sábado, março 14, 2009

Manif 1

Manif, 13 mar 2009. Foto: Miguel A. Lopes/LUSA

A desgraça das burocracias sindicais

A manifestação (manif) de Sexta Feira 13, do mês de Março de 2009, tal como algumas das concentrações e manifs de professores do ano passado, foram animadas e politicamente controladas pelo PCP, através do seu braço sindical, a CGTP. A panela da pressão social não se cansa, de facto, de apitar, e há portanto que canalizar a tensão para algum lado. A corrompida UGT, que não passa de um fantasma de circunstância, aninhada como sempre esteve, aos pés do governo de turno, não tem pedalada para lidar com a crise de regime que aí vem. Já o PCP-Intersindical, mesmo sem saber para onde tudo isto pode ir, tem um catecismo antigo por onde se guiar. E fá-lo sempre que as circunstâncias ou proximidade eleitoral o exigem. Resta saber para quê... dada a dimensão sistémica da crise e a falta alarmante de soluções programáticas por parte da totalidade dos actores políticos em presença.

As manifs são uma forma de catarse colectiva. Mas desta forma de catarse nasce invariavelmente uma consciência de classe mais nítida e sobretudo uma percepção partilhada dos problemas e das dificuldades. À medida que a crise das falências empresariais, familiares e pessoais alastra e o desemprego expulsa indistintamente gestores, trabalhadores liberais e operários dos seus empregos, as manifs irão engrossar — na busca de irmandade, mas também na expectativa de uma luz ao fim do túnel da depressão para onde a Europa e a América caminham a passos largos. Até mesmo a classe média, em vias de extinção, desesperada, que por enquanto vai enterrando os cabedais ainda disponíveis, em psicólogos, psiquiatras e gurus da MT, não tardará a engrossar o novo ciclo de manifs que hoje começou. E quando tal ocorrer, o radicalismo das acções de rua ganhará outra dimensão retórica e programática.

Quando os jornalistas despedidos da SIC, do Diário de Notícias, etc., e os engenheiros despedidos da Mota-Engil, da Teixeira Duarte, etc, e os bancários e gestores despedidos do BCP, do BPN, etc., já para não falar do exército de arquitectos, advogados e economistas que verão encolher dramaticamente as suas possibilidades de emprego ao longo dos próximos anos, ou décadas, então as manifs deixarão de ser uma alavanca oportunista do PCP —partido envelhecido, sem ideias e tão agarrado ao actual regime como qualquer outro partido com assento parlamentar. Quando aí chegarmos, o poder que estiver terá realmente motivos para se preocupar com o seu futuro e com o futuro da nomenclatura de que é parte.

O actual regime democrático corrompeu-se e isso está cada vez mais à vista de todos. Como se a corrupção não fosse em si mesma razão que baste para uma revolução, acresce que estamos economicamente como estava o meu avô republicano nas vésperas do 5 de Outubro de 1910 — isto é, à beira da ruína! A ilusão de que poderemos escapar airosamente da delapidação do património e da poupança em que embarcamos todos nos últimos vinte anos, porque temos o Euro, é uma das tais ideias peregrinas que só pode ter mesmo vindo dum desses economistas que acordaram há menos de um mês para a gravidade da nossa dívida externa: 200% do PIB e não 100% como ainda continuam a balbuciar (1)

É preciso uma grande imaginação para encontrar soluções. A demagogia persistente das esquerdas burocráticas (PCP e BE) não serve. A solução, pelo menos provisória, está na explosão dos dois principais partidos do Bloco Central: o PS e o PPD/PSD. E está também na emergência de um rizoma de cidadania democrática pro-activa, inteligente e tecnologicamente avançada. Chegou provavelmente a hora de tecer uma Democracia Virtual em rede, plural, dialógica, solidária, humanista, realista e criativa.


NOTAS
  1. A maioria, se não mesmo a totalidade dos economistas portugueses, tem a mania de olhar apenas para aquilo que se chama a Dívida Externa Líquida (i.e. a diferença entre o que devemos e o que nos devem), quando o número para que temos realmente que olhar é o da Dívida Externa Bruta (i.e. aquilo que estamos a dever ao estrangeiro independentemente daquilo que eles nos devem). Se por acaso quem nos deve não paga, isso não alivia em nada as nossas dívidas. Como bem sabemos todos!

OAM 555 14-03-2009 00:57

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