da Re(s)pública.
De qualquer maneira não será necessária uma partitura em branco (o Aguiar (em) Branco deve ter experiência no caso). Basta ir a este link: http://web.educom.pt/paulaperna/historia_pinoquio.htm, colorir o boneto e actualizar a história.
Os mais velhos dizem que era uma história para contar aos mais novos na cabeceira antes de dormir.
Actualmente mais parece outra coisa.
A
Rui
Enviar um comentário